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sábado, 6 de dezembro de 2014

Te Contei, não ? - Como ensinar as crianças a lidar com dinheiro

Os adultos brasileiros batem recorde de calotes – e as escolas ainda têm de aprender a dar aulas sobre o tema “dinheiro”. Cabe à família preparar a criança para ter uma vida financeiramente saudável.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Te Contei, não ? - Quem tem medo de Matemática ?



//Por Thais Paiva

O coração dispara, as mãos ficam trêmulas, a cabeça dói e o corpo inteiro é tomado por uma sensação de desconforto. E tudo isso por causa da Matemática. Objeto de estudo desde o fim dos anos 50, a chamada “ansiedade matemática” se caracteriza por um conjunto de reações fisiológicas, comportamentais e cognitivas que algumas pessoas manifestam diante de situações envolvendo a disciplina, que podem ser intensificadas às vésperas ou no dia de provas e em situações em que o conhecimento é cobrado.

“Alunos com ansiedade matemática tendem a se esquivar ou fugir das aulas e de todas as tarefas que envolvam a matéria. São comuns a sensação de ‘branco’ no momento de resolução de problemas e as autoatribuições negativas, como ‘não sou bom em Matemática’, ‘é muito difícil’ ou ‘nunca conseguirei aprender por mais que me esforce’”, explica Alessandra Campanini Mendes, pedagoga, doutoranda em Psicologia pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e membro do grupo Análise do Comportamento e Ensino e Aprendizagem da Matemática (Aceam).

São muitos os fatores que podem levar ao desenvolvimento do quadro, a maioria deles relacionados a experiências negativas. “Percebemos que as crianças começam a desenvolver ansiedade matemática na passagem da aritmética para a álgebra, quando passam a falhar nas provas e tirar notas baixas. Isso leva a uma diminuição na crença na autoeficácia matemática, ou seja, na capacidade de resolver esse tipo de problema”, explica Márcia Regina Ferreira de Brito, psicóloga e membro do grupo de pesquisa Psicologia da Educação Matemática, da Unicamp.

Além das notas baixas, a ridicularização em sala de aula e a punição por parte de pais e professores ajudam a construir um sentimento de aversão. A influência negativa da família também pode perpetuar estereótipos equivocados. “Muitas vezes, pais ou responsáveis que tiveram em sua jornada escolar experiências negativas com a disciplina acabam transmitindo aos seus filhos as ideias de que a Matemática é difícil e que poucos conseguem aprendê-la”, diz Alessandra.

A especialista também lembra que a própria cultura contribui para os casos de ansiedade, pois divulga que a disciplina é somente dominada por pessoas com inteligência acima da média e que mulheres, por exemplo, têm mais dificuldades em aprender conceitos matemáticos – ou mesmo que são incapazes de fazê-lo.

Além de afetar o desempenho escolar do indivíduo, o sentimento de apreensão causado pela Matemática pode, inclusive, orientar escolhas profissionais. “Por não gostarem da disciplina, muitas pessoas escolhem cursos que não a incluem no programa. Um dos grandes problemas do curso de Pedagogia é esse. A maioria opta por ele por não envolver números. Posteriormente, porém, verifica que terá de dar aulas de Matemática no Ensino Fundamental”, conta Márcia. Essa situação gera uma atitude ansiosa no próprio professor, que precisa ensinar uma disciplina que não domina.

Leonardo Rodrigues dos Reis, graduado em Matemática pela Universidade Católica de Brasília e autor de Rejeição à Matemática: Causas e Formas de Intervenção, concorda. Para ele, uma das causas dessa ojeriza está no despreparo dos docentes. “Muitas vezes, o primeiro contato que a criança tem com a Matemática é através de uma professora generalista que não gosta da disciplina ou não a domina. Essa falta de preparo e interesse acaba afetando a relação do aluno com a Matemática”, diz.

Injusta fama de vilã
Para Elon Lages Lima, pesquisador do -Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), a Matemática que é ensinada aos jovens de até 13 anos requer a mesma habilidade que outras -disciplinas, como Língua Portuguesa e Ciências. “É preciso acabar com a crença de que é difícil, que requer talento ou nascer com aptidão para os números. O que a disciplina exige é atenção, trabalho e dedicação, mas qualquer um pode aprendê-la”, diz.

O problema, segundo o pesquisador, é que a matéria, ao contrário de outras áreas do conhecimento, resume um saber cumulativo. Ou seja, se o aluno não aprende bem os conceitos básicos no começo, isso trará impactos negativos ao aprendizado mais à rente. “Porém”, ele ressalva, “há sempre como correr atrás do prejuízo.”

Nesse processo, o mestre é peça central: “Ele deve sempre se colocar no lugar do aluno. O escárnio e a humilhação não podem estar na sala de aula. Sem contar que há professores que se valem da reputação de complicação para mascarar sua própria ignorância, respondendo às dúvidas dos alunos com frases como ‘isso você vai ver mais para a frente’ ou ‘isso é muito complexo para você’”, diz Lima.

A fim de evitar que a ansiedade matemática apareça ou se agrave, o docente deve mostrar que a disciplina não é um bicho de sete cabeças. “O professor que domina o conteúdo, gosta de ensinar e adota atitudes positivas tem grande probabilidade de despertar esse tipo de interesse nos alunos. É importante que ele proponha problemas desafiadores para que todas as crianças possam resolver, e não só três alunos da sala. Isso faz com que o aluno se sinta capaz de trabalhar os conceitos”, diz Márcia.

O ambiente escolar pode contribuir com uma cultura segundo a qual a Matemática seja acessível a todos, não apenas a alguns. “A escola também pode trabalhar com monitores, ou seja, professores ou estagiários que desenvolverão estratégias de ensino voltadas às dificuldades conceituais e procedimentais de cada estudante”, diz Alessandra.

Caso as dificuldades matemáticas das crianças sejam descobertas no início da escolaridade e elas sejam auxiliadas a superá-las, em vez de punidas pela falta de compreensão, certamente haverá mais chances de apreciar a disciplina e de apresentar atitudes favoráveis a ela. “Durante muito tempo, o impacto das emoções no processo de ensino e aprendizagem foi deixado de lado. Mas a verdade é que elas são muito importantes e precisam ganhar a atenção dos educadores”, completa Márcia.


Publicado na edição 55, de janeiro de 2014

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Te Contei, não ? - Pais usam mesada eletrônica para educar pequenos


Cartões voltados para crianças ajudam a formar futuros adultos Rio - Com o objetivo de ensinar às crianças que dinheiro “não nasce em árvore”, administradoras de cartões eletrônicos apostam em produtos voltados especialmente ao uso da mesada. A iniciativa atrai cada vez mais clientes para as empresas, enquanto que para os pais, é uma oportunidade de passar ensinamentos aos pequenos com segurança e praticidade. 

Um desses dispositivos é o cartão pré-pago Meo, gerenciado pelo banco Bonsucesso. Os pais inserem a quantia desejada em crédito no dinheiro de plástico e a criança usa a mesada em débito, sem precisar andar com dinheiro vivo no bolso. 

Para a diretora de marketing do banco, Alexia Duffles, a segurança é um ponto forte do sistema. “O dispositivo oferece controle total por parte dos pais. Quando os pequenos fazem uma compra, por exemplo, o titular do cartão recebe um aviso no celular com hora, local e objeto adquirido”. 

Além do Bonsucesso, as administradoras Caixa, MasterCard e Hipercard oferecem serviços semelhantes. Segundo o especialista em finanças pessoais Maurício Galhardo, o sistema é um forte instrumento de educação. “A tendência é que se use cada vez menos ‘papel moeda’, portanto é muito importante inserir a criança neste mundo”, avalia. 

Seja em dinheiro vivo ou eletrônico, a mesada é um disseminador de valores essenciais que as crianças levam para a vida adulta. A psicóloga Rafaella Silveira explica que os pequenos não são capazes de entender o valor monetário até que sejam educados com esse objetivo. “É como um adulto que sempre viveu fora da cidade e sem os costumes capitalistas, ele não compreende como o sistema funciona”, exemplifica. Para tanto, ela recomenda que os pais ensinem algumas lições básicas por meio da mesada, como o valor do trabalho e a importância de poupar. 

Assim como as atitudes dos pais são objetos de exemplo para o futuro financeiro dos filhos, a lição também é dada na escola. É o que acontece no Colégio Excelência, em Laranjeiras, que oferece aulas de Educação Financeira para os alunos. Pedro Andrade, de 11 anos, é estudante da unidade e cursa a disciplina. A mãe, Ibeli Andrade, 31, dá R$ 150 mensalmente ao menino e se diz satisfeita com o aprendizado dele. 

“Meu filho agora sabe que não é possível ter tudo, então controla e gasta apenas com que vale a pena”, diz. O exemplo também é seguido na casa de Luana de Simone Oliveira, 10 anos. A mãe, Roberta De Simone, 33, diz que a menina escolheu guardar a mesada de R$ 50 mensais que recebe na poupança. “Tentamos ensinar que dinheiro não é tudo na vida nem é a coisa mais importante, mas é necessário poupar para garantir um futuro confortável. Nunca incentivamos o consumismo”, disse.

Como oferecer a mesada - 5 minutos com José Eustáquio, Economista

O economista e conselheiro em finanças pessoais explica qual é a importância da mesada para as crianças e como ela deve ser introduzida na rotina dos pequenos. 

1. Qual a importância da mesada para a formação das crianças?
— É uma excelente forma de ensiná-las o significado do dinheiro, bem como a sua importância no dia a dia das pessoas e o que ele representa na vida da família.

2. Quais os valores se podem ensinar com o ato?
— A importância da participação de todos da família no planejamento dos seus gastos e, em especial, o valor das coisas de que necessitamos para o nível básico de sobrevivência.

3. Tem algum valor mínimo indicado para ser pago como mesada?
— Se as crianças estão em uma faixa de idade em que ainda não conseguem dimensionar os gastos no tempo, os pais podem, a partir do conhecimento do volume desses gastos, estabelecer esse valor. Mas, se as crianças já têm condições de identificar e definir os seus gastos, vale a pena um exercício conjunto, pais e filhos, para estabelecer o valor.

4. Em qual idade a criança pode começar a receber?
— A idade para participar do planejamento financeiro familiar e começar a cuidar do seu próprio orçamento deve ser aquela em que ela já consegue entender valor do dinheiro.

′Dar valor ao que se tem′

O diretor do Colégio Excelência, Ricardo Cruz, explica os pontos que são ensinados na aula de Educação Financeira:

Dar mais valor ao que se tem e não desperdiçar com bobagens.

Gastar por necessidade e não apenas por vontade.

Reduzir a cultura do consumo a qualquer custo.

Comprar de forma planejada e não por impulso.

Evitar fazer dívidas gastando o que não tem.

Comprar, sempre que possível, à vista, evitando a compra a prazo.

Construir a independência financeira.

Que Educação Financeira não é feita para aprender a guardar dinheiro e, sim, para aprender a como gastar o dinheiro que ganhou.

Que os seus desejos são ilimitados, mas os recursos são limitados.

Itaú destaca importância da educação

O Itaú-Unibanco tem uma estratégia para levar o conhecimento e a importância da Educação Financeira para as crianças, o programa Árvore dos Sonhos. O material didático é composto por livro infantil de autoria de Fabiano Alves Onça e arte de Tatiana Paiva que trata sobre como economizar e se preparar para o futuro por meio do menino Joãozinho e seu avô Pereira. 

De acordo com o Itaú-Unibanco, o tema Educação Financeira, hoje, faz parte da agenda de todas as instituições bancárias e financeiras, que começou a ganhar destaque a partir da estabilidade da economia no país. De acordo com especialistas, antes, no período inflacionário, o recomendado era que se gastasse o mais rápido possível, para o dinheiro não perder valor diariamente, com a remarcação dos preços.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Te Contei, não ? - Tropço na leitra leva cegeira matemática

 

Compreensão de texto é essencial para disciplina. Olimpíada chega à 10ª edição

Fonte: O Globo (RJ)
    

sábado, 11 de janeiro de 2014

Personalidades - Carlos e José Gramático

Apesar do sobrenome, irmãos cariocas são ouro em matemática

  • Carlos e José Gramático causaram reviravolta na árvore da família vencendo competições de cálculo
 
Ludmilla de Lima
 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Te Contei,não ? - As aulas do professor Homer

 

Os Simpsons usam os números para fazer graça – e mostram como a matemática e o desenho animado de humor são universos próximos

MARCELO MOURA
           
EXEMPLAR Homer representa o típico americano médio. Gosta de beber, comer rosquinhas e jogar boliche (Foto: divulgação)
 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Entrevista - César Camacho

Quanto mais competição, melhor
da redação
O criador da maior olimpíada de matemática do país diz que o Brasil precisa encarar de uma vez por todas a luta pela qualidade e começar a dar valor ao esforço e ao talento

Pergunte a um jovem brasileiro que disciplina lhe desperta os piores sentimentos e dificilmente ouvirá algo diferente de “a matemática". Foi para tentar reverter esse cenário que o peruano César Camacho, 70 anos, se lançou em uma cruzada que demandou andanças por todo o país e conversas nos mais altos gabinetes de Brasília. Em 2005, ele conseguiu pôr de pé a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), que atrai 20 milhões de estudantes de 50000 colégios. Doutor pela Universidade da Califórnia em Berkeley, Camacho é um ferrenho defensor da meritocracia, princípio que norteia sua gestão de uma década à frente do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), centro de pesquisas de reputação mundial. Ele resume: "A matemática faz cidadãos melhores”.

O senhor sofreu resistências quando lançou a ideia da olimpíada de matemática?

Uma ala dentro do próprio MEC era contra. Houve uma ocasião em que a secretária do ensino básico do ministério me chamou e disse: “Professor, o senhor vai me desculpar, mas não quero participar dessa atividade”. Perguntei por quê, e ela foi direta: “A olimpíada vai discriminar os estudantes e, na minha maneira de ver as coisas, na sala de aula são todos iguais”. A ideia só prosperou mesmo porque instâncias superiores gostaram do projeto. O primeiro a se manifestar a favor foi o Eduardo Campos (então ministro de Ciência e Tecnologia). Quando eu expliquei que custaria 5 milhões de reais para alcançar inicialmente 5 milhões de estudantes, ele logo se entusiasmou: “Um real por aluno? Vou falar com o Lula". Aí o presidente me pediu que fosse a Brasília e expôs suas preocupações.

O que exatamente preocupava o então presidente Lula?

Ele colocou duas questões na mesa. Primeiro, queria saber o que os pedagogos achavam da minha ideia. Eu disse que havia os bons pedagogos e os não tão bons — esses últimos é que eram contra. Contei a Lula que eles repudiavam justamente o princípio elementar da olimpíada: a competição. O presidente refletiu e disse: “Na Amazônia existem o capim, os arbustos, árvores maiores e menores brigando pela mesma luz solar. É da natureza competir”. O outro comentário de Lula foi sobre uma ideia que ele próprio lançou no encontro, a de uma olimpíada voltada para professores. “Por que não fazemos?”, indagou. E ele mesmo respondeu: "Deixa para lá. Os sindicatos seriam contra”.

Na recente greve de professores do Rio de Janeiro, os sindicalistas agitaram bandeiras de repúdio à meritocracia, como já aconteceu outras vezes. Qual é a raiz dessa resistência?

Tradicionalmente, os que gostam de sistemas que premiam o mérito são aqueles que veem aí uma chance de ter seu talento reconhecido, e não os que sabem de antemão que não reúnem as condições mínimas para ser bem avaliados — exatamente o caso de uma parcela dos docentes. No meu modo de ver, a questão salarial pode até ser posta à mesa, mas desse jeito, apoiada sobre a isonomia, não trará grandes avanços ao ensino, tampouco prestígio à carreira do professor.

Qual seria o caminho para a docência conquistar prestígio?

No mundo todo, em qualquer área, o prestígio só vem com uma formação de alto nível e junto a um sistema em que a ascensão profissional seja determinada por resultados, e não por conquistas sindicais. Antes que obtivessem a cátedra, aliás, os professores deveriam passar por uma prova como a que a OAB faz para os que querem atuar corno advogados: só seriam aprovados os que de fato sabem o que precisam ensinar. A alta qualidade está ligada à dura seleção, mas o Brasil não tem pendor para a competição. Repare que a isonomia não é bandeira histórica apenas dos sindicalistas, que sempre lutaram por salários iguais para todos: ela é também defendida por correntes que abominam o princípio de distinguir os alunos pelo mérito na sala de aula. Para mim, essa é uma visão oblíqua. Os talentos precisam, sim, ser incentivados.

O Impa é uma das poucas instituições brasileiras de relevo na comunidade acadêmica internacional. Quais as raízes da ainda modesta participação do Brasil na elite da pesquisa?

A pesquisa brasileira se desenvolve em um sistema estatal pesado, sob um excesso de normas que atravancam o trabalho do cientista e o processo de inovação. O labirinto burocrático do serviço público pesa, por exemplo, na hora de contratar cérebros e importar materiais. Mesmo atrair estrangeiros para nossos centros de pesquisa não é uma tarefa simples.

Há resistência por parte da academia a acolher estrangeiros?

Na verdade, nós os espantamos graças a um hábito cartorial brasileiro, que remete ao mais puro tradicionalismo: ainda que a situação esteja melhorando, a maioria das provas dos concursos é até hoje feita em português. Isso, claro, afasta pesquisadores de fora. É a burocracia agindo contra a qualidade. O Impa não tem essas amarras. Como organização social (OS), nosso orçamento é livre de carimbos e podemos contratar e demitir com base exclusivamente no mérito. Um terço de nossos professores são estrangeiros, e nós nos beneficiamos muito. Afinal, o país não precisou pagar pela boa educação deles, e pudemos fazer uma seleção mais qualificada, entre os melhores do mundo.

A academia brasileira ainda vê com desconfiança a aproximação com a indústria?

Essa distância vem encurtando gradativamente na área das ciências. A competição global ajuda a demolir o muro que separa esses dois mundos na medida em que torna a inovação uma questão de sobrevivência. Ou seja, as empresas têm e terão cada vez mais de ir atrás de cérebros na academia para equacionar seus problemas. O estreitamento do elo entre universidade e mercado também tem a ver com a sofisticação da indústria nacional: enquanto ela cresce, as questões por solucionar vão demandando mais e mais expertise. É essencial que se estabeleça essa ponte. Os países que conseguiram se despir de qualquer ideologia e fazer isso com pragmatismo são também os mais inovadores. O Brasil deveria refletir sobre o assunto de forma estratégica, como faz, por exemplo, Singapura, uma ilhota de 50 quilômetros de diâmetro que virou sinônimo de inventividade. É um exemplo em que o Brasil poderia mirar.

Quais são os aspectos que fazem de Singapura um país tão inovador?

Olhe como funciona o CNPq de lá. Esse órgão, que serve para fomentar a pesquisa, conta com um grupo de sábios que vive de mapear janelas de oportunidade para a investigação científica. Eles não limitam a procura apenas a Singapura, evidentemente, mas prospectam no mundo inteiro áreas que podem trazer inovação e dinheiro. Definido o foco, garimpam os melhores especialistas, dentro e fora do país, e põem de pé a estrutura necessária, seja um laboratório, seja até mesmo um novo instituto. Eles têm em caixa um orçamento gigantesco, para cinco anos de trabalho, e zero de burocracia. Se a pesquisa termina, desativam aquele instituto, ainda que centenas de cientistas precisem ir para casa, e partem para desbravar outras áreas. No passado, investiram pesado em eletroeletrônicos. Depois veio o petróleo. É difícil de acreditar, mas, sim, o Brasil compra plataformas submarinas de Singapura, que nem petróleo tem. Não dá para competir. Somos devorados no campo das inovações.

Como fazer com que os estudantes brasileiros deixem o grupo dos piores do mundo em matemática?

Antes de tudo, é preciso entender que, ao contrário do que ocorre em outras disciplinas, o aprendizado da matemática é sequencial. Se o aluno não firma bem determinado conceito, fica mais difícil absorver o seguinte e pior ainda o que vem depois, sedimentando-se assim as lacunas. O ensino da matéria requer, portanto, uma escola organizada e um professor muito bem preparado; alguém que goste de dar aula, tenha domínio do conteúdo e consiga adequar-se ao nível de conhecimento do aluno. A matemática remete a um princípio elementar do espírito humano: o prazer de ser desafiado. Como um bom matemático pensa a matemática? Solucionando problemas mais e mais complexos. É exatamente isso que atrai tantos jovens à olimpíada.

Onde estaria a solução para o desempenho sofrível nas salas de aula?

Nas faculdades que formam os professores. O nível geral é baixo. Certa vez, falava a um grupo de educadores sobre como preparar os alunos para a olimpíada quando fui surpreendido pela franqueza de uma diretora de escola. "Como o senhor espera que a gente faça tudo isso se nem a matéria sabemos direito?”, ela me perguntou. Olhe a situação: era uma diretora, alguém no auge da carreira, que reconhecia suas deficiências mais básicas. E não é um caso isolado. Depois de oferecer um curso a docentes de escolas públicas, um conjunto de instituições de ensino do Rio constatou que um terço deles eram profissionais irrecuperáveis. Eles deveriam voltar para a escola. O problema é que os pais simplesmente confiam os filhos a essas pessoas. Agindo assim, diminuem as chances de eles galgarem degraus e competirem para valer no tabuleiro global.

O que fazer para que as universidades formem professores mais capazes?

Elas já são avaliadas, mas precisam ser cobradas de verdade. O governo poderia pensar em uma certificação mais séria, só concedida às que cumprem o papel de formar bons profissionais. As outras, medianas e ruins, devem se guiar por meias e mostrar efetivamente progresso para continuar a funcionar. Na pós-graduação brasileira, as notas são o que define as verbas destinadas a cada programa por CNPq c Capes. É um sistema fincado na meritocracia. Pergunto-me por que esse valor tão caro não se dissemina na educação como um todo. A resistência à ideia de distinguir pessoas e instituições por esforço e produtividade é um obstáculo que precisamos vencer. As próximas eleições presidenciais são, aliás, uma boa oportunidade para começar a elevar o nível do debate sobre os rumos na sala de aula.

O senhor acha que os jovens enviados ao exterior pelo programa Ciência sem Fronteiras podem dar uma boa sacudida na universidade brasileira?

Expor-se a um ambiente estimulante e meritocrático tem tudo para ser intelectualmente interessante e bom para o Brasil. O grau de efetividade, porém, vai depender dos caminhos percorridos no exterior. Se o estudante envereda por uma área que não tem nada a ver com a sua ou faz algo muito parecido com o que teria aqui, pode ser até atraente para ele, mas não parece que trará grande impacto ao país. Gosto muito da outra mão do programa: aquela que incentiva a vinda de estrangeiros na condição de professores visitantes. Eles arejam a academia nacional, trazendo uma cultura diferente e novas áreas de pesquisa.

Na comparação com a China e a Índia, o Brasil forma poucos jovens em ciências exatas. Isso tem solução?

Sem dúvida é um entrave que o Brasil precisa superar, e com urgência. As órbitas superiores da ciência têm justamente discutido estratégias para atrair jovens para essas áreas que tanto repelem os estudantes. Não há mistério: o caminho passa pela oferta de um ensino vibrante, capaz de cativar e moldar cabeças para as ciências desde muito cedo. Nesse sentido, a olimpíada de matemática cumpre um bom papel — revelando e estimulando os bons professores e seus alunos — mas é preciso mais. Os países avançados estão riscando seus planos de desenvolvimento para daqui a vinte, trinta anos; a formação de engenheiros, físicos e matemáticos é prioridade absoluta. O Brasil não é muito afeito a planos de longo prazo, mas devemos romper com essa lógica para entrar no jogo.

Como a matemática pode ajudar?

Ela figura entre as quatro grandes áreas do conhecimento apontadas hoje como fundamentais; fica ao lado de nanotecnologia, tecnologia da informação e das pesquisas sobre cognição. São elas que vão puxar o desenvolvimento da humanidade daqui para a frente. A matemática dá o impulso às outras três, ao lhes proporcionar os modelos. É também ferramenta básica para que o cidadão comum conheça números, interprete gráficos e tenha discernimento das coisas. Assim participará mais da sociedade em que vive, contribuindo para a consolidação da própria democracia.
 
Revista Veja

sábado, 9 de novembro de 2013

sábado, 21 de setembro de 2013

Te Contei, não ? - Os matemáticos de Dores do Turvo

Os matemáticos de Dores do Turvo

Escola pública de pequena cidade mineira torna-se a maior campeã da Olimpíada de Matemática ao estimular os alunos a estudarem até cinco horas após as aulas e distribuir prêmios como tablets

Wilson Aquino

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Te Contei, não ? - O professor do futuro


Na dianteira da evolução digital que move o mundo do conhecimento na internet, o norteamericano Salman Khan propõe uma revolução: ensinar a todos, gratuitamente e em qualquer lugar.

Por Camilo Gomide

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Te Contei, não ? - Vencendo a Matemática

Novo relatório mostra que nove entre dez alunos saem do ensino médio sem saber o básico da disciplina. Saiba o que as escolas estão fazendo para reverter esse quadro

Por Laura Daudén

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Te contei, não ? - Abaixo a chatice na sala de aula

O matemático americano Salman Khan, ou Sal, tornou-se o mais bem-sucedido professor de todos os tempos sem nenhuma base teórica na área da pedagogia nem trânsito no mundo dos especialistas em educação. Aos 36 anos, ele nunca chegou a demonstrar ambição de se converter em um grande pensador da sala de aula, mas vem se firmando como alguém com um olhar muito pragmático e ácido sobre a escola.

Sal não muda o tom em seu recém-lançado The One World Schoolhouse: Education Reimagined, best-seller nos Estados Unidos, com chegada ao Brasil prevista para janeiro com o título Um Mundo, uma Escola (Editora Intrínseca; 272 páginas; 29,90 reais). Preservando o estilo coloquial e ao mesmo tempo assertivo de suas aulas - já vistas 200 milhões de vezes na rede -, ele expõe pela primeira vez de forma mais organizada suas descobertas sobre o aprendizado. Incentivado pelos colegas do Vale do Silício, onde fincou sua Khan Academy, até arrefeceu um pouco o ritmo frenético com que produz conteúdo em quarenta áreas do conhecimento - algo que parecia impossível para quem o conhece bem - para concluir o texto sobre o qual se debruçou por dois anos. "Não tenho a pretensão dos grandes teóricos, mas uma experiência concreta que sinaliza para uma escola menos chata", resume a VEJA o entusiasmado Sal.

O mérito número 1 desse jovem matemático que coleciona ainda graduações em ciências da computação e engenharia elétrica e uma passagem pelo mercado financeiro é mostrar que a transformação da escola - ainda baseada no velho modelo prussiano do século XVIII - não requer nada de muito mirabolante nem tão dispendioso. Sal é, acima de tudo, um defensor do bom-senso. Ele indaga: "Se todas as pesquisas da neurociência já provaram que as pessoas perdem a concentração em longas palestras, por que a aula-padrão é expositiva e leva uma hora?". Suas lições virtuais não passam de vinte minutos. Sal se declara ainda contra a falta de ambição acadêmica, uma das raízes do fracasso escolar. "O aprendizado de hoje é como um queijo suíço, cheio de buracos, e isso é estranhamente tolerado. Os alunos mudam de capítulo sem ter assimilado o anterior", dispara com o mesmo ímpeto com que combate a monotonia na sala de aula. "Enquanto o mundo requer gente criativa e com alta capacidade inovadora, o modelo vigente reforça a passividade", diz.

Uma de suas grandes contribuições é mostrar como a tecnologia pode revirar velhas convicções sobre a escola, área em que ainda paira uma zona de sombra - inclusive no Brasil. As iniciativas nesse campo costumam se limitar a prover acesso a computadores e tablets sem que se faça nada de verdadeiramente útil, muito menos revolucionário, com eles. Sal aponta dois caminhos. O primeiro requer bons professores para lançar na rede conteúdo do mais alto nível para ser visto de qualquer lugar e no ritmo de cada um. De tão simples parece banal, mas ele reforça que pode estar justamente aí a chave para um novo tipo de escola. "A criança assiste em casa à melhor aula possível, e o tempo na escola passa a ser usado de forma muito mais produtiva, para dúvidas e projetos intelectualmente desafiantes", explica. O outro caminho descortinado por ele passa pela possibilidade que o computador traz de monitorar o desempenho dos alunos em tempo real - algo que, se bem aplicado, pode se converter em uma ferramenta valiosa. O próprio Sal desenvolveu um programa que permite ao professor visualizar o desempenho do aluno no instante exato em que ele resolve os desafios propostos no site da KhanAcademy. Assim que a dúvida aparece, e antes que as lacunas se cristalizem, o mestre entra em ação. Os bons resultados de escolas que começam a adotar o sistema são um sinal de que Sal envereda por uma trilha acertada.

Um capítulo do livro é dedicado à sua própria trajetória e ajuda a desvendar o que o fez percorrer o improvável caminho da docência. Sal conta que achava "entediantes" as aulas na escola e, depois, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Começou aí a imaginar maneiras de tornar o aprendizado mais atraente. Suas aulas fizeram sucesso primeiro no círculo familiar, mas, ao colocá-las gratuitamente na rede, em 2004, logo conquistou milhares de pessoas, atraídas pela mescla de espontaneidade, entusiasmo e excelência. Fã incondicional da KhanAcademy, o fundador da Microsoft, Bill Gates, foi quem deu à mãe de Sal alento em relação aos novos rumos profissionais do filho. "O dia em que apareci na Fortune como o professor preferido de Gates foi o primeiro em que minha mãe não fez cara feia por eu não ter cursado medicina", lembra um bem-humorado Sal. Defensor do básico - o bom conteúdo bem dado -, ele tem uma utopia de escola em que a curiosidade e a iniciativa sejam instigadas em grau máximo. De tão acelerado, faz reuniões de trabalho enquanto se exercita e costuma pular refeições - ritmo que contrasta com o do muito mais lento mundo da educação no qual ingressou. "É preciso romper de uma vez por todas com a inércia", conclui

Revista Veja

domingo, 8 de julho de 2012

Te Contei, não ? - Quando a conta fecha




Uma turma de bons mestres prova que dá para tornar a matemática atraente sem inventar muito nem gastar mais
Sempre que surge um indicador que dá a dimensão do atraso brasileiro na matemática, o sinal de alerta reacende. Um novo dado da rede estadual de São Paulo vai a origem do problema. Avaliados em uma prova, os professores da área revelaram lacunas básicas sobre a própria matéria que lecionam: 90% dos 12000 mestres do ensino fundamental e médio acertaram menos de 60% das questões. O grupo que destoa do lamaçal passou por uma segunda peneira, da qual só sobreviveram mesmo aqueles que, nos últimos três anos, alcançaram bons resultados com seus alunos. É nesse universo dos bem-sucedidos que uma recente pesquisa, feita pela Fundação Victor Civita em conjunto com a Cesgranrio, se concentrou para desvendar os caminhos que conduzem à excelência nessa disciplina tão temida quanto odiada no país. As conclusões não apontam para nenhuma invencionice no terreno da pedagogia, mas reforçam a ideia de que os bons professores, além de saber do que falam, têm a persistência e a ambição necessárias para deixar a rabeira.
O estudo cala os que se  manifestam em prol de mais dinheiro para o ensino alegando que só assim é possível almejar um avanço. Pois, em meio às mazelas de sempre, esses bons professores conseguiram descolar-se da média sem fazer uso de nem um tostão a mais. Para conhecer seus métodos, os pesquisadores gravaram 1100 horas de aula. Algumas das práticas que os alçaram são bem elementares: planejar a aula, fixar metas, incentivar os alunos a aprender a partir dos próprios tropeços, passar e corrigir a lição de casa. Esses mestres também fornecem pistas sobre como tornar a matéria mais atraente. Na contramão da maioria, eles não se furtam a distinguir os estudantes de acordo com seu nível de conhecimento da matéria, propondo desafios diferentes a cada um — estímulo aos mais atrasados para que não se percam e aos melhores para que disparem. “Se um aluno tem talento, é preciso fazer de tudo para que ele atinja o seu potencial máximo”, reforça o doutor em matemática Jacob Palis. Ele se refere à meritocracia,  conceito já bastante difundido em escolas de países mais ricos e que só agora começa a ser acolhido no Brasil, e com bons resultados.
A experiência em São Paulo enfatiza ainda a eficácia de aliar tecnologia à lição, de forma simples, fazendo uso de softwares e vídeos que ajudam a visualizar gráficos e formas geométricas. Um dos programas favoritos é o que permite às crianças mudar as medidas de um triângulo retângulo verificando que o teorema de Pitágoras sempre se confirma.  O que atrai é a linguagem, com a qual os alunos se identificam prontamente — caso do trio de alunas que aparece nestas páginas. “A matéria ficou tão divertida que, quem sabe, um dia ainda viro matemática”, diz Izabela Roman, 13 anos. O americano John Allen Paulos escreveu em seu livro Innumeracy (em português, “analfamatismo“): “A matemática deve ser ensinada como uma fantástica ferramenta para enxergar o mundo”. É o que começa a trazer à realidade brasileira esse pequeno grupo de professores de escolas públicas de São Paulo. Eles dão um salto mais do que necessário em um país que precisa cultivar o gosto pelos números para se tomar mais inovador.

Todos saem ganhando
O bom professor recebe o prêmio e os alunos avançam
Mais de 30000 escolas públicas brasileiras já  adotam sistemas que premiam os professores com base no desempenho de seus alunos. É coisa recente, daí saber-se ainda tão pouco sobre seus efeitos. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, se debruçaram sobre a rede estadual de São Paulo, uma das primeiras no país a adotar um regime de meritocracia, em 2008. Ali, as  escolas têm metas de aprendizado e, se elas forem atingidas, seus funcionários, incluindo diretores e mestres, são agraciados com um bônus no salário. Quem extrapolar o esperado ganha mais, como no mundo corporativo. O estudo da USP, que investigou os dados da Prova Brasil, aplicada pelo Ministério da Educação (MEC) a alunos de colégios públicos, concluiu que o avanço verificado nas notas é um sinal de que o sistema está funcionando. Diz o economista Luiz Guilherme Scorzafave,  coordenador  da pesquisa: “O resultado faz refletir sobre a necessidade de propagar esse tipo de iniciativa por todo o país”.
Os números são particularmente animadores nas classes de 5 ano, nas quais o maior progresso se deu nas aulas de matemática.
Segundo a escala do MEC que define o aprendizado desejado para o fim de cada ciclo, a evolução dos estudantes em São Paulo na disciplina — registrada em um intervalo de apenas dois anos — equivale a um semestre escolar. O entusiasmo provocado pela política que premia talento e esforço tem seu peso, mas evidentemente não explica tudo. “A meritocracia precisa vir acompanhada de um conjunto de medidas acertadas para realmente transformar uma escola”, observa Maria Helena Guimarães de Castro, diretora da Fundação Seade. Ao contrário do Brasil, onde a ideia de distinguir os melhores sempre esbarrou no corporativismo, os países mais ricos já acolhem há décadas esse princípio. Muitas vezes, os saltos são extraordinários: noutras, os efeitos são ainda tímidos ou não conclusivos o que faz refletir sobre maneiras de aprimorar o sistema. A experiência não deixa dúvida de que só com boas e entusiasmadas cabeças e possível vencer o duro caminho que leva à excelência.

Fonte: Helena Borges (Revista Veja)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Te Contei, não ? - Decote em cheque

Fundamentado no uso de tática e estratégia, o xadrez é um jogo que exige extrema concentração. Alguns jogadores europeus, porém, têm perdido o foco na partida por causa de suas oponentes do sexo feminino. O motivo? Generosos decotes exibidos pelas enxadristas. A falta de decoro das moçoilas que praticam um dos jogos de tabuleiro mais antigos do mundo levou a União Europeia de Xadrez a criar um código de vestimenta para o esporte. “Tivemos essa ideia porque notamos que, durante os jogos, muitas participantes não usavam roupas apropriadas, o que gerou reclamações do público e de técnicos”, disse Sava Stoisavljevic, secretária-geral da entidade. “Há códigos de vestimenta em diversos esportes, então decidimos estabelecer nossas regras também.” Segundo o manual, caso a mulher esteja usando uma blusa de botões, por exemplo, abrir o primeiro botão, contando de cima para baixo, é permitido. Abrir o segundo, dependerá do modelo da blusa. Já abrir o terceiro está fora de cogitação.

O frisson causado por enxadristas com roupas decotadas se torna maior pelo fato de que há poucas mulheres praticantes de xadrez no mundo. Apesar de elas estarem presentes desde os primórdios do jogo – os primeiros registros de jogadoras remontam ao século I –, o número de homens praticantes supera com larga vantagem a quantidade de mulheres. Apenas no Brasil, segundo estimativas da Confederação Brasileira de Xadrez (CBX), há em torno de 1,8 milhão de enxadristas do sexo masculino, contra somente 600 mil mulheres.
A entidade, no entanto, não pretende adotar aqui as mesmas medidas da Europa. “Acredito que essa decisão é muito particular. Condiz com a realidade europeia, mas não se reflete aqui no Brasil”, diz Charles Moura Netto, vice-presidente da CBX. “E, na minha opinião, a roupa que a oponente está usando não deveria influenciar o desempenho de um jogador.” Já a jovem enxadrista Juliana Terao, mestre Fide internacional, vê com bons olhos a polêmica medida adotada por seus pares europeus. “Alguns jogadores, tanto homens quanto mulheres, não têm bom-senso e vão para as partidas usando regata e chinelo”, diz Juliana. “Por isso, essas restrições são boas do ponto de vista do esporte. Roupa de campeonato de xadrez deve ser igual a uma roupa de trabalho”, completa.



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