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sábado, 19 de dezembro de 2015

Crônicas do Dia - O bloco do sanatório geral - Ruth de Aquino

Esta é uma carta pessoal. Não entendo como o desabafo veio parar aqui no site de ÉPOCA, na última página da revista e nas redes sociais. Tudo vaza, as barragens se rompem, os responsáveis não são punidos nem presos e nós ficamos ao desabrigo, sem dinheiro para entrar em recesso. Quem vazou? Dididilma quis ver a lama chegar ao mar antes do Réveillon? Mimimichel decidiu rasgar a fantasia antes do Carnaval? A nossa pátria mãe, subtraída em tenebrosas transações, viu passar, neste fim de ano de 2015, o bloco do sanatório geral.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Crônicas do Dia - Caindo na real - Ruth de Aquino

Chego ao Brasil. Pego táxi de cooperativa no Aeroporto Internacional Tom Jobim, nosso sempre velhusco Galeão, no Rio de Janeiro. Puxo conversa com o taxista. Seu nome não é revelado, por motivos óbvios. Ele não sabe que sou jornalista. O desabafo dura a corrida inteira.

domingo, 21 de junho de 2015

Crônicas do Dia - Desculpe, Neide

Há dez meses, Neide, 44 anos, ótima pessoa e profissional competente, cheia de energia, mãe de quatro filhos, percebeu um caroço no seio. Há dez meses ela luta pela cura. Primeiro, Neide fez um ultrassom. Depois uma mamografia, depois raios X de tórax. Neide ficou então “na fila para ser operada”. Prometeram que seria rápido. O caroço doía, aumentava, e, junto, a ansiedade.

sábado, 13 de junho de 2015

Crônica do Dia - O corredômetro da doença - Ruth de Aquino

Poderia ser só no Ceará. Poderia ser só por causa da “chuva e aumento de viroses”, segundo a visão embaçada do governo cearense. Poderia ser só no Nordeste e no Norte, regiões mais carentes. Mas não é. A fileira de doentes no chão do corredor do hospital Instituto Dr. José Frota em Fortaleza, alguns com soro e remédios na veia, é uma síntese do descalabro da Saúde no Brasil.

Crônica do Dia - Homofóbicos, saiam do armário ! - Ruth de Aquino

Toda forma de pensar vale a pena. Eu curto. O que seria de nós – namorados ou solitários, héteros ou gays – se não existissem pastores evangélicos como Silas Malafaia, que em vídeo exorta o Brasil a apoiar “a família milenar” e a só acreditar nos casais de “macho e fêmea”? É isso aí, Malafaia, bota esse ódio todo para fora! Espume pela boca seu preconceito, rebole seu medo. Eu apoio.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Crônica do Dia - A gente se sente como quem partiu ou morreu - Ruth de Aquino

Tem dias que a gente se sente/Como quem partiu ou morreu/A gente estancou de repente/Ou foi o mundo então que cresceu/A gente quer ter voz ativa/No nosso destino mandar/Mas eis que chega a roda-viva/E carrega o destino pra lá.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Crônicas do Dia - Menores de 18 anos não sabem o que fazem - Ruth de Aquino

E por não saberem o que fazem, não podem ser presos, mesmo quando matam a tiros por motivo torpe, por um celular, um par de tênis, uma bicicleta, uma bolsa ou um carro. Eles sabem manejar uma arma, sabem dirigir, podem votar, transam, fazem filhos, não se sentem mais na obrigação de obedecer aos pais. Mas não sabem que tirar uma vida deixa crianças órfãs e pais destruídos. Você acredita nisso?

terça-feira, 24 de março de 2015

Crônicas do Dia - Por que sair às ruas

Um bom motivo para participar de manifestações – a favor ou contra Dilma Rousseff – chega a ser pueril. Podemos sair às ruas porque ainda é possível protestar pacificamente no país sem ser preso. O Brasil ainda não virou uma Venezuela; o regime democrático ainda não caiu de “maduro” e algumas instituições não estão podres. Melhor aproveitar e exercer o direito à livre expressão – ou será que não?

Um bom motivo para ficar em casa é não acreditar em nenhuma grande bandeira das manifestações pró e contra. Os grupos se confundem. Se existe algo que não identifica a grande massa de manifestantes e não manifestantes, é a ideologia. A maior burrice é rotular de “direita” ou “esquerda” quem vai numa ou na outra manifestação. Ou quem decide não sair às ruas. Quem são os fascistas? Em qual categoria ideológica se situam os que querem detonar, “com botas e chuteiras”, a política econômica atual de Dilma? Leia-se aí o MST de Stédile.

Pergunte se são de esquerda ou de direita os garis em greve contra o reajuste anual
ridículo de 3%, os caminhoneiros que bloqueiam as estradas, os favelados sem-
casa-esgoto-creche-hospital, os policiais, os professores, os médicos, os comerciantes, os estudantes em fila por senha para estudar. Pergunte se são de esquerda ou de direita os desempregados pela incompetência oficial, ou todos nós que pagamos contas de luz e gasolina estratosféricas pela má gestão do governo.

A resposta será: ah, vem para a vida real, sem esse papo de direita ou esquerda, somos a maioria sem voz, queremos um país que funcione, um governo que não assalte os cofres públicos, uma economia que favoreça o emprego e os empreendedores, sem descontrole da inflação, uma educação de qualidade para todos, uma saúde digna, uma aplicação honesta dos altos impostos que pagamos, uma infraestrutura que nos tire do Terceiro Mundo, uma política de segurança que não deixe as famílias à mercê de criminosos. Queremos bons exemplos de cima e fim da corrupção institucionalizada. É pedir muito?

Se você é a favor da Petrobras e contra o roubo sistemático do PT à Petrobras, a qual manifestação deve aderir? Se você abomina o cinismo dos últimos pronunciamentos de Dilma Rousseff mas é contra o impeachment, deve sair às ruas em protesto ou ir à praia e ao futebol? Se você é contra Eduardo Cunha e Renan Calheiros – e, consequentemente, contra o domínio do pior PMDB –, qual manifestação deve escolher? Ou vai ficar no sofá, um direito seu?

Se você acredita na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se você continua estarrecido com o depoimento frio do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, relatando a distribuição sistemática de propinas milionárias ao PT desde a era Lula até a campanha de Dilma em 2010, como deve se comportar? Sai ou não sai às ruas? Leva suas panelas para o fogo ou para a janela?

Se você se preocupa com a desigualdade social, deve se aliar ao MST e ir contra o ajuste fiscal de Dilma e Joaquim Levy? Mas aí você estará conspirando contra a presidente. Como ela disse na quinta-feira no Rio de Janeiro, o Brasil “esgotou todos os recursos para combater a crise”. Se empresários e sindicalistas se unem em São Paulo contra o ajuste, quem é burguês, quem é coxinha, mãozinha, perninha?

Você acredita que o Brasil está nesse buraco por causa da “crise internacional” e porque Dilma fez tudo pelos pobres – na educação e na saúde? Você acredita na presidente quando ela diz que o governo do PT cortou gastos da máquina? Está faltando pau de selfie no Planalto – a presidente precisa se enxergar sem distorções de foco. Sobra cara de pau. Até o ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma fez mea-culpa, disse que o PT errou. Quando Dilma assumirá alguma responsabilidade e pedirá desculpas à nação? A presidente nos pede “paciência”. A população deveria pedir à presidente “sinceridade”. Mas é pedir muito.

Quem quer derrubar Dilma no grito esqueceu o que é uma ditadura, não respeita o voto democrático, não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo. Está claro que manifestações por impeachment não são oportunas e não darão em nada.

Quem apoia incondicionalmente uma presidente que fez desandar a economia e as alianças políticas, que resistiu durante meses a afastar a presidente da Petrobras e que mentiu e continua a mentir sobre índices e análises de seu desempenho com uma desfaçatez nunca antes vista não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo.

Pedir impeachment de Dilma não é golpismo, é tolice de desmemoriados. Acreditar em Dilma não é idealismo, é tolice de desmemoriados. Vamos tentar o caminho do meio. Saindo às ruas ou ficando em casa.

domingo, 8 de março de 2015

Crônica do Dia - A pátria que deseduca - Ruth de Aquino

A quem interessa um povo que não sabe raciocinar, não sabe ler, não sabe escrever, não sabe argumentar? A ninguém, apenas a ditadores. Por isso, até em benefício próprio, para marcar seu nome na História, a presidente Dilma Rousseff escolheu um slogan apropriado para seu segundo mandato: “Brasil, pátria educadora”. Ela ainda não sabia que o resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2014 mostraria o fracasso de seu primeiro mandato na Educação, quando teve três ministros na Pasta. Mais de meio milhão de jovens tirou nota zero na redação – cuja nota máxima era 1.000.

sábado, 7 de março de 2015

Crônica do Dia - A impotência dos pais órfãos - Ruth de Aquino

A violência urbana absurda no Brasil, sem paralelo no mundo, deixa órfãos milhares de pais e mães todos os anos. Crianças e jovens são mortos por balas perdidas, por balas de assaltantes, por balas de PMs. Em qualquer lugar. Escola, clube, restaurante, calçada, ponto de ônibus, praia e até dentro de casa. Pais e mães de todas as classes sociais perdem seus filhos para o descaso e o desleixo de um Estado que se omite ou contribui para a barbárie armada. O Estado brasileiro é criminoso, é cúmplice, é culpado por falhar em todas as suas atribuições.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Crônica do Dia - Dilma se trumbica - Ruth de Aquino

Quem não conheceu Chacrinha, o Velho Guerreiro, talvez nunca tenha ouvido seu mote mais popular: “Quem não se comunica se trumbica”. Era um visionário. Ele só não previa que pessoas como a nossa presidente, Dilma Rousseff, usassem a comunicação contra si mesmas. Quanto mais a “guerreira” Dilma se comunica, mais se trumbica. Porque a mentira, repetida ad eternum, é uma péssima arma de comunicação, um suicídio político. Não compensa a longo prazo.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Crônica do Dia - O nojo - Ruth de Aquino

É injusta a posição do Brasil no ranking mundial de corrupção da Transparência Internacional, divulgado na semana passada. Vamos protestar. O Brasil está em 69o lugar numa lista de 175 países considerados mais limpos, ou livres de corrupção. Tem alguma coisa errada aí. A avaliação foi feita em agosto, bem entendido. Ninguém do júri viu ou leu os depoimentos da Operação Lava Jato.

Crônica do Dia - Cuba Libre - Ruth de Aquino

A espetacular reaproximação entre Estados Unidos e Cuba me enfiou num túnel do tempo. Há 30 anos, conheci Havana com um grupo de jornalistas e cineastas, simpáticos à Revolução Cubana. O Brasil não tinha relações diplomáticas com a ilha de Fidel Castro.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Crônicas do Dia - Todos são vítimas - Ruth de Aquino

O petrolão daria um filme de suspense e ação. Só que não. Em qualquer roteiro blockbuster que se preze, há vilões e vítimas das vilanias. No Brasil, só há vítimas. Políticos, estatais, executivos, empreiteiras, diretores, governadores, prefeitos, presidente. São todos vítimas de um “esquema”. Afirmam só fazer “o que todo mundo sempre fez”, porque, caso contrário, o país poderia parar. Irrigam com propinas bilionárias o vale-tudo do Congresso e as obras públicas. É a cultura brasileira, estúpido.

Vamos comprar essa desculpa, sem pedir uma comissão por fora? Lula, na Presidência, banalizava o mensalão. Como você e Zé Dirceu bem sabem, o mensalão nunca existiu. A compra de votos nada mais era que a prática herdada de governos anteriores, para fazer funcionar a engrenagem política entre “os 300 picaretas (sic) do Congresso”, citação do ex-Lula, metamorfose ambulante. E estamos conversados. Punhos cerrados para cima, hasta la victoria siempre. Porque a História tem a péssima mania de ser reescrita por quem está no poder.

Nesse poço sem fundo da Petrobras, revelado pela Operação Lava Jato e pelo juiz Sergio Moro, as novas vítimas são as empreiteiras e seus executivos de capuz. Não se faz obra pública no Brasil sem “composição ilícita com um político”, diz o advogado Mario Oliveira Filho, que defende o lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, o boa-praça apontado como “operador” do PMDB. Sem propina, afirma Oliveira, não se coloca nem paralelepípedo na rua.

Crônicas do Dia - Relatos Selvagens - Ruth de Aquino

O que distingue a civilização da barbárie? Quatro episódios, todos ocorridos em São Paulo, nos perturbam pelo grau de violência, intolerância e, talvez, impunidade. São casos diferentes. Têm em comum o descontrole, a falta de valores humanos e a certeza dos criminosos de que nada acontecerá, porque a Justiça no Brasil tarda e falha.

domingo, 19 de outubro de 2014

Crônica do Dia - O porteiro, a empregada, o cabeleireiro e a manicure - Ruth de Aquino

Eles não acham que “é dando que se recebe”. O povo trabalhador, que sobrevive de salário com carteira assinada ou na informalidade, parece ser bem mais crítico do Bolsa Família que eu. É curioso. Pobre que trabalha desconfia de pobre que vive de benefício do Estado.

sábado, 27 de setembro de 2014

Crônicas do Dia - O que é imoral ? - Ruth de Aquino

É imoral trazer ao mundo um filho com síndrome de Down, se você tem a escolha. A mulher deveria abortar e tentar novamente. Quem deu essas declarações incendiárias na semana passada foi o biólogo britânico Richard Dawkins, ateu assumido e um dos maiores estudiosos da evolução das espécies. Produziu um “big bang” de ressentimentos, ódios e mágoas. Compreensível.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Crônicas do Dia - Nossa guerra particular - Ruth de Aquino

Um tiro na cabeça, à queima-roupa, na hora do almoço, sob um sol deslumbrante de inverno, num dos bairros mais nobres e bucólicos da Zona Sul carioca, a Gávea, chocou e enlutou a elite do Rio de Janeiro. Sepultou-se ali a ilusória sensação de segurança criada pelo policiamento ostensivo na Copa, com soldados camuflados a cada esquina.

Maria Cristina Bittencourt Mascarenhas, 66 anos, conhecida por todos como Tintim, seu apelido de infância, acabara de sacar R$ 13 mil no banco para pagar a seus funcionários. Foi vítima de mais uma “saidinha de banco”, expressão quase terna que não traduz a covardia do crime, uma praga no Brasil. Tintim era sócia e anfitriã de um bistrô tradicional e simpático, o Guimas, fundado por duas famílias em 1981, que mistura as cozinhas francesa, portuguesa e brasileira. Ali sempre se comeu bem sobre toalhas quadriculadas, cobertas por papéis brancos descartáveis, onde crianças e adultos desenham, com lápis de cera coloridos, algo para alimentar o papo.

Dois homens numa moto a atacaram no curto caminho para o restaurante, um com capacete, o outro sem. Um chegou por trás, passou o braço pelo pescoço dela e gritou “passa a bolsa”. Tintim, mãe de três filhas e avó, querida na rua pelo sorriso e pela gentileza, segurou a bolsa por instinto e foi executada, com uma bala na têmpora. O assassino pegou o dinheiro, fugiu com o comparsa na moto. A vítima ficou ali, morta na poça de sangue, junto a botecos onde muita gente comia e bebia no ambiente festivo que tanto encantou os gringos. Uma testemunha disse que tudo durou um minuto.

Tintim parara para experimentar uma saia na barraca de um ambulante, pois assim é a comunidade da Gávea, um bairro chique alternativo, muito verde, com comércio misto e casas ainda antigas, mais procurado por quem busca tranquilidade e qualidade de vida, não ostentação. O bairro abriga a PUC, universidade católica, o Jockey Club, escolas para pobres e ricos, cursos de balé e ioga. É caminho para a favela da Rocinha.

Se fosse apenas uma tragédia isolada e pontual da boemia carioca, o assassinato de Tintim não estaria aqui nesta coluna. A violência de bandidos ou da polícia invade todos os grandes centros urbanos e não escolhe classes sociais. Está associada a impunidade, corrupção, abuso de poder, disputa por pontos de droga e desrespeito à vida. Aterroriza os pacíficos e honestos.

Pais e mães não conseguem criar filhos sem paranoia.  Há quem apele a estratégias de guerrilha. No dia em que Tintim foi assassinada, ouvi uma jovem contar seu método para escapar ilesa de um eventual assalto no trânsito: “Minha bolsa que fica à vista é toda ‘fake’. É uma Vuitton falsificada, meus documentos são falsos, com nomes e endereços falsos, chaves falsas, celular que não funciona e mais uns R$ 50 e uns US$ 10 para o assaltante achar que se deu bem”. A bolsa verdadeira fica escondida. É uma história real. E faz todo sentido. Um sentido escabroso.

O que vemos não são simples assaltantes armados. São homicidas que saem para roubar. Poderiam ter dado um soco em Tintim, poderiam tê-la desacordado. Mas não. Deram um tiro para matar. Como fazem ao roubar um celular, uma bicicleta ou um carro – e a vítima, por medo ou susto, atrapalha por segundos a ação.

O “latrocínio” (assalto seguido de morte) é coisa nossa, quase não acontece em países civilizados. Cerca de 60 mil brasileiros são mortos por ano no país. Milhares de homicídios não são sequer registrados, por falta de confiança na investigação, por medo de vingança de gangues ou da PM. Nas estatísticas disponíveis, 164 pessoas são mortas por dia no Brasil. É como se um avião da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, fosse abatido a cada 43 horas, por um míssil chamado subdesenvolvimento. Mata-se no Brasil, em 38 horas, o equivalente aos 260 palestinos mortos em 11 dias de conflito com Israel (até a última sexta-feira). Se o que vivemos não é uma guerra civil, o que será? Hecatombe social?

Somos reféns, podemos não chegar vivos em casa e sabemos o risco de perder alguém querido. Por isso, nos tornamos piores, mais agressivos ou medrosos. Há uma tendência a culpar as vítimas. “Como assim sacar R$ 13 mil do banco? Nem de dia dá para fazer isso.” “Como assim segurar a bolsa? Todo mundo sabe que não dá para reagir, entrega tudo logo.” É horrível. É como culpar pelo estupro a moça que ostentou as coxas com uma saia curta.

Houve um tempo, no Brasil, em que o verbo “reagir” significava outra coisa. Gritar por socorro. Tentar bater no assaltante ou ameaçar o bandido. Hoje, se o rapaz fugir de bicicleta, se a moça esconder rápido o celular na mochila, se o homem acelerar o carro, se a mulher segurar a bolsa, pronto. “Reagiram”, todos. Perderam a vida. Isso é barbárie, uma sociedade sem educação, sem humanidade, com total desprezo a leis que existem para não ser cumpridas.

domingo, 13 de julho de 2014

Crônica do Dia - O mata - mata depois da Copa - Ruth de Aquino

Que país é este que melhora quando tudo para, e a bola rola? Os crimes quase somem, só se pensa positivo, o trânsito flui, os homens choram mais que as mulheres, e o Brasil dá ao mundo uma lição de civilidade e bom humor, ao reverenciar craques de fora e confraternizar entre si e com estrangeiros. O povo se dedica a torcer e festejar, mesmo quando a Seleção decepciona. Hospedar celebrações é uma vocação nacional.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Crônica do Dia - Não atendo emergência - Ruth de Aquino

É possível que se conte nos dedos de uma mão o número de países em que um paciente morre do coração em frente a um Instituto Nacional de Cardiologia (INC), sem receber socorro de nenhum médico ou enfermeiro do hospital. O INC está em greve, como muita gente nesta fase de amistosos pré-Copa das Copas.