quinta-feira, 30 de maio de 2013

Crônica do Dia - Entre amantes e namoradas

Não termina nunca o festival de horror e mau gosto que envolve numa luz soturna o olhar aéreo e vítreo do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes. No final de abril, Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, recebeu a pena de 22 anos de prisão pela morte e pela ocultação do cadáver de Eliza Samudio. Agora, em maio, o julgamento de outros dois envolvidos, Elenilson da Silva e Wemerson Marques, vulgo Coxinha, foi adiado. Amigos de Bruno, os dois são acusados de sequestrar e manter em cárcere privado o filho de Eliza. O júri popular que os julgaria, antes agendado para 15 de maio, foi, na semana passada, remarcado para 28 de agosto. Quanto mais se estende, mais o infindável processo revela cruezas indizíveis. O semblante de Bruno, com aquele ar de quem se divorciou da razão, vai virando um signo do mal ou, pior ainda, do lixo humano. Antes uma celebridade, ele se reduziu a um dejeto de si mesmo. Representa o que desejamos negar, esconder, cuspir fora, esquecer, apagar. Tão vil, tão desqualificado, tão imundo, não surpreende que tivesse uma amante.
Restasse ao goleiro Bruno um grão que fosse de prestígio, ninguém diria que ele tinha amante. Diriam, em sílabas polidas, cúmplices, submissas, que ele tinha uma... namorada. Sim, sim, ele era casado com outra quando, em 2009, se deitou com a jovem Eliza. Foi, tecnicamente, o que se chama de um caso extraconjugal. Mesmo assim, não importaria, não faria diferença.
Eliza Samudio, morena jambo de 24 anos, sorriso quente, saboneteiras amplas e delicadas, cumpriria com perfeição o papel de namorada de famoso. Mas Bruno não é um famoso. Ele é a escória. Logo, hoje, nas páginas policiais de todo lugar, Eliza é chamada de amante. Para gentinha como ela - e ele está mais que de bom tamanho.
Ninguém aqui abraçará a defesa de Bruno, o arqueiro caído. Ninguém aqui enaltecerá a biografia de Eliza, uma mulher que lutou como pôde, viveu como desejou e morreu como nenhum ser humano merece morrer. Esta coluna não se ocupa de emitir juízo moral sobre ele ou sobre ela. O ponto é outro. É preciso observar agora, com todas as letras, que esse modo tão brasileiro de chamar de amantes as namoradas dos párias e de namoradas as amantes dos de cima é profunda e escancaradamente preconceituoso.
Não é de hoje. Há dez anos, no dia 2 de março de 2003, o então ombudsman da Folha de S.Paulo, Bernardo Ajzenberg, publicou em sua coluna dominical um texto que merece ser lembrado. Sob o título de "Grampo e preconceito" o artigo tratava das escutas telefônicas ilegais, na Bahia, que, na ocasião, renderam um desses escândalos estrondosos depois esquecidos. O nome do senador Antônio Carlos Magalhães surgia como um dos suspeitos de ter encomendado o grampo. Entre as muitas perguntas que o caso despertava, o ombudsman ficou encafifado com uma em particular:
- Por que a advogada Adriana Barreto, uma das pessoas grampeadas, é tratada pela imprensa como ex-na-morada e não como ex-amante do senador Antônio Carlos Magalhães?
Registre-se que ela admitira a relação amorosa com ACM - e ele, casado, jamais contestou a versão. Claro: a palavra namorada entrou em cena. Só deu ela. ACM era influente, poderoso ou, como alguns gostam de dizer, importante, muito importante, importante demais para ter amantes.
Mais recentemente, o mesmo tratamento foi dispensado ao senador Renan Calheiros. Em 2007, estourou outro desses escândalos de temporada, o Renanga-te. Os jornais noticiavam freneticamente que a jornalista Monica Veloso, depois de um envolvimento amoroso com Calheiros, com quem tivera uma filha, recebia pensão não do senador, mas de uma empreiteira. Naquele tempo, como agora, o senador presidia o Senado. Apesar do desgaste, tinha autoridade, notoriedade, fama. Logo, não teve amante. Teve, como os melhores homens das melhores famílias às vezes têm, uma singela namorada.
Os exemplos não param. Se você procurar bem, encontrará até ex-presidentes da República que desfilaram com namoradas. Algumas gostavam de se apresentar a terceiros, orgulhosamente, como namoradas do tal. Botando banca. O curioso - e triste - é que a imprensa vai na onda e reforça o uso preconceituoso dos dois termos: amante para a ralé, namorada para os abastados.
Hoje, o goleiro Bruno encarna a ralé. Eliza, a mulher bela e destroçada que o beijou, ainda paga por isso, mesmo depois de morta. Ela foi a vítima - que não tem descanso. Essa palavra implacável, amante, procura fazer dela uma culpada.  


Eugênio Bucci é jornalista e professor da ESPM e da ECA-USP

Artigo de Opinião - Uma recompensa para a impunidade

Denis Rosenfield

 
A impunidade é a verdadeira causa da proliferação da violência. Enquanto maiores e menores criminosos encararem seus atos como simples malfeitos que logo serão, de uma ou outra maneira, perdoados, os crimes só tendem a se multiplicar. O caso dos menores criminosos é particularmente exemplar, na medida em que são "protegidos" pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Seu pressuposto é que causas sociais e familiares são sempre apresentadas como razões "justificadoras", como se o criminoso fosse, de fato, a vítima.
Proteção que, num primeiro momento, bem-intencionada, termina produzindo efeitos perversos quando dá guarida a adolescentes que cometem estupros e assassinatos. Não se pode cair na armadilha diversionista que consiste em identificar pequenos delitos - estes, sim, devem ter um tratamento reeducativo - com atos criminosos de extrema crueldade. O tratamento igualitário é, nesse caso, injusto.
Evitemos, ainda, outro tipo de manobra diversionista, dos que procuram ocultar esse problema e recorrem ao argumento fajuto, para o caso em questão, de que a prisão é uma escola para o crime. Determinados crimes cometidos por menores mostram que tudo já aprenderam sobre a maldade humana antes de ir para uma unidade chamada de "socioeducativa". Tampouco precisam do aprendizado da prisão.
Alguns casos de exercício dos argumentos dos defensores dos direitos humanos são particularmente nocivos. O Brasil observou, estarrecido, a morte do menino João Hélio, em 2007. Lembremos que a criança estava no banco traseiro de um Corsa, quando dois bandidos anunciaram o assalto a sua mãe, a motorista. Ela conseguiu descer do veículo e retirar a filha, de 13 anos. João permaneceu atado ao cinto de segurança. Sua mãe tentou retirá-lo, mas os bandidos logo entraram no carro e arrancaram em alta velocidade. João, preso ao cinto pela barriga e pendurado para fora do automóvel, foi arrastado por 13 ruas de quatro bairros, em dez minutos.
Ezequiel Toledo da Silva, então com 16 anos, foi um dos responsáveis pelo brutal assassinato de João Hélio. A pequena história de Ezequiel, do crime até 2012 (data da última informação sobre seu paradeiro), diz muito sobre o Brasil da impunidade. A própria narrativa do
ocorrido mostra toda a sua dimensão ideológica, quando se passa a falar de um menor envolvido no crime como uma "infração", um "malfeito", como se tratasse de uma mera travessura.
Note-se que Ezequiel não cumpriu pena por matar um menino. Não se trata de pena, mas de medida "socioeducativa". Ezequiel foi internado, para ser reeducado e poder voltar ao convívio social. Cumprindo o Estatuto da Criança e do Adolescente - o Artigo 121, Parágrafo 3ª, diz que, "em nenhuma hipótese, o período máximo de internação excederá a três anos"-, o Estado brasileiro libertou Ezequiel em 2010. Livre e com ficha limpa.
Dois dias depois de solto, Ezequiel foi incluído ainda no Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte (PPCAAM). O corolário dessa medida é capaz de fraturar qualquer mente orientada pelo bom-senso. O criminoso, agora, tem proteção estatal, paga com o dinheiro de todos nós, inclusive dos pais de João Hélio. A perversão é total.
Não deveria surpreender que outros crimes do mesmo tipo se sucedam. O jovem Victor Hugo Deppman, estudante de 19 anos, foi executado por um menor. Voltava do trabalho. Sob a mira de uma arma, agiu conforme a instrução dos órgãos de segurança: entregou seus pertences sem esboçar reação. Logo depois de entregar o celular, levou um tiro na cabeça e caiu no chão. O criminoso, prestes a completar 18 anos, logo estará livre. Tem uma carreira de impunidade aberta a sua frente.
Uma dentista foi "isqueirizada" em seu consultório por um bando de jovens, pelo motivo fútil de ter apenas R$ 30 consigo. Foi queimada viva. Quem ateou fogo em seu corpo foi um menor. A crueldade é de revoltar o estômago. A repetição criminosa tornou-se a regra em nosso país, cujo exemplo maior é a impunidade.
Um adolescente de 16 anos tem plenos direitos eleitorais. Pode escolher a presidente da República. Mas, segundo nossa legislação, não é responsável penalmente por seus atos. Isso quer dizer que ele vota, então, irresponsavelmente? Parece uma piada, mas é o surrealismo, sem nenhuma arte, de nossa triste realidade.
Diferentes estatísticas sugerem que, na última década, em plena vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente, os crimes de adolescentes podem ter aumentado entre 50% e 80%. Por que o Estado não torna públicas as estatísticas dos menores que cometeram crimes, em particular estupros e assassinatos? Medo da realidade?
Recentemente, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) divulgou uma pesquisa sobre a violência na escola com dados estarrecedores. Eles ajudam a melhor mapear a impunidade. A uma pergunta relativa a situações de violência que os professores costumam presenciar, 42% mencionaram "alunos sob efeito de drogas", 29% "tráfico de drogas", 15% "portando armas brancas" e 3% "armas de fogo".
Policiais e promotores têm conhecimento de que o tráfico, dada a inimputabilidade de menores segundo o ECA, usa adolescentes como instrumentos de transporte e, mesmo, de venda de drogas. Alguns, graças a esse "aprendizado", acabam abrindo seu próprio "negócio", acobertados pela legislação.
Dos professores, 84% dizem ter conhecimento sobre casos de violência nas escolas em que lecionaram em 2012; 74% reportaram agressão verbal; 53%, vandalismo; 52%, agressão física; 45%, furto; 7%, roubo ou assalto à mão armada; 4%, violência sexual; 1%, assassinato. Professores estão literalmente desprotegidos contra menores infratores, assim como outros alunos. Uma criança e um adolescente aprendem - ou deveriam aprender - comportamentos e valores morais na escola, seguindo o exemplo de professores e colegas. A violência, aqui, não deveria ter nenhum lugar. Estamos diante de uma "escola" do crime, legalmente amparada?
A sociedade está completamente desprotegida. Seus direitos não são minimamente assegurados. A integridade física e a proteção contra a morte violenta deveriam ser as primeiras obrigações do Estado. A função primeira da prisão - e essa é uma premissa básica - não consiste em educar, mas em punir alguém que se tornou perigoso para a sociedade em seu conjunto. Retirar alguém, como castigo, do convívio social significa proteger a sociedade. Se isso não ocorrer, a impunidade será recompensada.

Denis Rosenfield é professor titular de filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Resenhando - O poeta apaixonado

A vida do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) pode ser interpretada como uma lenta desencarnação. Ele foi saindo da vida discretamente, sem estampido, para entrar na história do mesmo jeito, de forma irreversível. Deixou um baú de 30 mil páginas com que pretendia alcançar a eternidade literária – e alcançou. “Deixem estar, que, quando eu morrer, ficam cá caixotes cheios”, disse aos amigos, inconformados com tão poucas publicações em vida. A lenda conta que morreu virgem, aos 47 anos. Como o definiu seu biógrafo, João Gaspar Simões, era “o enigma de Eros”. No ano de sua morte, escreveu: “Todas as cartas de amor são ridículas”.
 
Serão mesmo? Ainda assim, Pessoa caiu na tentação do “ridículo” e escreveu 51 cartas de amor a uma datilógrafa lisboeta chamada Ofélia Queiroz (1900-1996). Ela lhe enviou 272. A correspondência traz à tona a faceta de Pessoa que ele menosprezava: o namorado ciumento, atrevido, lírico e erótico. Algumas cartas de Pessoa e Ofélia foram publicadas em separado, respectivamente, em 1978 e 1996. A própria Ofélia ajudou na edição de seu material. A estudiosa portuguesa Manuela Parreira da Silva lançou, em 2012, uma versão parcial da correspondência conjunta. Agora, pela primeira vez, a troca de mensagens de Pessoa e Ofélia é reunida com transcrição e fac-símiles dos textos, no livro Fernando Pessoa & Ofélia Queiroz – Correspondência amorosa completa, 1919-1935 (Editora Capivara-Portugal Telecom, 274 páginas, R$ 140). O livro foi organizado pelo professor americano Richard Zenith, um dos maiores estudiosos atuais de Pessoa. Reúne 348 documentos, entre cartas, telegramas e cartões-postais. Desses, 156 são inéditos.
 
O acervo amoroso de Pessoa e sua namorada pertence ao colecionador paulistano Pedro Corrêa do Lago. Ele o arrematou parcialmente em leilão na Sotheby’s, em Londres, em 2002, e completou-o em compras posteriores. Lago e a mulher, a pesquisadora Bia Corrêa do Lago, editaram o volume. “É um tesouro cultural luso-brasileiro”, diz ele. “Fico feliz que essa história de amor esteja no Brasil.” A correspondência cruzada, segundo ele, revela detalhes pouco divulgados da personalidade de Pessoa, como sua linguagem coloquial e o modo ardoroso e ousado como se relacionava com uma mulher. “As cartas suscitam especulações sobre sua sexualidade”, afirma.
RARIDADES O colecionador Pedro Corrêa do Lago, em São Paulo. Ao lado, o mapa em que Fernando mostra o trajeto onde ele e Ofélia namorariam às escondidas (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Sempre houve especulação sobre o homossexualismo de Pessoa ou sobre sua assexualidade. De acordo com Zenith, é possível agora constatar que a relação não era apenas mero jogo, como fazia crer a edição das cartas de Pessoa, de 1978. “Muito jogo havia, mas, com o acréscimo de todas as cartas de Ofélia, fica claríssimo que Pessoa estava preso e envolvido e que gostava dos ‘jinhos’ (beijinhos) que os dois trocavam no início da relação”, afirma. “Depois, aborreceu-se e criou uma espécie de triângulo, que incluía Álvaro de Campos.” Zenith acha que os dois não foram além de beijos e carícias. “Para quem quiser pensar o contrário, o fato de Ofélia ter-se mantido fiel a Fernando até que ele morresse pode sugerir que se sentia fisicamente comprometida”, diz. A pesquisadora Manuela Parreira da Silva diz que as cartas mostram que o casal manteve relações sexuais. “O que liga uma carta à seguinte é uma espécie de canal aberto à necessidade premente e permanente da presença do outro, própria, afinal, de um estado de paixão.”
 
A relação entre Pessoa e Ofélia ocorreu em três fases: um ano de paixão, de novembro 1919 a dezembro 1920; a reconciliação, que rendeu cartas entre 11 de setembro de 1929 e 11 de janeiro de 1930; e a troca de cartas e telegramas até 1935. Pessoa se encantou por Ofélia em 1919, em Lisboa. Aos 31 anos, era funcionário do comércio e colaborava para revistas literárias. Ela, aos 19, empregou-se como secretária no escritório do primo de Pessoa, onde ele também trabalhava. Iniciaram o namoro às escondidas, passeavam pela cidade (seguindo um esquema que ele desenhava num papel de embrulho), trocavam cartas e beijos ardentes (ele a beija “loucamente” num canto escuro, chamando-a de “ácido sulfúrico”) e se telefonavam. Ele é reservado e estranho, quase nunca diz o que sente. Lia para ela uma versão francesa do Kama Sutra. Ela era tão miúda e brincalhona que ele a tratava por apelidos infantis: Bebé, Ofelinha. Ela retribuía, chamava-o de Pretinho e Amorzinho. Ofélia escrevia mais cartas que Fernando. Queria se casar – assinou uma carta como “Ofélia Pessoa (quem dera)”. Ele se assustou e passou a evitá-la, enquanto se entregava à vida literária e à bebedeira. Ela ficou horrorizada. Ficaram sem se falar por nove anos. Voltaram, mas ele logo rompeu. As cartas minguaram, até virar telegramas. Ofélia só se casou depois da morte dele, não teve filhos e viveu até os 96 anos. Nessa idade, revelou que fora namorada de Pessoa e publicou as cartas.

Para os críticos, Ofélia nunca entendeu os heterônimos de Pessoa, apesar de ele os ter usado para apimentar o “namoro” – palavra que abominava. Ele mandava cartas ou telefonava como Álvaro de Campos, o engenheiro sensacionalista. Assinava como Íbis ou A.A. Cosse, nome com que publicava jogos de palavras em jornais ingleses. Ofélia odiava Álvaro de Campos, e Pessoa fazia blague com isso: “Mas ele gosta tanto de você”. Pessoa usava seus heterônimos para confundi-la. Fazia com que Ricardo Reis lhe escrevesse para dizer que “Fernandinho” não voltaria mais. “Já se sabia que o heterônimo Álvaro de Campos se metia na relação, mas percebemos agora que não era apenas um figurante ocasional; era também um protagonista”, diz Zenith. “Chegava mesmo a telefonar à namorada. O que isso significa? Fernando telefonava e anunciava-se como Álvaro? Mudava o tom da voz? Não há como saber. Ofélia era cúmplice no jogo. Mas, para Fernando, talvez não fosse mero jogo. Talvez Ofélia tivesse boas razões para ter ciúmes do Álvaro.”

Mesmo apaixonado por seus outros eus, Pessoa era ligado às cartas de Ofélia, pois guardou-as todas no baú. “Eu preferia não lhe devolver nada e conservar suas cartinhas como memória viva de um passado morto, como todos os passados; como alguma coisa de comovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos anos é par do progresso na infelicidade e na desilusão”, escreveu ao romper com ela, em 29 de novembro de 1930. Para Ofélia, a relação esfriou. “Embora a ternura por mim fosse a mesma, eu sentia que o Fernando estava diferente”, afirmou ela em 1978. “De resto, já não respondi às suas últimas cartas, porque achei que já não eram para responder. Não valia a pena. Sentia que já não tinham resposta.”
 
A correspondência reúne o casal para sempre. Carrega a memória de uma banalidade essencialmente humana – o amor – que se repete ao longo da história, mesmo contra a vontade dos poetas. Eles gostariam de ser sempre sublimes como seus versos, mas os sentimentos comuns os levam a sentir e escrever coisas ridículas. Sim, as cartas de amor são ridículas. Ainda bem que sobrevivem assim. 
Entres "jinhos" e brincadeiras (Foto: Divulgação Ed. Capivara)
 
 
 

Artigo de Opinião - Inquieta aumento dos casos de intolerância

Casos de intolerância — religiosa, sexual, racial etc. — têm sido registrados no Brasil com perigosa constância. Eles conformam um inquietante alerta ao país: o fenômeno contém claros indícios de que se pode estar chocando um ovo da serpente sob a curva ascendente em que se contabilizam esses deploráveis episódios. Por conta da intransigência, um número cada vez maior de agressões verbais — por si, deploráveis — a dessemelhantes dá lugar a ataques físicos, inclusive com mortes.
 

Artigo de Opinião - Açõs integradas contra a criminalidade infantl

Os números assustam: nos três primeiros meses do ano mais que dobrou a quantidade de menores apreendidos no Rio de Janeiro, por envolvimento com atividades criminosas. A comparação é com o mesmo período de 2012. Se o cotejo recuar a 2011, o quadro é ainda mais sombrio. Em relação ao primeiro trimestre daquele ano, triplicou o total de recolhimento de jovens delinquentes a instituições correcionais.
Entre as causas do fenômeno, segundo a polícia fluminense, estão as mudanças na estrutura do tráfico de entorpecentes pós-pacificação: crianças e adolescentes que atuavam em ações secundárias (como olheiros e aviões), nos morros onde as quadrilhas foram asfixiadas pelas UPPs, desceram ao asfalto para vender drogas. Evidência dessa tese são os índices de crescimento da participação dos jovens em crimes na capital (237%, contra 134% no interior).
São indicadores de diversas evidências. Uma delas, que pede ação imediata, diz respeito à legislação, principalmente no que tange à inimputabilidade de autores de crimes graves, abrigados sob a capa do Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA é uma lei orgânica com um importante arcabouço de proteção à juventude. Mas, em relação ao problema do crescimento da criminalidade juvenil, está fora de sintonia com a realidade do país. É preciso que a legislação se flexibilize para responder com mais rigor a criminosos que, mesmo não tendo atingido a maioridade, estão numa faixa etária que lhes confere plena consciência de seus atos.
De qualquer forma, este é apenas um dos ângulos da questão. Prender-se só a ele corresponderia a enfrentar o aumento da criminalidade juvenil com soluções pontuais, passo para a eternização do fracasso. Ao lado da revisão da lei, impõem-se outras providências. É crucial, por exemplo, manter os jovens na escola — e neste aspecto o país não tem feito o dever de casa. O Brasil tem meio milhão de crianças entre 7 e 14 anos fora das salas de aula. Nas regiões mais pobres, apenas 40% dos alunos terminam a educação fundamental. Na faixa até 17 anos, de cada cem estudantes que entram no ciclo fundamental só 59 terminam a 8ª série e 40 concluem o ensino médio. É uma taxa de evasão perversa, seara para a criminalidade.
Há ainda o problema das instituições de acolhimento, uma rede que em geral está longe de cumprir seu papel na correição e ressocialização de menores. A este viés está diretamente relacionada a eventual revisão do ECA, pois com a redução da maioridade penal o país precisaria criar programas eficazes de reinclusão de jovens delinquentes; punir apenas não contribui de forma integral para resolver a questão de fundo — a redução da criminalidade com a oferta de opções dentro da cidadania a adolescentes atraídos pelo canto da sereia da marginalidade. São aspectos de uma mesma equação, portanto impossível de ser solucionada apenas em parte.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/acoes-integradas-contra-criminalidade-juvenil-8493470#ixzz2UmdjyC00

Crônica do Dia - O debate que não houve sobre a Lei das Drogas

Las drogas sintéticas asiáticas invaden Europa

 

 

 

 

 

O Brasil assistiu um atropelo do Parlamento na aprovação, semana passada, da nova Lei Antidrogas, que introduz modificações na lei do Sistema Nacional sobre Drogas e inclui mudanças pesadas e sérias no que tange a abordagem e o acompanhamento de pessoas dependentes. Aos olhos de muitos deputados, a lamentável condução da votação se deu sem que o assunto fosse amplamente debatido em plenário ou que os líderes partidários realizassem suas orientações.

Por Jandira Feghali*


Foi votado assim, simbolicamente, sem que nós pudéssemos publicamente expressar nossos votos. Afirmo, sim, que a realização de um moderno marco legal para o assunto é urgente. No entanto, o conteúdo do Projeto de Lei 7663/10 mereceria alterações de essência, propugnando por uma política predominantemente preventiva e de adequado acompanhamento dos adictos.

Há vários equívocos na diferenciação dos usuários com o crime de tráfico, criminaliza os dependentes, além de estabelecer o que é crime organizado de forma temerária e no texto legal errado.

Segundo o Ministério da Justiça, o Brasil é o terceiro país que mais inchou suas cadeias nos últimos 20 anos (são 600 mil presos hoje em dia) – ficando atrás apenas de países como Cambodja e El Salvador neste ranking. As nossas políticas repressoras no combate às drogas se mostraram ineficientes e vale uma análise acurada sobre as razões. Resultado: mais presos e não menos drogas circulando no País.

Veja outro exemplo. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) mostrou que 70% dos consumidores de crack migraram do centro paulistano logo depois que o poder público tentou acabar com uma dasmaiores cracolândias do estado. Ao todo, 70% dos dependentes disseram aos assistentes sociais que continuaram a comprar o crack com facilidade e 80% afirmaram usar a mesma quantidade.

E essa realidade se estende a todo o País. Isso significa que a política sobre drogas não pode se ater a uma única ação ou, ainda, a ações isoladas que não enfrentam as diversas facetas do problema, da saúde, assistência e educação à questão penal.

Além disso, há repasse de recursos privilegiados às chamadas comunidades terapêuticas, onde não está garantido acompanhamento de saúde, com psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e assistentes sociais . Um “tratamento” que é contra todas as resoluções de saúde pautadas por organizações internacionais. Além disso, há desonerações tributárias às pessoas físicas apoiadoras de “ações antidrogas” na recuperação destes dependentes. Outro exemplo grave foi a retirada do artigo que previa a obrigação de mensagem no rótulo de bebidas alcoólicas com advertência sobre seus malefícios. O álcool, droga lícita, deveria receber o mesmo modelo que já acontece nas embalagens de cigarro. Esta votação favoreceu a indústria de bebidas em detrimento da saúde da população.

Como vemos, a discussão em torno do projeto deveria ser muito mais ampla e abrangente. Perdemos a chance de avançar no tema junto aos movimentos sociais e importantes e referenciados conselhos na área de saúde, a exemplo do Conselho Federal de Psicologia.

Ainda resta a votação de sete destaques em Plenário, um deles do Partido Comunista do Brasil, que defende a supressão do artigo que trata de penas e multas aos dependentes, bem como suprime a definição de organização criminosa. Mais uma vez lamentando a condução da votação, reafirmo meu voto: NÃO.


*Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro

Crônica do Dia - A defesa da classe média

Rodrigo Constantino
 
 
 
 
 
 
 
Todos vimos, chocados, uma turba ensandecida invadindo agências da Caixa em diferentes estados, após rumores de suspensão do pagamento do Bolsa Família.
Impressionou o fato de que a maioria ali era bem nutrida, em perfeitas condições de trabalho em um país com pleno emprego.
Uma das beneficiadas pelo programa, em entrevista, reclamou que a quantia não era suficiente para comprar uma calça para sua filha de 16 anos. O valor da calça: trezentos reais!
Talvez seja parte do conceito de “justiça social” da esquerda progressista garantir que adolescentes tenham roupas de grife para bailes funk.
Não quero, naturalmente, alegar que todos aqueles agraciados pelas benesses estatais não precisam delas. Ainda há muita pobreza no Brasil, ao contrário do que o próprio governo diz, manipulando os dados. Mas essa pobreza tem forte ligação com esse modelo de governo inchado, intervencionista e paternalista.
O melhor programa social que existe chama-se emprego. Ele garante dignidade ao ser humano, ao contrário de esmolas estatais, que criam uma perigosa dependência.
Para gerar melhores empregos, precisamos de menos burocracia, menos gastos públicos e impostos, mais flexibilidade nas leis trabalhistas, mais concorrência de livre mercado e um sistema melhor de educação (não confundir com jogar mais dinheiro público nesse modelo atual).
O ex-presidente Lula criticava, quando era oposição, o “voto de cabresto”, a compra de eleitores por meio de migalhas, esquema típico do coronelismo nordestino.
Quão diferente é o Bolsa Família, que já contempla dezenas de milhões de pessoas, sem uma estratégia de saída? Um programa que comemora o crescimento do número de dependentes! O leitor vê tanta diferença assim?
A presidente Dilma disse que quem espalhou os boatos era “desumano”, “criminoso”, e garantiu que o programa era “definitivo”, para “sempre”. Isso diz muito. “Nada é tão permanente quanto uma medida temporária de governo”, sabia Milton Friedman.
Não custa lembrar que o próprio PT costuma apelar para o “terrorismo eleitoral” em época de eleição, espalhando rumores de que a oposição pode encerrar o programa. Desumano? Criminoso?
Depois que o governo cria privilégios concentrados, com custos dispersos, quem tem coragem de ir contra? Seria suicídio político. Por isso ninguém toca no assunto, ninguém vem a público dizer o óbvio: essas esmolas prejudicam nossa democracia e não tiram essas pessoas da pobreza.
As esmolas estimulam a preguiça, a passividade e a informalidade. Por que correr atrás quando o “papai” governo dá mesada?
O agravante disso tudo é que os recursos do governo não caem do céu. Para bancar as esmolas, tanto para os mais pobres como para os grandes empresários favorecidos pelo BNDES, o governo avança sobre a classe média. É esta que paga o preço mais alto desse modelo perverso. Ela tem seu couro esfolado para sustentar um estado paquidérmico e “benevolente”.
Para adicionar insulto à injúria, não recebe nada em troca. Paga impostos escandinavos para serviços africanos. Conta com escolas públicas terríveis, antros de doutrinação marxista.
Os hospitais públicos também são péssimos. A infraestrutura e os meios de transporte são caóticos. A insegurança é total. Acabamos tendo que pagar tudo em dobro, fugindo para o setor privado, sempre mais eficiente.
Como se não bastasse tanto descaso, ainda somos obrigados a ver uma das representantes da esquerda, a filósofa Marilena Chauí, soltando sua verborragia em evento de lançamento de livro sobre Lula e Dilma.
Chauí, aquela que diz que o mundo se ilumina quando Lula abre a boca, declarou na ocasião: “A classe média é um atraso de vida. A classe média é estupidez, é o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista.”
É fácil dizer isso quando ganha um belo salário na USP, pago pela classe média. Chauí não dá nome aos bois, pois é mais fácil tripudiar de uma abstração de classe.
Mas não nos enganemos: a classe média que ela odeia somos nós, aqueles que simplesmente pretendem trabalhar e melhorar de vida, ter mais conforto material, em vez de se engajar em luta ideológica em nome dos proletários, representados pelos ricos petistas.
Pergunto: quem vai olhar por nós? Que partido representa a classe média? Com certeza, não é a esquerda das esmolas estatais bancadas com nosso suor, que depois ainda vem declarar todo seu ódio a quem paga a fatura.
Perdemos dois ícones da imprensa independente: Dr. Ruy Mesquita e Roberto Civita. Que a chama da liberdade de imprensa continue acesa!
 
Rodrigo Constantino é economista.

 



Te Contei,não ? - Década de queda na desigualdade

Participação de negros entre empregadores passou de 22,84% para 30,19% em dez anos
 
 
Ainda desigual, mas com avanços. Nos últimos dez anos, negros experimentaram uma melhora nas taxas de emprego e de renda. Aumentou sua participação entre os empregadores, a categoria mais bem paga do mercado de trabalho: em 2003, representavam 22,84% do total de empregadores; em 2013, já são 30,19%, revela estudo do economista Marcelo Paixão sobre empreendedores negros. É bem verdade que, quando estão em postos de comando, os negros estão predominantemente em atividades de mais baixo rendimento, sobretudo, no comércio e serviços em geral, como cabeleireiros, donos de armarinhos, designers e trabalhadores da construção civil, onde a presença deles é maioria. Entre as mulheres negras, grupo com maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, o desemprego caiu de 18,2% para 7,7%.
Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a melhora na economia propiciou a ascensão profissional. Com renda maior, o negro que trabalhava por conta própria pôde incrementar seu negócio e passar a contratar um funcionário, tornando-se um empregador."É um salto expressivo. O mercado de trabalho está menos desigual. Ainda se encontram as mazelas de gênero, de cor, de jovens, mas mais amenizadas", afirma Azeredo.
As desvantagens de empregadores negros passam por uma poupança menor. Com menos capital que os brancos, eles costumam ter negócios no setor de serviços, em que os investimentos são mais baixos. Mas a análise dos últimos dez anos mostra que a renda de empregadores negros subiu 42,59%, enquanto a dos empregadores brancos, 20,46%.
Enquanto em 2003, um empregador negro recebia o equivalente a 49,37% do rendimento de um empregador branco, hoje, ele ganha 58,43%. Segundo Paixão, a redução dessas assimetrias no mercado de trabalho são explicadas, em parte, pela valorização do salário mínimo e de programas de transferência de renda: "O rendimento de pretos e pardos, proporcionalmente, elevou-se mais que o dos brancos no mesmo intervalo, e tal cenário pode ter contribuído para esse movimento. O mesmo pode-se dizer da escolaridade média. Por outro lado, não se deve descartar por inteiro o fenômeno do crescimento relativo de pretos e pardos no conjunto da população, o que também inclui o grupo dos empregadores", afirma.

Paixão está em campo com uma pesquisa encomendada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que investiga a discriminação no acesso ao crédito no país."Se o empregador não tem recursos, perde uma oportunidade muito grande. Tia Ciata passou a vida inteira com um tabuleiro, quando ela deveria ter uma barraquinha", ilustra.
Para o economista Marcelo Néri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, o aumento da escolaridade é o fator fundamental para que negros obtenham um posto de comando.
Segundo Néri, embora o lucro de empreendedores sem instrução tenha sido 74,9% menor que o de pessoas com 11 anos ou mais de estudo, entre 2003 e 2013, o rendimento deles subiu 29,7% no período. A educação de um negro, em termos de anos de estudo, representa 80% da de brancos, segundo dados do Censo de 2010. "A fotografia ainda é favorável a quem tem estudo, mas a novidade é o filme que mostra redução da desigualdade", afirma.
O presidente do Ipea avalia que contribuíram ainda para a ascensão de negros no mercado de trabalho o maior orgulho da raça, que se traduziu em mais pessoas se autodeclarando negras nas novas gerações. Segundo ele, apesar de ainda ser cedo para ver um efeito das cotas, a chance de alguém nascido nos anos 80 de se reportar como negro é 61% maior que a de um nascido nos anos 1940. Já em 2011, a chance de alguém se reportar como negro era 36% maior do que em 1998.
"Entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas entraram na nova classe média e três quartos são pretos e pardos, quase a população negra sul-africana. Essa nova classe média é fruto do orgulho e do aumento da renda", resume Néri.
A empresária Lia Vieira diz que não foram poucas as vezes em que viu pessoas se surpreenderem com o fato de ela ser dona de uma agência de viagens. Com clientes predominantemente afrodescendentes e faturamento acima de R$ 200 mil mensais, Lia diz que a formação foi fundamental para que ela chegasse aonde chegou:
"Eu prezo muito a qualificação. O mercado é muito competitivo, e só há espaço para aqueles que investem em si mesmos. A grande dificuldade do empresário negro é que não temos poupança acumulada, não temos herança de família".
A estilista Marah Silva diz que herdou da mãe, baiana de acarajé, a veia empreendedora. Depois de trabalhar com produção de eventos e comida, ela saiu da informalidade em 2006, quando abriu um ateliê de moda na Lapa, Centro do Rio. No mês passado, foram 480 peças, um feito para o tamanho do empreendimento.
"Para o empreendedor negro, infelizmente a cor ainda é um percalço, mas a postura não é. Eu sento com meu gerente de banco e vejo o primeiro olhar e o último. Ele nota que tenho conhecimento do que estou falando", diz Marah.
O empresário Josué Elias e a família trabalham com uma pequena empresa de acessórios e bijuterias em couro na casa onde também moram, em Cascadura. Para ele, mais que dificuldades de raça, os microempresários como ele sofrem com a burocracia.
"Acredito na força do trabalho. Com qualidade, tenho quebrado muitas barreiras. Já houve discriminação, mas não foi o mais importante".
A rede Instituto Beleza Natural, com 13 salões de beleza em três estados, nasceu quando a ex-empregada doméstica Heloísa Assis, a Zica, criou uma fórmula para relaxar cabelos crespos. Ao lado do marido Jair, do irmão dela, Rogério Assis, e da amiga Leila Velez, Zica criou uma rede especializada em cabelos crespos. Hoje, são uma média de 90 mil clientes por mês e um faturamento que subiu 27% entre 2011 e 2012.
"A cada instituto que abrimos geramos mais de cem empregos diretos", orgulha-se Zica.
Incubadora para formar negócios étnicos
Negros de baixa renda e pouca escolaridade têm preferência na seleção
A diferença na educação não explica as desigualdades no mercado de trabalho. A opinião é do diretor-executivo da Incubadora AfroBrasileira, Giovanni Harvey, ONG criada em 2004 que ajuda a formar empreendedores negros.
Articulado, Harvey, descendente de imigrantes de Barbados, no Caribe, que há oito anos se dedica a incrementar os negócios de empresários negros, diz que para alguns é considerado um radical, mas que já sofreu na pele as desigualdades do mercado de trabalho, quando tinha a própria consultoria.
"Já me apontaram a porta dos fundos e alguns clientes que não me conheciam pessoalmente tiveram dificuldade de me reconhecer ao me encontrar. A qualificação por si só não equipara as pessoas com cores diferentes. O problema é o racismo. Pessoas com a mesma escolaridade e com experiência de negócios parecidas, e que recebem salários diferentes", afirma Harvey.
Desde a fundação, a incubadora, que tem parceiros como Petrobras, Sebrae-RJ e Sesc-Rio, já cuidou de 1.650 empreendimentos na região metropolitana do Rio. Nos processos de escolha de negócios que receberão apoio durante dois anos, entram quesitos como o IDH do local onde mora o empreendedor, a renda, a escolaridade e a origem étnica. Quanto mais baixo cada um deles, maior a pontuação.
"Privilegiamos quem tem menos ensino formal, porque tem mais chance de ser relegado. Ser negro precisa deixar de ser um prejuízo no país", diz.
Harvey se diz favorável às redes de negócio étnicas, que dão preferência ao negócio a parceiros da mesma raça. "Estamos correndo o risco de ter uma ascensão sem cor", defende o executivo.

Te Contei, não ? - Fernando Pessoa

FERNANDO
PESSOA

CRONOLOGIA


13 de junho de 1888 - Nasce em Lisboa, às 3 horas da tarde, Fernando Antônio Nogueira Pessoa.
1896 - Parte para Durban, na África do Sul.
1905 - Regressa a Lisboa
1906 - Matricula-se no Curso Superior de Letras, em Lisboa
1907 - Abandona o curso.
1914 - Surge o mestre Alberto Caeiro. Fernando Pessoa passa a escrever poemas dos três heterônimos.
1915 - Primeiro número da Revista "Orfeu". Pessoa "mata" Alberto Caeiro.
1916 - Seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.
1924 - Surge a Revista "Atena", dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.
1926 - Fernando Pessoa requere patente de invenção de um Anuário Indicador Sintético, por Nomes e Outras Classificações, Consultável em Qualquer Língua. Dirige, com seu cunhado, a Revista de Comércio e Contabilidade.
1927 - Passa a colaborar com a Revista "Presença".
1934 - Aparece "
Mensagem", seu único livro publicado.
30 de novembro de 1935 -
Morre em Lisboa, aos 47 anos.


Carta de Fernando Pessoa ao amigo Mário Beirão, em 01 de Fevereiro de 1913:
"Estou actualmente atravessando uma daquelas crises a que, quando se dão na agricultura, se costuma chamar "crise de abundância".
Tenho a alma num estado de rapidez ideativa tão intenso que preciso fazer da minha atenção um caderno de apontamentos, e, ainda assim, tantas são as folhas que tenho a encher que algumas se perdem, por elas serem tantas, e outras se não podem ler depois, por com mais que muita pressa escritas. As ideias que perco causam-me uma tortura imensa, sobrevivem-se nessa tortura escuramente outras. V. dificilmente imaginará que a Rua do Arsenal, em matéria de movimento, tem sido a minha pobre cabeça. Versos ingleses, portugueses, raciocínios, temas, projectos, fragmentos de coisas que não sei o que são, cartas que não sei como começam ou acabam, relâmpagos de críticas, murmúrios de metafísicas... toda uma literatura, meu caro Mário, que vai da bruma - para a bruma - pela bruma...
Destaco de coisas psíquicas de que tenho sido o lugar o seguinte fenômeno que julgo curioso. V. sabe, creio, que de várias fobias que tive guardo unicamente a assaz infantil mas terrivelmente torturadora fobia das trovoadas. O outro dia o céu ameaçava chuva e eu ia a caminho de casa e por tarde não havia carros. Afinal não houve trovoada, mas esteve iminente e começou a chover - aqueles pingos graves, quentes e espaçados - ia eu ainda a meio caminho entre a Baixa e minha casa. Atirei-me para casa com o andar mais próximo do correr que pude achar, com a tortura mental que V. calcula, perturbadíssimo, confrangido eu todo. E neste estado de espírito encontro-me a compor um soneto* - acabei-o uns passos antes de chegar ao portão de minha casa -, a compor um soneto de uma tristeza suave, calma, que parece escrito por um crepúsculo de céu limpo. E o soneto é não só calmo, mas também mais ligado e conexo que algumas coisas que eu tenho escrito. O fenômeno curioso do desdobramento é a coisa que habitualmente tenho, mas nunca o tinha sentido neste grau de intensidade... "
* O soneto referido intitula-se "Abdicação".
Carta retirada do livro "Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação", Ed. Ática.



Introdução 
Fernando Antônio Nogueira Pessoa foi um dos mais importantes escritores e poetas do modernismo em Portugal. Nasceu em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa (Portugal) e morreu, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1935.

Biografia 
Fernando Pessoa foi morar, ainda na infância, na cidade de Durban (África do Sul), onde seu pai tornou-se cônsul. Neste país teve contato com a língua e literatura inglesa. 
Adulto, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor técnico, publicando seus primeiro poemas em inglês. 
Em 1905, retornou sozinho para Lisboa e, no ano seguinte, matriculou-se no Curso Superior de Letras. Porém, abandou o curso um ano depois.
Pessoa passou a ter contato mais efetivo com a literatura portuguesa, principalmente Padre Antônio Vieira e Cesário Verde. Foi também influenciado pelos estudos filosóficos de Nietzsche e Schopenhauer. Recebeu também influências do
simbolismo francês.
Em 1912, começou suas atividade como ensaísta e crítico literário, na revista Águia. 
A saúde do poeta português começou a apresentar complicações em 1935. Neste ano foi hospitalizado com cólica hepática, provavelmente causada pelo consumo excessivo de bebida alcoólica. Sua morte prematura, aos 47 anos, provavelmente aconteceu em função destes problemas, pois apresentou cirrose hepática.
O ortônimo e os heterônimos de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa usou em suas obras diversas autorias. Usou seu próprio nome (ortônimo) para assinar várias obras e pseudônimos (heterônimos) para assinar outras. Os heterônimos de Fernando Pessoa tinham personalidade própria e características literárias diferenciadas. São eles:
Álvaro de Campos
Era um engenheiro português de educação inglesa. Influenciado pelo simbolismo e
futurismo, apresentava um certo niilismo em suas obras. 
Ricardo Reis
Era um médico que escrevia suas obras com simetria e harmonia. O bucolismo estava presente em suas poesias. Era um defensor da monarquia e demonstrava grande interesse pela
cultura latina.
Alberto Caeiro
Com uma formação educacional simples (apenas o primário), este heterônimo fazia poesias de forma simples, direta e concreta. Suas obras estão reunidas em Poemas Completos de Alberto Caeiro.

Obras de Fernando Pessoa

· Do Livro do Desassossego
· Ficções do interlúdio: para além do outro oceano
· Na Floresta do Alheamento
· O Banqueiro Anarquista
· O Marinheiro
· Por ele mesmo

Poesias de Fernando Pessoa
· A barca
· Aniversário
· Autopsicografia
· À Emissora Nacional
· Amei-te e por te amar...
· Antônio de Oliveira Salazar
· Autopsicografia
· Elegia na Sombra
· Isto
· Liberdade
· Mar português
· Mensagem
· Natal
· O Eu profundo e os outros Eus
· O cancioneiro
· O Menino da Sua Mãe
· O pastor amoroso
· Poema Pial
· Poema em linha reta
· Poemas Traduzidos
· Poemas de Ricardo Reis
· Poesias Inéditas
· Poemas para Lili
· Poemas de álvaro de Campos
· Presságio
· Primeiro Fausto
· Quadras ao gosto popular
· Ser grande
· Solenemente
· Todas as cartas de amor...
· Vendaval

Prosas de Fernando Pessoa
· Pessoa e o Fado: Um Depoimento de 1929
· Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação
· Páginas de Estética e de Teoria e de Crítica Literárias

Obras do heterônimo Alberto Caeiro
· O Guardador de Rebanhos
· O guardador de rebanhos - XX
· A Espantosa Realidade das Cousas
· Um Dia de Chuva
· Todos os Dias
· Poemas Completos
· Quando Eu não tinha
· Vai Alta no Céu a lua da Primavera
· O Amor é uma Companhia
· Eu Nunca Guardei Rebanhos
· O Meu Olhar
· Ao Entardecer
· Esta Tarde a Trovoada Caiu
· Há
Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada
· Pensar em Deus
· Da Minha Aldeia
· Num Meio-Dia de Fim de Primavera
· Sou um Guardador de Rebanhos
· Olá, Guardador de Rebanhos
· Aquela Senhora tem um Piano
· Os Pastores de
Virgílio
· Não me Importo com as Rimas
· As Quatro Canções
· Quem me Dera
· No meu Prato
· Quem me Dera que eu Fosse o Pó da Estrada
· O Luar
· O Tejo é mais Belo
· Se Eu Pudesse
· Num Dia de Verão
· O que Nós Vemos
· As Bolas de Sabão
· às Vezes
· Só a Natureza é Divina
· Li Hoje
· Nem Sempre Sou Igual
· Se Quiserem que Eu Tenha um Misticismo
· Se às Vezes Digo que as Flores Sorriem
· Ontem à Tarde
· Pobres das Flores
· Acho tão Natural que não se Pense
· Há Poetas que são Artistas
· Como um Grande Borrão
· Bendito seja o Mesmo Sol
· O Mistério das Cousas
· Passa uma Borboleta
· No Entardecer
· Passou a Diligência
· Antes o Vôo da Ave
· Acordo de Noite
· Um Renque de árvores
· Deste Modo ou Daquele Modo

Obras do heterônimo Álvaro de Campos
· Acaso
· Acordar
· Adiamento
· Afinal
· A Fernando Pessoa
· A Frescura
· Ah, Onde Estou
· Ah, Perante
· Ah, Um Soneto
· Ali Não Havia
· Aniversário
· Ao Volante
· Apostila
· às Vezes
· Barrow-on-Furness
· Bicarbonato de Soda
· O Binômio de Newton
· A Casa Branca Nau Preta
· Chega Através
· Cartas de amor
· Clearly Non-Campos!
· Começa a Haver
· Começo a conhecer-me. Não existo
· Conclusão a sucata !... Fiz o cálculo
· Contudo
· Cruz na Porta
· Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
· Datilografia
· Dela Musique
· Demogorgon
· Depus a Máscara
· Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados
· O Descalabro
· Dobrada à morda do Porto
· Dois Excertos de Odes
· Domingo Irei
· Escrito Num Livro Abandonado em Viagem
· Há mais
· Insônia
· O Esplendor
· Esta Velha
· Estou
· Estou Cansado
· Eu
· Faróis
· Gazetilha
· Gostava
· Grandes
· Há Mais
· Lá chegam todos, lá chegam todos...
· Lisboa
· O Florir
· O Frio Especial
· Lisbon Revisited - l923
· Lisbon Revisited - 1926
· Magnificat
· Marinetti Acadêmico
· Mas Eu
· Mestre
· Na Casa Defronte
· Na Noite Terrivel
· Na Véspera
· Não Estou
· Não, Não é cansaço
· Não: devagar
· Nas Praças
· Psiquetipia (ou Psicotipia)
· Soneto já antigo
· The Times

Obras do heterônimo Ricardo Reis
· A Abelha
· A Cada Qual
· Acima da verdade
· A flor que és
· Aguardo
· Aqui
· Aqui, dizeis
· Aqui, neste misérrimo desterro
· Ao Longe
· Aos Deuses
· Antes de Nós
· Anjos ou Deuses
· A palidez do dia
· Atrás não torna
· A Nada Imploram
· As Rosas
· Azuis os Montes
· Bocas Roxas
· Breve o Dia
· Cada Coisa
· Cada dia sem gozo não foi teu
· Cancioneiro
· Como
· Coroai-me
· Cuidas, índio
· Da Lâmpada
· Da Nossa Semelhança
· De Apolo
· De Novo Traz
· Deixemos, Lídia
· Dia Após Dia
· Do que Quero
· Do Ritual do Grau de Mestre do átrio na Ordem Templária de Portugal
· Domina ou Cala
· Eros e Psique
· Estás só. Ninguém o sabe
· Este seu escasso campo
· é tão suave
· Feliz Aquele
· Felizes
· Flores
· Frutos
· Gozo Sonhado
· Inglória
· Já Sobre a Fronte
· Lenta, Descansa
· Lídia
· Melhor Destino
· Mestre
· Meu Gesto
· Nada Fica
· Não a Ti, Cristo, odeio ou te não quero
· Cristo Não a Ti, Cristo, odeio ou menosprezo
· Não Canto
· Não Consentem
· Não queiras
· Não quero, Cloe, teu amor, que oprime
· Não quero recordar nem conhecer-me
· Não Só Vinho
· Não só quem nos odeia ou nos inveja
· Não sei de quem recordo meu passado
· Não Sei se é Amor que TenS
· Não Tenhas
· Nem da Erva
· Negue-me
· Ninguém a Outro Ama
· Ninguém, na vasta selva virgem
· No Breve Número
· No Ciclo Eterno
· No Magno Dia
· No mundo, Só comigo, me deixaram
· Nos Altos Ramos
· Nunca
· Ouvi contar que outrora
· Olho
· O que Sentimos
· Os Deuses e os Messias
· O Deus Pã
· Os Deuses
· O Ritmo Antigo
· O Mar Jaz
· O Sono é Bom
· O Rastro Breve
· Para os Deuses
· Para ser grande, sê inteiro: nada
· Pesa o Decreto
· Ponho na Altiva
· Pois que nada que dure, ou que, durando
· Prazer
· Prefiro Rosas
· Quanta Tristeza
· Quando, Lídia
· Quanto faças, supremamente faze
· Quem diz ao dia, dura! e à treva, acaba!
· Quer Pouco
· Quero dos Deuses
· Quero Ignorado
· Rasteja Mole
· Sábio
· Saudoso
· Segue o teu destino
· Se Recordo
· Severo Narro
· Sereno Aguarda
· Seguro Assento
· Sim
· Só o Ter
· Só Esta Liberdade
· Sofro, Lídia
· Solene Passa
· Se a Cada Coisa
· Sob a leve tutela
· Súbdito Inútil
· Tão cedo passa tudo quanto passa!
· Tão Cedo
· Tênue
· Temo, Lídia
· Tirem-me os Deuses
· Tudo que Cessa
· Tuas, Não Minhas
· Uma Após Uma
· Uns
· Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
· Vivem em nós inúmeros
· Vive sem Horas
· Vossa Formosa