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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Crônicas do Dia - A selçao como metáfora

Nelson Motta, O Globo
Ninguém duvida que são muitos os craques brasileiros jogando nas melhores equipes do mundo, nem que poucos países têm tantos recursos naturais e tanto potencial humano como o Brasil. Então por que não ganhamos de nenhuma seleção de primeira linha há quase quatro anos e o país só cresceu 0,9% no ano passado? Cada governo tem a seleção que merece?
Quando fomos campeões em 1958, a seleção encarnava o otimismo e o desenvolvimentismo dos anos JK, o Brasil construía uma nova capital e se tornava capital mundial do futebol. A vitória na Suécia, dizia Nelson Rodrigues, acabava com o nosso complexo de vira-lata perdedor, o brasileiro deixava de ser um Narciso às avessas, que odiava a própria imagem.
Na vitória de 1970, querendo ou não, a seleção representava o “Brasil grande” da propaganda oficial do governo Médici, refletindo no campo o “milagre econômico” que fazia crescer a classe média, orgulhava a população e dava altos índices de popularidade à ditadura militar.
Nada foi mais parecido com os breves anos Collor do que a seleção de Lazaroni em 1990, que nos fez passar vergonha na Itália e, pior ainda, acabou eliminada pela Argentina.
 
Copa de 1994. Foto: Getty Images
 
Só no governo Itamar Franco, em 1994, com o país convalescendo do impeachment de Collor e o Plano Real em andamento, o Brasil voltaria a ganhar uma Copa do Mundo, a duras penas, nos pênaltis, com mais esforço do que brilho.
A vitória de 2002 foi conquistada com o equilíbrio do talento individual e da eficiência coletiva em campo, quando o Brasil crescia e se modernizava com estabilidade econômica, democrática e social, entre o fim do governo Fernando Henrique e o inicio da era Lula.
Já a seleção atual, mesmo com os seus talentos individuais, não deslancha nem decola. O desempenho da equipe de Dilma se assemelha à gestão de Mano Menezes, e a volta de Felipão parece um retorno ao estilo papaizão de Lula.
Como a pátria em chuteiras, a seleção é uma metáfora do momento do país, pela bolinha econômica que está jogando e pelo risco de não defender nossa meta (como Júlio César em 2010) dos chutes da inflação. O Brasil é uma caixinha de surpresas.


Nelson Motta é jornalista.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Te Contei, não ? - Raças e esportes

O Departamento de Estado dos Estados Unidos mantém o programa Fullbright Fellowship, que dá a seleto grupo de profissionais que se destacam em suas áreas a oportunidade de mostrar para o mundo suas habilidades e qualidades. O professor N. Jeremi Duru desenvolveu programa de inclusão racial e social nos esportes norte-americanos que pode nos levar a uma sensível preparação, para, enquanto sociedade, sediar os grandes eventos esportivos que acontecerão no Rio.
O episódio de Oruro envolvendo os torcedores do Corinthians não nos credencia para essa honraria. A violência não é compatível com os esportes, uma vez que a prática exige que se respeite a máxima do “mens sana in corpore sano”. Ora, levar armas e objetos de agressão aos estádios afasta os verdadeiros desportistas, transforma as arenas esportivas em campos de guerra e inibe a presença de crianças e idosos, que têm iguais direitos às práticas esportivas e não podem delas serem excluídos por elementos que não respeitam a convivência respeitosa e harmoniosa que o esporte proporciona.
Ficou pior a emenda que o soneto: o fato de se tentar atribuir a um jovem de 17 anos a responsabilidade pelo crime passou falsa impressão de impunidade que não existe nem nas leis bolivianas e muito menos nas brasileiras. O jovem, se o incidente tivesse acontecido no Brasil, deveria ser preso e processado, podendo, em caso de comprovação de sua culpa, ficar privado da liberdade por um prazo de até 3 anos.
Essa também é a lei boliviana. Contudo, essa farsa, que torna o episódio ainda mais grave, não colou nem para as autoridades bolivianas, que continuam as investigações, sem se importar com a comédia que tentaram encenar utilizando a pseudoimpunidade de um jovem, nem por qualquer pessoa minimamente desenvolvida.
Como se não bastasse a cultura do estelionato político, agora tentam nos impingir nova modalidade de estelionato esportivo.


Siro Darlan - Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia