terça-feira, 31 de maio de 2011

Para refletir no ultimo dia de maio ....

Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
E fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
Mas eternamente nao, patrão.
Eu sou carvão
E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão
Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu irmão
Até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu serei o teu carvão, patrão!


Mário de Andrade. Antologia Temática de Poesia Africana. 3.ed. Lisboa: Instituto Cabo - verdeano do Livro, 1980. v.1. p. 180

domingo, 29 de maio de 2011

E quem foi que disse que professor também nao poetiza ?


Estando atentoPeço ao Mestre Tempo:
Dai-me tempo
Para que o contar de cada momento
Seja bem mais, muito mais
Que um passatempo,
A fim de que minha viagem
Seja a construção
Permanente de uma aprendizagem.


Mestre Tempo,
Não passe rápido,
Passe sereno e lento
Para que a saudade, que fere e arde,
Seja apenas mais, muito mais que um alento.


Mestre Tempo,
Seja brisa,
Não sejas vento,
Pois a Vida é real e fugaz
Como quem não tem nem tempo
De esquentar o assento ...






José Henrique da Silva , 29 de maio de 2011, refletindo sobre como o tempo passa rapido, pensando na ausência dos que foram, no meio do ano que já se anuncia ...




Happy End





O meu amor e eu





nascemos um para o outro.





Agora só falta quem nos apresente.















Cacaso. Beijo na boca. Rio de Janeiro. 7 letras, 2000

PRA OPINAR 2 >>>



A CONSAGRAÇÃO DA IGNORÂNCIA





A inconcebível decisão do Ministério da Educação e Cultura de avalizar o livro "Por uma Vida Melhor" para as escolas públicas desmoraliza o idioma nacional e põe por terra um dos maiores valores da cidadania, que é a língua de seu povo.


O livro - que deveria ser intitulado - Por um Ensino Pior - prega que é aceitável o uso de expressões como "nós pega o peixe" ou " os livro". O argumento por tras desse despautério é o de que tais expressões são corriqueiras na comunicação falada dos brasileiros. Em outras palavras, o falar errado legitima o escrever e o ler errado e, por tabela, numa conclusao inapelável, o ensinar errado. É a apologia da mediocridade! Com o selo oficial do MEC, a obra agride normas gramaticais e estabelece um novo padrão de pegadogia em que a leniência e o descaso com o ensino viram praxe.


Com essa rendição na formação do brasileiro o País pode entrar numa rota perigosa rumo ao atraso e à delinquência educacional. "Por uma Vida melhor" indica ainda que , no mundo do "politicamente correto", orientar o aluno para que ele empregue o idioma na sua forma certa equivale a um "preconceito linguístico". Nao cabem parãmetros ou regras convencionais. O uso impróprio é aceitável.


A banalização do português é permitida. Ao pé da letra desse entendimento, os colégios vão ter que acatar o ataque à concordância verbal, a afronta aos mecanismos gramaticais e o desprezo à boa literatura.


Trata-se de uma pregação demagógica e obtusa. um desserviço à Nação. Será que é isso que desejam os milhões de pais quando levam seus filhos às escolas todos os dias ? É inadmissível que estudantes tenham na mochila e nas carteiras da sala de aula um material que emburrece em vez de instruir?


A artimanha marota de aplicar nessas instituições a lei do menor esforço - e do menor custo - no ensino só pode atender à alegação de que faltam recursos para a cultura e educação. Professores ganham mal, logo nao se pode exigir deles que tirem alunos do estado de ignorância! Deforma-se assim o caráter do brasileiro.


A revisão da obra "Por uma Vida Melhor" ou a sua retirada pura e simples das prateleiras e do ambiente escolar é urgente. O que está em jogo, antes de tudo, é a discussão sobre como queremos preparar as futuras gerações.


Se abdicarmos do papel vital de formar e educar corretamente os cidadãos, o que restará? Dentro em pouco, alguém lançará a ideia de abandono da bandeira nacional. Teremos, a partir daí, alguma identidade?






Carlos José Marques, diretor editorial


Revivsta ISTO É , 25/05/2011



VER CONTINUANDO PRA OPINAR 2 >>>>>>>>

sábado, 28 de maio de 2011

PRA OPINAR 1 >>

São os pobres que fazem a roda do capital girar. Onde há pobreza há o desejo. Onde há o desejo há consumo.






O EX - COMUNISTA





- O mundo precisa dos pobres. Demorei a entender isso, mas agora sei: o mundo sem pobres é inconcebível.


Aquela frase dita assim, de chofre, no meio de uma conversa informal, me chocou, confesso.


- Por muito tempo algumas pessoas lutaram pelo fim da pobreza. Eu próprio fui um deles. Mas agora entendo que a pobreza é necessária ao equilíbrio do planeta - ele continou.


- Equilíbrio? Como assim?


- Imagine um mundo só de ricos ... Um mundo em que ninguém precise de nada, que seja autosuficiente e abastado ...


- Hmmm ...


- Viu ? Você nem consegue imaginar, porque é mesmo impossível. Sao esses pobres que sustentam o capitalismo, não os ricos. São os pobres que fazem a roda do capital girar. Onde há pobreza há desejo. Onde há desejo há consumo. Se as pessoas consomem, a rede da economia gira, entende?


Eu permanecia mudo. Embora reconhecesse que havia algo de tecnicamente correto naquele raciocínio, sua fala me soava demasiadamente cínica. Prosseguiu em sua teoria.


- Quem são os maiores vendedores de discos?


- Os artistas populares, imagino - falei.


- Pois é, artistas populares, aqueles que são ouvidos pelos pobres, certo?


- Acho que sim.


- Quais as lojas com maior receita? As lojas que vendem artigos populares, certo?


- Acho que sim também, não sei ....


- Eu sei, vai por mim. Melhor ter um boteco em Pirituba do que uma loja de chapéuss de grife no shopping Iguatemi. O custo/benefício é mais vantajoso.


- Nunca parei pra pensar nisso.


- Rico não consome porque tem um desejo genuíno ou uma necessidade vital. Rico consome pelo glamour, porque quer ser visto como o barco, o carro novo, a casa projetada pelo arquiteto hype ... Pobre não. Pobre faz seu "puxadinho", ergue sua laje e fica feliz da vida, porque ainda que se orgulhe em mostrar pro vizinho, não o fez só por isso. Fez porque tinha a real necessidade daquilo. E quem precisa fazer faz. Quem precisa comprar compra.


- Mas o capital está nas mãos dos ricos.


- Sim, mas foi ganho à custa de pobres, não de outros ricos.


- Sim, mas há serviços que pobres nao consomem, apenas ricos.


- Sim, há. Mas nenhuma fortuna é erguida sem a participação dos pobres.


- Como pobres?


- Tá vendo aquele condomínio de luxo? Imagina quantos pobres trabalharam para erguê-lo? E quantos outros agora trabalham para mantê-lo funcionando?


- Não sei.


- Muitos, acredite. Tá vendo aquele shopping acolá? Entre a faça uma enquete. Aposto que há mais pobres circulando por lá do que ricos.


- Mas ...


- Acredite no que tô falando. Dinheiro para o rico é esporte. Para o pobre é paixão.





Zeca Baleiro é cantor e compositor.

Coluna Última Palavra. Revista Isto É . 25/05/2011.




Fábula da Inveja

Uma serpente estava perseguindo um vaga-lume.
Quando estava a ponto de comê-lo, o vaga-lume disse:
" Posso fazer uma pergunta?"
A serpente respondeu:
"Na verdade nunca respondo a perguntas das minha vítimas, mas, por ser VOCÊ, vou permitir."
Então o vaga-lume perguntou:
"Fiz alguma coisa a você?"
"Não", respondeu a serpente.
"Pertenço a tua cadeia alimentar?, perguntou o vaga-lume.
"Não", respondeu a serpente de novo.
"Então, por que você quer me comer?", perguntou o inseto.
"PORQUE NÃO SUPORTO VÊ-LO BRILHAR", respondeu a invejosa serpente comendo o vaga-lume de uma só vez.



Gente Tóxica - Como lidar com pessoas difíceis e não ser dominado por elas - Bernardo Stamateas - Ed. Thomas Nelson Inc. 2009.

O TRAJE

Nunca nos lembramos desse nosso traje cotidiano que é a Linguagem. Muitos a usam como trapos mas, se tomassem consciência disso, ligeiro tratariam de melhorar, caprichar, conseguir uma vestimenta mais adequada.

Por que será que somos displicentes com essse instrumento tão nosso, o que mais empregamos, aquele que até crianças e analfabetos manejam a vida inteira?

Talvez nos tenhamos acostumado demais com ele. É demasiadamente nosso como um braço, um olho, e nunca chegamos a nos dar realmente conta de que esse braço é meio curto, o olho meio vesgo, ou míope ...

Não falo na linguagem oral, nessa comunicação espontânea que obedece a leis próprias, que vao do menor esforço à coerção social. Falo na linguagem escrita, essa que os analfabetos nao manejam, mas que muito doutor esgrime como se nao soubesse além da cartilha ...

Nem precisamos procurar os mais ignorantes. Abre-se jornal, abre-se revista ( de cultura também, sim senhores! ) e os monstrinhos nos saltam aos olhos.

Pontuação? Ninguém sabe. Vírgulas parecem derramadas pela página por algum duende maluco, que quisesse brincar de fazer frases ambíguas, pensamentos tortos, expressões esmolambadas.

Verbos? "Detei-vos" , "intervido" , mantesse", sao mimos constantes. Não há sujeito que concordecom verbo numa página de fio a pavio. Lá pelas tantas um ouvido deseducado, um escriba relaxado, solta as maiores heresias.

E a ortografia? Acreditem ou não, ainda agora ouço universitários e professores afirmando que "acento, para mim, nao existe mais!"

Pobres alunos de tão desanimados ou iludidos mestres: lá vêm as crianças para casa trocando acentos como os bêbados trocam pernas.

Todas essas pessoas: estudantes, professores, jornalistas, intelectuais, morreriam de vergonha se fossem apanhados em público de cuecas ou trapos. Mas, olhe lá, a Linguagem escrita de muita gente boa por aí não vai além duma tanguinha de Adão, e muito mal colocada ... deixa à mostra um bom pedaço de vergonha.




Lya Luft. Matéria do Cotidiano. Porto Alegre. Grafosul/IELRS, 1978.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Você quer exemplo maior de Hipérbole ?

Exagerado

Cazuza

Composição : Cazuza / Ezequiel Neves / Leoni

Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade

Paixão cruel desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar

E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Prá mim é tudo ou nunca mais

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

E por você eu largo tudo
Carreira, dinheiro, canudo
Até nas coisas mais banais
Prá mim é tudo ou nunca mais

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Jogado aos teus pés
Com mil rosas roubadas
Exagerado
Eu adoro um amor inventado

Você quer exemplo maior de Prosopopeia ?

 FOLIA NO MATAGAL

Ney Matogrosso

Composição : Eduardo Dusek e Luis Carlos Góes


O mar passa saborosamente a língua na areia
Que bem debochada, cínica que é
Permite deleitada esses abusos do mar

Por trás de uma folha de palmeira
A lua poderosa, mulher muito fogosa
Vem nua, vem nua
Sacudindo e brilhando inteira
Vem nua, vem nua
Sacudindo e brilhando inteira

Palmeiras se abraçam fortemente
Suspiram, dão gemidos, soltam ais
Um coqueirinho pergunta docemente
A outro coqueiro que o olha sonhador:
- Você me amará eternamente?
Ou amanhã tudo já se acabou?
- Nada acabará - grita o matagal -
Nada ainda começou!
Nada acabará - grita o matagal -
Nada ainda começou!

Imagina: são dois coqueirinhos ainda em botão
Nem conhecem ainda o que é uma paixão
E lá em cima a lua
Já virada em mel
Olha a natureza se amando ao léu
E louca de desejo fulgura num lampejo
E rubra se entrega ao céu
E louca de desejo fulgura num lampejo
E rubra se entrega ao céu

Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem são recursos usados para dar maior ênfase ou sentido á expressão. O estudo dessas figuras ajuda a entender melhor os recursos utilizados pelos escritores em seus textos.Veja algumas das figuras de linguagem mais usadas:

COMPARAÇÃO
É uma comparação, ou seja, uma equivalência real entre um comparante e um comparado por meio de um termo de comparação, uma frase,palavra ou locução,que deixa claro a comparação na sentença.

EX: Ela é tão feia quanto briga na foice.

METÁFORA
A metáfora é uma comparação, mas de maneira indireta, porque não possui em termos específicos de comparação. Ela associa idéias semelhantes, ou seja, usar uma palavra fora do seu contexto normal para fazer parte de um outro contexto.

EX: Nosso chefe é um leão.

METONÍMIA
Esta é a substituição de um termo por outro com o qual há uma relação de sentido.

Essa relação pode ser:

- Efeito pela causa

EX: Bebeu a morte

Bebeu veneno

- Continente pelo conteúdo


EX: Bebeu dois copos

Bebeu duas doses de wisque

- Autor pela obra

EX: Eu li a obra de machado de Assis.

Eu li machado de Assis.

CATACRESE
É como uma metáfora do dia-a-dia.Seu objetivo é desviar uma palavra do seu sentido próprio para dar nome a outra coisa que não tem nome específico.

EX: Braço do sofá

Perna da mesa.

EUFEMISMO
É usado para amenizar o que é desagradável, através da substituição de palavras graves e fortes, diretas por outras mais suaves, brandas.

EX: Ela passou dessa para melhor.

( quer dizer ela morreu)

IRONIA
É uso de palavras, expressões, mas que querem dizer o contrario do que está sendo dito.

EX: Com governo honesto e sem corrupção não precisa ter medo do futuro.

ANTÍTESE
É usado para opor dois termos na mesma frase ou parágrafo, enfatizando seus contrastes.

EX: Quando estou triste, aí que fico alegre.

ANÁFORA
É a repetição de palavras em intervalos regulares no final ou início de frase, serve para enfatizar idéias.

EX: Pense em mim

Chore por mim

Liga pra mim

HIPÉBOLE
Este é o exagero intencional de uma idéia ou sentimento.

EX: Ele come feito um leão.

PROSOPOPÉIA
É a figura que dá características humanas a seres inanimados, abstratos ou irracionais. Um exemplo comum: são os filmes onde mostram animais com características humanas

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mas afinal, o que é Literatura ?




A Literatura é a arte de criar obras estéticas em linguagem verbal: oral ou escrita. Da mesma maneira que o pintor cria um quadro trabalhando com cores e formas, e que o músico cria composições musicais, a partir do som e do ritmo, o escritor usa as palavras para expressar suas ideias e seus sentimentos.

A literatura de um país é o conjunto de obras criadas por seus escritores ao longo do tempo. Ela retrata e revela usos, costumes e tradições, enfim a cultura e o modo de ser de um povo.

José Henrique Silva

segunda-feira, 23 de maio de 2011

GUARDAR

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre nao se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigilia por ela,
isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
Por isso se declara e declama um poema:

Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

Antonio Cicero. In Italo Moriconi (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro. Objetiva. 2001.