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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Te Contei, não ? As Reinações de Narizinho

 

Ela virou princesa no fundo do riacho, conheceu o Gato Félix e Aladim e curtiu uma coleção invejável de aventuras com a turma do sítio. Reinações de Narizinho encanta gerações há 80 anos

Fabiana Fevorini

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Resenhando - A terra dos meninos pelados - Graciliano Ramos

 
Título: A Terra dos Meninos Pelados
Autor: Graciliano Ramos
Editora: Galera Record
Páginas: 29
Sinopse: Havia um menino diferente dos outros meninos. Tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Não tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando. Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul.
Sinopse retirada do Skoob

domingo, 5 de maio de 2013

Personalidades - Daniel Azulay - Um mundo de possibilidades para colorir do outro lado da porta

Personalidade múltipla. O desenhista, pintor e cartunista Daniel Azulay, que marcou a programação infantil da TV nos anos 70 e 80
 
RIO - Ele passava o dedo pelo bolo e, enquanto corria em volta da mesa, ia riscando o confeito. Os rabiscos de glacê, que o menino levado lambia, lhe custaram um puxão de orelha na festa de aniversário, mas ensinaram que desenhar é gostoso. Daniel Azulay, aos 66 anos, ainda é uma criança inquieta. Por dentro e por fora. Ele combina gravata berrante com colete preto, óculos coloridos — que, às vezes, troca por um inacreditável modelo com grandes olhos pintados nas lentes — e tênis. Ao andar, dá pulinhos engraçados. A risada entremeia sua fala e deixa no ar a sensação de que ele pode estar rindo de si mesmo, numa eterna piada particular. Quando se lembra de algo, levanta-se abruptamente no meio da conversa, assustando seu interlocutor, para buscar uma foto antiga, um desenho ou um dos muitos brinquedos da cristaleira de seu estúdio em Copacabana. Só então, por alguns segundos, os olhos de moleque brilham como um antiquário zeloso que sabe que o tempo guarda as melhores histórias.
Longe da TV, onde esteve por uma década como ídolo da geração dos anos 70 aos 80, Daniel investiu toda sua energia em suas oficinas de desenho, no Crescer com Arte para crianças carentes — que tem 12 anos e já atendeu 25 mil crianças — e no seu eu artístico mais profundo, levando para galerias de arte do mundo inteiro um trabalho moderno, que ele chama de “imageria”. Uma produção múltipla, com forte inspiração na pop art, que vai do desenho às telas hiper-realistas. A grande virada foi com a “A porta”, uma tela gigante de 2,18m por 1,20m, concebida num momento obscuro, quando sua mãe morreu, em 2006.
— Se as portas não se abrem, construa uma para você. Para mim, é a porta dos sonhos, das oportunidades. Tanto que eu a fiz entreaberta. Pela fresta, é possível ver o céu azul — diz ele e, ao lembrar que pintava na casa da mãe já muito doente para não deixá-la sozinha, faz uma pausa. — Acho que atravessei esta porta.
Do surrealismo à reciclagem
Desde então, a “A Porta” virou livro com passagens da vida do artista, portfólio e exposição que, de 2007 a 2008, rodou pela Suécia, Finlândia e Nova York. Também expôs no Louvre e, há pouco, voltou do MoMA, onde deu uma consultoria sobre como fazer as crianças se aproximarem da arte. Entre os dias 7 e 19 de maio, “A Porta” estará no Arquivo Contemporâneo, em Ipanema. Serão cerca de 15 peças, entre pinturas, esculturas e portraits inéditos.
Antes mesmo da Xuxa, Daniel já tinha seus baixinhos. Ele conseguia a façanha de fazer as crianças largarem a bola e a boneca, quando ainda não havia a febre dos jogos eletrônicos — o Atari só chegaria com força mais tarde —, e sentarem em frente à televisão para aprender a desenhar. Diante das câmeras, o “professor” ensinava o conceito de surrealismo de Dalí, desenhando um macaco dentro de uma caneca — “a arte nos faz voar” —, fazia surgir imagens de um pincel mágico, falava de fotografia e transformava uma caixa de ovos num jogo divertido. Foi um dos primeiros a usar a palavra reciclar na TV e, mais importante, a mostrar na prática a sua utilidade. O primeiro programa foi na TV Cultura e depois, em 1981, na Bandeirantes, a convite de Maurício Sherman. Um par de anos depois, o mesmo Sherman levaria Xuxa para a Manchete.
— Ele tinha habilidades que nenhum outro apresentador homem teve antes dele. A gente colocava palhaço, tinha o Carequinha, mas de cara limpa não existia. Foi o único em toda a história da televisão. Isso contribuiu muito para que o programa fosse variado e atingisse a sensibilidade das crianças — diz Sherman, diretor da TV Globo.
Daniel diz não ter nostalgia, mas não nega um pedido de fã. Com três riscos, faz a autocaricatura com que presenteava as crianças durante os programas. Sem muita insistência, arranca-se dele um longo assovio, seguido do bordão “Algodão doce para você!”, outro clássico para nove entre dez adultos com mais de 40 anos. Reminiscências das cores da infância. Uma vez, na British School, em Botafogo, perdeu-se da mãe, que foi encontrá-lo com o nariz colado numa carrocinha “onde o açúcar cor de rosa virava nuvens”. Sobre os programas infantis atuais, Daniel, que criou jogos de raciocínio nos anos 70, e CD-ROMs multimídias nos 80, não polemiza, mas é sincero:
— A TV não é mais a mesma, a programação aberta é um ponto de interrogação. Cada emissora faz do jeito que bem entende, e a criança, definitivamente, não é uma prioridade para as redes de televisão. Para elas, quando muito, a criança é viável apenas como produto.
Um artista, muitas imagens
De família judaica, Daniel, criado em Ipanema, é filho caçula do advogado Fortunato e de Clarita, que fez desenho clássico em Paris. É irmão do cineasta Jom Azulay, diplomata aposentado, e de Rubem, que morreu precocemente em 63 num acidente de caça submarina. Para agradar ao pai, ele formou-se em direito. A vida escolar foi penosa.
— Nunca levei bomba, mas só passava em segunda época ou raspando. Meu pai tinha um gênio incomum e perdia paciência de estudar comigo. Eu desenhava a aula inteira, não prestava atenção. Meus irmãos e até meus primos eram convocados para me dar aula particular. Imagino como devia ser chato para eles. Eu vivia no mundo da lua — diz.
Até sobreviver do desenho, Daniel desenhava em tudo que via pela frente. Recentemente, andando pelas ruas de Ipanema, emocionou-se ao ser reconhecido por um sapateiro, antigo cliente para quem desenhou letreiros. Suas referências são muitas. Jackson Pollock, Andy Warhol, Ralph Steadman ou Saul Steinberg. Sem falar em Picasso, Miró, Dalí. Mas seu mentor artístico é Ziraldo. O jovem Daniel batia ponto no apartamento do cartunista no Lido, só para observá-lo trabalhando.
— Aos 16 anos, ele já era um talento. Ele, o Miguel Paiva, e uns tantos outros que apareciam lá em casa. No início, faziam coisas parecidas com o meu Jeremias, o Bom. Depois, seguiam voo próprio. O Daniel, além de todo o mérito artístico que provou ter a vida inteira, é uma das melhores pessoas do mundo. É um absurdo de qualidades humanas. Eu brinco dizendo que é um anjo judeu.
Pelas mãos de Ziraldo, fez um suplemento de humor no “Jornal dos Sports”. Depois, foi do “Pasquim”, “Jornal do Brasil” e “Correio da Manhã”. Na ditadura, ganhou um prêmio internacional de desenhos de humor na Grécia, mas a censura fez com que a obra só fosse conhecida anos depois. Ele já estava na mira do DOPS por causa de caricaturas de Che e Dom Helder Câmara. Era para a boutique de roupas descoladas de uma amiga, mas passou por subversivo. Daniel teve a própria grife, a Farfan. Casado há 31 anos com Beth, pai de Paloma e avô de Baruck, ele namorava na época a modelo Vicky Schneider.
— Fiz a pedido da Luiza Konder, dona da Barbarella. Tive que sair de cena por um tempo, mas não cheguei a ser preso. Eu me escondia no Country, onde jogava tênis. Ninguém ia lá.
A propósito, Daniel ainda é visto entre voleios na quadra do Country


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/daniel-azulay-um-mundo-de-possibilidades-para-colorir-do-outro-lado-da-porta-8232770.html#ixzz2SQHqEpoT

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Te Contei, não ? - Maravilhas brutas

Uma nova e cuidadosa edição dos contos coligidos pelos irmãos Grimm revela um universo estranho e encantador - mas nem sempre infantil

Jerônimo Teixeira

A Gata Borralheira perde seu sapato (que não é de cristal, mas dourado) não apenas porque deixa o baile esbaforida ao badalar a meia-noite: acontece que o príncipe, que já a conhecera de um baile anterior, manda colocar piche nos degraus da escadaria, para retardar sua fuga. Esse pequeno detalhe representa bem uma característica marcante dos contos de fadas coletados pelos irmãos Grimm: com muita frequência, eles parecem mais sujos do que as versões hoje mais correntes dessas histórias, quase sempre diluídas e higienizadas no cinema ou em adaptações para livros infantis.

O nome Grimm está indissociavelmente associado ao conto de fadas (ou "conto maravilhoso", para seguir mais de perto o termo alemão Marchen). É a marca, a grife mais conhecida do gênero. No entanto, o contato direto com as histórias tantas vezes cruéis que J acob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (17861859) colecionaram pode ser desconcertante. Vale para eles uma das magistrais definições de "clássico" do escritor italiano Italo Calvino: "Clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos". A esses três adjetivos, pode-se acrescentar "chocante" para definir com mais precisão Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos (1812-1815) (tradução de Christine Rohrig; CosacNaify; 672 páginas em dois tomos; 99 reais).

Essa edição traz, acomodadas em uma simpática caixa e com ilustrações do pemambucano J. Borges - que busca fazer uma ponte entre o conto popular germânico e o cordel brasileiro -, as duas primeiras coletâneas dos Grimm. Os dois manos apresentaram 86 contos, coletados da tradição oral da região alemã do Hesse, em um volume lançado em 1812, e mais setenta em um livro de 1815. A iniciativa filiava-se ao espírito nacionalista do romantismo alemão, tanto mais exaltado porque a Alemanha ainda não existia como nação. A busca das raízes populares da germanidade estava em voga. Os poetas Achim von Amim e Clemens Brentano já haviam publicado uma coletânea de versos de extração popular, Des Knaben Wunderhorn (algo como "a trompa mágica do menino"), quando os Grimm deram início a suas pesquisas. Os irmãos patrioteiros reivindicariam origem alemã para histórias conhecidas também em outros países europeus - como Chapeuzinho Vermelho, registrada pelo francês Charles Perrault bem antes, no século XVII.

Sob o cuidado exclusivo de Wilhelm, as edições seguintes somariam mais de 200 contos. As histórias, porém, ganhariam versões amaciadas, em resposta àqueles que as consideravam impróprias para crianças. Na Rapunzel de 1812, por exemplo, a fada má que tranca a heroína na torre descobre que um príncipe vem visitando sua prisioneira quando Rapunzel menciona casualmente que seus vestidos andam apertados - indício de uma gravidez. Nas edições posteriores, Rapunzel, a tonta, deixa escapar que vem puxando, com seus cabelos, o príncipe para o alto da torre. Há outras sugestões sexuais ao longo dessas narrativas - que, como bem percebeu o psicólogo austríaco Bruno Bettelheim, são campo fértil para a investigação psicanalítica. O modo como a princesa oprimida do belo A PasTOra de Gansos solta e ajeita seus cabelos sem jamais permitir que o companheiro de trabalho Conradinho toque neles é um evidente jogo erótico. E, nas duas versões da história da princesa e do sapo, a princesa hesita na hora de levar o batráquio encantado para a cama.

A brutalidade, porém, perturba mais do que o sexo. Esses contos são um desfile de perversidades: crianças famintas, mutilações variadas, tortUras e execuções e1aboradíssimas. Em alguns casos, desvenda-se um fio de intenção edificante nessas bizarrias: o herói ou heroína passa por provações horrorosas para melhor provar sua têmpera moral - e os malvados acabam punidos. É assim no bem conhecido João e Maria, que acaba com a bruxa má assada em seu próprio fomo. Mas há histórias nas quais a violência é de uma gratuidade que parece amoral. Tal é o caso de A Mão com a Faca, em que um pobre elfo tem seu braço amputado por ajudar uma menina maltratada pela farrulia, ou de Quando Crianças Brincaram de Açougueiro, cujo título já diz tudo. As histórias de princesa que hoje são conhecidas sobretudo pelas edulcoradas animações de Walt Disney (veja o quadro na pág. ao lado) são, na pena dos Grimm, incomparavelmente mais sujas e brutas. Nas notas sombrias, aliás, os Grimm superam com folga as tentativas recentes de "modernizar" suas narrativas - como a chatíssima série de TV Grimm ou o desastrado filme Branca de Neve e o Caçador.

A profusão de membros decepados e delicadezas similares talvez tenha o sentido de educar as crianças para as realidades mais duras da vida, função que alguns psicólogos também descobrem nas brincadeiras mais agressivas dos meninos (leia a reportagem na pág. 100). Mas atenção: não é apenas o nosso tempo de hipersensibilidade histérica que tem os Grimm como "incorretos". Os contemporâneos da dupla de folcloristas já consideravam suas histórias maravilhosas impróprias para menores - é o que se atesta no prefácio um tanto defensivo que os dois escrevem para a edição de 1815.

Estes livros são obrigatórios para todo pai que deseja formar filhos leitores. Mas é preciso critério e parcimônia para apresentá-los aos pequenos; recomenda-se que os pais leiam cada história para si antes de contá-Ia a seus pimpolhos na hora de dormir. Existem aqui imenso prazer para os leitores adultos e encantamento inesgotável para as crianças. Os Grimm professavam uma filosofia de fidelidade às fontes orais, e por isso não se permitiam grandes firuIas de estilo. Mas há uma poesia irresistível no modo como descrevem, por exemplo, o reino sonolento em A Bela Adormecida: "Até o fogo, que crepitava no fogão, ficou em silêncio e adormeceu". E que dizer de A Chave Dourada, última história da edição de 18157 Simples, eficiente, é uma aula de como encadear uma narrativa: uma ação depois da outra, até a última frase que deixa o leitor em suspenso, à espera de um final que não virá - porque histórias assim são infindáveis.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

PARA REFLETIR ....



POR QUE LER LOBATO?






Os clássicos do autor do Sítio sempre revelam algo inédito e inesperado, além de ser fundamental para a formação cultural dos alunos






Por MILENA RIBEIRO MARTINS - professora de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Paraná









Monteiro Lobato ( 1882 - 1948 ) é considerado por escritores e críticos como o grande clássico da Literatura Infantil Brasileira, aquele cuja obra estimulou a criação de outras obras de importantes escritores. Os 22 títulos que contêm as aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo se inscrevem numa tradição que não pode ser ignorada por quem queira compreender esta nossa cultura.



Por ter sido um entusiasta de estudos sobre a cultura nacional, Lobato denunciava veemente a valorização excessiva de modelos estrangeiros. Ao mesmo tempo, porém, o escritor reconhecia a permeabilidade e as possibilidades de diálogo fértil entre as culturas. Assim, embora criticasse a falta de um estilo nacional e a importação de modelos europeus nas artes plásticas e na literatura, Lobato tornou o Sítio um lugar em que convivem personagens originários de diversas culturas, de extração erudita e popular. Em outras palavras, no universo mítico do Sítio, a cultura estrangeira é incorporada à brasileira, num espaço povoado por seres brasileiros , por costumes locais, temperado por uma culinária que recende a bolinhos de polvilho, café e jabuticabas.



Crianças de diferentes gerações conheceram as personagens do Sítio e suas aventuras sem nunca terem lido os livros que lhes deram vida. Essa forma de primeiro acesso ao universo lobatiano não tira o mérito da leitura subsequente. Pelo contrário. Seu alcance e permanência reforçam a relevância da obra de Lobato no nosso imaginário, seja pela fantasia, seja pela representação realista do mundo. Em outras palavras, os produtos da indústria cultural audiovisual não substituem a leitura do livro: podem dialogar com ela.



Quando chegam ao Ensino Fundamental, as crianças trazem em sua bagagem um conjunto de histórias a que tiveram acesso por diferentes meios, em versões transformadas, pasteurizadas, destituídas de conflitos, da violência e da intensidade de suas versões originais. Se uma das funções da escola é a formação cultural dos seus alunos, é importantíssimo que ela garanta o acesso aos textos clássicos integrais por meio da sua leitura, por mais que personagens e enredo já sejam conhecidos. Não se trata de uma leitura de repetição, se concordarmos com Ítalo Calvino: "Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos."






REVISTA CARTA FUNDAMENTAL - Março de 2011