quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Te Contei, não ? - Por que privatizar a Petrobras ?

A POLÍTICA DO ÓLEO (Foto: Diego Vara/Ag. RBS/Folhapress, Arquivo EM/D.A Press, Folha Press, Acervo/Sindipetro RJ,  Ricardo Stuckert/PR e divulgação)

Nenhum outro setor da economia desperta tantas paixões e controvérsias quanto o do petróleo. A Petrobras é motivo de orgulho para muitos brasileiros – e pesquisas recentes mostram que quase 80% da população é contra a privatização da estatal que explora nosso “ouro negro”. Em quase todos os debates, os argumentos são os mesmos: é preciso proteger nossas riquezas naturais, o governo precisa cuidar de um setor tão estratégico. “O petróleo é nosso”, dizem os nacionalistas.
É claro que o petróleo é fundamental para a economia moderna. Ele é a energia que faz a roda da economia girar. Mas será que isso é suficiente para considerá-lo tão diferente assim dos demais produtos? Será que é uma justificativa para preservar uma estatal quase monopolista? Mais ainda: assumindo que o petróleo é mesmo especial e, portanto, estratégico, será que devemos manter um recurso tão importante sob os cuidados do Estado?
Ao contrário do que muita gente acredita, a privatização da Petrobras não apenas não faria mal algum ao país, como tornaria um setor estratégico mais eficiente e daria aos brasileiros o que eles merecem: a posse de suas riquezas naturais. Não vamos esquecer o alerta do economista americano Milton Friedman (1912-2006): “Se o governo assumisse a gestão do Deserto do Saara, em cinco anos faltaria areia por lá”.
Nos Estados Unidos, o país mais rico do mundo, houve um crescimento incrível do setor petrolífero a partir da competição de várias empresas privadas, desde a primeira prospecção feita por Edwin Drake, na Pensilvânia, em 1859. A Standard Oil, criada por John D. Rockfeller, maior empresário do ramo, era uma máquina de fazer dinheiro e gerar empregos. Seu grupo ficou tão grande que o governo americano decidiu fatiá-lo em 1911. Assim, surgiram as empresas que dominam até hoje essa área nos EUA. Elas concorrem em igualdade de condições com empresas estrangeiras como British Petroleum, Shell, Lukoil, a própria Petrobras e várias outras. O mercado funciona – e nenhum país considera o petróleo mais estratégico que os EUA.
No Brasil, o Estado nunca deixou o setor de petróleo funcionar livremente. Um dos pensadores brasileiros que mais lutaram contra o monopólio e o controle estatal da Petrobras foi o economista e ex-ministro Roberto Campos (1917-2001). Em sua autobiografia, A lanterna na popa, vemos sua batalha inglória para trazer mais racionalidade para o debate, contra grupos de interesse muito bem organizados e um nacionalismo ideológico mal calibrado.
Apelidado de Bob Fields por seus detratores, Campos nunca foi um “entreguista”. Ao contrário. Queria apenas a adoção de um modelo de exploração do petróleo que fosse mais vantajoso para os brasileiros. Para ele, deixar empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, competir no setor seria a melhor forma de beneficiar o próprio povo brasileiro. “Mais importante que as riquezas naturais são as riquezas artificiais da educação e da tecnologia”, afirmava. Infelizmente, uma barreira ideológica impedia a escolha desse modelo. Como disse Campos, “os esquerdistas, contumazes idólatras do fracasso, recusam-se a admitir que as riquezas são criadas pela diligência dos indivíduos, e não pela clarividência do Estado”.

No governo FHC, ocorreu uma profissionalização maior na Petrobras. Infelizmente, isso acabou com a chegada do PT ao poder, em 2003. Em vez de o governo manter um quadro mais técnico, políticos como José Dutra e Sérgio Gabrielli assumiram a presidência.
A presidente Dilma reverteu isso em parte, empossando Graça Foster no comando da estatal no início de 2012, mas os resultados ainda não se refletiram nos números da empresa. O crescimento da produção total de óleo e gás da Petrobras desde que o PT assumiu o governo, em 2003, foi medíocre. A empresa, em seus planos estratégicos de cinco anos, costuma prometer aos analistas um crescimento acima de 5% ao ano na produção. De janeiro de 2003 a janeiro de 2012, a produção cresceu somente 2,4% ao ano – um resultado lamentável. Só que, para chegar a esse resultado ainda medíocre, ela teve de investir cerca de R$ 100 bilhões apenas em exploração e produção. Alguém acha realmente que essa montanha de recursos em mãos privadas teria levado a um resultado pior?
Para agravar a situação, boa parte desse programa de investimento teve de ser financiada no mercado, aumentando o endividamento da empresa, pois a geração própria de caixa não era suficiente para viabilizá-lo. A Petrobras, que tinha R$ 26,7 bilhões de dívida líquida em 2007, acumulava um endividamento líquido superior a R$ 130 bilhões no fim do primeiro semestre de 2012 – um aumento de 400% em menos de cinco anos. Eis aí algo que cresce a taxas elevadas na Petrobras, ao contrário da produção. Isso mesmo depois do enorme aumento de capital que promoveu, de R$ 100 bilhões – uma operação no mínimo controversa, que diluiu a participação dos acionistas minoritários, na qual o governo usou até os ativos do pré-sal da União para reforçar sua fatia na empresa.
Se comparada a seus pares internacionais, a rentabilidade da Petrobras nos últimos 12 meses está muito abaixo da média. Para ser mais exato, o retorno sobre o patrimônio líquido da “nossa” estatal foi um terço da média global do setor. E seu uso político custa cada vez mais aos milhões de investidores. No segundo trimestre de 2012, a Petrobras divulgou o primeiro prejuízo em 13 anos. Perdeu R$ 1,35 bilhão, fruto principalmente da enorme defasagem dos preços dos combustíveis e da alta do dólar em relação ao real. O fato de o preço do combustível não seguir as forças de mercado no Brasil representa enorme perda de eficiência do setor.
Em 2011, os cerca de 80 mil funcionários da estatal custaram para a empresa mais de R$ 18 bilhões. Isso dá uma média anual de custo acima de R$ 230 mil por empregado. Claro que há gente séria e qualificada ali, mas estes não teriam nada a perder com uma gestão privada focada no lucro. Ao contrário: como já cansamos de ver, os empregados mais eficientes que permanecem nas empresas privatizadas costumam melhorar bastante de vida. Naturalmente, a turma encostada e sem capacidade para ganhar o que ganha fica apavorada com a ideia de privatizar e colocar um fim na vida mansa. São esses que fazem de tudo para preservar o statu quo e a caixa-preta em torno da estatal.
Qualquer reformista encontrará enorme pressão dos grupos reacionários interessados em preservar privilégios e mamatas na Petrobras. Boa parte do próprio corpo de funcionários reagirá contra mudanças. O ex ministro Antônio Dias Leite chegou a cunhar a expressão “República Independente da Petrobras” para se referir à estatal. São muitos bilhões em jogo e muito poder para o governo simplesmente focar na maior eficiência da empresa e nos interesses dos consumidores. Parece natural a luta permanente pela captura da empresa por feudos políticos.
A Petrossauro, como a chamava Roberto Campos, possui infindáveis tetas para atrair vários grupos de interesse distintos. Como se costuma dizer, o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, e o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada. Mesmo ineficiente e palco de abusos políticos, a Petrobras gera enorme quantidade de caixa, despertando o olho grande de muita gente, que passa a defender sua manutenção como estatal.
O fundo de pensão da Petrobras agradece, recebendo quantias relativas aos dividendos dos acionistas jamais vistas na esfera privada. Os membros poderosos dos sindicatos agradecem, protegendo seu emprego da livre concorrência. Os empresários corruptos agradecem, podendo fechar ótimos negócios com a estatal graças ao suborno, e não à eficiência de seus serviços e produtos. Silvinho “Land Rover” Pereira e outros tantos como ele estão aí como prova.
Artistas engajados que cedem à doutrinação ideológica comandada pelo governo também agradecem, pois recebem verbas para o avanço da “cultura nacional” sem qualquer critério de mercado, ou seja, de preferência dos consumidores. De 2008 a 2011, a estatal destinou a bagatela de R$ 652 milhões a patrocínios culturais. É uma montanha de dinheiro capaz de transformar o mais liberal dos artistas num ferrenho defensor da estatização. Bastou a nova gestão de Graça Foster dar sinais de que poderia cortar a verba cultural em 2012 que a reação foi imediata e estridente.
Os políticos regozijam se também, podendo usar uma empresa gigantesca para leilão de votos e cabide de emprego. Como fica claro, toda uma cadeia da felicidade é alimentada pela Petrobras. No pôquer, há uma máxima que diz: “Se você está no jogo há 30 minutos e ainda não sabe quem é o pato, então você é o pato”. Se você, estimado leitor, não faz parte dessa farra toda que mama nas tetas da Petrobras, pode estar certo de que faz parte do grupo dos que pagam a conta. Bem-vindo ao clube.

O governo ainda usa a empresa como instrumento de política econômica, mantendo os preços artificialmente baixos para não aumentar a inflação. Para piorar, aplica cota nacionalista na compra de insumos importantes, na tentativa de estimular a indústria nacional. O problema é que isso afeta o caixa da empresa. Como o programa de investimentos é enorme, a rentabilidade mais baixa destrói o valor da empresa, prejudicando seus milhões de acionistas. Numa nota em sua coluna de 15 de julho de 2012, o jornalista Ancelmo Gois, de O Globo, revelou: “Um ex diretor da Petrobras diz que os R$ 360 milhões gastos com a P 59, na Bahia, dariam para comprar duas plataformas no exterior. O ‘Bolsa Navio’ já tem dez anos. Ou seja, o tempo passa, o tempo voa, e nossa indústria naval nunca fica competitiva”.
Resultado: a Petrobras foi o “patinho feio” da Bolsa nos últimos anos. Segundo consta no próprio relatório anual de 2011 da empresa, as ações da Petrobras tiveram queda de 15% nos últimos cinco anos, em comparação a uma alta de quase 30% no Índice Bovespa, que reflete o desempenho das principais ações negociadas nos pregões. A Petrobras chegou inclusive a perder por alguns dias o posto de maior empresa latino-americana por valor de mercado para a colombiana Ecopetrol, bem menor que a estatal brasileira. Detalhe: o patrimônio da Ecopetrol é sete vezes menor que o da Petrobras. Como milhões de pequenos investidores tornaram se acionistas da Petrobras por meio do FGTS no passado recente, o descaso e a incompetência das últimas gestões trouxeram perdas significativas para inúmeros brasileiros, inclusive de classes mais baixas, e também para os investidores estrangeiros que apostaram na empresa.
O valor de mercado da Petrobras oscila bastante e caiu muito nos últimos anos. Atualmente, ele está na faixa dos R$ 250 bilhões. A União é dona de quase metade do capital total, sem contar o BNDES. Mesmo considerando a perda de valor por causa da incompetência estatal, a Petrobras valeria uns R$ 120 bilhões para o povo brasileiro.
Isso daria quase R$ 10 mil para cada uma dos 13 milhões de famílias assistidas pelo Bolsa Família, por exemplo. Que tal doar ações da Petrobras para essa gente? Será que essas pessoas mais pobres preferem repetir que o petróleo é nosso, ou receber um título ou um cheque desse valor para fazer o que bem entender com os recursos?
Da próxima vez que o leitor escutar por aí que “o petróleo é nosso”, talvez fique mais claro o que eles realmente querem dizer com isso. Sim, o petróleo é mesmo deles, e não seu ou meu. Talvez devêssemos sair às ruas gritando “o petróleo é vosso” e demandando nossa parte. Se o petróleo for de fato nosso, do povo brasileiro, então é simples resolver a questão: basta o Estado distribuir para cada brasileiro (ou para a faixa mais pobre) sua parte da empresa, por meio de vales ou ações. Cada um poderá, então, sentir se efetivamente dono de um pedaço da Petrobras e fazer com sua parte o que lhe aprouver. Afinal, o petróleo é nosso ou não é?

Revista Época

Te contei, não ? - Os 50 são os novos 30

Walmir Paulino (Foto: Rodrigo Schmidt/ÉPOCA)

Idade é quase uma questão de opinião. Pode mudar de acordo com o ponto de vista. Na cabeça da gente é uma. Aos olhos dos filhos, outra. Na impressão dos amigos, uma terceira. Há apenas 30 anos, os 50 anunciavam o início da velhice. Não mais. Não só por uma questão de percepção íntima ou da sociedade. Mas pela própria fisiologia. Graças a avanços na saúde, nos costumes e no conforto material, a nova geração de 50 anos chega a essa fase com vitalidade, um gosto de novidade e a sensação de estar no auge da vida. Eles se sentem jovens como, há alguns anos, se sentia quem tinha 30. “Há três décadas, o estado de saúde geral dos meus pacientes de 50 era o mesmo das pessoas de 70 que atendo hoje”, diz o geriatra João Toniolo Neto, da Escola Paulista de Medicina. “Não é exagero dizer que a maioria dos pacientes de 50 anos tem saúde e disposição mental dos de 35 daquela época.”

As pessoas de 50 anos de hoje em nada lembram as da década de 1970. Muitas têm o corpo tão ou mais em forma que seus filhos adultos. Outras estão no pique para ter filhos (biológicos ou adotados), começar uma nova faculdade, um novo romance, uma nova empreitada ou qualquer outra aventura. É um fenômeno mundial. Só na livraria on-line Amazon, há mais de 100 livros escritos na última década sobre o tema: Os novos velhos, Os sem idade, Os imortais. A profusão de títulos é só um sintoma. A postura dessa nova idade tem impacto direto na economia, no mercado de trabalho, no consumo, nos relacionamentos, nas relações familiares – em toda a sociedade.

É como se, em questão de poucas décadas, a população ativa do país dobrasse. Foi o que aconteceu no Brasil. Em 50 anos, a expectativa de vida da população aumentou de 48 para 73 anos. Deverá chegar a 80 em 2050. Ao se distanciar da morte, os cinquentenários se distanciaram também da velhice. Eles têm disposição física, mental e financeira. O fato de não se verem como os mais velhos do grupo contribui para o sentimento de bem-estar com a própria idade. Uma pesquisa da seguradora MetLife, feita com mais de 2 mil americanos, estima que mais da metade dos nascidos entre 1955 e 1964 tem ambos os pais vivos. Apenas 11% já perderam os dois. Os cinquentões ainda são os filhos e, em muitos casos, cuidam dos mais velhos.

Fontes: Bruna Felix Bravo, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (RJ); Karla Assed, dermatologista; Joel Block, psicólogo, autor do livro Sex over 50 (Sexo depois dos 50);  (Foto: Monica Yassuda, coordenadora de gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (Each USP); Claudia Carraro, consultora da Carreira e Cia.)


Graças a essa satisfação, o hábito de tentar disfarçar a idade parece estar ficando démodé – para usar uma expressão francesa que também saiu da moda. A maioria deles, mesmo os mais vaidosos, encara a idade de forma positiva. Não querem ter dez ou 20 anos a menos. Querem estar bem aos 50. De acordo com uma pesquisa do Ibope Mídia, feita com 3.500 brasileiros nessa faixa etária, mais de 60% estão muito satisfeitos com a vida que têm.

A longevidade depende de três fatores: uma genética favorável, um ambiente saudável e bons hábitos. O primeiro deles, nosso DNA, não mudou. Os dois outros evoluíram. A começar pelas condições criadas pelos avanços da medicina e pelo progresso econômico e social. Algumas conquistas vieram da saúde pública. Vacinas desde a infância, condições de moradia mais higiênicas, expansão do saneamento básico e até o hábito de fazer exames pré-natais contribuíram para isso. Mesmo quem chega aos 50 anos com doenças crônicas pode ter uma vida saudável e funcional. “O controle e o tratamento de enfermidades como câncer e problemas cardíacos ajudaram muito a elevar a idade média do brasileiro e a aprimorar sua qualidade de vida”, diz Nezilour Lobato Rodrigues, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Décadas de avanço econômico recente no Brasil e no mundo – apesar da crise atual – levaram bilhões de pessoas da pobreza aos confortos modernos. Além de comprar bens materiais, elas estão investindo em saúde e bem-estar. Algumas pesquisas mostram a relação entre o conforto financeiro e a longevidade. Um dos maiores levantamentos com essa faixa etária no mundo, o Estudo Longitudinal sobre Idade (Elsa, na sigla em inglês), do University College of London, mostra que a incidência de depressão no grupo com menos recursos financeiros chega a 27%. Entre os mais ricos, o índice fica em 8%. O estudo acompanhou 9 mil pessoas por dez anos e comprovou a relação entre bem-estar e longevidade. Entre os que se diziam infelizes, a mortalidade foi o triplo da registrada no grupo que se declarava mais satisfeito com a vida.
Dinheiro ajuda, mas o rejuvenescimento dos cinquentões não depende de nível social. É uma mudança notável mesmo entre os mais pobres. “A informação está disponível para todos. É uma questão de escolha, não de classe”, diz Toniolo. Quem opta por uma vida saudável envelhece melhor. Não se trata de acompanhar níveis de triglicérides ou colesterol. “Viver bem tem a ver com cuidar da saúde do corpo, da mente e das relações.” A seguir, ÉPOCA mostra como a geração de novos cinquentões encara saúde, sexo, família, trabalho, dinheiro, cultura e consumo.
 
SAÚDE
Quem é mais novo, Pelé ou Maradona? Os dois nasceram no fim de outubro, com 20 anos de diferença. Pelé nasceu em 1940. Maradona, em 1960. Pelé é, portanto, bem mais velho que Maradona. Do ponto de vista da saúde funcional, porém, não. “Pelé tem o organismo de alguém de 50 anos”, diz Toniolo. “Maradona, de alguém com mais de 70 anos, debilitado.” Toniolo apresenta o caso dos dois ex-jogadores para seus alunos para mostrar como o estilo de vida altera a idade das pessoas.

A fórmula já conhecida, com alimentação saudável e exercícios físicos, continua a mais recomendada. O nível de atividade é mais importante que a idade na hora de determinar a boa forma física. Uma pesquisa da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, com 4 mil homens e mulheres, descobriu que alguém de 50 anos que se exercita regularmente pode estar mais em forma que um jovem de 20 anos sedentário.
Até aí, nenhuma surpresa. A melhor notícia vem agora: é possível recuperar o tempo perdido. O empresário Walmir Paulino, de 53 anos, resolveu dar prioridade à saúde quando se aproximou dos 50. Passou a se impor limites no trabalho. Ele entra no escritório todo dia às 6h30. Às 15 horas, segue para os treinos. Durante uma hora e meia, pratica jiu-jítsu e malha com um personal trainer. Todo dia. “Hoje, meu corpo está melhor do que quando era mais jovem”, diz. Alguns encaram novos prazeres. Guiomar Nogueira, uma empresária de 56 anos, aprendeu a esquiar aos 50. “Desde então, vou todo ano com meu namorado, Roberto (de 63 anos). Neste ano, já fomos duas vezes”, diz ela. “Nunca imaginei que faria isso em minha vida. De repente, viajo regularmente e esquio forte. Não vou para passear.”

Cuidar da cabeça é tão importante quanto cuidar do corpo. A pesquisa inglesa Elsa comprova a relação do baixo sentimento de bem-estar com diversos aspectos da saúde. Os pesquisadores criaram dois grupos, segundo a percepção de bem-estar que seus integrantes, com mais de 50 anos, tinham de sua própria vida. Os que relatavam menor satisfação com a vida sofreram 70% mais acidentes vasculares do que os que contavam maior prazer em viver. A obesidade em quem tem menor satisfação com a vida é de 27% entre os ingleses. Entre aqueles com maior satisfação, é de17%.

SEXO
A menopausa é um fenômeno recente. Há 100 anos, a maioria das mulheres morria antes dela. Durante a menopausa, a produção dos hormônios estrógeno e testosterona despenca. Isso prejudica a libido e a lubrificação da vagina, além da saúde dos músculos e ossos. A redução dos hormônios nos homens é mais suave, mas também ocorre. A diminuição do hormônio masculino (testosterona) gera o mesmo tipo de efeito, em menor intensidade. Doenças como hipertensão, diabetes e depressão, mais comuns a partir dos 40 anos, podem causar problemas de ereção.

O acesso à informação e os avanços da medicina podem atenuar a maioria dos sintomas causados pela idade. “Hoje, as pessoas sabem que precisam se cuidar, fazem exames periódicos e a reposição hormonal quando é o caso”, diz Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos de sexualidade da Universidade de São Paulo (USP). “Com esses cuidados, é possível ter uma vida sexual com mais qualidade do que quando mais jovem.”

Muitas vezes, a mudança no apetite ou no desempenho sexual tem origens psíquicas. Uma pesquisa do psiquiatra e urologista Michael Perelman, da Escola de Medicina de Weill Cornell, nos Estados Unidos, detectou que fatores como ansiedade, raiva, depressão, trauma de infância, medo do fracasso e perda de autoconfiança estão por trás de 35% dos casos de disfunção erétil.

Por isso, uma cabeça bem resolvida pode ajudar a vida sexual. Duas em cada três pessoas com idade entre 47 e 53 anos dizem que sua vida sexual melhorou com a idade, segundo um levantamento da agência de marketing Rino com 230 entrevistados. “Com a maturidade, a pessoa conhece seus limites e está mais em paz com eles”, diz Carmita. “Esse estado contribui para a melhora na qualidade do sexo.”

Quando acabam as variações e mudanças hormonais da menopausa, muitas mulheres testemunham um momento batizado pela antropóloga americana Margaret Mead como “entusiasmo da pós-menopausa”. “Sem a tensão pré-menstrual, as cólicas, a menstruação, as variações hormonais ou a preocupação com o planejamento familiar, as mulheres se tornam mais livres em termos sexuais”, diz Keren Smedley, autora do livro Who’s that sleeping in my bed? (Quem é esse dorminhoco na minha cama?). Isso pode dar segurança e até mesmo coragem de explorar fantasias. É uma boa oportunidade para os casais que estão juntos há muito tempo espantarem o tédio que costuma atingir a vida sexual. As pessoas estão namorando mais nessa faixa etária.

Nos EUA, o número de pessoas com mais de 55 anos que usam sites de relacionamento aumentou 39% nos últimos três anos, de acordo com a empresa Experian Hitwise. No Brasil, há sites do tipo dedicados a quem tem mais de 45 anos, como o Coroa Metade. Na A2, uma das maiores agências de encontros do Brasil, os homens tradicionalmente procuram mulheres de dez a 15 anos mais jovens. As mulheres preferem homens da mesma faixa etária, com situação financeira estável. A nova tendência é o interesse de homens mais novos por mulheres mais velhas. “A mulher é muito desejável e tem qualidades que as mais jovens não costumam ter. São compreensivas, acolhedoras e se entregam mais ao relacionamento”, diz Claudya Toledo, dona da agência. “Os homens mais jovens veem isso como uma vantagem.”

A psicóloga Cybele Sisternas Di Pietro, de 55 anos, foi casada duas vezes e está separada há quatro anos. Cybele faz aulas de dança, malha todos os dias, recebe massagem modeladora e diz ter feito plástica no rosto. “As pessoas me acham mais nova do que sou”, diz. “Acabo atraindo homens mais jovens.”
 
FAMÍLIA
A nova fase dos 50 anos ganhou um apelido. É a segunda adolescência. A falta de regras estabelecidas de conduta para cinquentões os leva a se entregar a uma reinvenção, como a ocorrida na transição da puberdade para a idade adulta. “O maior impacto é nas mulheres”, diz a escritora americana Suzanne Braun Levine, autora de A reivenção dos 50 e How we love now (Como amamos agora) “Aos 50, elas não sentem a pressão de corresponder a tantas expectativas da sociedade, como criar filhos pequenos e trabalhar ao mesmo tempo, ou ter o corpo perfeito e sexy.” Elas reajustam seu lugar no mundo de acordo com o que é importante para elas (e não para o marido ou os filhos), adaptam suas expectativas de vida à realidade e se sentem mais responsáveis pela própria felicidade.
A segunda adolescência feminina também intriga os médicos. A americana Louann Brizendine, especializada em neurobiologia, aborda no livro O cérebro feminino a influência dos hormônios na vida das mulheres. Para ela, as mudanças hormonais da menopausa reduzem os níveis de prazer ao cuidar dos outros por meio de tarefas cotidianas, como cozinhar ou lavar roupas. Isso leva muitas mães na menopausa a surpreender seus filhos adolescentes com um berro de “limpe sua própria bagunça”.

Em outros casos, a estrutura familiar é alterada de forma diferente: com a chegada de bebês. Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção, 47% dos pretendentes a adotar uma criança ou adolescente no Brasil têm entre 41 e 50 anos. A artista plástica Gilsia Dolfini Gonçalves, de 49 anos, e o marido, Ricardo Gonçalves, militar de 53, faziam parte dessa estatística até dois anos atrás, quando conseguiram adotar dois irmãos, de 8 e 11 anos. O casal já tinha dois filhos adultos, de 23 e 19. “As crianças me fazem ter mais energia, eu me sinto até mais jovem”, diz Gilsia.

O relacionamento entre os avós de 50 com seus netos também mudou. “Muitos não querem ficar em casa cuidando dos netos ou não podem fazê-lo porque ainda trabalham”, diz Karen Marcelja, mestre em gerontologia pela PUC-SP. “As pessoas preferem ver os netos no fim de semana, quando dá tempo.”

TRABALHO E DINHEIRO
As pessoas de 50 anos querem – e precisam – manter-se ocupadas e remuneradas. Com 30 anos a mais de vida pela frente, com disposição para curti-la (e gastar dinheiro com isso), deixar de trabalhar não é uma opção. Para muitos, essa ainda é a fase de alimentar as reservas. É natural que as despesas com saúde aumentem com o passar dos anos. Eles podem se aposentar aos 55 ou 60, mas isso não tem a ver com deixar de ser produtivos.
Houve um tempo em que o desemprego rondava quem passasse dos 50 anos. Esse cenário já mudou. O grupo dos 50 foi o único em que o índice de emprego aumentou significativamente, de acordo com o último levantamento do IBGE: de 16,7%, em 2003, para 22% em 2011. Isso corresponde a 22,5 milhões de pessoas. Nas outras faixas etárias, o índice manteve-se estável ou diminuiu. Esse também é o grupo que menos sofre com o desemprego. O ranking mais recente do IBGE mostra que é a faixa de idade com o menor percentual de desocupação. Apenas 2,1% dos trabalhadores dessa idade estão sem trabalho, em comparação aos 4,4% entre os que têm de 25 a 29 anos. O que está por trás disso? “Entenderam que essas pessoas estão no auge de sua vida em termos de competências técnicas, atitudes e inteligência emocional”, diz Betty Dabkiewicz, consultora da Sinergia Consultoria. A experiência profissional e a maturidade dos profissionais de 50 anos são especialmente valorizados para cargos de confiança. É a idade dos líderes. Entre os presidentes dos 50 países com maior PIB, 88% têm 50 ou mais. No Brasil, 80% dos presidentes das 50 maiores empresas têm no mínimo 50 anos.

Há carreiras em que os cinquentões ainda são vistos com preconceito. É o caso de tecnologia. “Alguns jovens dessa área se recusam a aceitar o sênior”, diz Leyla Nascimento, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, do Rio de Janeiro. “As mudanças nessa área são muito rápidas. Os jovens se sentem mais antenados.” Na área de engenharia, em contrapartida, o profissional experiente de 50 é valorizado e cobiçado. “Há tamanha escassez de mão de obra qualificada, que as empresas estão chamando seus aposentados a voltar a trabalhar como terceirizados ou funcionários”, diz.

Ter autonomia e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é uma das questões mais valorizadas pelos cinquentões. Em busca de mais liberdade, muitos se arriscam a empreender depois dos 50. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), produzida pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Pesquisa (IBQP), a taxa de empreendedores entre 55 e 64 anos cresceu 5,5% em 2011. O administrador de empresas Dilson Santos, de 49 anos, é um deles. Ele viveu uma rotina frenética de trabalho dos 25 até os 46. Era diretor-geral de uma multinacional e passava metade do ano viajando. “Perdi aniversários dos meus filhos. Não tinha tempo para nada e estava sempre cansado”, diz. A rotina estressante fez o casamento de 18 anos ir por água abaixo. “Resolvi mudar meu estilo de vida e abrir uma empresa de consultoria.” Hoje, Dilson consegue participar da vida dos filhos e se casou pela segunda vez. A saúde e o lazer se tornaram prioridades. Ele frequenta a academia três vezes por semana e tira férias três vezes ao ano. “Minha vida está muito melhor agora do que aos 30. Sei dar valor às pequenas coisas.”


CULTURA E CONSUMO
Em 2006, a agência de publicidade Talent batizou um estudo sobre os cinquentões com o nome “A idade do poder”. Quem está nessa faixa etária tem potencial enorme de consumo. “Essa virada da atitude dos mais velhos já ocorria na Europa e nos Estados Unidos há algum tempo, e agora podemos vê-la no Brasil”, afirma Paulo Stephan, diretor-geral de mídia da agência. No passado, quando o brasileiro chegava aos 50, entendia que a vida estava perto do fim e começava a se preparar para isso. “Mesmo com o crescimento da expectativa de vida, essa atitude psicológica demorou a mudar”, diz Marcos Bedendo, professor de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “O marketing também pensava assim e acreditava que quem tivesse mais de 50 não queria mais investir em sua casa, numa viagem, num carro novo ou na própria aparência.”

Hoje, a situação é diferente. “Eles não se preocupam mais com a criação dos filhos e já têm uma infraestrutura construída, com casa própria, carro quitado e dinheiro para gastar com entretenimento, diversão e lazer”, afirma Marcos. As empresas dão atenção especial a identificar o perfil desse consumidor. Estima-se que, só nos EUA, os nascidos entre 1946 e 1964 gastem US$ 2 trilhões anuais. Estão entre os maiores compradores de artigos de alta qualidade. São o grupo que consome turismo e curte gastronomia. Um terço janta fora pelo menos uma vez por mês. De acordo com dados da Embratur, viajam mais do que pessoas de outras idades e em qualquer época do ano.

Os hábitos culturais dos cinquentões não têm mais a ver com idade. Quem curtia heavy metal aos 30 continua indo a shows aos 50. Eles se misturam com facilidade a gente de diferentes idades. Mas também não querem ser estereotipados como garotões, afirma Yara Rocha, gerente de planejamento da Talent. “Querem que a maturidade que construíram ao longo do tempo seja atribuída a eles, e não renegada”, afirma.

Na moda, essa mudança ocorreu de forma rápida. Há três décadas, era comum a segmentação de estilos por idade. Isso praticamente não existe mais. Homens gostam de usar camisetas e tênis, mesmo aos 70 ou 80 anos. “As roupas eram delimitadoras. Restringiam as mulheres menos jovens a um guarda-roupa sóbrio e austero”, afirma Maria Eduarda Di Pietro Quero, da grife de roupas femininas Folic. “Hoje temos peças decotadas e coloridas para mulheres de todas as idades. O que importa é quanto a pessoa se sente bem dentro dela.”

O que mudou nos 50 (Foto: Fonte: Pesquisa Target Group Index, Ibope Media. Comparativo entre as edições de 2003 e 2012)

Revista Época

Crônica do Dia - A fama trai - Walcyr Carrasco


Que pode o artista fazer quando a carreira entra em decadência? Uma safra de comerciais responde: passar pelo ridículo. Assisti a um da cantora Vanusa. Com alguns quilos a mais, ela fala em “ser convidada para cantar o Hino Nacional na Copa das Confederações”. Que mico! Vanusa fez grande sucesso popular no passado. Em 2009, interpretou o Hino Nacional na Semana da Pátria em estado visivelmente alterado. Foi retirada antes de terminar a apresentação. Na época, declarou à jornalista Silvia Popovic, então na TV Bandeirantes, que “havia se automedicado devido a uma labirintite”. No YouTube, o vídeo já foi visto por pelo menos 2.517.558 pessoas. O mico foi uma pá de cal em sua carreira de cantora, já distante dos tempos de sucesso. A simples menção a esse episódio é de envergonhá-la. Mas Vanusa topou estrelar a campanha, que promove um cartão de crédito. Mais uma vez sou obrigado a encarar a verdade: a fama é traiçoeira. Quando ela se vai, o artista passa a viver dos farrapos dos dias dourados.
Também é assustador perceber que as pessoas parecem gostar de presenciar a decadência de quem aplaudiram um dia. Outro comercial mostra o cantor Biafra (hoje Byafra), que conquistou dois discos de ouro com “Leão ferido” e “Sonho de Ícaro” no início dos anos 1980. É simples: um assaltante desiste de roubar um carro e foge quando o artista começa a cantar. A moral da história: se você não tem o Byafra para espantar o ladrão, faça um seguro. Na mesma linha, o comercial de uma cerveja sugere como alguém pode se tornar uma piada: comparecer de sunga e gravata a um comercial, acompanhado do cantor Beto Barbosa. Na década de 1980, Beto Barbosa tornou-se o Rei da Lambada. Seu maior sucesso, “Adocica”, vendeu mais de 3 milhões de cópias. Agora, virou piada.
Deve dar certo, já que citei três comerciais recentes com o mesmo mote: a graça em torno de um artista em decadência. A categoria dos ex-famosos é reconhecida pela mídia. São eles que recheiam muitas das páginas das revistas sobre artistas, que comparecem a todos os programas de TV possíveis e aceitam trabalhar por cachês diminutos. A ex-chacrete Rita Cadilac chegou a fazer shows de sucesso. Posteriormente, atuou em filmes de sexo explícito. Ainda teve de suportar a declaração do ator Alexandre Frota, seu parceiro nas posições eróticas:
– Parecia que estava pegando minha avó – disse ele. – Foi difícil.
Outras percorreram caminho semelhante, como a cantora Gretchen, que vendeu 12 milhões de discos na passagem dos anos 1970 para 1980. Também fez filme pornô. Talvez o caso mais trágico seja a atriz Leila Lopes. Conheci Leila de perto, pois seu primeiro papel foi na minissérie O guarani, que escrevi para a extinta TV Manchete. Era uma ótima pessoa, cheia de sonhos. Mais tarde, esses sonhos se tornaram realidade, com o sucesso em novelas como Renascer e O rei do gado, da TV Globo. Sua carreira entrou em declínio e, em 2008, ela se lançou no cinema pornô. Finalmente, suicidou-se. Sempre me pergunto: será que essas pessoas não percebem quando é a hora de dar a virada? Fazer um curso técnico, uma faculdade, iniciar outra profissão? Outro dia conversei com um ex-galã de televisão, pelo Facebook.
– Passei um ano como morador de rua no Rio de Janeiro – contou. – O pior é que me reconheciam!
Agora, foi para o interior de Minas Gerais, onde vive com a ajuda de parentes. Sonha com o dia em que voltará à televisão. Quando, meu Deus?
São inúmeros os casos de galãs e estrelas ou de cantoras, como Dircinha e Linda Batista, que terminaram esquecidos. Imagino que a perda da fama se confunde com uma doença sutil. Algo que se pode curar. Passam-se os anos. O dinheiro falta. O ex-famoso se transforma numa espécie de pedinte, em alguém a fim de qualquer negócio. Como alguém chega a tal ponto? E se torna uma caricatura de si mesmo? Há ex-famosos que se agarram a uma fã da época áurea, que se torna sua companheira de lamentações. Para garantir que alguém ainda os admire!
A explicação de quem se sujeita à humilhação pública é a falta de grana. Eu me admiro, porque, em boa parte dos casos, se trata de gente que ganhou muito bem, durante um bom tempo. Talvez o dinheiro tenha ido embora por algum motivo. Não é possível buscar um novo caminho? A pessoa se destrói na esperança de recuperar um sucesso que nunca mais voltará a acontecer. A fama é um vício do qual poucos conseguem se livrar. 

Revista Época

Artigo de Opinião - A juventude está nua na internet - Jairo Bouer

Uma pesquisa divulgada na última semana pela ONG Safernet, especializada em segurança na rede, revelou que 40% dos mais de 3 milhões de denúncias de crime feitas na internet no Brasil de 2006 a 2012 são casos de pornografia infantil. As outras causas de denúncia como incitação a crimes contra a vida, racismo, intolerância religiosa e homofobia nem chegam perto da exploração sexual das imagens das crianças. As queixas foram apuradas em canais on-line de instâncias como Polícia Federal, Ministério Público, Senado e da própria Safernet. O dado revela uma preocupação crescente de pais e autoridades com a forma como os jovens estão usando a rede, com a noção que eles têm dos riscos de navegar e trocar informações e, também, com o modo como os criminosos “de plantão” estão de olho nesse espaço virtual.
Outra pesquisa inédita sobre comportamento jovem feita pelo Portal Educacional, do Grupo Positivo, acaba de revelar resultados importantes. Na metodologia empregada em 2012, jovens estudantes de 13 a 17 anos criaram as perguntas respondidas por 4 mil alunos de escolas particulares de todo o país. Alguns dados: 28% dos jovens já encontraram na vida real pessoas que conheceram na rede, 20% tiveram envolvimento amoroso pela internet, 20% mandariam sua imagem para pessoas que conheceram na rede, 6% já apareceram nus ou seminus em fotos na internet, 14% já passaram informações pessoais em sites de bate-papo e 6% já mostraram partes íntimas de seu corpo para desconhecidos via webcam. O estudo também revelou que a maioria dos pais desses jovens não controla o uso da rede e não sabe todo o conteúdo acessado.
Os resultados mostram um uso pesado da internet por parte dos jovens, sem muito controle dos pais e, ainda, sem a noção precisa dos riscos de se exibir, enviar fotos ou revelar informações íntimas. O pior é que, mesmo sabendo de alguns desses riscos, os jovens lidam mal com a exposição. Para muitos, aparecer na rede (independentemente de como isso acontece) é melhor do que sumir do mapa virtual. Ser “popular”, nesse contexto, poderia compensar alguns riscos.
Será que eles imaginam o tamanho do impacto disso? Provavelmente, não. O anonimato da rede e a barreira da tela do computador parecem criar certo distanciamento do risco real. Enquanto o jovem navega com pouca proteção, pessoas hábeis e mal-intencionadas estão só esperando oportunidades para agir. Os resultados da Safernet não surpreendem. Eles revelam quanto é fundamental que essa questão seja bem trabalhada em casa, nas salas de aula e pelas autoridades.  

Crônica do Dia - O que 20 anos fizeram com Zé Dirceu? - Ruth de Aquino


1992, texto escrito pelo deputado federal José Dirceu de Oliveira e Silva, membro da CPI de PC Farias, na orelha do livro Todos os sócios do presidente, dos jornalistas Gustavo Krieger, Luiz Antonio Novaes e Tales Faria:

“A Comissão Parlamentar de Inquérito do caso Paulo César Farias pertence ao país, particularmente à juventude. Não teria sido possível sem democracia. Pela primeira vez na história do Brasil, esse sentimento de revolta contra a impunidade encontrou eco no Parlamento e cresceu até tomar conta de todo o país. A CPI só saiu do papel graças à pressão da sociedade organizada e às denúncias da imprensa, que deram sustentação à luta quase quixotesca que parlamentares travavam contra a corrupção no governo federal. A CPI revelou que o chefe da corrupção era o próprio Collor, envolvido em fatos incompatíveis com o cargo de presidente da República, recebendo vantagens econômicas ao longo de seu mandato, para si e seus familiares, através do esquema criminoso de PC. Mais grave ainda é que tudo isto foi possível porque recebeu o apoio de grande parte do empresariado brasileiro, o que revela o grau de decomposição ética das elites brasileiras, acostumadas à impunidade e ao assalto aos cofres públicos. Por tudo isso, não basta a CPI, é preciso que seu espírito tome conta do país. A verdade é que nosso povo novamente está caminhando. Está tecendo o fio da história, retomando a luta por dignidade e justiça, pela cidadania”.

***
2012, texto no blog escrito pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, réu condenado no escândalo do mensalão por corrupção ativa e formação de quadrilha, obrigado a entregar seu passaporte. Dirceu foi incluído pelo STF no Sinpi (Sistema Nacional de Procurados e Impedidos): “A decisão do relator Joaquim Barbosa de apreender os passaportes é puro populismo jurídico e uma séria violação aos direitos dos réus ainda não condenados. (…) Os argumentos (de Barbosa) cerceiam a liberdade de expressão e são uma tentativa de constranger e censurar”.
***
Dirceu insiste que sua condenação foi baseada em indícios, diz que nunca fez parte nem chefiou quadrilha e que “as reuniões na Casa Civil com representantes de bancos e empresários são compatíveis com a função de ministro e, em momento algum, como atestam os testemunhos, foram o fórum para discutir empréstimos”. Diz que foi condenado como mentor de um esquema financeiro apenas “por ser ministro”.

E a imprensa brasileira, digna de elogios e salamaleques de Dirceu em 1992? Se, na visão do idealista Dirceu de 20 anos atrás, “a CPI só saiu do papel graças à pressão da sociedade organizada e às denúncias da imprensa”, por que hoje os jornalistas seriam os vilões da história? Por que Dirceu acusa a mídia de instigar o “clamor popular” pela condenação dos réus do mensalão? Por que Dirceu continua empenhado em defender a regulação da mídia como “uma das principais metas a ser conquistadas pelo Partido em 2013”?
Por que Lula se disse “traído” em 2005 e expulsou o tesoureiro Delúbio Soares? Lula se sentia traído por quem? Por seus companheiros? Que companheiros? Traído pela mídia, que saudou com orgulho a transição democrática de FHC para o primeiro operário presidente do Brasil? A mídia que publicou perfis laudatórios de Luiz Inácio Lula da Silva e torceu por uma política com ética e sem corrupção – a maior bandeira do PT, junto ao combate à fome e à miséria?
Por que Dirceu foi o primeiro a deixar o ministério de Lula, dez dias depois de o mensalão ser denunciado pelo deputado Roberto Jefferson? Se era inocente, por que saiu, saiu por quê? Ao se despedir, disse que, na Câmara, poderia esclarecer as “denúncias infundadas” contra ele. Prometeu “percorrer o Brasil como militante dirigente para combater os que querem desestabilizar o governo Lula”. O governo que Dirceu chamou de “minha paixão e minha vida”.
“Tenho as mãos limpas. Sei lutar na planície e no Planalto. Não me considero fora do governo. Eu me considero parte integrante do governo.” Essas foram as palavras de Dirceu ao sair do gabinete há sete anos, abrindo o caminho para uma então improvável candidata à continuidade, Dilma Rousseff. Dirceu repetiria essas palavras hoje. Nisso, é coerente.
Se o PT, em seu estatuto, se compromete a expulsar os condenados por práticas ilícitas e improbidade administrativa – mas nada faz –, temos hoje no Brasil muito mais que um confuso cálculo de sentenças. Temos um impasse entre os Poderes Executivo e Judiciário: ou o governo expulsa Dirceu ou desafia o STF. Para o PT, o melhor seria Dirceu submergir em férias na Bahia, já que Caribe e Cuba estão fora de cogitação. 

REvista Época

sábado, 24 de novembro de 2012

Tá na Hora do Poeta - Pacto

Pacto
Então fica assim ...
Caminhamos juntos
Eu cuidando de você
Você cuidando de mim.
Sem buscar, cobrar grandes promessas
Percorrendo o mesmo caminho
Sem aflições, sem pressa
Bebendo do mesmo vinho...
Então fica assim
E tudo passa a ter um novo sentido.
Responsabilidades?
Só a de um o outro não trair
Você sendo feliz comigo
Eu reapredendo a felicidade contigo.
Nós dois pela vida dividindo coisas miúdas
Pequenas emoções, simples aflições
Na cama - grandes sensações.
Então fica assim...
Deixar o mestre tempo correr
Nosso sentimento entardecer
Sem nos preocuparmos com o que vai ser.
Só atentos para você não me machucar
E eu não machucar você...
Então fica assim...
José Henrique da Silva
Tarde de 31 de janeiro de 2006

Crônica do Dia - Qual é a mais correta definiçao de Globalização ?

A melhor definição de GLOBALIZAÇÃO que os professores nunca ensinaram.

 

Pergunta:
Qual é a mais correta definição de Globalização?
Resposta:
A Morte da Princesa Diana.
Pergunta:
Por quê?
Resposta:
Uma princesa inglesa com um namorado egípcio, tem um acidente de carro dentro de um túnel francês, num carro alemão com motor holandês, conduzido por um belga, bêbado de whisky escocês, que era seguido por paparazzis italianos, em motos japonesas. A princesa foi tratada por um médico canadense, que usou medicamentos americanos. E isto é enviado a você por um brasileiro, usando tecnologia americana (Bill Gates) e provavelmente, você está lendo isso em um computador genérico que usa chips feitos emTaiwan e um monitor coreano montado por trabalhadores de Bangladesh, numa fábrica de Singapura, transportado em caminhões conduzidos por indianos, roubados por indonésios, descarregados por pescadores sicilianos, reempacotados por mexicanos e, finalmente, vendido a você por chineses, através de uma conexão paraguaia

Isto é *
GLOBALIZAÇÃO!!!*


Luis Fernando Veríssimo



Te Contei, não ? - Manter os royalties

 
 
Para diminuir as desigualdades, com transparência e controle social
A defesa da manutenção do atual percentual dos royalties destinados ao Rio de Janeiro — referente às áreas já licitadas no estado para a exploração de petróleo e gás — legitima-se para além da compensação das perdas de ICMS relacionadas ao processo de produção e distribuição. São recursos que têm de ser investidos na prevenção e na redução dos impactos socioambientais causados por uma energia poluente e finita. É fundamental que esse dinheiro seja administrado com transparência e controle social.
 
O Estado precisa assumir com mais ênfase a sua responsabilidade para com as próximas gerações na gestão dos impactos da exploração do petróleo e gás. Há que se tratar das sequelas relacionadas ao emprego dessa fonte não renovável de energia, além de se desenvolver alternativas de energia limpa para o futuro. Tais necessidades, por si só, justificariam a destinação socioambiental de todos os recursos públicos obtidos nesse setor — e não apenas aqueles referentes aos royalties, que são apenas uma pequena parte.
Em 2010, apresentamos na Alerj, via mandato do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o Projeto de Lei 3025, para a criação do Conselho Estadual de Fiscalização dos Royalties, com participação do Estado e da sociedade civil, para funcionar como órgão formulador e controlador das políticas públicas e ações realizadas com financiamento dos royalties. O projeto, parado há dois anos na Comissão de Constituição e Justiça, prevê o investimento dos royalties para a preservação do meio ambiente, no desenvolvimento de energia renovável e limpa, em saúde, educação, previdência social, agricultura familiar e habitação popular. Hoje, quem cuida dessa fiscalização é o Tribunal de Contas do Estado (TCE), com conselheiros sob a suspeita de não estarem à altura desse desafio.
 Até 1995, a exploração do petróleo no Brasil foi exercida em regime de monopólio estatal. Todos os recursos dos royalties eram destinados exclusivamente para energia, pavimentação de rodovias, abastecimento e tratamento d’água, irrigação, meio ambiente e saneamento.
Há 15 anos, outras empresas além da Petrobras passaram a ter permissão para explorar e produzir petróleo e gás no Brasil por concessão. Quem tem lucrado mais são as transnacionais, cujos olhos crescem ainda mais com a descoberta do pré-sal. Não bastasse isso, com a Lei do Petróleo, de 1997, a parte dos royalties repassada pela União aos estados e municípios deixou de ter destinação específica.
Não podemos continuar a viver em cidades cada vez mais pobres, de prefeitos cada vez mais ricos. Em Campos dos Goytacazes, por exemplo, em 2002, 78,7% do orçamento foram provenientes dos royalties. Nessa época, o município estava em 54º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Rio. Em 2009, conquistou o título de campeão do Brasil em trabalho escravo. Ou seja, o que se fez foi ampliar as desigualdades e não diminuí-las.
Impõe-se a responsabilidade do Estado de investir esses recursos na preparação para um tempo em que não será mais possível contar com esse bem não renovável. Garantir recursos dos royalties para promover os direitos fundamentais do povo, como no caso da proposta apresentada no Congresso Nacional de 100% dos royalties para a educação pública, seria um bom começo. Seria um primeiro passo na defesa da vida das futuras gerações.
 
Chico Alencar

Artigo de Opinião - TUDO EM JAVANÊS

O artigo 13 da Constituição em vigor determina que “a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil”. É um mandamento de utilidade duvidosa, considerando-se que todo mundo sempre soube que aqui se fala o português — até 1988, aliás, o Brasil não tinha nenhum “idioma oficial” estabelecido em lei, e jamais se notou problema algum por causa disso durante os 500 anos anteriores.
Tudo bem: numa Constituição que tem 250 artigos e mais uma prodigiosa quantidade de “incisos” — só o artigo 5o tem 78 —, umas palavras a mais ou a menos não vão machucar ninguém. Mas, já que nossa lei mais importante determina que o português é a língua oficial do país, obrigatória nos atos públicos, no ensino, nas placas de trânsito e assim por diante, imagina-se que ela deveria ser falada e escrita corretamente, ou pelo menos de maneira compreensível, por todos os que tenham a responsabilidade de resolver alguma coisa. Eis aqui, porém, mais uma questão na qual se faz, na vida prática, justamente o contrário do que a lei manda fazer.
Falar de forma compreensível deveria começar pela Justiça. Mas…
O curioso é que esse tipo de postura comece justamente onde menos deveria começar — nas nossas altas cortes de Justiça. É o caso, como milhões de brasileiros estão sentindo justamente agora, e com direito a transmissão ao vivo, da linguagem utilizada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão.
Nunca, em toda a sua história, o STF viveu um momento de maior prestígio. Nunca tantos brasileiros viram com os próprios olhos o tribunal em ação. Nunca ele foi tão aplaudido por mostrar-se independente, capaz de condenar gente poderosa na máquina do governo e provar que não se assusta com ameaças ao tomar suas decisões.
Deveria ser uma oportunidade de ouro, assim, para a população entender como a Justiça pode de fato funcionar no Brasil. A chance foi desperdiçada. O STF realizou seu trabalho essencial, sem dúvida — mas os ministros fizeram tanta questão de falar “difícil” durante o julgamento que acabaram se tornando perfeitamente incompreensíveis para quem os via e ouvia.
O julgamento mais importante da história do Supremo foi feito em linguagem desconhecida
Os dez ministros do STF sabem muito bem que três quartos da população brasileira não são capazes de entender direito o que leem — que esperança poderiam ter, então, de que alguém conseguisse entender o que estavam dizendo? Falou-se, no julgamento, em “vértice axiológico”, “crivo probatório” e “exordial acusatória”. Ouviram-se as palavras “subsunção”, “vênia” e “colendo”. Apareceu o verbo “infirmar”.
Em certo momento, um dos ministros falou em “egrégio sodalício”. Que raio de língua seria essa? Latim não é, mesmo porque os ministros não sabem falar latim. Não é nenhum idioma estrangeiro que se conheça. Também não é português. Os sons lembram vagamente a língua falada no Brasil, e as palavras utilizadas estão nos dicionários do nosso idioma oficial.
Mas, se nem o 1% mais instruído da população nacional entende algo desse patuá, o resultado prático é que o julgamento mais importante da história do STF acabou sendo feito numa linguagem desconhecida.
Daria na mesma, no fundo, se tivessem falado em javanês — tanto que foi indispensável, para os meios de comunicação, armar uma espécie de serviço de tradução simultânea para as pessoas ficarem sabendo se o réu, afinal, estava sendo condenado ou absolvido.
Nossos juristas fazem o possível para tornar as leis incompreensíveis
O português tem cerca de 200.000 palavras — mais do que o suficiente, portanto, para Suas Excelências encontrarem termos de compreensão mais fácil. Decidiram fazer justo o contrário: não perderam uma única oportunidade de substituir toda e qualquer palavra clara por outra que ninguém entende. Para que isso? Uma sentença não fica mais justa porque é escrita nessa linguagem torturada.
É óbvio que num congresso de física molecular, cirurgia neurológica ou prospecção de petróleo os participantes têm de usar termos técnicos em sua conversa; são até obrigados a isso, para trabalhar com eficiência. Juristas podem fazer exatamente o mesmo, nos seus encontros profissionais. Mas magistrados exercem uma função pública — e isso exige que falem para o público, e não apenas para si mesmos.
Um dos mais antigos princípios do direito universal determina que ninguém pode alegar, em sua defesa, que desconhece a lei. Mas para conhecer a lei é indispensável que o cidadão entenda o que está escrito nela – e nossos juristas, com o seu linguajar, fazem o possível para torná-la incompreensível.
Imaginam, com isso, que estão exibindo sua sabedoria para o mundo. Estão apenas mostrando sua recusa, ou incapacidade, de se expressar no idioma oficial do país.

J.R. Guzzo - Revista Veja

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Tá na Hora do Poeta - Eu sou Macaé

Eu sou Macaé

Serra és o meu coração
Pulsa de alegria e paixão
Em mim a alegria aflora
Com um buganville rosa
E as paixões aumentam
Quando o Sol aparece
Para falar que está na hora.

Tenho uma alegria imensa
Quando escurece, pois a lua laranja
Nasce, sobe e cresce
Perto do meu belíssimo arquipélago

Sou muito querida,
Recebo muitas pessoas
Em minha terra bonita
Que a cada dia se torna mais rica
Com estudantes e trabalhadores
Que aqui chegam para melhorar de vida

Sou uma cidade histórica
Com muitas lendas e crenças
Tenho uma igreja no alto do morro
De onde vejo e protejo todo o povo

Monumentos não faltam
Para minha história contar
Tenho um bonito castelo
Um grande mercado de frutos do mar
E um poderoso forte
Que nos protege em nosso lar

Tenho um clima tropical
Praias, lagoas, rios, cachoeiras
Muita água em geral
Sou Macaé, serra e mar
Terra feita para prosperar

Selena Curvelo Henrique
Turma 701 / Ativo / 2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Te Contei, não ? - MACONHA faz mal, sim


O atual liberalismo em torno do consumo da droga está em descompasso com as pesquisas médicas mais recentes. As sequelas cerebrais são duradouras, sobretudo quando o uso se dá na adolescência
Hoje ainda, até o fim do dia, 1 milhão de brasileiros terão fumado maconha. A maioria dessas pessoas está plenamente convencida de que a droga não faz mal. Elas conseguem trabalhar, estudar, namorar, dirigir, ler um livro, cuidar dos filhos…
A folha seca e as flores de Cannabis são consumidas agora com uma naturalidade tal que nem parece ser um comportamento definido como crime pela lei penal brasileira. O aroma penetrante inconfundível permeia o ar nas baladas, nas áreas de lazer dos condomínios fechados, nos carros, nas imediações das escolas.
A maconha, que em outros tempos já foi chamada de “erva maldita”, agora ganhou uma aura inocente de produto orgânico e muitos de seus usuários acendem os “baseados” como se isso fosse parte de um ritual de comunhão com a natureza, uma militância espiritual de sintonia com o cosmo.
Tolerância cada vez maior com o consumo
Há uma gigantesca onda de tolerância com esse vício. Nos Estados Unidos, dezessete Estados já regulamentaram seu uso medicinal. No dia 6 passado, os Estados de Washington e Colorado realizaram plebiscitos sobre a legalização e o eleitorado aprovou. No Uruguai, o presidente José Mujica pretende estatizar a produção e a distribuição da droga.
Em maio deste ano, no Brasil, sob o argumento do direito à liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a marcha da maconha – desde, é claro, que ela não fosse consumida pelos manifestantes.
Em um de seus shows, em janeiro, Rita Lee causou tumulto ao interromper a apresentação em Sergipe para interpelar os policiais que tentavam reprimir o fumacê na plateia: “Este show é meu. Não é de vocês. Por que isso? Não pode ser por causa de um baseadinho. Cadê um baseadinho pra eu fumar aqui?”.
Na contramão da liberalidade oficial, legal e até social com o uso da maconha, a ciência médica vem produzindo provas cada dia mais eloquentes de que a fumaça da maconha faz muito mal para a saúde do usuário crônico – quem fuma no mínimo um cigarro por semana durante um ano.
Não faz menos mal do que álcool ou cigarro
Fumar na adolescência, então, é um hábito que pode ter consequências funestas para o resto da vida da pessoa. Aqueles cartazes das marchas que afirmam que “maconha faz menos mal do que álcool e cigarro” são fruto de percepções disseminadas por usuários, e não o resultado de pesquisas científicas incontrastáveis.
Maconha não faz menos mal do que álcool ou cigarro. Cada um desses vícios agride o organismo a sua maneira, mas, ao contrário do que ocorre com a maconha, ninguém sai em passeata defendendo o alcoolismo ou o tabagismo.
Diz um dos mais respeitados estudiosos do assunto, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo: “Encarar o uso da maconha com leniência é uma tese equivocada, arcaica e perigosa”.

Alguns dos argumentos para a legalização da maconha têm uma lógica perfeita apenas na aparência. Os defensores da legalização alegam que, vendida legalmente, a maconha também seria cultivada dentro da lei e industrializada. A oferta aumentaria e os preços cairiam. Isso tornaria inúteis os traficantes. Eles sumiriam do mapa, levando consigo todo o imenso colar de roubos, assassinatos e corrupção policial que a repressão à maconha provoca.
Estudo acompanhou 1.000 voluntários por 25 anos
O argumento não resiste ao mais simples teste de realidade embutido na pergunta: “Quem disse que traficante vende só maconha?”. Se a maconha fosse liberada, o tráfico de cocaína, heroína e crack continuaria e todos os problemas sociais decorrentes do poder desse submundo ficariam intactos. Acrescente-se à equação o fato de que a maconha efetivamente faz mal à saúde, e a lógica dos defensores de sua legalização evapora-se no ar ainda mais rapidamente.
Um dos estudos mais impactantes e recentes sobre os males da maconha foi conduzido por treze reputadas instituições de pesquisa, entre elas as universidade Duke, nos Estados Unidos, e de Otago, na Nova Zelândia. Os pesquisadores acompanharam 1.000 voluntários durante 25 anos. Eles começaram a ser estudados aos 13 anos de idade.

Queda no desempenho intelectual, na memória, na concentração
Um grupo era composto de fumantes regulares de maconha. Os integrantes do outro grupo não fumavam. Quando os grupos foram comparados, ficou evidente o dano à saúde dos adolescentes usuários de maconha que mantiveram o hábito até a idade adulta. Os fumantes tiveram uma queda significativa no desempenho intelectual.
Na média, os consumidores crônicos de maconha ficavam 8 pontos abaixo dos não fumantes nos testes de Q.I. Os usuários de maconha saíram-se mal também nos testes de memória, concentração e raciocínio rápido.
Os resultados mostram que é falaciosa a tese de que fumar maconha com frequência não compromete a cognição. Diz o psiquiatra Laranjeira: “Se o usuário crônico acha que está bem, a ciência mostra que ele poderia estar muito melhor sem a droga. A maconha priva a pessoa de atingir todo o potencial de sua capacidade”.
O cineasta paulistano Álvaro Zunckeller, de 32 anos, fumou maconha durante duas décadas, desde a adolescência, com os amigos, na roda do bar e na saída da escola. No início, era um cigarro a cada duas semanas. Chegou a três por dia. “Era um viciado, mas para a maioria das pessoas eu era um sujeito sossegado, apenas um pouco desatento”, conta ele.
Zunckeller é um caso típico da brasa dormida dos danos da maconha ao cérebro confundidos com um comportamento ameno e um estilo de vida mais contemplativo.

Apenas 10% dos pacientes internados em clínicas de recuperação de dependentes foram parar ali para tentar se livrar do vício da maconha. Ainda assim, muitos dos usuários da droga nessas clínicas foram diagnosticados com esquizofrenia, bipolaridade, depressão aguda ou ansiedade – sendo o vício de maconha apenas um componente do quadro psicótico e não seu determinante.
Risco mais alto de desenvolver esquizofrenia ou depressão
Até pouco tempo atrás vigorou a tese de que a maconha só deflagra transtornos mentais em pessoas com histórico familiar dessas doenças. Essa noção benigna da maconha foi sepultada, entre outros trabalhos, por uma pesquisa feita pelo Instituto de Saúde Pública da Suécia. Um grupo de 50.000 voluntários foi avaliado durante 35 anos. Eles consumiram maconha na adolescência.
Os suecos demonstraram que o risco de um usuário de maconha sem antecedentes genéticos vir a desenvolver esquizofrenia ou depressão é muito mais alto do que o da população em geral. Entre os usuários de maconha pesquisados, surgiram 3,5 mais casos de esquizofrenia do que na média da população.

No que se refere à depressão, o número de casos clínicos foi o dobro. Os sinais de perigo da fumaça estão surgindo em toda parte. “O bombardeio repetido da maconha sobre o cérebro cria uma marca neuronal indelével”, diz Ana Cristina Fraia, psicóloga da Clínica Maia Prime, em São Paulo, especializada no tratamento de dependência química.
Interfere nas sinapses, levando ao comprometimento das funções cerebrais.
A razão básica pela qual a maconha agride com agudeza o cérebro tem raízes na evolução da espécie humana. Nem o álcool, nem a nicotina do tabaco; nem a cocaína, a heroína ou o crack; nenhuma outra droga encontra tantos receptores prontos para interagir com ela no cérebro como a cannabis.
Ela imita a ação de compostos naturalmente fabricados pelo organismo, os endocanabinoides. Essas substâncias são imprescindíveis na comunicação entre os neurônios, as sinapses. A maconha interfere caoticamente nas sinapses, levando ao comprometimento das funções cerebrais.
O mais assustador, dada a fama de inofensiva da maconha, é o fato de que, interrompido seu uso, o dano às sinapses permanece muito mais tempo – em muitos casos para sempre, sobretudo quando o consumo crônico começa na adolescência. Em contraste, os efeitos diretos do álcool e da cocaína sobre o cérebro se dissipam poucos dias depois de interrompido o consumo.

Com 224 milhões de usuários em todo o mundo, a maconha é a droga ilícita universalmente mais popular. E seu uso vem crescendo – em 2007, a turma do cigarro de seda tinha metade desse tamanho. Cerca de 60% são adolescentes. Quanto mais precoce for o consumo, maior é o risco de comprometimento cerebral.
Dos 12 aos 23 anos, o cérebro está em pleno desenvolvimento. Em um processo conhecido como poda neural, o organismo faz uma triagem das conexões que devem ser eliminadas e das que devem ser mantidas para o resto da vida. A ação da maconha nessa fase de reformulação cerebral é caótica. Sinapses que deveriam se fortalecer tornam-se débeis. As que deveriam desaparecer ganham força.
Os efeitos psicoativos da maconha são conhecidos desde o ano 2000 antes de Cristo. Seu princípio psicoativo mais atuante é o tetraidrocanabinol (THC). Um outro componente da droga, o canabidiol, é o principal responsável pelos seus efeitos potencialmente terapêuticos.
No câmpus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, o psiquiatra José Alexandre Crippa estuda o efeito do canabidiol no tratamento da fobia social. Trinta e seis voluntários, metade deles composta de fóbicos, ingeriram cápsulas da substância e, em seguida, tiveram de falar em público.

Os níveis de ansiedade apresentados pelos portadores do transtorno equivaleram aos registrados pelos participantes sem a fobia. Todos os estudos sérios sobre os potenciais usos médicos da maconha mediram os efeitos de uma única substância, selecionada e isolada em laboratório – e não da inalação da fumaça de um cigarro. Diz Crippa: “Os defensores do uso medicinal do cigarro da maconha querem mesmo é obter a liberação da droga”.
Nos EUA, venda de receitas
Nos Estados Unidos floresce uma indústria de falsificação de receitas depois da legalização da erva para o tratamento do glaucoma e no controle da náusea de pacientes submetidos a quimioterapia. Para a alegria dos viciados, médicos inescrupulosos prescrevem a droga por preços que variam de 100 a 500 dólares.
Em nenhum país a maconha é completamente liberada. Um dos mais notoriamente tolerantes é a Holanda, que permite o consumo da erva nos coffee shops, mas, ainda assim, os proprietários só estão autorizados a vender 5 gramas, o equivalente a um cigarro, para cada cliente.
Recentemente, o governo holandês proibiu a venda da droga para estrangeiros. Nem sempre foi assim. Na década de 70, quando a Holanda descriminalizou a maconha e se tornou uma espécie de Disney libertária, fumava-se em praça pública. A festa acabou cedo. Desde então, o tráfico só aumentou. A experiência holandesa – e o recuo das autoridades – derruba um dos mais rígidos pilares da defesa pela liberação: o de que a venda autorizada poria fim ao tráfico. Não pôs.

No Brasil, desde 2006, com a lei antidrogas aprovada pelo Congresso e sancionada pelo então presidente Lula, foi estabelecida uma distinção na punição de traficantes e usuários. Os bandidos estão sujeitos a até quinze anos de prisão. O consumidor não vai para a cadeia. Nesse caso, o juiz decide por uma advertência verbal, pela prestação de serviços comunitários ou recomenda um tratamento médico.
A lei brasileira não contempla o volume máximo da droga a ser classificado como uso pessoal. Luana Piovani e Isabel Filardis são algumas das celebridades que defendem a tese de que a maioria dos presos com maconha “nunca cometeu outros delitos, não tem relação com o crime organizado e portava pequenas quantidades da droga no ato da detenção”.
Do ponto de vista social, elas estão corretíssimas. Do ponto de vista da saúde e da aplicação das leis, nem tanto. O advogado criminalista Pedro Lazarini faz restrições: “Um bandido pode se valer desses limites para nunca ser condenado”. O ideal seria que as evidências científicas incontestáveis sobre os ruinosos efeitos da maconha para a saúde sejam levadas em conta. Todos ganham com isso.

Aos 66 anos, o paulistano Valentim Gentil Filho é um dos mais renomados psiquiatras do país. Com doutorado em psicofarmacologia clínica pela Universidade de Londres, ocupou o cargo de presidente do conselho diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas durante doze anos – sem nunca ter abandonado a prática clínica.
Tamanha experiência o levou a defender a condenação da maconha. “Trata-se da única droga a interferir nas funções cerebrais de forma a causar psicoses irreversíveis”, disse a VEJA. “Se fosse para escolher uma única droga a ser banida, seria a maconha.”

Nos últimos dois anos, a ideia da descriminalização para o usuário da maconha ganhou força no país. Recentemente, um grupo de juristas apresentou a proposta no Senado com o objetivo de a medida ser adotada na reforma do Código Penal. O que o senhor acha disso?
O tráfico deve adorar isso. Em hipótese alguma dá para liberar geral. Estamos falando de substâncias altamente tóxicas. Um dos argumentos pró-maconha é que a legalização reduziria o consumo da droga. As pesquisas mostram, no entanto, que, quando o consumo é referendado e a droga é considerada segura, o adolescente experimenta mais. A história de que os jovens se sentem estimulados a usar drogas por serem proibidas se aplica apenas a uma minoria.

Há muitos médicos, inclusive da sua especialidade, que não pensam como o senhor.
Não é simpático expressar uma opinião contrária à cultura da “anticaretice” que impera no país em relação à maconha. Atualmente, “pega mal” ser contra a liberação da maconha. Até mesmo entre os médicos. O fato de a maconha não ser tão agressiva como outras drogas quando usada nas primeiras vezes contribui para isso. Mas ou esses médicos estão muito desinformados ou eles têm acesso a fontes científicas bem diferentes das minhas. Se fosse obrigado a escolher uma única droga a ser banida, seria a maconha, sem sombra de dúvida.

De que forma a maconha seria mais prejudicial do que as outras drogas?
Drogas como heroína, cocaína e crack são devastadoras porque podem matar a curto ou curtíssimo prazo. Além disso, é difícil se livrar dessas substâncias pelo alto grau de dependência que apresentam.
Os danos que elas causam ao cérebro, porém, cessam quando deixam de ser usadas. Ou seja, passado o período de abstinência, as funções do organismo se restabelecem.
Com a maconha a história é outra. É a única droga a interferir nas funções cerebrais de forma a causar psicoses definitivas, mesmo quando seu uso é interrompido.

Qualquer usuário está suscetível a tais danos?
Sim, mas em graus diferentes, a depender da frequência de consumo e da tolerância do organismo do usuário. É uma roleta-russa. O consumidor esporádico, aquele que fuma às vezes, está sujeito a sofrer estados psicóticos transitórios, como alucinação e paranoia, ataques de pânico e ansiedade. O efeito permanente nas conexões nervosas se dá no uso crônico. Aí, sim, absolutamente todos sofrem algum prejuízo.

O astrônomo americano Carl Sagan (1934-1996) foi usuário da maconha e um defensor ferrenho da droga. Ainda assim, deixou o legado de uma carreira brilhante. Ele teria sido uma exceção?
Sagan foi um gênio, e sou fã dele. Mas penso que, se não tivesse usado tanta maconha, ele teria sido um profissional ainda mais brilhante e mais responsável. Sagan tinha algumas ideias estapafúrdias para um astrônomo.
Por exemplo: ele se tornou um dos líderes do Seti (Search for Extra-Terrestrial Intelligence – Busca por Inteligência Extraterrestre), que investiu centenas de milhões de dólares na busca de sinais alienígenas ou provas de alguma civilização extraterrestre. Repito aqui: não há exceções para os danos causados pela maconha.

É possível identificar os adolescentes mais propensos a usar a droga?
Há entre eles um traço de personalidade conhecido como “busca de novidade” (novelty seeking) ou “busca de sensações” (sensation seeking). Pessoas com esse perfil se expõem mais a riscos, têm menor controle sobre suas emoções, são mais impulsivas e têm maior probabilidade de se tornarem dependentes da maconha. No extremo oposto, alguns jovens introvertidos e ansiosos também ficam vulneráveis, dependendo do ambiente. Famílias estruturadas ajudam, e a presença dos pais monitorando o comportamento é uma proteção importante, mas não é garantia contra o uso.

Qual é a sua opinião sobre o uso medicinal da maconha?
Acredito em benefícios de determinadas substâncias extraídas da planta que dá origem à maconha, a Cannabis. Isso é diferente de preconizar o uso terapêutico da maconha fumada, que tem muitos compostos nocivos ao organismo, além da fumaça quente retida no pulmão, com potencial cancerígeno.
Não acredito nem mesmo nas versões “purificadas” da planta, vendidas em alguns estados americanos e em coffee shops europeus. Não há tecnologia capaz de certificar que um baseado tenha apenas substâncias não tóxicas da planta. Aliás, a venda nesses lugares é uma bagunça.
O filho de um amigo conseguiu comprar maconha medicinal na Califórnia porque no mesmo lugar onde comprou a droga comprou também a receita médica. Uma coisa tem de ficar clara: a agência de saúde oficial americana (FDA) não valida o consumo da maconha ou de outros preparados da Cannabis para fins medicinais. Alguns estados liberam por meio de seus governos.

O senhor já fumou maconha?
Nunca. E jamais tive vontade.

Seus filhos já fumaram?
Não que eu saiba.









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