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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Te Contei, não ? - Shakespeare encontra Machado de Assis


Coletânea de ensaios do escritor e professor José Luiz Passos disseca a dimensão moral dos personagens machadianos e aponta a forte influência do dramaturgo inglês

Por Leonardo Cazes

Ainda um aspirante a escritor, em 31 de dezembro de 1862 Machado de Assis assumiu o cargo de censor teatral no Conservatório Dramático Brasileiro. Sua função era escrever pareceres e autorizar, ou não, a encenação de textos no Rio de Janeiro. Na época, apesar de ter apenas 23 anos, já acumulara experiência na crítica teatral colaborando com jornais, publicara no ano anterior a comédia “Desencantos” e a tradução da sátira “Queda que as mulheres têm para os tolos”. Foi desta posição privilegiada que o escritor assistiu à chegada avassaladora das montagens de peças de William Shakespeare aos palcos da cidade. O contato com a obra do dramaturgo inglês despertou o interesse do jovem para as questões morais e marcaria sua produção literária.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Crônica do Dia - Shakespeare e a corrupção

 

  • Vivesse em nossa época, escritor teria à sua disposição vasto material, menos nobre, é verdade, descoroado, pois não convém comparar Eduardo III com senadores
Frei Betto
 
Não se sabe ao certo se Shakespeare é autor de “Eduardo III”. A peça aborda um tema perene: governantes governam governos e, no entanto, quase nunca sabem se governar. O que fazem os políticos corruptos, todos sabemos. Mudam os tempos e diferem os costumes. Eles abusam da imunidade e da impunidade, praticam o mais descarado nepotismo, usam os serviços públicos como se fossem direitos privados.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Revendo William Shakespeare - Macbeth

Macbeth

Quem escreveu?
 
O autor desta peça é dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare
(23/04/1564 - 23/04/1616), é considerado por muitos o mais importante autor da língua
inglesa e um dos mais influentes de todo o mundo ocidental.

O que é?


Macbeth é uma das mais conhecidas obras de William Shakespeare que se desenrola em cinco atos, em prosa e em verso. É uma tragédia sobre traição e ambição considerada uma das mais escuras obras de William. Acredita-se que a obra foi composta em 1606, mas só foi publicada em 1623.

Língua original: Inglês
 
 

 
 
 


Gênero: Tragédia

 

 
 
 
 

Personagens:
 

 
 

 
 
 
Banquo, três bruxas, Macduff, Macbeth, Fleance, Lady Macduff, Duncan I da Escócia, Donalbain, o filho de Macduff, Malcolm.

História:


Macbeth e seu amigo Banquo eram generais do exército da Escócia. Enquanto
cavalgavam, ouviram vozes. Tratava-se de três bruxas que profetizaram que Macbeth

ganharia o cargo General de Cowdor o de mais alta confiança do Rei, e
 
 
 
 
posteriormente, seria coroado Rei da Escócia.
Somente poderia tornar-se rei os filhos ou, na ausência destes, o general de Cowdor. Tendo isso em vista, Macbeth sabia que para essa profecia tornar- se realidade, seria necessário atravessar a hierarquia de algumas pessoas, mas principalmente do filho do Rei, o jovem Malcom. Além disso, seu amigo Banquo, que já o avisara que essa ambição traria a ele muitas consequências, era a principal testemunha profecia das bruxas e desconfiaria de qualquer atitude de Macbeth.
Após vencerem uma batalha contra a Noruega, os generais foram procurados por mensageiros de Duncan, naquele momento, Rei da Escócia, que informam a eles que o Rei quer parabenizar Macbeth pela vitória contra a Noruega e que irá torná-lo general de Cowdor.
Com a primeira parte da profecia já realizada, Macbeth acredita mais ainda nas bruxas de que logo seria coroado Rei. Resolve então contar os ocorridos para sua esposa, que exercia forte influência sobre ele e decidem cometer uma série de assassinatos, começando pelo amigo Banquo.
A sua esposa então, começa a tramar a morte do Rei Duncan para logo tornar se rainha. Organiza uma festa em sua casa com o pretexto de que todos assistissem à morte de um traidor do Rei. A festa acontece e o homem é enforcado. Quando todos os hóspedes vão dormir, a esposa de Macbeth dá orientações a seu esposo de como tudo deveria ser feito. Começa então servindo vinho aos camareiros que fazem a guarda do Rei, e isso os faz dormir mais profundamente. A caminho do quarto onde o Rei dormia, Macbeth começa a ter visões de um punhal, o que estranha. Ele então entra no quarto e mata o Rei com o punhal. Logo em seguida, Macbeth começa a ter outras visões, a ouvir vozes, mas logo acha que tudo aquilo era só imaginação. Sua esposa coloca o punhal usado nas mãos de um dos camareiros com o objetivo de incriminá-los. Ao amanhecer, os mensageiros do Rei chegam para acordá-lo e deparam-se com o Rei morto. Aos gritos, todos acordam e Macbeth, encenando desespero, mata os camareiros do Rei na frente de todos, dizendo que aqueles eram os perigosos assassinos.
O filho do Rei, Malcom e seu companheiro, o nobre Macduff, fogem para a Inglaterra, com medo de serem incriminados pelo assassinato.
Macbeth que já era general de Cowdor, e na ausência de filhos do Rei, é então coroado Rei da Escócia. Porém, já na festa de seu reinado, o fantasma do Rei Duncan
e de Banquo aparecem para ele. Sua esposa, agora chamada de Lady Macbeth, que antes poderia ser considerada uma mulher tímida, recatada e de bem, após revelar sua ganância, egoísmo e poder de persuadir o esposo, também passa a ter delírios e crises de sonambulismo. Em uma dessas crises, Lady Macbeth, inconscientemente revela ao médico e à sua camareira que a observavam, que tem culpa nos assassinatos. Faz repetidamente o gesto de lavar as imaginárias manchas de sangue das mãos e isso também a denuncia. Posteriormente, Lady Macbeth comete suicídio.
Macbeth, ignora a morte da esposa, argumentando que ela teria que morrer "em uma melhor hora." Cansado de ter visões, Macbeth vai consultar novamente as bruxas. Numa segunda profecia, as bruxas dizem que ele só seria derrotado se um
 

 
“bosque chegasse ao castelo”, e que ele não precisaria preocupar-se, pois “nenhum homem nascido de mulher” poderia matá-lo, porém avisa-o para tomar cuidado com
 
 
 
Macduff, o nobre que fugiu com Malcom, filho do Rei.
Ambas as profecias pareciam impossíveis: que um bosque chegasse ao
castelo e que existisse de um homem que não houvesse nascido de mulher, assim, Macbeth sentia-se seguro mas, por precaução , manda matar a esposa e todos os filhos de Macduff.
Mensageiros procuram Macduff na Inglaterra, e quando contam a ele a tragédia com sua família, Macduff decide voltar para a Escócia, mas para guerrear contra
Macbeth.
Com a ajuda de 10.000 homens do exército inglês, aproximam-se então do castelo. Os soldados ingleses, para se camuflarem, seguravam troncos e ramos de árvores e isso, sendo visto de longe, parecia um bosque ou uma montanha em movimento, cumprindo-se então a primeira parte da segunda profecia das bruxas.
Começa então a guerra entre os exércitos e o duelo entre Macbeth e Macduff.
Durante a luta, Macbeth diz ao oponente que está seguro porque nenhum homem nascido de mulher poderia matá-lo, mas Macduff revela a ele que não nasceu, e sim, foi tirado prematuramente do ventre da mãe por cesariana. Macduff então mata  Macbeth e tira-lhe a cabeça. Assim, em grande festa, Malcom, filho do Rei Duncan é então coroado e consagrado Rei da Escócia.
 Contribuição de Antônio / Amanda Oliveira / Ingrid / Liz - Turma 702 / 2013

Revendo William Shakespear - Rei Lear

Rei Lear
 
 
 
  Rei Lear é uma brilhante tragédia de William Shakespeare.
Esta obra foi escrita no ano de 1605 e conta a história da traição de duas filhas ao seu pai, o rei, depois de as ter legado todo o seu reino.
 
 Em 26 de dezembro de 1606, pela primeira vez a peça foi encenada e, acima de tudo, ela foi encenada perante pessoas importantíssimas da corte inglesa.
Essa obra foi impressa em  1608 e depois novamente em 1623, porém em uma nova versão.
Rei Lear foi adaptada e revisada inúmeras vezes, tanto para o teatro, quanto para a literatura e o cinema.
  A obra nos faz parar para refletir sobre aprendizados que ela nos traz através dos sentimentos e sofrimentos das personagens, nos faz questionar quais são realmente as maiores riquezas da vida, nos ensinando assim a dar mais valor a tudo que nos é proporcionado. Também vemos que na maioria das vezes, o tempo nada pode fazer a respeito de arrependimentos e atitudes impensadas. 
Rei Lear  e um clássico da literatura .
 É uma historia de traição ,vingança e também de paixão e mesmo tendo sido escrita há muitos anos  atrás , traz a seus leitores muitos conceitos e características atuais, pois casos como o do monarca descrito por Shakespeare sempre existirão seja em qual época for.


 
 
 
Contribuição do grupo : Amanda Sobral, Arthur Catarino, Lucas Nunes e José Carlos Paes.
 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Resenhando - A mais genial das ausências

A MAIS GENIAL DAS AUSÊNCIAS


Um historiador francês reconstitui a trajet6ria de uma intrigante obra perdida: a peça em que Shakespeare teria feito sua versão de uma narrativa de Cervantes

A primeira pane de Dom Quixote foi publicada em 1605. Dois anos depois, em uma festa popular no Peru colonial, já aparecia um cavaleiro caracterizado como o herói miserável e delirante criado pelo espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616). O livro e seu protagonista muito cedo alcançaram uma popularidade prodigiosa, que não se limitou aos falantes do castelhano. Em 1628, uma peça francesa colocava em cena Cardenío, protagonista de uma das várias historias que Cervantes teceu em seu livro, paralelamente às peripécias do Cavaleiro da Triste Figura. Na Inglaterra, o mesmo Cardenio já aparecera como título de uma peça teatral encenada pela Companhia King’s Men em duas ocasiões festivas na corte do rei Jaime I, entre 1612 e 1613. O texto dessa provável comédia perdeu-se, o que por si só não seria circunstância excepcional: um dos levantamentos mais otimistas sugere que apenas um terço das peças apresentadas nos palcos ingleses de 1565 a 1642 (quando os teatros foram fechados)  teve edição impressa. Cardenio, que estaria entre os dois terços que nunca ganharam as páginas de um livro, só tem relevância porque foi atribuída ao eminente autor titular dos King’s Men: William ShaIcespeare (1564-1616). A história do provável cruzamento dos dois gênios maiores das línguas espanhola e inglesa – que é também a história de uma ausência, de uma gigantesca lacuna literária – é reconstituída pelo estudioso francês Roger Chartier,professor do College de France, em Canlenio entre Cervallles  e Slulkespeare (tradução de Edmir Missio; Civilização Brasileira; 294 páginas; 39,90 reais).

O historiador francês faz um levantamento exaustivo
e minudente de todas as circunstâncias que cercam o texto perdido.Nas relações de peças apresentadas na corte em que aparece’Cardenio, não se informa o nome do autor. É só quarenta anos depois, em 1653, numa lista de livros registrados por um editor, que a peça é atribuída a Shakespeare e John Fletcher,dupla que também colaborou em Os Dois Nobres Parentes e Henrique VIIL O título permite concluir com segurança que o entrecho vem de Dom Quixole, cuja primeira tradução em inglês fora publicada em 1612. Cardenio é. um cavaleiro ensandecido por um amor frustrado que certo dia cruza com Dom Quixote, o fidalgo que enlouqueceu de tanto ler romances de cavalaria.A descabelada história de Cardenio e de sua amada Lucinda comporta elementos que Shakespeare privilegiou nas comédias: traição, casais trocados, donzelas travestidas  de homem. A história, aliás, foi
adaptada para o palco também na Espanha e na França com a diferença de que os textos dessas versões dramáticas sobreviveram  até nossos dias.   mistério de Cardenio complica-se com a entrada em cena, no século XVIII, do dramaturgo Lewis Theobald. Em 1727, ele apresenta um texto intitulado Double Falsehood (Dupla Falsidade). O enredo é basicamente o mesmo criado por Cervantes, embora o nome dos personagens tenha sido trocado – Cardenio toma-se Julio. Theobald dizia que a peça fora adaptada por ele a partir de manuscritos utilizados nos teatros de Londres lá pelos anos 1660 – e que o texto desses manuscritos seria originalmente de Shakespeare. Na edição que ele mesmo fez das obras completas do bardo, Theobald não incluiu nem Double Falsehood nem Cardenio. E ele nunca apresentou os tais manuscritos  reencontrados aos céticos que duvidavam da autoria shakespeariana. Fraude? Talvez. Roger Chartier tende a acreditar, no entanto, que Theobald se baseou de fato em um manuscrito reencontrado.  Mesmo que o texto anterior tenha existido, porém, não há como saber quanto desse original terá sido preservado na adaptação de Theobald. E nem há como afirmar que Shakespeare tenha sido um de seus autores.
No entanto, o nome “Shakespeare” sempre aparece no cartaz das várias montagens, releituras e readaptações que a peça de Theobald vem tendo no palco contemporâneo. De forma ainda mais controversa, em 2010, Double Falsehood foi incorporado à prestigiosa coleção de,obras de Shakespeare publicada pela editora Arden. Embora o prefácio do livro busque se mostrar cauteloso quanto à atribuição de autoria, na capa não constam os nomes de Theobald ou Fletcher – apenas o de William Shakespeare. Chartier mostra-se reticente com essa temeridade editorial, que mereceria ser denunciada em termos mais francos como um lance do mais baixo sensacionalismo comercial.
A atribuição tardia de Cardenio a Shakespeare pode ter sido um equívoco. O autor de Hamlet talvez nem sequer tenha tomado contato com Dom Quixote. Mas a peça perdida sempre alimentará especulações de acadêmicos e especialistas. Reconhecimento tácito de um gigante literário a seu par em um país rival, Cardenio é a obra dos sonhos de todo leitor.

REvista Veja

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Te Contei, não ? - Um palco brasileiro para Shkespeare


Reinaugurado em 1997, o Shakespeare’s Globe londrino reproduz a construção original, de 1599, com palco no centro da plateia
Foto: Divulgação

RIO - O ano de 1599 foi tão marcante na vida de William Shakespeare quanto o ano de 2016 deve ser para o produtor cultural mineiro Mauro Maya. Afinal, se naquele longínquo fim de século XVI o bardo vibrava com a construção e a inauguração do Globe Theatre, que se tornou a sede da companhia da qual fazia parte — a Lord Chamberlain’s Men —, a partir do mês que vem o brasileiro começa a pôr em prática o que lhe ocorreu há dez anos como um delírio: construir uma réplica do Shakespeare’s Globe Theatre no Brasil.
Desde que deu partida em sua quixotesca missão, há três anos, Maya não mediu esforços, investimento, contatos e sua credibilidade como produtor até conseguir, em março passado, a assinatura de Neil Constable, o CEO do The Shakespeare Globe Trust (entidade mantenedora do Globe), oficializando a parceria que possibilitará a construção da primeira sede da companhia inglesa em terras estrangeiras.
— Esta é a primeira vez que o Globe chancela a abertura de uma base e de uma réplica do teatro fora de Londres — conta Maya, de 41 anos.
atividades começam ainda em 2012
Com capacidade para 1.500 espectadores, o Globe brasileiro será acompanhado de um teatro menor, de 300 lugares, além de um centro cultural com salas de ensaio, escola, café e um jardim, que ocuparão uma área de 20 mil metros quadrados na cidade mineira de Rio Acima. O terreno foi cedido pela Vale do Rio Doce e poderá ser usado para fins culturais por 20 anos.
— Ao término do contrato, ele poderá ser doado, se provarmos o bem que fizemos à área — diz Maya.
Distante 30 quilômetros de Belo Horizonte e 20 quilômetros de Ouro Preto, a empreitada lembra outro imponente projeto cultural localizado em outra pequena cidade mineira, Inhotim, onde o empresário Bernardo Paz construiu, em 2004, o maior museu a céu aberto do mundo. A comparação cabe porque a iniciativa de Maya não se encerra na construção do Globe brasileiro. Em paralelo às obras, o produtor cultural dará início, no próximo dia 1º de dezembro, ao Circuito Gandarela de Minas, uma plataforma de formação e difusão cultural que prevê a realização de 12 projetos artísticos e educacionais, pensados para circular por 25 municípios da região de Rio Acima.
Destruído por um incêndio, reaberto, fechado e depois posto abaixo, em 1644, o Globe Theatre foi reconstruído ao longo de 40 anos, a partir de uma iniciativa do ator e diretor americano Sam Wanamaker (1919-1993). O novo Shakespeare’s Globe Theatre foi inaugurado em 1997, seguindo fielmente as medidas e a estrutura do original — uma de suas características é um palco projetado ao centro da plateia, que possibilita uma relação de proximidade entre ator e espectador.
— Vimos em Mauro um homem que alimentava a mesma visão e energia de Sam, que trabalhou por quatro décadas até que o teatro ficasse de pé — diz o CEO do Globe. — Até aqui, Mauro tem demonstrado sua capacidade de articulação, estabelecendo parcerias locais e internacionais. Além disso, ele entende o quão universal é a linguagem de Shakespeare, e o quanto ele é capaz de atingir as pessoas.
— A ideia é fomentar o desenvolvimento do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, preparando a região para receber o teatro Globe em 2016 — planeja Maya. — Pensei em cada detalhe, para não dizerem que estamos construindo um elefante branco numa cidade desconhecida. Rio Acima é um ponto estratégico, entre cidades importantes de Minas, e o Globe será o polo irradiador desse circuito integrado. Há um conjunto de iniciativas que consolidarão um grande ciclo de arte, educação e desenvolvimento econômico não só para Minas, mas para o Brasil.
Para isso, o produtor estima que sejam necessários R$ 70 milhões, incluindo os R$ 50 milhões para a construção do teatro, que devem ser custeados por cinco diferentes empresas estrangeiras ao longo dos próximos três anos, enquanto o circuito cultural entre as cidades do Quadrilátero deve ser bancado por duas empresas nacionais.
— Não haverá dinheiro público investido na construção do Globe — diz Maya, que não revela os nomes das empresas envolvidas.
Com rendimentos que chegam a R$ 100 milhões por ano, a sede de Londres e sua gestão autossustentável são o modelo proposto pelo produtor, que iniciou carreira na área há 12 anos, no Grupo Galpão. Maya foi o responsável por garantir à companhia mineira o patrocínio continuado da Petrobras, que sustenta todas as atividades desenvolvidas na sede do grupo.
— Quando comecei a trabalhar com o Galpão, eles eram uma companhia com 18 anos de história, mas sem patrocínio nem sede, com dificuldades financeiras e sem uma estrutura que possibilitasse o trabalho de pesquisa que eles imaginavam — lembra Maya. — O que proponho desde então é um modelo de gestão que garanta sustentabilidade e difusão cultural. Em Londres, o Globe movimenta milhões com bilheteria, patrocínio, exposições, comércio... Então, a ideia é que ele gere receita, que tenha um plano de negócios próprio para garantir a manutenção das contas e o trabalho integral dos artistas. Encaro isso como um divisor de águas em relação à produção profissional, porque as pessoas não podem pensar que lei de incentivo é o que basta, não se pode achar que isso é um berço esplêndido. Meu trabalho é a longo prazo e de olho em sustentabilidade.
A inauguração do teatro está prevista para 2016, ano em que serão celebrados os 400 anos da morte de Shakespeare. Até lá, Maya realizará por aqui, em 2014, a primeira edição do festival Globe to Globe, reunindo 12 produções internacionais de peças de Shakespeare.
— Em 2016, já com o teatro pronto, vamos fazer a versão integral do festival, com 37 criações, ou seja, todas as peças de Shakespeare — promete. — Além disso, a partir daí todas as nossas produções serão apresentadas em Londres e vice-versa.
Mas não apenas Shakespeare ocupará o palco do Globe brasileiro:
— A ideia é montar também autores nacionais, como Ariano Suassuna, entre outros — diz o produtor.
A relação entre Shakespeare e o teatro brasileiro será investigada num núcleo de educação guiado pela pesquisadora Barbara Heliodora.
— Estamos convidando uma série de atores para que eles estudem trechos de peças e sonetos — conta Barbara. — Faremos gravações com esses atores, e os vídeos serão acompanhados por textos meus esclarecendo a importância de tal fragmento na peça em questão. O objetivo é ampliar a abrangência e o entendimento de Shakespeare no país.
As atividades educativas terão ressonância em plataformas digitais coordenadas por Eliane Costa, ex-gerente de patrocínios da Petrobras. O diretor mineiro Gabriel Villela também está envolvido no projeto, e irá comandar um núcleo de formação profissional e capacitação para artistas e técnicos.
— As aspirações do Mauro são grandiosas — diz Villela. — No meu núcleo serão investigados todos os pontos que possibilitam uma montagem teatral. Como pegar um texto e transformá-lo em cena, passando por valores barrocos da nossa cultura.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Te Contei, não ? - O primeiro teatro de Shakespeare


O bairro de Shoreditch, no Leste de Londres, vibra com a diversidade de artistas, o colorido dos grafites nos muros, o agito boêmio de seus moradores e frequentadores.

O perfil da região não é uma onda passageira, sequer moderna. Nos idos de 1580, a área já era
conhecida por sua cena cultural, em particular da atividade teatral. Foi nesse canto da cidade, então barato e conveniente, que um jovem William Shakespeare viu estrear algumas de suas peças, como “Romeu e Julieta” e “Henrique V”, no The Curtain (A Cortina), um teatro construído em 1577 que serviu de sede para sua companhia teatral, The Lord Chamberlain’s Men.

No início deste mês, uma importante descoberta arqueológica fez com que o presente de Shoreditch se encontrasse com o seu passado: paredes de uma das galerias do teatro e um pedaço do pátio feito com ossos de carneiro onde se reunia o público em torno das apresentações da época foram achados intactos, um dos mais bem conservados exemplares para a compreensão dos teatros do período elisabetano, segundo historiadores.

— Essa é uma descoberta fantástica, que nos dá uma visão única dos primeiros anos de Shakespeare — comemorou Chris Thomas, do setor de arqueologia do Museu de Londres e responsável pelas escavações no local.

O que torna o achado tão especial é que os arqueólogos haviam perdido a trilha do The Curtain. Ele é citado na própria obra de Shakespeare, no prólogo de “Henrique V”, como o “O de madeira” (the wooden O), uma referência ao fato de ter sido um anfiteatro de madeira. Era sabido também que o teatro estava localizado na região de Shoreditch. No entanto, a partir de 1622, quando os puristas resolveram exterminar todos os palcos da era elisabetana, ele simplesmente sumiu dos registros históricos. Alguns estudiosos acreditam que o teatro funcionou até a Guerra Civil, em 1640. Mas ninguém mais sabia apontar sua localização.

Os escombros foram encontrados atrás da pequena rua que dá nome ao teatro, a Curtain Road (a cortina não era usada na boca de cena na época), durante as escavações feitas para levantar um prédio de 39 andares. Um porta-voz da construtura Plough Yard Developments declarou, por meio de nota, que o local das ruínas vai se tornar uma área preservada em meio à construção de lojas e novos apartamentos. Já se fala até que o local poderia receber peças teatrais e público no futuro.

As escavações também revelaram pedaços de um cachimbo e fragmentos de ladrilhos de revestimento de parede. O responsável pelas escavações espera encontrar ainda mais coisas.

— Em outros teatros do período, encontramos fragmentos de pequenos cofres de cerâmica destinadas a guardar dinheiro — contou Chris Thomas ao “Daily Mail”. — Na época, quando as pessoas entravam no teatro, elas depositavam o dinheiro da entrada nesses cofres que, posteriormente, eram levados para os fundos do teatro e quebrados para a recuperação da bilheteria. Tenho certeza que alguns do The Curtain estão lá, esperando que os encontremos.

Escavação pode revelar detalhes sobre encenação

O trabalho arqueológico pode determinar ainda as reais dimensões do antigo teatro, o tamanho do palco e até mesmo o que o público comia durante as apresentações, dizem especialistas.

As escavações continuam e estão a poucos metros de distância do local de outro teatro do período, o The Theatre (O Teatro), descoberto em 2008 pelo mesmo grupo de arqueólogos e palco da estreia de Shakespeare como ator. Construído em 1575, The Theatre foi o primeiro estabelecimento do gênero no Reino Unido. The Curtain, erguido dois anos depois, foi o segundo.

— Eu adoro a ideia de que estamos escavando Londres e, aos poucos, nos livrando das miseráveis camadas da era Vitoriana e revelando a alegre e anárquica cidade sob ela — afirmou, em entrevista ao “Daily Mail”, Dominic Drumgoole, diretor-artístico responsável pela reconstrução do The Globe, o mais conhecido teatro shakespeariano (leia mais no box), reconstruído exatamente tal qual era na época de Shakespeare.

O diretor da Royal Shakespeare Company, Michael Boyd, disse, em entrevista à BBC, que a descoberta é “inspiradora” e que “desejava tocar a terra e as pedras para sentir a presença de um espaço onde as primeiras obras de Shakespeare causaram impacto”.

— Antes de partirem para o The Globe (O Globo), Shakespeare e seus colegas de companhia passaram dois anos felizes com a Lord Charmberlain no The Curtain. Essa descoberta é uma maravilhosa oportunidade para entendermos mais as peças de Shakespeare em suas encenações — disse Neil Constable, chefe do The Globe.
The Globe é igual ao original

O mais famoso dos teatros de Shakespeare está em plena atividade. O The Globe, na região de Southwark, às margens do Rio Tâmisa, é uma reprodução fiel do teatro elisabetano original, de 1599, embora sua construção fique a poucos metros de distância do local do prédio original.

O Globe, que recebe milhares de visitantes durante todo o ano e oferece espetáculos ao longo do verão europeu, é o resultado da obstinação do ator americano Sam Wanaker, morto em 1993. Em 1949, ao visitar Londres pela primeira vez, ele ficou inconformado ao ver que, no lugar do teatro original, havi apenas uma placa envelhecida. Ao longo de 23 anos, Wanaker levantou fundos para sua reconstrução, em junho de 1997.

O teatro original foi construído durante a renascença cultural da Inglaterra, ainda no reinado de Elizabeth I. Foi fruto da ideia de um grupo de atores, entre eles William Shakespeare. Além de ser um dos sócios do novo teatro, Shakespeare atuava e, claro, escrevia as peças que sua companhia encenava no local.

Quatorze anos depois da abertura, durante uma encenação de Henrique VIII, um incêndio destruiu toda a estrutura da casa em apenas duas horas. Público e atores se salvaram, assim como os manuscritos de peças de Shakespeare. O Globe foi reconstruído rapidamente e funcionou até 1642, quando foi fechado de vez pelos puritanos e demolido dois anos depois.

Assistir a uma peça no atual Globe é como ir ao teatro há 400 anos. Os bancos, desconfortáveis, são dispostos de forma circular. O palco, no centro, é bem alto, e não há teto. Não eram usados cenários.
O Globo
30/06/2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Resenhando - Shakespeare no divã

É ELE? O retrato que ficou séculos com uma família irlandesa pode ser a única imagem de Shakespeare pintada durante sua vida  (Foto: Corbis)

Os livros sobre William Shakespeare  (1564-1616) são mais abundantes que a obra do poeta e dramaturgo inglês, embora não lhe cheguem a seus pés. Todo ano imprimem-se novos volumes que tentam atender à curiosidade que cerca um dos maiores escritores da história. De vez em quando, da pilha de obras dispensáveis emerge alguma coisa que realmente merece ser lida. Como Shakespeare se tornou Shakespeare (Companhia das Letras, 456 páginas, R$ 59), lançada no Brasil em 2011, é uma delas. O autor é Stephen Greenblatt, de 68 anos, professor da Universidade Harvard. Com base em documentos e na análise das peças, ele busca a motivação de Shakespeare na construção de seus personagens. Outra obra é o ensaio Quem escreveu Shakespeare (Nossa Cultura, 358 páginas, R$ 59), que chega nesta semana às livrarias brasileiras. Nele, James Shapiro, de 56 anos, professor da Universidade Colúmbia, de Nova York, retoma a antiga polêmica em torno da autoria das 38 peças que formam o cânone de Shakespeare. Elas foram atribuídas a outros autores por escritores como Henry James e Mark Twain. Shapiro retoma a polêmica para encerrá-la. Seu livro foi considerado o “tratamento definitivo” da questão. Segundo o crítico literário Stephen Marche, foi como “trazer um (caça militar) F-22 para uma briga de facas em um beco”. Tanto Greenblatt quanto Shapiro estarão na Festa Literária Internacional de Paraty,em 6 de julho, para discutir Shakespeare

O livro de Greenblatt se destaca entre as biografias de Shakespeare por tentar reconstituir sua vida íntima por meio de passagens de sua obra (leia o quadro acima). “Tive o cuidado de nunca construir um relato de sua vida baseado só em seus escritos. Tinha de haver alguma evidência documental”, diz ele. Um exemplo é o esforço de Greenblatt para descobrir como o jovem William se interessou por teatro. Ele encontra relações entre as peças e folhetos que descrevem uma encenação em honra à rainha Elizabeth ocorrida em 1575, a 20 quilômetros de distância da cidade de Stratford, onde Shakespeare nasceu e ainda morava, aos 11 anos. Uma das atrações mencionadas é um golfinho mecânico de mais de 7 metros de comprimento que passeou pelas águas ao lado do castelo com um grupo de sopro tocando cantigas. A cena é citada nas peças Noite de reis (“Como Árion no dorso do golfinho”) e Sonho de uma noite de verão (“A ouvir uma sereia no dorso de um golfinho”). Ao abordar a formação de Shakespeare, Greenblatt tenta fazer uma análise de suas características psicológicas. Sua obsessão com a nobreza, por exemplo. O pai de William, John Shakespeare, iniciou o processo para comprar um título de nobreza, mas ele foi arquivado, provavelmente por falta de pagamento. Shakespeare tinha fama e dinheiro em 1596, quando reabriu o processo para dar ao pai, a si mesmo e a seus filhos o título de Cavalheiro da Rainha.

Shapiro fez outro tipo de livro. Ele é o primeiro acadêmico respeitado a entrar na polêmica sobre a autoria das peças de Shakespeare. Há quem acredite que o Bardo, como a posteridade apelidou Shakespeare, não escreveu suas obras. Mas sim contemporâneos como o pensador Francis Bacon (1561-1626) ou o poeta Edward de Vere (1550-1604), conde de Oxford. A polêmica, apesar de não ter fundamento, perdura 200 anos depois da morte de Shakespeare. O argumento essencial, recheado de preconceito, é que apenas alguém com origem nobre – e não um ator sem educação formal – estaria habilitado para escrever tantas maravilhas. No meio acadêmico, a discussão é ultrapassada. Com o advento da internet, teorias vulgares ganharam corpo e novos adeptos. Um abaixo-assinado com mais de 2 mil nomes – entre eles, um ex-juiz da Suprema Corte americana, John Paul Stevens – pretende, até 2016, ano dos 400 anos da morte de Shakespeare, transformar sua identidade em campo de estudo acadêmico.“Meu interesse na controvérsia é guiado não pelas teorias, que são tolas, mas sim pelas consequências culturais de vivermos num mundo onde provas documentais não valem como valiam”, diz Shapiro. “Isso deveria preocupar todo mundo.” Ele diz que as dúvidas sobre o trabalho de Shakespeare surgiram entre as décadas de 1840 e 1850, na mesma época em que estudiosos na Alemanha estavam debruçados sobre obras clássicas e religiosas – como a Odisseia, de Homero, e o Novo Testamento – tentando determinar sua origem e autenticidade. “Shakespeare, como ícone cultural, foi escolhido como alvo”, afirma. Desde então, surgiram novas evidências que comprovam sua identidade. Em 2009, um retrato presumido, datado de 1610, foi encontrado entre as posses de uma família irlandesa. Em 6 de junho, arqueólogos descobriram em Londres vestígios de seu primeiro teatro, o Curtain. Pesquisas como as de Greenblatt e Shapiro estimulam o entusiasmo por dramas, comédias e sonetos de Shakespeare – estes, sim, acima de qualquer controvérsia.

REPRESENTAÇÕES  DE SHAKESPEARE Colagem a partir  de retratos de William Shakespeare em diferentes fases da vida  (Foto: Bettmann/Corbis (2), After John Vanderbank/ Getty Images, Corbis e Heritage Images/Corbis )

Revista Época

sábado, 16 de junho de 2012

Te Contei, não ? - Encontrados os escombros do Teatro " The Curtain"



Os escombros do teatro 'The Curtain', onde William Shakespeare teria estreado obras como 'Enrique V' e 'Romeu e Julieta', foram encontrados no leste de Londres, informou nesta quarta-feira o Museu de Arqueologia da capital britânica.
Os responsáveis deste museu qualificaram o achado como 'emocionante', já que a localização exata do teatro era tida como um 'mistério'. Até então, sabia-se que o teatro tinha sido inaugurado em 1577 e que se encontrava no bairro de Shoreditch, em Londres.
Como parte de um trabalho de restauração, os arqueólogos do museu encontraram vestígios do teatro 'em bom estado de conservação', como o pátio e os muros de uma galeria, a três metros de profundidade.
Com as escavações, que deverão seguir adiante, os arqueólogos encontram o teatro (The Curtain) em uma rua do bairro de Shoreditch. O local fica a poucos metros do lugar onde o 'The Theatre', teatro onde Shakespeare estreou como ator e onde representou suas primeiras peças, foi encontrado em 2008.
Um porta-voz das escavações assegurou que se trata de um dos descobrimentos 'mais importantes' dos últimos anos relacionados com o dramaturgo inglês. Isso porque, desde 1622, os arqueólogos e os historiadores tinham perdido o rastro do teatro.
O 'The Curtain' foi a sede da companhia de Shakespeare, 'The Lorde Chamberlains Men', de 1577 até 1597, época em que o dramaturgo britânico apresentou obras como 'Romeu e Julieta', 'Sonho de uma Noite de Verão' e 'Enrique V'.
A lenda conta que o ator e diretor do teatro, James Burbahe, acabou com o teatro da noite para o dia por causa de um problema com o proprietário do edifício. Posteriormente, o mesmo Berbahe fundou o 'The Globe', onde a maioria das obras de Shakespeare foi representada.
Desta forma, espera-se que as escavações sejam abertas ao público no futuro e, inclusive, que reconstruam o teatro, assim como ocorreu com o 'The Globe', uma recriação do teatro original que se encontra às margens do Rio Tâmisa.
O diretor da Royal Shakespeare Company, Michael Boyd, disse hoje que esse descobrimento é 'inspirador' e que 'desejava tocar o barro e as pedras para sentir a presença de um espaço onde as primeiras obras de Shakespeare causaram um grande impacto'.
A Plough Yard Developments, a empresa de construção proprietária do terreno onde os escombros do teatro foram encontrados, revelou que esperam poder trabalhar em parceria com o Museu Arqueológico de Londres, especialistas em Shakespeare e autoridades locais para possibilitar o acesso do público às escavações. Para a empresa, o ideal seria elaborar um novo projeto urbanístico em torno do local. EFE

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Resenha - Trono de Sangue




Diante de um totem formado por dois grandes teares, três bruxas literalmente “tecem” com longas agulhas seus malignos vaticínios: a de que um general da corte da Escócia será coroado rei e, para se manter no trono, terá de tomar cuidado com um homem não nascido de ventre feminino. Essas predições pontuam a magnífica tragédia “Macbeth”, de William Shakespeare. Na versão em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo, a partir da sexta-feira 1º, as feiticeiras não são interpretadas por mulheres, mas por homens. Era assim que na época elisabetana, no século XVI, as personagens femininas ganhavam vida no palco. A originalidade da montagem assinada pelo diretor Gabriel Villela e protagonizada por Marcello Antony está em mostrar a história de um rei que manchou o trono de sangue na potência de todos os recursos cênicos. As bruxas, por exemplo, usam bermuda, colete militar, meiões, joelheiras, óculos de sol e uma estranha coroa formada por retroses de tecelagem. Suas agulhas são antenas de rádio, objeto que depois, nas mãos de soldados, lordes e do próprio rei, tornam-se lanças e espadas. Da mesma forma, o sangue que seus “gumes” provocam não são feitos de ketchup, mas de um amontoado de linhas vermelho-encarnado.

Esse uso de objetos e roupas incomuns liberta o espectador e abre espaço para outras inovações. A primeira delas é a utilização de um narrador, que comenta a ação à maneira brechtiana. Segundo Villela, sua função é “reconstruir a história perante a plateia”. Nessa síntese, os 20 personagens totais são interpretados por apenas oito atores. Os únicos que não se revezam em cena são Marcello Antony e Claudio Fontana, no papel de Lady Macbeth. A ideia original do diretor era que Antony fizesse a personagem feminina, mas a mudança veio para melhor. De sua parte, Antony contribuiu para uma cena capital, o monólogo que inclui a definição da vida como “um conto cheio de som e fúria significando nada” – ele assume movimentos de marionete. “Tive essa ideia no momento em que Macbeth repete ‘o amanhã, o amanhã, o amanhã”, diz o ator, para quem a peça chega em um momento oportuno: “Estamos vendo isso agora com esses políticos que fazem o que querem com o poder.” 


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Te Contei, não ? - Otelo - William Shakespeare



Otelo (William Shakespeare) 

 A linguagem de Shakespeare, rica e criadora, contém todos os elementos anglo-saxônicos e latinos da língua inglesa, que o poeta enriqueceu com um maior número de citações, locuções e frases proverbiais do que qualquer outro autor, respeitando a versão original, mas fez algumas modificações: Shakespeare busca a comédia e o romance naturalmente, mas chega à tragédia por meio da violência e da ambivalência; atribuiu ao Mouro um caráter mais nobre e refinado, e também uma função de destaque em Veneza; aumentou a importância de Emília na trama; acentuou a malignidade de Iago; criou novos personagens e eliminou outros. 

Obviamente, Shakespeare não é Lord Byron, que exibe por toda a Europa o coração sangrando; contudo, a imensa agonia que sentimos ao ver Otelo matar Desdêmona é informada não apenas por uma intensidade exterior, mas, também, interior e é justamente este fato que faz de Otelo uma tragédia do ciúme, peça de construção perfeita, onde a psicologia do Mouro ciumento e a da maldade diabólica de Iago, bem como a lógica dos acontecimentos - tradução de uma fatalidade inexorável - conduzem o espectador ao clima dos grandes modelos de tragédias gregas citadas por Aristóteles. 

Bem encenada, Otelo será um trauma para a platéia, ainda que momentâneo; e desta forma o foi para Harold Bloom que afirma que a obra o apavora ainda mais do que outras peças shakesperianas, pois se trata de uma dor imponderável, desde que se conceda a Otelo a imensa dignidade e o valor que tornam a degradação do personagem algo tão terrível. 

"Ó cão espartano, mais feroz do que a angústia, a fome ou o mar! Olha o fardo trágico desta cama! É trabalho teu (...)! Quanto a vós, governador incumbe o castigo deste trabalho infernal. Determinai a hora, o lugar, a tortura... É preciso que seja terrível! Quanto a mim, embarco de imediato e vou ao Senado relatar, com o coração acabrunhado esta dolorosa ocorrência!". 

Shakespeare neste aspecto é um pouco mais otimista, mas Iago não conseguirá escapar do destino certo e justo. Quanto às versões para o cinema, uma das melhores adaptações é a do diretor Oliver Parker que foi também roteirista do filme Otelo de 1995. 

Segue fielmente nos diálogos a poesia dramática shakespereana e coloca pela primeira vez um Otelo negro. Em outras versões, tanto para teatro como para cinema em que Orson Welles interpreta o mouro, tendo escurecido o rosto para tal, nunca se havia utilizado de uma pessoa negra, o que vem a rechaçar uma das causas de confronto da peça, que é o preconceito racial; e com grande mérito o autor Laurence Fishburne encarna perfeitamente a divindade de Otelo. 

Kenneth Brannagh, grande discípulo de Shakespeare da atualidade, está perfeito na interpretação do vilão Iago piscando maliciosamente para o público e mostrando todo o cinismo do personagem e dizendo: "Quero que o Mouro me agrade, goste de mim e recompense-me por haver feito dele um astro insigne e perturbado sua paz e quietude até que ele fique louco!". 

É uma versão interpretada e filmada sábia e brilhantemente. Nas próximas páginas, vamos adentrar numa análise mais literária da obra. 

 · Resumo da Obra 

 A tragédia Otelo foi publicada pela primeira vez por volta de 1622. No entanto, sua composição é datada de 1604. Seu personagem principal, que empresta o nome à obra, é um general mouro que serve o reino de Veneza. 

Toda a história gira em torno da traição e da inveja. Inicia-se com Iago, alferes de Otelo, tramando com Rodrigo uma forma de contar a Brabâncio, rico senador de Veneza, que sua filha, a gentil Desdêmona, tinha se casado com Otelo. Iago queria vingar-se do general Otelo porque ele promoveu Cássio, jovem soldado florentino e grande intermediário nas relações entre Otelo e Desdêmona, ao posto de tenente. 

Esse ato deixou Iago muito ofendido, uma vez que acreditava que as promoções deveriam ser obtidas "pelos velhos meios em que herdava sempre o segundo posto o primeiro" e não por amizades. 

Brabâncio, que deixara a filha livre para escolher o marido que mais a agradasse, acreditava que ela escolheria, para seu cônjuge, um homem da classe senatorial ou de semelhante. 

Ao tomar ciência que sua filha havia fugido para se casar com o Mouro, foi à procura de Otelo para matá-lo. No momento em que se encontraram, chega um comunicado do Doge de Veneza, convocando-os para uma reunião de caráter urgente no senado. 

Durante a reunião, Brabâncio, sem provas, acusou o Mouro de ter induzido Desdêmona a casar-se por meio de bruxarias. Otelo, que era general do reino de Veneza e gozava da estima e da confiança do Estado por ser leal, muito corajoso e ter atitudes nobres, fez, em sua defesa, um simples relato da sua história de amor que foi confirmado pela própria Desdêmona. Por isso, e por ser o único capaz de conduzir um exército no contra-ataque a uma esquadra turca que se dirigia à ilha de Chipre, Otelo foi inocentado e o casal seguiu para Chipre, em barcos separados, na manhã seguinte. 

Durante a viagem uma tempestade separou as embarcações e, devido a isso, Desdêmona chegou primeiro à ilha. Algum tempo depois, Otelo desembarca com a novidade que a guerra tinha acabado porque a esquadra turca fora destruída pela fúria das águas. 

No entanto, o que o Mouro não sabia é que na ilha ele enfrentaria um inimigo mais fatal que os turcos. Em Chipre, Iago com raiva de Otelo e Cássio, começou a semear as sementes do mal, ou seja, concebeu um terrível plano de vingança que tinha como objetivo arruinar seus inimigos. 

Hábil e profundo conhecedor da natureza humana, Iago sabia que de todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável. Ele sabia que Cássio, entre os amigos de Otelo, era o que mais possuía a sua confiança. Sabia também que a sua beleza e eloqüência eram qualidades que agradam as mulheres, ele era o tipo de homem capaz de despertar o ciúme de um homem de cor, como era Otelo, casado com uma jovem e bela mulher branca. 

Por isso, começou a realizar o seu plano. Sob pretexto de lealdade e estima ao general, Iago induziu Cássio, responsável por manter a ordem e a paz, a se embriagar e envolver-se em uma briga com Rodrigo, durante uma festa em que os habitantes da ilha ofereceram a Otelo, que estava na companhia de sua amada. 

Quando o Mouro soube do acontecido, destituiu Cássio do seu posto. Nessa mesma noite, Iago começou a jogar Cássio contra Otelo. Ele falava, dissimulando um certo repúdio a atitude do general, que a sua decisão tinha sido muito dura e que Cássio deveria pedir à Desdêmona que convencesse Otelo a devolver-lhe o posto de tenente. Cássio, abalado emocionalmente, não se deu conta do plano traçado por Iago e aceitou a sugestão. 

Dando continuidade ao seu plano, Iago insinuou a Otelo que Cássio e sua esposa poderiam estar tendo um caso. Esse plano foi tão bem traçado que Otelo começou a desconfiar de Desdêmona. Iago sabia que o Mouro havia presenteado sua mulher com um lenço de linho, o qual tinha herdado de sua mãe. 

Otelo acreditava que o lenço era encantado e, enquanto Desdêmona o possuísse, a felicidade do casal estaria garantida. Sabendo disso e após conseguir o lenço através de sua esposa Emília que o havia encontrado, Iago disse a Otelo que sua mulher havia presenteado o amante com ele. 

Otelo, antes tão equilibrado, já estava enciumado, e pergunta à esposa sobre o lenço e ela, ignorando que o lenço estava com Iago, não soube explicar o que havia acontecido que ele havia sumido. Nesse meio tempo, Iago colocou o lenço dentro do quarto de Cássio para que ele o encontrasse. 

Depois, Iago fez com que Otelo se escondesse e ouvisse uma conversa sua com Cássio. Eles falaram sobre Bianca, amante de Cássio, mas como Otelo só ouviu partes da conversa, ficou com a impressão de que eles estavam falando a respeito de Desdêmona. 

Um pouco depois, Bianca chegou trazendo enciumada um lenço que estava no quarto de Cássio e discutiram sobre a origem do mesmo. Vale ressaltar que o lenço era, como todo lenço feminino, fino e delicado, isso significa que quando Otelo o deu para Desdêmona, ele não a presenteou com um simples lenço, na verdade o que ele deu à ela foi tudo o que há de mais fino e delicado existente em sua pessoa. 

Otelo ficou fora de si ao imaginar que Desdêmona havia desprezado tudo isso dando o lenço a um outro homem. 

As conseqüências disto foram terríveis: primeiro Iago, jurando lealdade ao seu general disse que para vingá-lo mataria Cássio, mas sua real intenção era matar Rodrigo e Cássio simultaneamente porque eles poderiam estragar seus planos. No entanto, isso não ocorreu conforme suas intenções, Rodrigo morreu e Cássio apenas ficou ferido. 

Depois Otelo, totalmente descontrolado, foi a procura de sua esposa acreditando que ela o havia traído e matou-a em seu quarto. Shakespeare faz da cena um sacrifício religioso, dotado de conteúdo contrateológico tão sombrio quanto o niilismo de Iago e o ciúme “divino” de Otelo. Após isso Emília, esposa de Iago, sabendo que sua senhora fora assassinada revelou a Otelo, Ludovico (parente de Brabâncio) e Montano (governador de Chipre antes de Otelo) que tudo isso foi tramado por seu marido e que Desdêmona jamais fora infiel. Iago matou Emília e fugiu, mas logo foi capturado. 

Otelo, desesperado por saber que matara sua amada esposa injustamente, apunhalou-se, caindo sobre o corpo de sua mulher e morreu beijando a quem tanto amara. Ao finalizar a tragédia Cássio passou a ocupar o lugar de Otelo e Iago foi entregue as autoridades para ser julgado. 

 1- Análise Dos Personagens 

 Otelo - General mouro e nobre a serviço da República de Veneza. Segundo Harold Bloom, dentro de suas óbvias limitações, Otelo, de fato é "nobre": seu consciente antes da queda, está sob firme controle, sendo justo e absolutamente digno, dotado de perfeição inata; quando Otelo, sem dúvida, a espada mais ágil do lugar, quer separar uma briga de rua basta um comando: "Embainhai vossas armas reluzentes, para que não embacieis o orvalho...". Ainda é a representação mais tocante da vaidade e do temor masculinos com relação à sexualidade feminina e, por conseguinte, da equação masculina entre os medos da traição e da morte. O Mouro é impotente diante de Iago; tal impotência é o elemento mais angustiante da peça, à exceção, talvez da dupla fragilidade de Desdêmona, com relação ao marido e a Iago. E para Iago, ele representava tudo, porque a guerra era tudo; sem Otelo, Iago é nada, e ao guerrear contra Otelo, Iago luta contra a ontologia. Interessante notar que Shakespeare conferiu a Otelo capacidade de expressão curiosamente heterogênea, a um só tempo, singular e desarticulada, e, propositadamente, falha. O Mouro afirma ter sido guerreiro desde os sete anos de idade; mesmo supondo que a afirmação seja hiperbólica, temos de convir que Otelo tem plena consciência de que sua grandeza foi conquistada à custa de muito suor. Contudo, apesar de toda a fama, Otelo denota certa insegurança, ás vezes, manifesta em seu discurso rebuscado e barroco, satirizado por Iago como "frases empoladas de termos de militança". A dor memorável, ou a memória induzida pela dor, emana de uma ambivalência, ao mesmo tempo cognitiva e afetiva, podemos observar isto, quando, conscientemente Otelo ao se casar com Desdêmona, põe em risco a auto-imagem construída a duras penas, e tem premonições corretas do caos se o amor fracassar: "Pobre querida! Quero ser maldito se não te amo! E no dia em que eu deixar de te amar, que o universo se converta de novo em caos!".

 Desdêmona - cujo próprio nome em grego significa "desventurada", prenunciando o destino que a aguarda. É uma jovem nobre, pretendida por vários jovens das melhores famílias da República, não apenas por sua beleza, mas também por seu rico dote. Ela era "uma jovem tão tímida, de espírito tão sossegado e calmo, que corava de seus próprios anseios!". Tais características ficam explícitas na atitude de seu pai, que ao saber que ela se casou com o Mouro, atribuiu tal fato à bruxaria. Otelo fala claramente como se deu o amor entre ambos: "ela me amou pelos perigos que corri, e eu a amei pela pena que ela teve!". Desdêmona, de bom grado, deixa-se seduzir pelo romance ingênuo e arrebatador da autobiografia de Otelo que provoca nela "um mundo de suspiros". O Mouro não é apenas nobre; a saga de sua vida faz "uma menina que sempre foi meiga" (segundo Brabâncio, seu pai) "deixar-se apaixonar por alguém que, antes disso, ela não fitaria sem horror!". Desdêmona, figura do Alto Romantismo, séculos à frente de seu tempo, cede ao fascínio da conquista, se é que se pode usar o verbo "ceder" para descrever entrega tão voluntária e direta. Todo esse perfil singelo que envolve Desdêmona sofre uma brusca alteração quando ela abandona a sua família e, apesar das diferenças, vai viver ao lado de Otelo em sua vida aventurosa de militar. O fim de Desdêmona é extremamente triste: além de ter sua imagem de esposa dedicada maculada, ela é abandonada por Deus, ou seja, nos seus últimos momentos de vida, não teve sequer o consolo da religião; Shakespeare, desta forma promove imenso "pathos" ao só revelar Desdêmona em toda a sua natureza e esplendor quando temos certeza de que está condenada e como uma ópera, Shakespeare permite a ela apenas na hora da morte, desobrigar Otelo, o que seria algo incrível, não fosse ela, segundo a tocante de Alvin Kernan, "a palavra shakespereana que significa amor". Somos levados a crer que essa terá sido a mais pura das jovens, tão fiel ao próprio assassino que as últimas palavras, exemplares, são quase irônicas, diante da degradação de Otelo: "Dá lembranças minhas ao meu senhor querido... adeus...adeus!". Desdêmona é um personagem que, além de tudo o que já foi dito, nos ajuda a entender um pouco mais do próprio Otelo. Por meio dela nos é revelado os traços morais de Otelo, características essas que contrastam com seu exterior rude. 

Iago - o tempo todo, a falsidade e a corrupção permanecem em segredo. A dissimulação pérfida de Iago reina entre a aparência e a realidade. Para Shakespeare, o mal é insondável e infinito e os personagens depravados invadem o palco como haviam invadido a Corte. Shakespeare assume a tragédia moral de sua época. Segundo Germaine Greer, professora de Literatura Inglesa na Universidade de Warwick, existe um elemento na tragédia de Shakespeare que ela chama de psicomaquia que é uma luta dentro da própria alma que pode ser externalizada de várias formas. Uma delas é o mal atuando sobre o protagonista. Shakespeare mostra ainda como um tipo de mal tende a manifestar-se. O personagem é onipresente. Está em todos os lugares enganando a todos ao mesmo tempo. Para Otelo ele era tudo como um honesto soldado e de bom comportamento. A posição de Iago como porta-bandeira, tendo jurado morrer antes de permitir que as cores de Otelo sejam capturadas em batalha, atesta não apenas a confiança de Otelo, mas a fidelidade de Iago no passado. Paradoxalmente, a devoção quase religiosa por Otelo, um deus da guerra, por parte do fiel Iago, pode ser inferida como causadora da preterição. Iago, conforme apontou Harold Goddard, está sempre em guerra; é um piromaníaco moral, que ateia fogo à realidade. Apesar da sensatez que, decerto, caracterizava seu tirocínio militar, Otelo enganou-se com Iago, artista tão livre de si mesmo. A catástrofe primeira da peça é o que seria chamado de "a queda de Iago", que estabelece um paradigma para a queda de Satã em Milton. O Deus de Milton, assim como Otelo, rebaixa o mais devotado dos seus servidores, e o magoado Satã rebela-se. Incapaz de derrubar o Ser Supremo, Satã derrota Adão e Eva; mas o sutil Iago vai mais longe, pois seu único Deus é o próprio Otelo, cuja queda se torna a vingança maior de Iago, arrasado pela rejeição, talvez, como conseqüência da mesma, sofrendo de uma impotência quase que sexual e de um forte sentimento de perda e fracasso, de não ser mais aquilo que fora. Sua grande bravata - "Nunca mostro quem sou!" - contradiz, propositadamente o apóstolo Paulo: "Com a graça de Deus, sou quem sou!", mas Shakespeare deixa o espectador conhecê-lo a fundo. Ele ri às escondidas de suas maldades e tem o público como seu confidente. Acena e pisca o olho para a platéia com seu olhar matreiro, querendo atrair o público com sua esperteza. Só nós os espectadores conhecemos as intenções de suas maquinações e sua importância é tanta que Shakespeare não sentiu necessidade de revisar o personagem de Iago, perfeição do mal e gênio do ódio. Não há dúvida quanto à centralidade de Iago na peça: a ele são atribuídos oito solilóquios, a Otelo apenas três. Que existe, igualmente, uma certa opacidade, não temos como negar; a tragédia de Otelo é, precisamente, o fato de Iago conhecê-lo melhor do que ele próprio se conhece; à sua maneira excepcional, foi o mais inquisidor e universal dos observadores, possivelmente, inclusive no que diz respeito ao esoterismo espiritual, ainda que sempre levado pelos propósitos de descobrir ou inventar. Iago é figura terrível porque possui habilidades fantásticas, talentos dignos de um fiel devotado cuja fé foi transformada em niilismo. Caim, rejeitado por Javé em favor de Abel, é pai de Iago, assim como Iago é o precursor do Satã de Milton. Iago mata Rodrigo e fere Cássio, mas a idéia de Iago esfaquear Otelo é tão inconcebível para o próprio Iago quanto para nós. Quando somos rejeitados por nosso deus, temos de atingi-lo espiritual ou metafisicamente, e não apenas fisicamente. 


Cássio - jovem matemático florentino que "nunca comandou nenhum soldado num campo de batalha e que conhece tanto de guerra como uma fiandeira". Mesmo assim, foi escolhido por Otelo para ocupar o posto de tenente. Cássio foi o grande intermediário das relações amorosas entre Desdêmona e Otelo e, por isso, gozava da confiança do casal. Ele era amante de Bianca que vivia em Chipre. Cássio era ingênuo, não percebeu que Iago tramava a sua desgraça, deixou-se embriagar enquanto estava de guarda, envolveu-se em uma briga e, por esse motivo, foi destituído do seu posto. Isso levou-o ao desespero e transformou-o em uma verdadeira marionete nas mãos de Iago. Cássio pode ser considerado como personagem coadjuvante, uma vez que Iago se apóia em sua figura para executar seus planos. 

Brabâncio - pai de Desdêmona, ocupava o cargo de senador na República de Veneza. Era um homem rico e mostrou ser totalmente contraditório: antes do casamento de sua filha com Otelo, ele foi recebido várias vezes em sua casa. Depois disso, acusou-o de feitiçaria e teve a intenção de matá-lo. No entanto, quem veio a falecer foi o próprio Brabâncio. 

Emília - mulher de Iago e serviçal de Desdêmona. A princípio sua participação na peça é discreta, mas no final ganha importância. Em nome da honra de sua senhora ela enfrenta o marido, revelando a Otelo que Iago o estava enganando. 

 2- Tempo 

 Na obra Otelo existe o predomínio do tempo psicológico. Isso ocorre devido aos vários monólogos existentes na peça. Esse recurso era muito usado no teatro para revelar o que os personagens estavam pensando. A maioria dos monólogos da obra Otelo é feita por Iago que nos revela toda a interioridade de sua alma tenebrosa. Quando isso ocorre quebra a cronologia do tempo cuja passagem é marcada pela fala dos personagens e, como isso é feito de forma muito sutil, é difícil identificá-lo. O primeiro ato dura uma noite. Entre esse ato e o seguinte existe um intervalo de cerca de uma semana, tempo que durou a viagem de Veneza a Chipre: "em companhia ele a mandou do destemido Iago, cuja vinda ultrapassa nossos cálculos de uma semana". O segundo ato era uma noite. Inicia-se quando os navios desembarcaram em Chipre e termina na noite desse mesmo dia com Iago incentivando Cássio a procurar Desdêmona para que ela intercedesse a seu favor junto a Otelo: "... logo que amanhecer, vou pedir à virtuosa Desdêmona que interceda a meu favor...". O ato III inicia-se no dia seguinte: "Então não vos deitastes? - Oh, não! Raiou o dia quando nos separamos...". Acreditamos que esse ato dure um pouco mais de uma semana. Essa idéia é apoiada na fala de Bianca que se dá no final desse ato: "E a vossa casa eu também ia, Cássio. Uma semana ausente? Sete dias e sete noites...". Por meio dessa fala deduzimos que Cássio, quando chegou à ilha, foi visitar sua amante. Os atos de IV e V duram um dia e uma noite. A fala de Bianca no final do ato III nos dá uma identificação de que esse ato termina durante o dia: "... acompanhai-me um pouco e declarai-me se ainda vos verei antes da noite!". Depois disso não há na obra mais indicações de que os dias se passaram, o que existe são apenas trechos que indicam que anoiteceu: "... é noite alta!" e "Desdêmona dorme, no leito. Uma candeia acesa. Entra Otelo". Com base nos dados do levantamento acima, acreditamos que o tempo interno da obra dure aproximadamente 24 dias. 

3- Espaço 

 O espaço em Otelo não é muito relevante. O primeiro ato da obra ocorre em Veneza e os demais na ilha de Chipre. Em Veneza os espaços são a rua da casa de Brabâncio, uma outra rua não identificada e a Câmara do conselho. Em Chipre, a primeira cena ocorre perto do cais, as demais se dão em ruas não identificadas, diante e em quartos do castelo. Na obra existem espaços abertos e fechados, mas as cenas de maior tensão ocorrem em espaços fechados, como exemplo, podemos citar as mortes de Desdêmona, Otelo e Emília. O espaço também é fechado quando Iago articula seus planos malignos. Às vezes isso se dá nas ruas, espaços abertos, mas a escuridão da noite dificulta a visibilidade e esse espaço torna-se fechado. Iago é um ser tão maquiavélico que usa os espaços para executar seus planos. Ele se aproveita dos espaços fechados para induzir Cássio a envolver-se numa briga. Depois ele usa esse mesmo tipo de espaço para matar Rodrigo e ferir Cássio e ainda na cena em que Iago faz Otelo ouvir apenas parte de sua conversa com Cássio, dando-lhe a impressão que Desdêmona o havia traído. 


 4- Ideologia 

 Nessa tragédia são encontradas várias idéias muito interessantes que, em sua maioria, fazem parte do nosso cotidiano: 

I.) Preconceito racial e religioso: 

O preconceito racial se faz presente em quase toda a obra. É fácil encontrar trechos em que outros personagens zombam de Otelo por causa da sua cor. " Iago - ... Agora mesmo, neste momento, um velho bode negro está cobrindo vossa ovelha branca... / ... Quereis que vossa filha seja coberta por um cabalo berbére e que vossos netos relinchem atrás de vós?". O preconceito religioso é percebido nas falas de Otelo e de Rodrigo: "... e cuja mão, tal como um vil judeu, jogou fora uma pérola mais rica que toda a sua tribo... / cão circuncidado". A circuncisão é uma operação que retirava parte do prepúcio, pele que envolve o pênis. Esse tipo de cirurgia é feita pelo povo judeu para serem confirmados na religião. No Novo e no Velho Testamentos, sempre que é usado o termo circuncidado, faz-se referência aos judeus. 

II.) Contraste entre a realidade e as aparências: 

Iago aparentava ser uma pessoa boa e digna de confiança, mas ele mostrou ser justamente o oposto, ou seja, maligno e traidor, pois o fascínio pelo poder, que vêm a ser o mesmo que o fascínio pelo mal, é inato ao ser humano. De certo modo, a arte de Shakespeare, manifestada através da ruína de Otelo nas mãos de Iago, é por demais sutil para ser parafraseada no ato crítico. Iago insinua a infidelidade de Desdêmona, primeiramente, sem o fazer de maneira direta, apenas cercando a questão de um lado e de outro: "Que a boa fama, para o homem, senhor, como para a mulher, é a jóia de maior valor que se possui. Quem furta a minha bolsa me desfalca de um pouco de dinheiro...". 

III.) Ciúme injustificado: 

Otelo sentia ciúme de sua mulher, sem que ela nunca lhe desse motivos. Foi esse ciúme doentio que permitiu que Iago o enganasse. O grande "insight" de Shakespeare com relação ao ciúme masculino é que o mesmo se trata de uma máscara que oculta o medo de castração na morte. Os homens acham que para eles jamais haverá tempo e espaço suficientes, e encontram na questão da infidelidade feminina, real ou imaginária, um reflexo do próprio fim, a constatação de que a vida há de continuar sem eles e Otelo se torna tão vulnerável. "Por que me casei?", ele exclama, e aponta os próprios "cornos" quando diz a Desdêmona: "Dói-me a cabeça aqui", o que a pobre esposa, inocente, atribui ao cansaço, tendo Otelo passado a noite cuidando do governador ferido. 

IV.) A união de uma mulher branca com um mouro: 

Isso para a época, era uma situação pouco comum e que, se ocorresse de fato, escandalizaria a sociedade, e no pleno desempenho de suas funções, Otelo estaria imune ao charme de Desdêmona, e à franca paixão da jovem pelo mito que ele representava. 

V.) Crítica Política: 

Esse tipo de crítica pode ser visto quando Brabâncio chama Iago de vilão e ele, ironizando, chama-o de senador: "Brabâncio - Sois um vilão! / Iago - E Vós... um senador!". 

VI.) Visões Oníricas (sonhos) 

Observando a leitura de Jorge Luis Borges, podemos constatar a importância dos sonhos e premonições na literatura inglesa, basta observar as histórias de Chaucer que descobriu sua vocação num sonho e de Coleridge que sonhou com a construção de um poema sobre um palácio de Kubla Khan, imperador do Oriente que sonhou o palácio que desejava arquitetar; e Shakespeare utiliza desse recurso em três momentos: o sonho angustiante de Brabâncio, as visões de Otelo a cerca de Desdêmona e a premonição de Desdêmona no leito de morte ao cantar uma canção fúnebre. 



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