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quinta-feira, 19 de março de 2015

Te Contei, não ? - Mulheres - A armadilha do álcool


A capixaba Luciana (foto acima) é uma morena bonita, de sorriso largo e corpo escultural. Fala de forma calma e pausada, com um leve sotaque de sua terra natal. Aos 42 anos, ela já foi casada duas vezes e morou em quatro países além do Brasil: Estados Unidos, Espanha, México e China. 

sábado, 7 de março de 2015

Te Contei, não ? - Impacto ainda maior do vício

RIO -
O cigarro é um inimigo mais poderoso do que se imaginava. Um estudo divulgado ontem pela Universidade Nacional da Austrália mostra que dois em cada três fumantes morrerão por causa do hábito, caso continuem fumando. É um índice mais alarmante do que o anunciado no ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que considerava que metade dos usuários de tabaco morreriam por causa do vício.

Crônica do Dia - Multiplicação de doses - Flávia Oliveira

Acesso fácil e tolerância social alimentam consumo de álcool por jovens. Eles já não saem (de casa) para beber; bebem para sair

Te Contei, não ? - Brincadeira de alto risco

A morte de Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, em uma festa universitária em Bauru, interior de São Paulo, trouxe novamente o debate sobre o consumo de bebidas alcoólicas entre estudantes. Apesar de ser proibido na maioria das faculdades, o uso de álcool pelos alunos acontece em confraternizações patrocinadas por empresas do setor, que possuem torneios cujo objetivo é ver quem bebe mais em menos tempo.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Crônica do Dia - A maconha e a escola - Jairo Bouer



Adolescentes que fumam maconha regularmente têm pior desempenho nos exames escolares, revela um estudo feito com estudantes ingleses, divulgado no último mês pelo jornal inglês Daily Mail. A pesquisa, realizada pelo University College of London, foi apresentada na Conferência Europeia de Neuropsicofarmacologia, em Berlim.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Te Contei, não ? - Maconha medicinal no Brasil


Vítimas de câncer, esclerose múltipla e mal de Parkinson vão se beneficiar da decisão da Anvisa, que deve autorizar a importação de remédios feitos a partir da cannabis. Saiba como essa decisão pode enriquecer o debate para a descriminalização da droga

Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) e Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
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Era 1997 quando a Justiça do Canadá autorizou Terrence Parker, 42 anos, a plantar e consumir maconha para tratar sua epilepsia. Quatro anos depois, o governo canadense foi o primeiro do mundo a regulamentar o uso medicinal da cannabis. O exemplo foi seguido pelo mundo. Nos Estados Unidos, já são 22 os Estados que permitem a produção e comercialização da erva para tratar doenças. No Reino Unido, um laboratório fabrica um medicamento em forma de spray com os dois componentes mais conhecidos da planta: o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Recentemente, a França aprovou a venda desse mesmo remédio, assim como outros países europeus. Em Israel, também é possível adquirir a droga mediante autorização do governo. Na Holanda, compra-se a erva na farmácia. E no Brasil? Na quinta-feira 29, quando a diretoria da Anvisa aprovar a reclassificação do CBD, que deve ser liberado com uso controlado, será iniciado um novo marco na relação do País com a droga. ISTOÉ apurou que não há nenhuma resistência por parte dos cinco membros da diretoria técnica da Anvisa em votar pela mudança que autorizará a importação do medicamento. “Há uma tendência bastante grande em se aprovar, caso haja segurança nas informações”, afirmou à ISTOÉ o presidente da entidade, Dirceu Barbano. Ele e outros quatro diretores se encontram para discutir a alteração em reunião aberta ao público. “Aparentemente, são todos favoráveis”, disse o presidente. Com a reformulação, a substância passará a integrar a lista de classificação C1, que permitirá a prescrição e a importação do composto em forma de medicamento.
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Em território brasileiro, a função terapêutica da cannabis vem sendo estudada há décadas por pesquisadores. Mas a Anvisa se voltou para um de seus compostos, o CBD, há cerca de 40 dias, quando tomou conhecimento de que algumas famílias estavam importando sem autorização um remédio à base da substância, alegando impossibilidade de adquirir o produto de maneira legal (leia histórias de pessoas que se beneficiaram com o uso da erva ao longo desta reportagem). Há anos brasileiros recorrem à maconha medicinal, por conta própria, como último recurso para aliviar o sofrimento em situações-limite, como espasmos que impedem a pessoa de caminhar, convulsões e efeitos colaterais drásticos decorrentes de quimioterapia, entre outros sintomas. O que parece ter sacudido a equipe da agência foi a repercussão da história da menina Anny Fischer, 6 anos (leia na pág. 57). Sua história foi contada no documentário “Ilegal”, de Tarso Araújo, autor do “Almanaque das Drogas”, e ela passou a ser uma referência na luta pela importação do medicamento.
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Pioneiro na pesquisa sobre o assunto, o psicofarmacologista Elisaldo Carlini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), explica que a maconha possui 66 canabinoides, substâncias de estrutura química peculiar que atuam em receptores do cérebro. “Entre eles, o THC e o CBD são estudados há mais tempo”, afirma Carlini, ele próprio autor de um trabalho de 1980 que demonstrava o uso terapêutico da cannabis em casos de epilepsia. Segundo o professor do laboratório de neurobiologia e comportamento da Universidade de Brasília (UnB), Renato Malcher, os canabinoides têm capacidade de atuar em diferentes males e imitam substâncias produzidas pelo nosso próprio organismo, em um sistema descoberto há cerca de duas décadas chamado endocanabinoide. “Eles controlam a hiperatividade dos neurônios, que são todos interconectados”, diz Lopes. Por isso, são tão citados em casos de convulsões e epilepsia, por exemplo. “Também evitam ruídos mentais no cérebro dos autistas.” A quantidade dos compostos necessários para um tratamento vai depender de cada caso, mas sabe-se que, enquanto o THC é euforizante, o CBD é ansiolítico.
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Se, por um lado, está claro que muitos pacientes seriam beneficiados pela regulamentação da maconha medicinal, por outro, ainda há uma grande resistência social em torno da erva. A primeira coisa que vem à cabeça quando se fala em cannabis é um cigarro de maconha. Mas, quando o assunto é saúde, pensar só no baseado é o primeiro erro. Um exemplo que ilustra essa questão é a planta da papoula, que pode gerar tanto a heroína, droga ilícita, quanto a morfina, analgésico muito utilizado para controle de dores fortes. Usar maconha terapeuticamente, portanto, não tem relação com ficar entorpecido – mesmo os portadores de doenças que fumam o baseado afirmam que só o fazem por não haver outra alternativa. Mas, apesar de a prescrição medicinal não ter relação com o uso recreativo da droga, como fazem questão de frisar os especialistas, a liberação dos medicamentos pela Anvisa irá colaborar para quebrar o estigma sobre esse entorpecente e deve contribuir para o debate sobre a sua descriminalização.
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Tão difícil quanto a mudança na legislação é a mudança de postura entre a comunidade médica. Pudera, já que, de acordo com a legislação sobre drogas, prescrever uma substância proibida é crime. Há receio, mas também há desinformação. Coordenador do comitê de ética em pesquisa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), Carlos Henrique Silva afirmou durante o IV Simpósio Internacional da Cannabis Medicinal, realizado em meados de maio, em São Paulo, nunca ter ouvido proposta de uso da planta no tratamento da doença, mesmo com depoimentos de pessoas relatando, durante o mesmo simpósio, que os efeitos da quimioterapia são amenizados pela maconha. A maioria dos médicos dos pacientes entrevistados para esta reportagem também preferiu não se manifestar. Segundo Carlos Vital, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, o uso medicinal da maconha será discutido pela entidade, que pode reconhecer a validade terapêutica.
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Colocar todas as ações relacionadas às drogas no mesmo patamar, o do crime, parece ser a maior falha da legislação brasileira. Até órgãos multilaterais se manifestaram sobre a questão. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, divulgou relatório em maio do ano passado afirmando que despenalizar, e não criminalizar usuários, deve ser a base para políticas de saúde pública. “A lei sobre drogas permite o uso medicinal, mas não há regulamentação. O que falta é a Anvisa dizer como se faz o uso terapêutico”, afirma o advogado Emílio Figueiredo, que defende cultivadores e usuários medicinais. É inconcebível, portanto, que uma pessoa que importe um remédio ou sementes para o tratamento de uma doença própria seja enquadrada como traficante internacional. “Teoricamente, é o que acontece hoje”, diz Figueiredo. Assim, o próximo passo da regulamentação do uso por doentes é garantir que o paciente usuário da droga não seja considerado criminoso.
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PIONEIRO
Elisaldo Carlini, da Unifesp, pesquisa as propriedades
medicinais da maconha há mais de 30 anos

Com toda a discussão sobre maconha medicinal no mundo, a indústria farmacêutica começa a lidar com um novo mercado. No Brasil, o laboratório Ipsen tem uma parceria com a empresa GW Pharmaceutical, detentora do Sativex, spray contendo THC e CBD. “Por isso, há planos de promover e distribuir o Sativex na América Latina”, afirma Mauricio de Souza, diretor médico do Ipsen. Por enquanto, a equipe trabalha em um dossiê regulatório antes de solicitar o registro à Anvisa. De acordo com a agência, se houver um pedido de registro, uma área técnica fará a análise e, caso aprovado, o medicamento deverá ser registrado com algum tipo de restrição, já que o CBD entra como substância de uso controlado. Mas o passo mais importante é a pesquisa, ainda restrita e dificultada pela burocracia de importação. Elisaldo Carlini, pesquisador da Unifesp que tenta desde 2010 criar uma agência brasileira da cannabis medicinal, afirma que os entraves do governo impedem o avanço científico. “Tentamos importar compostos e um medicamento para um estudo, mas parou na Anvisa. Agora, para tirar de lá, temos que pagar R$ 9 mil em taxas. Quando um centro de pesquisa de uma universidade pública vai ter esse dinheiro?” Além da Unifesp, a Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto estuda há alguns anos a função da maconha para tratamento do mal de Parkinson. Recentemente, divulgou um novo estudo sobre o uso do CBD para controle de distúrbios do sono ligados à doença. O psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, salienta a importância da produção científica para disseminar os benefícios da maconha medicinal. “A maconha tem propriedade terapêutica e funciona para algumas patologias? Sim. Funciona melhor do que medicamentos que temos hoje? Não sabemos. Acho que faltam mais dados científicos e comparações”, diz. Segundo ele, o fato de a maconha ainda ser ilícita faz com que comitês de ética de universidades e de órgãos públicos resistam em liberar a pesquisa. “O estudo dessa droga necessita que sejamos mais ousados.” Os pacientes agradeceriam.
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Fotos: Adriano Machado, João Ramid/AIB; Felipe Varanda/Ag. Istoé,João Castellano/Istoé; Rafael L G Motta

domingo, 11 de maio de 2014

Entrevista - Carl Hart - " O vício é efeito de um mundo doente, não a causa"


Para o professor de neurociência da Universidade Columbia, usuários de drogas precisam de oportunidades e atenção, não de cadeia

MARCELO MOURA

CONSUMO RESPONSÁVEL Carl Hart, fotografado recentemente. Ele vem ao Brasil defender  a descriminalização das drogas (Foto: divulgação)

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Te Contei, não ? - Cada vez mais viciante

Fonte: O Globo
Notícia publicada em: 02/02/2014
Autor: Flávia Milhorance
 
 
Dois estudos mostram os artifícios usados pela indústria para que os cigarros tenham potencial maior de dependência.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Te Contei, não ? - Dois lados da maconha

 

  • Efeitos da droga já liberada para uso medicinal em alguns países não garantem um consenso nem da ciência
Flávia Milhorance
 

Flor de cannabis sativa, planta que contém grupo de moléculas canadinoides
Foto: Latinstock
Flor de cannabis sativa, planta que contém grupo de moléculas canadinoides Latinstock

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Artigo de Opinião - A droga que alimenta o crime

Osmar Terra, O Globo
O Brasil é o lugar onde mais se mata no mundo. Em 2010, houve 52.303 assassinatos, segundo o Datasus, 3,5 vezes mais que o total de casos nos Estados Unidos. Proporcionalmente, 26 brasileiros são assassinados por ano, para cada 1 chinês.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Te Contei,não ? - A multiplicação das drogas

 

Autor(es): Isabel Clemente
Época - 16/12/2013
 
 
Em 2011, a polícia brasileira conhecia oito tipos de drogas. Agora são 30. Traficantes não sabem o que vendem; jovens não sabem o que tomam. O que fazer?

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Crônica do Dia - O debate que não houve sobre a Lei das Drogas

Las drogas sintéticas asiáticas invaden Europa

 

 

 

 

 

O Brasil assistiu um atropelo do Parlamento na aprovação, semana passada, da nova Lei Antidrogas, que introduz modificações na lei do Sistema Nacional sobre Drogas e inclui mudanças pesadas e sérias no que tange a abordagem e o acompanhamento de pessoas dependentes. Aos olhos de muitos deputados, a lamentável condução da votação se deu sem que o assunto fosse amplamente debatido em plenário ou que os líderes partidários realizassem suas orientações.

Por Jandira Feghali*


Foi votado assim, simbolicamente, sem que nós pudéssemos publicamente expressar nossos votos. Afirmo, sim, que a realização de um moderno marco legal para o assunto é urgente. No entanto, o conteúdo do Projeto de Lei 7663/10 mereceria alterações de essência, propugnando por uma política predominantemente preventiva e de adequado acompanhamento dos adictos.

Há vários equívocos na diferenciação dos usuários com o crime de tráfico, criminaliza os dependentes, além de estabelecer o que é crime organizado de forma temerária e no texto legal errado.

Segundo o Ministério da Justiça, o Brasil é o terceiro país que mais inchou suas cadeias nos últimos 20 anos (são 600 mil presos hoje em dia) – ficando atrás apenas de países como Cambodja e El Salvador neste ranking. As nossas políticas repressoras no combate às drogas se mostraram ineficientes e vale uma análise acurada sobre as razões. Resultado: mais presos e não menos drogas circulando no País.

Veja outro exemplo. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) mostrou que 70% dos consumidores de crack migraram do centro paulistano logo depois que o poder público tentou acabar com uma dasmaiores cracolândias do estado. Ao todo, 70% dos dependentes disseram aos assistentes sociais que continuaram a comprar o crack com facilidade e 80% afirmaram usar a mesma quantidade.

E essa realidade se estende a todo o País. Isso significa que a política sobre drogas não pode se ater a uma única ação ou, ainda, a ações isoladas que não enfrentam as diversas facetas do problema, da saúde, assistência e educação à questão penal.

Além disso, há repasse de recursos privilegiados às chamadas comunidades terapêuticas, onde não está garantido acompanhamento de saúde, com psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e assistentes sociais . Um “tratamento” que é contra todas as resoluções de saúde pautadas por organizações internacionais. Além disso, há desonerações tributárias às pessoas físicas apoiadoras de “ações antidrogas” na recuperação destes dependentes. Outro exemplo grave foi a retirada do artigo que previa a obrigação de mensagem no rótulo de bebidas alcoólicas com advertência sobre seus malefícios. O álcool, droga lícita, deveria receber o mesmo modelo que já acontece nas embalagens de cigarro. Esta votação favoreceu a indústria de bebidas em detrimento da saúde da população.

Como vemos, a discussão em torno do projeto deveria ser muito mais ampla e abrangente. Perdemos a chance de avançar no tema junto aos movimentos sociais e importantes e referenciados conselhos na área de saúde, a exemplo do Conselho Federal de Psicologia.

Ainda resta a votação de sete destaques em Plenário, um deles do Partido Comunista do Brasil, que defende a supressão do artigo que trata de penas e multas aos dependentes, bem como suprime a definição de organização criminosa. Mais uma vez lamentando a condução da votação, reafirmo meu voto: NÃO.


*Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro

sexta-feira, 29 de março de 2013

Crônica do Dia - Até quando as drogas vão vencer?

Nasci numa família de classe média alta, sou carioca da Zona Sul e trabalho com moda desde os 14 anos. Tinha 15 anos quando bebi pela primeira vez. O álcool já caiu torto: bebi compulsivamente e saí da festa derrubada. Cheguei em casa de manhã, com os sapatos nas mãos, passando mal e apaguei. Em seguida, fumei maconha e achei um horror. Mais tarde, aos 17, comecei a cheirar cocaína. Parecia purpurina. Quando experimentei, falei: “Gente, é isso, me encontrei”. Naquela época, na década de 70, eu não tinha informação alguma sobre os efeitos nocivos desta droga. Depois do meu casamento e do nascimento do meu filho, dei uma parada.
Passei uma temporada em Belo Horizonte, voltei para o Rio e mergulhei na noite. E a noite carioca era regada por muita bebida. Era um mundo de ‘glamour’: uma limusine vinha à minha casa para me levar às festas e às boates da moda. Nos anos 80, já era uma mãe relapsa, só cumpria minhas obrigações básicas e, já separada, tinha muitos namorados. Meu filho me viu cheirando muitas vezes e, aos 14 anos, ele foi morar com a família do pai. Nessa época, perdi o controle. Me desfiz da minha loja e passei a trabalhar para terceiros. Comecei a mentir para mim mesma. Saía de noite, não conseguia acordar e inventava uma mentira. Isso acontecia repetidamente.
Chegou uma hora que não deu mais. Acabei pedindo para sair antes de ser dispensada. Na década de 90, sem trabalho, comecei a traficar cocaína para pagar o meu vício. Era chamada de traficante de ‘tapete persa’ porque só vendia para gente bacana. Por causa da droga, sofri vários acidentes de carro e num deles quase perdi uma perna. Numa noite, encontrei um grupo de hippies na Praça Santos Dumont, na Gávea. Fui com eles para o bairro de Coelho Neto e, na manhã seguinte, acordei sob uma laje, dormindo na rua, como uma mendiga.
Resolvi, então, parar, aquele episódio foi um sinal. Passei a frequentar os Narcóticos Anônimos e levei um ano para entender a minha doença. Há 16 anos não bebo nem cheiro cocaína. Nossos jovens deveriam ser informados na escola e em casa sobre os malefícios das drogas e do álcool, esse tema deveria ser curricular. E os anúncios de bebida deveriam ser proibidos, assim como o seu uso em programas de TV, como acontece no ‘Big Brother Brasil’. Não proibiram as propagandas de cigarro? Por que ainda não fizeram isso com o álcool? Recentemente, o Brasil chorou pelo cantor Chorão. Mais um exemplo triste da vitória da droga. Até quando?


Lulí Bevilaqua é estilista

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Artigo de Opinião - As drogas serão legalizadas ?

Em 2013, o mundo observará a experiência da liberação do consumo de maconha em dois Estados americanos. Como esse exemplo afeta a política das drogas na América Latina - e também no Brasil
Juliano Machado, Epoca, 30/12/2012

Os defensores da legalização das drogas começam 2013 com um apoio vindo de longe. Não de Amsterdã, a conhecida capital mundial dos coffee shops de maconha, mas da maior referência na criminalização desse mercado, da produção ao consumo. Os Estados Unidos são os grandes fiadores do combate aos entorpecentes pelo mundo - a expressão "guerra às drogas" foi cunhada pelo presidente Richard Nixon, em 1971. Em novembro de 2012, os moradores de dois Estados americanos,
Colorado e Washington, votaram pela descriminalização da venda, do porte e do cultivo de maconha para consumo pessoal para maiores de 21 anos. Nas terras das Montanhas Rochosas e da Microsoft, liberou geral.
Nos dois Estados, um morador poderá comprar até 28 gramas de maconha em estabelecimentos licenciados. Se preferir, terá o direito de plantar em casa até seis pés da erva. Foi a maior demonstração de que a política de proibição das últimas quatro décadas começa a ser questionada no maior mercado consumidor de drogas do planeta. Os exemplos do Colorado e de Washington deverão abrir o caminho para outros Estados fazerem o mesmo. A principal aposta é a Califórnia, onde em 2010 houve um referendo para legalizar a maconha. O "não" venceu, mas os californianos flertam com a ideia há tempos. Foram os primeiros a aprovar a maconha para uso medicinal, em 1996. É provável que o movimento pró-legalização se organize para 2014, nas próximas eleições legislativas.
As mudanças nos EUA fortalecem a corrente de líderes da América Latina a favor de uma revisão da política de repressão às drogas, financiada em grande parte por Washington. No centro do debate estão os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e do México, Enrique Pena Nieto. Eles governam, respectivamente, o maior fornecedor de cocaína para os EUA (quase 90% da demanda) e a principal porta de entrada da droga no mercado americano. Ambos partem do princípio de que, se os próprios americanos duvidam da eficiência do combate às drogas, é hora de pesar o valor dessa política. No México, as mortes associadas à guerra contra o narcotráfico são estimadas em 50 mil, desde 2006.
Não se espera, no curto prazo, uma onda de legalização na região. "Muitos países latino-americanos ainda consideram prematura a ideia", afirma o americano John Walsh, estudioso das leis sobre drogas na América Latina. O Brasil pode dar o primeiro passo nessa direção ainda em 2013. O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá votar a constitucionalidade da criminalização do porte de drogas para uso pessoal - uma lei de 2006 prevê, como pena, advertência ou prestação de serviços comunitários. A ação é movida pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que vê na lei um desrespeito ao direito constitucional da intimidade e da vida privada. As atenções no continente se voltarão primeiro ao Uruguai. O presidente José Mujica enviou um projeto de lei ao Congresso que legaliza o porte, o cultivo e o uso pessoal de maconha. A proposta vai além: dá ao Estado o monopólio da venda da droga, um negócio que gira em torno de US$ 40 milhões no país. A previsão é que a Câmara e o Senado, de maioria governista, aprovem o texto no primeiro semestre. Mesmo se o plano for bem-sucedido, é preciso considerar que o Uruguai tem pouco mais de 3 milhões de habitantes e baixos índices de criminalidade. "A América Latina tem uma oportunidade histórica de mudar a visão sobre as drogas, mas as chances de sucesso aumentam se os países maiores se unirem", diz a colombiana Amira Armen- ta, do Programa Drogas e Democracia do Instituto Transnacional.
Nos EUA, a lei federal ainda considera crime o porte de maconha para uso pessoal. O presidente Barack Obama já disse que o assunto não será prioridade de seu governo, mas o Departamento de Justiça deve ser pressionado pelas autoridades antidroga a contestar as mudanças em Washington e no Colorado. "Quando o caso chegar à Suprema Corte, a cláusula de supremacia de nossa Constituição imporá a lei federal. Essas leis serão revogadas nos próximos 18 meses", diz Peter Bensinger, chefe da Agência de Combate às Drogas dos EUA de 1976 a 1982.
Cerca de 200 mil pessoas morrem anualmente por problemas relacionados ao consumo de entorpecentes em todo o mundo. O tabaco e o álcool, ambos de uso irrestrito, matam muito mais: 5 milhões e 2 milhões por ano, respectivamente. Se as drogas forem legalizadas, dizem os "proibicionistas", aumentará o número de viciados e de mortes. O consumo vem caindo nos países ricos, mas é estável ou tem aumentado pouco nas nações mais pobres. As Nações Unidas mantêm a política de combate, mas está prevista uma sessão especial para discutir o assunto. O encontro, porém, será apenas em 2016. Até lá, a disputa entre as turmas a favor e contra deverá esquentar ainda mais.
 
Com Teresa Perosa

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Entrevista - Pedro Abramovay - " ESTAMOS PRENDENDO AS PESSOAS ERRADAS"

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O ex-secretário Nacional de Justiça Pedro Abramovay é um dos principais nomes da sociedade civil na defesa da descriminalização do uso de drogas. Ele esteve à frente da elaboração de um anteprojeto de lei com esse teor que foi entregue em agosto à Câmara dos Deputados com a assinatura de mais de 120 mil pessoas. Professor da disciplina violência e crimes urbanos na Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV), também coordena o site Banco de Injustiças, no qual registra histórias de usuários enquadrados como traficantes por causa da atual Lei de Drogas, que ele acredita ser falha na definição dos crimes de tráfico e uso de entorpecentes. Abramovay foi um dos coordenadores da Campanha do Desarmamento e trabalhou na regulamentação do Sistema Penitenciário Federal quando era assessor especial do então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, no governo Lula.

Istoé -
O que a legalização da maconha, que acaba de ser aprovada em referendo em dois Estados americanos, representa para a política mundial sobre drogas? 
Pedro Abramovay -
É um marco importantíssimo, principalmente se o governo federal não interferir nessas decisões estaduais. Os Estados Unidos sempre se comportaram como polícia nas convenções internacionais sobre o assunto e, de repente, dois Estados dentro dessa nação que se coloca como guardiã da “guerra contra as drogas” legalizam a maconha. No mínimo, eles perdem a legitimidade para questionar propostas de mudanças que tendem a tirar o problema da alçada exclusiva do direito penal. Abrirá espaço para discussões. Se a estratégia da legalização será ou não positiva, teremos de avaliar com o tempo. 
Istoé - Legalizá-la em alguns Estados não pode gerar um turismo de drogas no país? 
Pedro Abramovay -
Depende da maneira como isso será feito. É importante lembrar que legalizar implica colocar regras, regular a venda, definir idades, impostos, locais de venda. Isso em um campo no qual, na prática, não existem regras há muito tempo. São grandes as chances de um adolescente ter mais dificuldades para comprar maconha em um Estado onde a droga é legalizada – e, portanto, os esforços de controle sobre ela são organizados – do que em outro onde o comércio é todo ilegal. 
Istoé - O que pensa da medida tomada pelo Uruguai, que legalizou o uso da maconha, mas seu consumo será controlado pelo Estado? 
Pedro Abramovay -
Isso nunca foi tentado no mundo. O Uruguai assumiu uma posição de ousadia para tentar enfrentar o problema. Para nós brasileiros é fundamental acompanhar o que está acontecendo lá sem colorações ideológicas. Se funcionar, a gente tem que se despir dos preconceitos e discutir seriamente se essa é ou não uma alternativa viável para o Brasil.  
Istoé - Qual a importância de ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso (Brasil), Bill Clinton (EUA) e César Gavíria (Colômbia) defenderem a legalização da maconha? 
Pedro Abramovay -
É enorme, principalmente porque influencia a mídia. Há dois ou três anos era tabu debater o tema, quem tentava dizer algo era logo tachado de maconheiro. Quando esses ex-presidentes resolveram falar do assunto, chegaram mostrando estudos, pesquisas. Os argumentos já existiam, mas não eram ouvidos. Eles poderiam ter feito isso quando estavam no poder, mas antes tarde do que nunca. Abriram espaço para que atuais presidentes defendessem na ONU mudanças nas políticas de drogas em direção à descriminalização e à legalização. O Juan Manuel Santos, da Colômbia, o Otto Pérez Molina, da Guatemala, e o José Alberto Mujica, do Uruguai, fizeram essa defesa na ONU. 
Istoé - A descriminalização total não poderia aumentar o consumo? 
Pedro Abramovay -
Recentemente foi divulgada uma pesquisa na Inglaterra que analisa 21 países que descriminalizaram o uso de drogas. Em nenhum deles houve aumento do consumo.
Istoé - Há propostas em debate no Congresso Nacional para mudar a Lei de Drogas, que aumentou as penas para o tráfico e acabou com a prisão de usuários. Isso é positivo? 
Pedro Abramovay -
É preciso uma definição clara sobre quem é usuário e quem é traficante. A lei atual diz que o juiz vai avaliar a partir das circunstâncias sociais para dizer se a droga era para consumo pessoal ou para venda. O que acontece é que, sem critério, uma grande massa nessa fronteira acaba sendo presa como traficante, e colocar essas pessoas na prisão significa entregá-las de bandeja para o crime organizado, que será sua única opção quando saírem da cadeia. Para se ter a dimensão disso, desde que a lei foi aprovada, em 2006, o número de presos por tráfico dobrou. Saímos de 62 mil para 125 mil presos em 2011.
 
Istoé - Esse número não é uma vitória no combate ao tráfico? 
Pedro Abramovay -
Resolver o problema das drogas significa diminuir o consumo e a violência relacionada ao tráfico. Nada disso está acontecendo, o que indica que estamos prendendo as pessoas erradas. Mais de 60% dos presos por tráfico carregavam pequenas quantidades, eram réus primários e nunca tinham se envolvido em outros crimes. Não é atrás dessas pessoas que a polícia tem que ir, mas do crime organizado. Para isso, é fundamental que se discutam critérios mais claros para separar quem é usuário de quem é traficante. 
Istoé - Que tipos de critérios? 
Pedro Abramovay -
Vários países adotam a quantidade, não como único critério, mas como parâmetro fundamental para não gerar a situação, que acontece muito no Brasil, na qual a pessoa surpreendida com droga é considerada traficante, se for pobre, e usuária, se for rica. Portugal, República Tcheca, México, Inglaterra, alguns estados australianos, todos esses lugares optaram por esse caminho e têm alcançado resultados melhores que o Brasil, onde a decisão é do policial. 
Istoé - Fixar quantidades não facilitaria, para os traficantes, a distribuição de drogas, pois usariam vários “aviõezinhos” que nunca seriam presos? 
Pedro Abramovay -
A polícia não tem mesmo que ir atrás dos “aviõezinhos”, isso não faz nem cócegas no negócio das drogas. A energia tem que ser revertida para o enfrentamento ao crime organizado e à violência.  
Istoé - Se no Brasil está nas mãos dos policiais a decisão, como eles têm feito a distinção entre traficantes e usuários?  
Pedro Abramovay -
O primeiro critério mais evidente é o de classe. Quando a pessoa mora na favela, o endereço dela é, muitas vezes, sua condenação. Existem decisões judiciais que falam que a pessoa foi flagrada com droga e mora em um lugar dominado pelo tráfico, portanto é traficante. Outras tentam estabelecer critérios mais concretos. Por exemplo, vão dizer que se a pessoa carrega drogas divididas em papelotes, é traficante. Mas, se a droga é vendida em papelotes, ela também é comprada assim.  
Istoé - A lei brasileira permite penas alternativas. O Judiciário não reverte os equívocos policiais com elas? 
Pedro Abramovay -
Muito raramente. O poder Judiciário de primeira instância é muito mais duro nas decisões ligadas ao tráfico do que em outros temas, desrespeitando muitas vezes até decisões do Supremo Tribunal Federal. Por exemplo, a lei de 2006 inicialmente negava a liberdade provisória em acusações de tráfico e o STF considerou a norma inconstitucional, pois ia contra o princípio da presunção de inocência. Apesar disso, a pessoa acusada de tráfico quase sempre espera o julgamento na prisão e isso já destrói sua vida – ela perde o emprego e fica tachada como traficante. Sem contar que as pesquisas mostram que, quase sempre, os únicos depoimentos levados em conta para a condenação por tráfico são os dos PMs que prenderam o acusado.  
Istoé - Mais do que falha na lei, isso não evidencia problemas no Judiciário? 
Pedro Abramovay -
Quando temos um critério tão subjetivo fica muito difícil para todo o sistema. Tem o policial contando uma história e a família dizendo outra coisa. Em quem acreditar? Todo esse processo é produto da falta de critérios da lei. O Judiciário quer dar respostas à sociedade e prende pessoas que têm problemas com drogas mas nunca cometeram crimes. Colocar essas pessoas na cadeia em vez de tratá-las é uma resposta errada e ineficiente. O problema de drogas deveria ser tratado não como uma questão criminal, mas de saúde. O usuário precisa ser abordado por assistentes sociais, não pela polícia. 
Istoé - O nosso sistema de saúde está preparado para essa demanda? 
Pedro Abramovay -
O Estado já tem a obrigação de tratar o problema de dependência de drogas, a demanda existe, não podemos pensar nisso como um custo novo. A estrutura que temos hoje não está preparada, mas mudar as leis pode provocar o Estado a deixar de esconder o problema e passar a enfrentá-lo. 
Istoé - É possível erradicar o trafico? 
Pedro Abramovay -
É impossível, mas temos de reduzir o consumo de drogas e a violência do tráfico, e isso já sabemos como. Temos que admitir que a criminalização não funcionou. A única droga que teve seu consumo diminuído com políticas públicas foi o tabaco, que é lícito. A regulamentação parece ter funcionado melhor do que a repressão.
 
Istoé - Como avalia o plano antidrogas do governo federal? 
Pedro Abramovay -
O Plano de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas tem um cardápio de soluções do qual Estados e municípios escolhem a política a ser adotada. O problema é que dentro desse cardápio tem coisas positivas e outras que podem ter efeitos muito negativos. E não há nada que induza a escolha das opções mais eficientes. Por exemplo, tem uma quantidade importante de dinheiro para consultórios de rua, que funcionam muito bem. Mas tem muito dinheiro para internação, o que pode ser muito perigoso. Em alguns casos, ela é necessária, mas essa não pode ser a principal resposta de tratamento. A internação, para os mais otimistas, tem uma taxa de sucesso de 10%. Não podemos focar todos os nossos esforços em um tratamento que tem uma taxa de sucesso tão baixa. 
Istoé - Por que essas taxas são baixas? 
Pedro Abramovay -
Não basta desintoxicar a pessoa para, como em um passe de mágica, resolver a questão. É algo muito mais complexo e está ligado à relação do usuário com o meio em que ele vive. Se ele está desempregado, não tem apoio da família e seus amigos têm no uso de droga sua principal atividade, as chances de ele se tornar um usuário problemático são enormes. Se ele é internado, desintoxicado e devolvido para o mesmo meio que gerou a dependência, ele vai voltar a usar drogas. A única maneira de acabar com a dependência é trabalhar no meio em que ela está.  
Istoé - E como isso pode ser feito? 
Pedro Abramovay -
Nos consultórios de rua, por exemplo, onde a pessoa pode ir, receber terapia, desintoxicação e ser ajudada, não artificialmente fora do mundo em que ela vive, mas dentro desse universo para que ela possa se libertar das razões que a levaram à dependência. A assistente social pensa maneiras de ajudar o usuário a se reintegrar na sociedade de forma produtiva. Não funciona de uma hora para outra. É um problema no qual não há tiro de canhão. O tratamento é demorado, difícil, mas tem muito mais chances de sucesso do que a internação. Já existem experiências positivas nesse sentido no Brasil, como em São Bernardo do Campo, que tem investido muito no tratamento ambulatorial e no trabalho de assistentes sociais.  

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Te Contei, não ? - MACONHA faz mal, sim


O atual liberalismo em torno do consumo da droga está em descompasso com as pesquisas médicas mais recentes. As sequelas cerebrais são duradouras, sobretudo quando o uso se dá na adolescência
Hoje ainda, até o fim do dia, 1 milhão de brasileiros terão fumado maconha. A maioria dessas pessoas está plenamente convencida de que a droga não faz mal. Elas conseguem trabalhar, estudar, namorar, dirigir, ler um livro, cuidar dos filhos…
A folha seca e as flores de Cannabis são consumidas agora com uma naturalidade tal que nem parece ser um comportamento definido como crime pela lei penal brasileira. O aroma penetrante inconfundível permeia o ar nas baladas, nas áreas de lazer dos condomínios fechados, nos carros, nas imediações das escolas.
A maconha, que em outros tempos já foi chamada de “erva maldita”, agora ganhou uma aura inocente de produto orgânico e muitos de seus usuários acendem os “baseados” como se isso fosse parte de um ritual de comunhão com a natureza, uma militância espiritual de sintonia com o cosmo.
Tolerância cada vez maior com o consumo
Há uma gigantesca onda de tolerância com esse vício. Nos Estados Unidos, dezessete Estados já regulamentaram seu uso medicinal. No dia 6 passado, os Estados de Washington e Colorado realizaram plebiscitos sobre a legalização e o eleitorado aprovou. No Uruguai, o presidente José Mujica pretende estatizar a produção e a distribuição da droga.
Em maio deste ano, no Brasil, sob o argumento do direito à liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a marcha da maconha – desde, é claro, que ela não fosse consumida pelos manifestantes.
Em um de seus shows, em janeiro, Rita Lee causou tumulto ao interromper a apresentação em Sergipe para interpelar os policiais que tentavam reprimir o fumacê na plateia: “Este show é meu. Não é de vocês. Por que isso? Não pode ser por causa de um baseadinho. Cadê um baseadinho pra eu fumar aqui?”.
Na contramão da liberalidade oficial, legal e até social com o uso da maconha, a ciência médica vem produzindo provas cada dia mais eloquentes de que a fumaça da maconha faz muito mal para a saúde do usuário crônico – quem fuma no mínimo um cigarro por semana durante um ano.
Não faz menos mal do que álcool ou cigarro
Fumar na adolescência, então, é um hábito que pode ter consequências funestas para o resto da vida da pessoa. Aqueles cartazes das marchas que afirmam que “maconha faz menos mal do que álcool e cigarro” são fruto de percepções disseminadas por usuários, e não o resultado de pesquisas científicas incontrastáveis.
Maconha não faz menos mal do que álcool ou cigarro. Cada um desses vícios agride o organismo a sua maneira, mas, ao contrário do que ocorre com a maconha, ninguém sai em passeata defendendo o alcoolismo ou o tabagismo.
Diz um dos mais respeitados estudiosos do assunto, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo: “Encarar o uso da maconha com leniência é uma tese equivocada, arcaica e perigosa”.

Alguns dos argumentos para a legalização da maconha têm uma lógica perfeita apenas na aparência. Os defensores da legalização alegam que, vendida legalmente, a maconha também seria cultivada dentro da lei e industrializada. A oferta aumentaria e os preços cairiam. Isso tornaria inúteis os traficantes. Eles sumiriam do mapa, levando consigo todo o imenso colar de roubos, assassinatos e corrupção policial que a repressão à maconha provoca.
Estudo acompanhou 1.000 voluntários por 25 anos
O argumento não resiste ao mais simples teste de realidade embutido na pergunta: “Quem disse que traficante vende só maconha?”. Se a maconha fosse liberada, o tráfico de cocaína, heroína e crack continuaria e todos os problemas sociais decorrentes do poder desse submundo ficariam intactos. Acrescente-se à equação o fato de que a maconha efetivamente faz mal à saúde, e a lógica dos defensores de sua legalização evapora-se no ar ainda mais rapidamente.
Um dos estudos mais impactantes e recentes sobre os males da maconha foi conduzido por treze reputadas instituições de pesquisa, entre elas as universidade Duke, nos Estados Unidos, e de Otago, na Nova Zelândia. Os pesquisadores acompanharam 1.000 voluntários durante 25 anos. Eles começaram a ser estudados aos 13 anos de idade.

Queda no desempenho intelectual, na memória, na concentração
Um grupo era composto de fumantes regulares de maconha. Os integrantes do outro grupo não fumavam. Quando os grupos foram comparados, ficou evidente o dano à saúde dos adolescentes usuários de maconha que mantiveram o hábito até a idade adulta. Os fumantes tiveram uma queda significativa no desempenho intelectual.
Na média, os consumidores crônicos de maconha ficavam 8 pontos abaixo dos não fumantes nos testes de Q.I. Os usuários de maconha saíram-se mal também nos testes de memória, concentração e raciocínio rápido.
Os resultados mostram que é falaciosa a tese de que fumar maconha com frequência não compromete a cognição. Diz o psiquiatra Laranjeira: “Se o usuário crônico acha que está bem, a ciência mostra que ele poderia estar muito melhor sem a droga. A maconha priva a pessoa de atingir todo o potencial de sua capacidade”.
O cineasta paulistano Álvaro Zunckeller, de 32 anos, fumou maconha durante duas décadas, desde a adolescência, com os amigos, na roda do bar e na saída da escola. No início, era um cigarro a cada duas semanas. Chegou a três por dia. “Era um viciado, mas para a maioria das pessoas eu era um sujeito sossegado, apenas um pouco desatento”, conta ele.
Zunckeller é um caso típico da brasa dormida dos danos da maconha ao cérebro confundidos com um comportamento ameno e um estilo de vida mais contemplativo.

Apenas 10% dos pacientes internados em clínicas de recuperação de dependentes foram parar ali para tentar se livrar do vício da maconha. Ainda assim, muitos dos usuários da droga nessas clínicas foram diagnosticados com esquizofrenia, bipolaridade, depressão aguda ou ansiedade – sendo o vício de maconha apenas um componente do quadro psicótico e não seu determinante.
Risco mais alto de desenvolver esquizofrenia ou depressão
Até pouco tempo atrás vigorou a tese de que a maconha só deflagra transtornos mentais em pessoas com histórico familiar dessas doenças. Essa noção benigna da maconha foi sepultada, entre outros trabalhos, por uma pesquisa feita pelo Instituto de Saúde Pública da Suécia. Um grupo de 50.000 voluntários foi avaliado durante 35 anos. Eles consumiram maconha na adolescência.
Os suecos demonstraram que o risco de um usuário de maconha sem antecedentes genéticos vir a desenvolver esquizofrenia ou depressão é muito mais alto do que o da população em geral. Entre os usuários de maconha pesquisados, surgiram 3,5 mais casos de esquizofrenia do que na média da população.

No que se refere à depressão, o número de casos clínicos foi o dobro. Os sinais de perigo da fumaça estão surgindo em toda parte. “O bombardeio repetido da maconha sobre o cérebro cria uma marca neuronal indelével”, diz Ana Cristina Fraia, psicóloga da Clínica Maia Prime, em São Paulo, especializada no tratamento de dependência química.
Interfere nas sinapses, levando ao comprometimento das funções cerebrais.
A razão básica pela qual a maconha agride com agudeza o cérebro tem raízes na evolução da espécie humana. Nem o álcool, nem a nicotina do tabaco; nem a cocaína, a heroína ou o crack; nenhuma outra droga encontra tantos receptores prontos para interagir com ela no cérebro como a cannabis.
Ela imita a ação de compostos naturalmente fabricados pelo organismo, os endocanabinoides. Essas substâncias são imprescindíveis na comunicação entre os neurônios, as sinapses. A maconha interfere caoticamente nas sinapses, levando ao comprometimento das funções cerebrais.
O mais assustador, dada a fama de inofensiva da maconha, é o fato de que, interrompido seu uso, o dano às sinapses permanece muito mais tempo – em muitos casos para sempre, sobretudo quando o consumo crônico começa na adolescência. Em contraste, os efeitos diretos do álcool e da cocaína sobre o cérebro se dissipam poucos dias depois de interrompido o consumo.

Com 224 milhões de usuários em todo o mundo, a maconha é a droga ilícita universalmente mais popular. E seu uso vem crescendo – em 2007, a turma do cigarro de seda tinha metade desse tamanho. Cerca de 60% são adolescentes. Quanto mais precoce for o consumo, maior é o risco de comprometimento cerebral.
Dos 12 aos 23 anos, o cérebro está em pleno desenvolvimento. Em um processo conhecido como poda neural, o organismo faz uma triagem das conexões que devem ser eliminadas e das que devem ser mantidas para o resto da vida. A ação da maconha nessa fase de reformulação cerebral é caótica. Sinapses que deveriam se fortalecer tornam-se débeis. As que deveriam desaparecer ganham força.
Os efeitos psicoativos da maconha são conhecidos desde o ano 2000 antes de Cristo. Seu princípio psicoativo mais atuante é o tetraidrocanabinol (THC). Um outro componente da droga, o canabidiol, é o principal responsável pelos seus efeitos potencialmente terapêuticos.
No câmpus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, o psiquiatra José Alexandre Crippa estuda o efeito do canabidiol no tratamento da fobia social. Trinta e seis voluntários, metade deles composta de fóbicos, ingeriram cápsulas da substância e, em seguida, tiveram de falar em público.

Os níveis de ansiedade apresentados pelos portadores do transtorno equivaleram aos registrados pelos participantes sem a fobia. Todos os estudos sérios sobre os potenciais usos médicos da maconha mediram os efeitos de uma única substância, selecionada e isolada em laboratório – e não da inalação da fumaça de um cigarro. Diz Crippa: “Os defensores do uso medicinal do cigarro da maconha querem mesmo é obter a liberação da droga”.
Nos EUA, venda de receitas
Nos Estados Unidos floresce uma indústria de falsificação de receitas depois da legalização da erva para o tratamento do glaucoma e no controle da náusea de pacientes submetidos a quimioterapia. Para a alegria dos viciados, médicos inescrupulosos prescrevem a droga por preços que variam de 100 a 500 dólares.
Em nenhum país a maconha é completamente liberada. Um dos mais notoriamente tolerantes é a Holanda, que permite o consumo da erva nos coffee shops, mas, ainda assim, os proprietários só estão autorizados a vender 5 gramas, o equivalente a um cigarro, para cada cliente.
Recentemente, o governo holandês proibiu a venda da droga para estrangeiros. Nem sempre foi assim. Na década de 70, quando a Holanda descriminalizou a maconha e se tornou uma espécie de Disney libertária, fumava-se em praça pública. A festa acabou cedo. Desde então, o tráfico só aumentou. A experiência holandesa – e o recuo das autoridades – derruba um dos mais rígidos pilares da defesa pela liberação: o de que a venda autorizada poria fim ao tráfico. Não pôs.

No Brasil, desde 2006, com a lei antidrogas aprovada pelo Congresso e sancionada pelo então presidente Lula, foi estabelecida uma distinção na punição de traficantes e usuários. Os bandidos estão sujeitos a até quinze anos de prisão. O consumidor não vai para a cadeia. Nesse caso, o juiz decide por uma advertência verbal, pela prestação de serviços comunitários ou recomenda um tratamento médico.
A lei brasileira não contempla o volume máximo da droga a ser classificado como uso pessoal. Luana Piovani e Isabel Filardis são algumas das celebridades que defendem a tese de que a maioria dos presos com maconha “nunca cometeu outros delitos, não tem relação com o crime organizado e portava pequenas quantidades da droga no ato da detenção”.
Do ponto de vista social, elas estão corretíssimas. Do ponto de vista da saúde e da aplicação das leis, nem tanto. O advogado criminalista Pedro Lazarini faz restrições: “Um bandido pode se valer desses limites para nunca ser condenado”. O ideal seria que as evidências científicas incontestáveis sobre os ruinosos efeitos da maconha para a saúde sejam levadas em conta. Todos ganham com isso.

Aos 66 anos, o paulistano Valentim Gentil Filho é um dos mais renomados psiquiatras do país. Com doutorado em psicofarmacologia clínica pela Universidade de Londres, ocupou o cargo de presidente do conselho diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas durante doze anos – sem nunca ter abandonado a prática clínica.
Tamanha experiência o levou a defender a condenação da maconha. “Trata-se da única droga a interferir nas funções cerebrais de forma a causar psicoses irreversíveis”, disse a VEJA. “Se fosse para escolher uma única droga a ser banida, seria a maconha.”

Nos últimos dois anos, a ideia da descriminalização para o usuário da maconha ganhou força no país. Recentemente, um grupo de juristas apresentou a proposta no Senado com o objetivo de a medida ser adotada na reforma do Código Penal. O que o senhor acha disso?
O tráfico deve adorar isso. Em hipótese alguma dá para liberar geral. Estamos falando de substâncias altamente tóxicas. Um dos argumentos pró-maconha é que a legalização reduziria o consumo da droga. As pesquisas mostram, no entanto, que, quando o consumo é referendado e a droga é considerada segura, o adolescente experimenta mais. A história de que os jovens se sentem estimulados a usar drogas por serem proibidas se aplica apenas a uma minoria.

Há muitos médicos, inclusive da sua especialidade, que não pensam como o senhor.
Não é simpático expressar uma opinião contrária à cultura da “anticaretice” que impera no país em relação à maconha. Atualmente, “pega mal” ser contra a liberação da maconha. Até mesmo entre os médicos. O fato de a maconha não ser tão agressiva como outras drogas quando usada nas primeiras vezes contribui para isso. Mas ou esses médicos estão muito desinformados ou eles têm acesso a fontes científicas bem diferentes das minhas. Se fosse obrigado a escolher uma única droga a ser banida, seria a maconha, sem sombra de dúvida.

De que forma a maconha seria mais prejudicial do que as outras drogas?
Drogas como heroína, cocaína e crack são devastadoras porque podem matar a curto ou curtíssimo prazo. Além disso, é difícil se livrar dessas substâncias pelo alto grau de dependência que apresentam.
Os danos que elas causam ao cérebro, porém, cessam quando deixam de ser usadas. Ou seja, passado o período de abstinência, as funções do organismo se restabelecem.
Com a maconha a história é outra. É a única droga a interferir nas funções cerebrais de forma a causar psicoses definitivas, mesmo quando seu uso é interrompido.

Qualquer usuário está suscetível a tais danos?
Sim, mas em graus diferentes, a depender da frequência de consumo e da tolerância do organismo do usuário. É uma roleta-russa. O consumidor esporádico, aquele que fuma às vezes, está sujeito a sofrer estados psicóticos transitórios, como alucinação e paranoia, ataques de pânico e ansiedade. O efeito permanente nas conexões nervosas se dá no uso crônico. Aí, sim, absolutamente todos sofrem algum prejuízo.

O astrônomo americano Carl Sagan (1934-1996) foi usuário da maconha e um defensor ferrenho da droga. Ainda assim, deixou o legado de uma carreira brilhante. Ele teria sido uma exceção?
Sagan foi um gênio, e sou fã dele. Mas penso que, se não tivesse usado tanta maconha, ele teria sido um profissional ainda mais brilhante e mais responsável. Sagan tinha algumas ideias estapafúrdias para um astrônomo.
Por exemplo: ele se tornou um dos líderes do Seti (Search for Extra-Terrestrial Intelligence – Busca por Inteligência Extraterrestre), que investiu centenas de milhões de dólares na busca de sinais alienígenas ou provas de alguma civilização extraterrestre. Repito aqui: não há exceções para os danos causados pela maconha.

É possível identificar os adolescentes mais propensos a usar a droga?
Há entre eles um traço de personalidade conhecido como “busca de novidade” (novelty seeking) ou “busca de sensações” (sensation seeking). Pessoas com esse perfil se expõem mais a riscos, têm menor controle sobre suas emoções, são mais impulsivas e têm maior probabilidade de se tornarem dependentes da maconha. No extremo oposto, alguns jovens introvertidos e ansiosos também ficam vulneráveis, dependendo do ambiente. Famílias estruturadas ajudam, e a presença dos pais monitorando o comportamento é uma proteção importante, mas não é garantia contra o uso.

Qual é a sua opinião sobre o uso medicinal da maconha?
Acredito em benefícios de determinadas substâncias extraídas da planta que dá origem à maconha, a Cannabis. Isso é diferente de preconizar o uso terapêutico da maconha fumada, que tem muitos compostos nocivos ao organismo, além da fumaça quente retida no pulmão, com potencial cancerígeno.
Não acredito nem mesmo nas versões “purificadas” da planta, vendidas em alguns estados americanos e em coffee shops europeus. Não há tecnologia capaz de certificar que um baseado tenha apenas substâncias não tóxicas da planta. Aliás, a venda nesses lugares é uma bagunça.
O filho de um amigo conseguiu comprar maconha medicinal na Califórnia porque no mesmo lugar onde comprou a droga comprou também a receita médica. Uma coisa tem de ficar clara: a agência de saúde oficial americana (FDA) não valida o consumo da maconha ou de outros preparados da Cannabis para fins medicinais. Alguns estados liberam por meio de seus governos.

O senhor já fumou maconha?
Nunca. E jamais tive vontade.

Seus filhos já fumaram?
Não que eu saiba.









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