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domingo, 10 de maio de 2015

Te Contei, não ? - O Cortiço

Um caminho para penetrar na riqueza visual proporcionada pelo maranhense Aluísio Azevedo (1857-1913), no romance "O Cortiço" (1890), é lembrar que os interesses iniciais do escritor eram o desenho e a pintura. Trabalhou como caricaturista e, em 1876, viajou ao Rio de Janeiro para estudar Belas Artes, obtendo seus primeiros ganhos com desenhos para jornais. Só com a morte do pai voltou ao seu Estado natal e se dedicou à literatura, escrevendo "O Mulato" (1881), considerado o primeiro livro da escola naturalista nacional.

domingo, 2 de março de 2014

Te Contei, não ? - Naturalismo

A escola literária naturalista é conhecida como uma radicalização do Realismo que se baseia na observação fiel da realidade e na experiência, logo, o indivíduo se determina pelo ambiente e pela hereditariedade. É no romance naturalista que a abordagem extremamente aberta do sexo aparece, o que resultou em algo muito chocante para a sociedade conservadora da época. Naturalistas escreviam sobre o instinto fisiológico e natural, retratando a agressividade, a violência e o erotismo como elementos que simplesmente fazem parte da personalidade do ser humano. Pode-se dizer que essa escola literária surge no século XIX.

Te Contei,não ? - O Realismo no Brasil

O Realismo no Brasil (1881-1893)

I – INTRODUÇÃO

sábado, 30 de março de 2013

Te Contei, não ? - Realismo X Naturalismo


A partir da segunda metade do século 20, as concepções estéticas que nortearam o ideário romântico começaram a perder espaço. Uma nova tendência, baseada na trama psicológica e em personagens inspirados na realidade, toma conta da literatura ocidental. Estava inaugurado o Realismo-Naturalismo.
No Brasil, essa passagem ocorre em 1881, com a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908), e de O Mulato, de Aluísio Azevedo (1857-1913). Enquanto o livro de Machado apresenta acentuado viés realista, o de Aluísio é claramente naturalista.
Realismo
O Realismo brasileiro é completamente diferente do europeu. A obra de seu principal autor, Machado de Assis, escapa de qualquer tentativa de classificação esquemática.
Na fase madura, Machado produz uma literatura essencialmente problematizadora. Com minuciosa investigação psicológica, ele indaga a existência humana. Ele ainda substitui o determinismo biológico por acentuado pessimismo existencialista e discute temas como a relatividade da loucura e a exploração do homem pelo próprio homem.

A intertextualidade e a metalinguagem marcam o estilo de Machado. O uso da linguagem poética, do jogo proposital de ambigüidades, da recuperação de lugares comuns e do microrrealismo psicológico também são características fundamentais da obra machadiana. Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires são alguns romances do autor.

Naturalismo
O principal autor naturalista no Brasil é Aluísio Azevedo. O determinismo social predomina em sua obra, construída através de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das personagens. Aluísio é autor de O mulato, Casa de pensão e O cortiço, obras com acentuado caráter investigativo e cuidadosa análise de comportamentos sociais.

Com o que ficar atento?
A riqueza literária do Realismo-Naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção. A dramaturgia também evolui e consolida a comédia de costumes como um gênero maior – na obra de França Júnior e Artur Azevedo, por exemplo.

Vale lembrar que o Realismo-Naturalismo brasileiro oferece amplo painel de uma época em que o país era monárquico, escravocrata, patriarcalista e passava por profundas mudanças socioeconômicas e culturais.

Como pode cair no vestibular?
Muitos vestibulares tem cobrado conhecimentos sobre a obra de Machado de Assis e os temas problematizados pelo autor, como a própria vida e a literatura.

Como já caiu no vestibular?
(PUC-SP) No romance Dom Casmurro, o narrador declara: "O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência". Entre as duas pontas, desenvolve-se o enredo da obra. Assim, indique a seguir a alternativa cujo conteúdo não condiz com o enredo machadiano.

a) A história envolve três personagens, Bentinho, Capitu e Escobar, e três projetos, todos cortados quando pareciam atingir a realização.
b) O enredo revela um romance da dúvida, da solidão e da incomunicabilidade, na busca do conhecimento da verdade interior de cada personagem.
c) A narrativa estrutura-se ao redor do sentimento de ciúme, numa linha de ascensão de construção de felicidade e de dispersão, com a felicidade destruída.
d) A narrativa se marca por digressões que chamam a atenção para a inevitabilidade do que vai narrar, como o que ocorre na analogia da vida com a ópera e em que o narrador afirma "cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quattuor..."
e) O enredo envolve um triângulo amoroso após o casamento e todas as ações levam a crer na existência clara de um adultério.
Gabarito
Resposta correta: E
Comentário: Narrado sob a perspectiva viciada e unilateral de um narrador personagem tendencioso, o romance Dom Casmurro é construído sob o signo da incerteza.

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/realismo-naturalismo-contexto-historico-autores-dicas-questao-comentada-598963.shtml


Você já sabe disso ? - O Mulato






O romance O Mulato, de Aluísio Azevedo, foi publicado em 1881 e causou escândalo na sociedade maranhense, não só pela crua linguagem naturalista, mas sobretudo pelo assunto de que tratava: o preconceito racial. A obra teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte e tomado como marco do Naturalismo no Brasil.

Na época, a obra foi muito mal recebida pela sociedade maranhense e Aluísio Azevedo, que já não era visto com bons olhos, tornou-se o "Satanás da cidade". Para se ter uma idéia da indignação causada pela obra, pode-se citar o fato de o redator do jornal A civilização ter aconselhado Aluísio a "pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo". O clima na cidade ficou tão ruim para o autor que ele decidiu retornar ao Rio de Janeiro.

Alguns elementos naturalistas quer estão presentes nesta obra são: a crítica social, através da sátira impiedosa dos tipos de São Luis: o comerciante rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o padre relaxado e assassino, e uma série de personagens que resvalam sempre para o imoral e para o grotesco; o anti-clericalismo projetado na figura do padre e depois cônego Diogo, devasso, hipócrita e assassino; a oposição ao preconceito racial que é o fulcro de toda a trama; o aspecto sexual referido expressamente em relação à natureza carnal da paixão de Ana Rosa pelo mulato Raimundo; o triunfo do mal, pois no desfecho, os crimes ficam impunes e os criminosos gratificados: a heroína acaba se casando com o assassino de Raimundo (grande amor de sua vida), e o padre Diogo, responsável por dois crimes, é promovido a cônego.

Observa-se no texto abaixo a caracterização dos costumes da província, dos mexericos e do preconceito, manifesto na maledicência de que participam D. Bibina, Lindoca, D. Maria do Carmo e Amância Souselas:
- Ele não é feio... a senhora não acha, D. Bibina?... segredava Lindoca à outra sobrinha de D. Maria do Carmo, olhando furtivamente para o lado de Raimundo.
- Quem? O primo d’Ana Rosa?
- Primo? Eu creio que ele não é primo, dona!
- É! sustentou Bibina, quase com arrelie. É primo sim, por parte de pai!...
Por outro lado, Maria do Carmo segredava a Amância Souselas:
- Pois é o que lhe digo, D. Amância: muito boa preta!... negra como este vestido! Cá está quem a conheceu!...
E batia no seu peito sem seios. - Muita vez a vi no relho. Iche!
- Ora quem houvera de dizer!... resmungou a outro, fingindo ignorar da existência de Domingas, para ouvir mais. Uma coisa assim só no Maranhão! Credo!


Há também muitos resíduos românticos, pois foi escrito em plena efervescência da Campanha Abolicionista e o autor não manteve uma posição neutra, imparcial. Ao contrário, ele toma o partido do mulato, idealizando exageradamente Raimundo, que mais parece o herói dos romances (ingênuo, bondoso, ama platonicamente Ana Rosa e ignora a sua condição de homem de cor).

O autor descreve o ambiente da cidade de São São Luiz com muita nitidez. Observe:

Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, os vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; os folhas das árvores nem se mexiam; os carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontra vã viva alma no rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.

É nessa atmosfera abafada, tanto do ponto de vista climático quanto do convívio social, que são apresentadas as personagens. Até os cães se envolvem no ambiente de letargia preguiçosa: Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos. O mal cheiro domina o ambiente: Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente. A grosseria do ambiente envolve as ações das personagens: O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço (...) as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.

Observa-se que, se os cães "tinham uivos que pareciam gemidos humanos", as peixeiras, animalizadas, têm "tetas opulentas". Homens e animais se misturam, portanto, no universo bestializado e asfixiante de São Luís do Maranhão.

É nesse ambiente que chega a São Luís o jovem advogado Raimundo, sobrinho há muito afastado de Manuel Pescada. Raimundo corresponde perfeitamente ao protótipo do herói romântico, pelo qual Ana Rosa tanto esperava. Sua descrição em tudo contrasta com a de Luís Dias. Ambos são, no entanto, personagens planas, superficiais, e servem apenas para que o autor prove sua tese anti-racista.

Sobre o personagem Raimundo

Raimundo saíra criança de São Luís para Lisboa. "Em toda a sua vida, sempre longe da pátria, entre povos diversos, cheia de impressões diferentes tomada de preocupações de estudos, jamais conseguira chegar a uma dedução lógica e satisfatória a respeito da sua procedência. Não sabia ao certo quais eram as circunstâncias em que viera ao mundo, não sabia a quem devia agradecer a vida e os bens de que dispunha. Lembrava-se no entanto de haver saído em pequeno do Brasil e podia jurar que nunca lhe faltara o necessário e até o supérfluo. "Esse jovem rico e virtuoso regressa a São Luís, depois de anos na Europa, formado e com o intuito de desvendar o mistério de seu passado. Antes, passara um ano no Rio de Janeiro e agora volta a São Luís para rever seu tio e protetor distante, Manuel Pescada.

Depois do nascimento de Raimundo, José Pedro casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca e impiedosa. Enciumada com a atenção especial que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordenou que a negra fosse açoitada e que suas partes genitais fossem queimadas.

José Pedro, indignado com tamanha crueldade, leva o filho para a casa do irmão em São Luís. Voltando à fazenda, flagra a mulher e o então jovem e sedutor Padre Diogo em pleno adultério. Enfurecido, José Pedro mata Quitéria e forma um pacto de cumplicidade com o Padre Diogo: esconderão a culpa um do outro. Desgraçado e doente, José Pedro refugia-se na casa do irmão. Ao se restabelecer, resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é assassinado por ordem do Padre Diogo, que já começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada.
Raimundo é bem recebido pela família do tio, com exceção da sogra de Manuel, a racista radical Dona Maria Bárbara. Estranha alguns olhares enviesados da população, mas imagina-os fruto do estranhamento causado por um forasteiro.

O sedutor advogado, como não poderia deixar de ser, logo cai nas graças de sua prima Ana Rosa que, arrebatada, declara-lhe seu amor. Raimundo corresponde à paixão da prima, mas os jovens encontram fortes obstáculos. Principalmente a oposição de Manuel Pescada, que queria a filha casada com Luís Dias, da avó Maria Bárbara, racista intransigente e do Cônego Diogo, velho amigo da casa e adversário não declarado e ardiloso de Raimundo.

Acontece que, ao contrário dos amantes, seus três grandes opositores conheciam as raízes negras de Raimundo. Aos poucos o leitor vai tomando conhecimento das origens do herói, que, no entanto, permanece ignorando tudo.

Obcecado por desvendar suas origens, Raimundo insiste em visitar a fazenda onde nascera. Após diversos adiamentos, seu tio finalmente o leva até a Fazenda São Brás. No caminho, o mulato começa a obter as primeiras informações sobre o passado trágico de seus pais. Ao pedir ao tio a mão de Ana Rosa em casamento, vê-se recusado. Perplexo, Raimundo acaba descobrindo que a recusa se deve a suas origens negras. Na fazenda, Raimundo é abordado, à noite, por uma velha negra de aspecto fantasmagórico, que o quer abraçar. Assustado, por pouco não mata a estranha aparição. No caminho de volta a São Luís, descobre que se tratava de sua mãe, Domingas.

Ao retornar à capital do Maranhão, Raimundo resolve voltar para o Rio de Janeiro. Não suporta mais viver com o tio e muda-se de sua casa, enquanto prepara-se para viajar. Pouco antes do embarque, manda uma carta a Ana Rosa confessando seu amor. O amor pela prima o impede de partir. Os amantes se encontram e Ana Rosa acaba engravidando. Contra tudo e contra todos, armam um plano de fuga. No entanto, o Cônego Diogo usa das confissões de Ana Rosa e da colaboração subserviente do caixeiro Dias, que intercepta as cartas do casal, para, ardilosamente, impedir a concretização da fuga. No momento em que planejavam partir, os amantes são surpreendidos. O Cônego Diogo orquestra o escândalo e finge-se de protetor do casal. Raimundo volta para casa atordoado e, ao abrir a porta de casa, é atingido nas costas por um tiro disparado por Luís Dias, com uma pistola que lhe emprestara o Cônego Diogo.

Ana Rosa, desolada, aborta o filho de Raimundo. "A nova firma comercial, Silva e Dias, nasceu entretanto, no meio da mais completa prosperidade."

Desfecho irônico

Seis anos depois da morte de Ramundo, no Clube Familiar, vemos Ana Rosa e seu marido Dias saindo de uma recepção oficial:
 
 
"O par festejado eram o Dias e Ana Rosa, casados havia quatro anos. Ele deixara crescer o bigode e aprumara-se todo; tinha até certo emproamento ricaço e um ar satisfeito e alinhado de quem espera por qualquer vapor o hábito da Rosa; a mulher engordara um pouco em demasia, mas ainda estava boa, bem torneada, com a pele limpa e a carne esperta.
Ia toda se saracoteando muito preocupada em apanhar a cauda do seu vestido, e pensando, naturalmente, nos seus três filhinhos, que ficaram em casa a dormir.
- Grand'chaine, double, serré! berravam nas salas.
O Dias tomara o seu chapéu no corredor e, ao embarcar no carro, que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
- Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!..."
A ironia final, bem a gosto naturalista, coloca por terra toda a idealização romântica de Ana Rosa e Raimundo. Morto o primo, a prima acaba por se casar com seu assassino, e parece levar, ao lado do marido que tão ferozmente rejeitara anteriormente, uma feliz e próspera vida burguesa. O mal triunfa, associado à igreja corrupta e ao comércio burguês.

Personagens principais

Raimundo - filho do irmão de Manuel Pescada, José Pedro da Silva, com sua escrava negra Domingas. A idealização própria dos romancistas românticos, a superioridade absoluta: moral, intelectual e mesmo física, observa-se na descrição deste personagem:
"Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro, se não foram os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos, tez morena e amulatada, mas fina, - dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode, estatura alta e elegante, pescoço largo, nariz direitoAche os cursos e faculdades ideais para você. É fácil e rápido. e fronte espaçosa. A parte mais característica de sua fisionomia era os olhos grandes, ramalhudos, cheios de sombras azuís, pestanas eriçadas e negras, pálpebras de um roxo vaporoso e úmido,- as sobrancelhas, muito desenhadas no rosto, como a nanquim, faziam sobressair a frescura da epiderme, que, no lugar da barba raspada, lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sobre papel de arroz.
Tinha os gestos bem educados, sóbrios, despidos de pretensão, falava em voz baixa, distintamente, sem armar ao efeito, vestia-se com seriedade e bom gosto; amava os artes, as ciências, a literatura e, um pouco menos, a política."


Ana Rosa - prima e noiva de Raimundo, filha de Manuel Pescada que não consentia no casamento da filha com seu sobrinho, por ser ele filho da escrava Domingas. Leitora ávida de romances, como a Emma Bovary, de Flaubert, ou a Luísa do Primo Basílio, de Eça de Queirós. Seu pai, Manuel Pescada, quer fazê-la casar-se com seu colaborador, o caixeiro Luís Dias.

Cônego Dias - assassino do pai de Raimundo.

Luís Dias - empregado de Manuel Pescada, que por instigação do cônego acabou por assassinar Raimundo. (...) era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal denuncia na casca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas do rosto, no desprezo do próprio corpo, na taciturnidade paciente daquela exagerada economia, adivinhava-se-lhe uma idéia fixa, um alvo para o qual caminhava o acrobata, sem olhar dos lados, preocupado, nem que se equilibrasse sobre um corda tesa. Não desdenhava qualquer meio para chegar mais depressa aos fins; aceitava, sem examinar, qualquer caminho desde que lhe parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais rapidamente ao ponto desejado. Lama ou brasa - havia de passar por cima; havia de chegar ao alvo - enriquecer. Quanto à figura, repugnante: magro e macilento, um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava perto da gente sentia-se logo um cheiro azedo de roupas sujas.

Manuel Pescada - um português de uns cinqüenta anos, forte, vermelho e trabalhador. Diziam-no afilado para o comércio e amigo do Brasil. Gostava da sua leitura nas horas de descanso, assinava respeitosamente os jornais sérios da província e recebia alguns de Lisboa. Em pequeno meteram-lhe na cabeça vários trechos do Camões e não lhe esconderam de todo o nome de outros poetas. Prezava com fanatismo o Marquês de Pombal, de quem sabia muitas anedotas e tinha uma assinatura no Gabinete Português, a qual lhe aproveitava menos a ele do que à filha, que era perdida pelo romance
 
 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Te Contei, não ? - O Mulato & O Cortiço

"O Mulato" E "O Cortiço"
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluísio de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão em 1857, morreu em 1913 em Buenos Aires. Era caricaturista de jornais num ambiente sócio-cultural em mudança.

A partir da segunda metade do século XIX, viveu no Rio de Janeiro porque não fazia os jogos de cartas marcadas da política de sua terra natal. A burguesia política, social, econômica, industrial e mecânica, isto é, ideológica, se imbuiu de um conjunto de idéias pré-formadas, ao autodefinir-se enquanto classe (apelidando-se de "elite").

"Elite" por autodenominação. Esses liberais, do capitalismo cromagnon, se apossaram do conceito grego de democracia, e se assentaram nele como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda das oligarquias regionais. Paradoxalmente, os liberais eram a vanguarda pensante da sociedade. Qualquer leitor de atualidade mediana poderia ser um eficiente escritor da escola do realismo-naturalismo. Nela estavam presentes, o desenvolvimento ufanista das ciências naturais, com novos métodos de experimentação e observação da realidade, a exemplo do darwinismo social.

A idéia darwinista da evolução, em voga em todo o ambiente científico "globalizado", da época (a seleção natural pela busca da sobrevivência do mais apto; o estudo e a interpretação da vida humana em sociedade), serviu de motivação literária para o autor de "O Cortiço". Aluísio de Azevedo afirmou-se enquanto um escritor crítico dos costumes sociais da época. A sociedade no estrato da pequena-burguesia, não possuía nenhuma orientação ideológica de classe, que pudesse salvá-la do comando, comunicação e controle (domínio maquiavélico) de seus tutores burgueses.

A tutela da sociedade estava em mãos dos banqueiros da propaganda política do capitalismo cromagnon em expansão. No romance mencionado, datado de 1890, a história do Cortiço não difere da de seu proprietário, o português João Romão, que explorava os sem teto da época, e os fazia devedores infindáveis do dinheiro das mercadorias que compravam em seu armazém.

João Romão comprou a escrava Bertoleza, uma beleza, que comercializava peixes fritos para seu patrão. João era um fundamentalista fanático do liberalismo (que originou uma coisa política, econômica e jurídica covarde, fraudulenta e impune, que se chamaria, algum tempo depois, de neoliberalismo). Como todo bom corrupto precursor dos neoliberais, João Romão fez dela amante, e, a pretexto de, como todo bom patrão, cuidar bem do dinheiro dela, depositou-o inteiro em suas contas, entregando-lhe, como compensação, uma falsa carta de alforria. Próspero, ele torna-se proprietário de uma pedreira na parte dos fundos do Cortiço.

Cheio da grana, que é tudo que a sociedade pequeno-burguesa precisa para se curvar reverentemente diante da ideologia fascista de qualquer bucaneiro, João Romão não tarda a encontrar sua "princesa", filha de um vizinho. Do vizinho interessado em por as mãos em parte do dinheiro do dono da mercearia, do Cortiço e da pedreira. A filha, possivelmente, para ele não valia nem a metade do preço dessas mercadorias.

Ela, a filha, era sua mercadoria disponível para começar as negociações matrimoniais dos interesses de ambos os burgueses. A cerimônia de casamento poderia realizar-se se ele se livrasse da escrava. Ao denunciar Bertoleza, que "se dizia" supostamente alforriada. Seus antigos patrões vieram buscá-la. Ela, acuada, se suicida. Há também a história de outro português, Jerônimo, um dos muitos moradores do Cortiço e administrador da pedreira. Casado, com uma vida domesticada pela rotina, ele é pego pelo "calcanhar de Aquiles" de todo português que almeja realizar lubricamente seus delírios de domínio sexual.

Rita Baiana chegou outra vez, com a inspiração de sua música de "guetho", dançou e cantou num boteco, ponto de animação do cortiço. O Jerônimo não se segurou. E lá se foi a felicidade do casal que, até então, eram "felizes para sempre". Depois de ver o gingado da baiana se encrespar para seu lado, ele não resistiu: a paixão falou mais alto. A pulsão mencionada por "tio" Freud jogou para o alto tudo que ele havia conseguido até o momento de vê-la dançar. A sereia canta mas o Ulisses caboclo não está amarrado ao mastro do navio mercante.

O vulcão fundamentalista da paixão ganha dos demais impulsos envolvidos. Firmo, o namorado de Rita, o esfaqueou numa briga. Posteriormente Jerônimo matou seu rival e fugiu com Ritinha Baiana. A delinqüência mental, patológica, das personagens pequeno-burguesas do romance naturalista de Aluísio Azevedo, indica a decadência geral dos valores éticos e morais, supostamente criados pela civilização dos velhacos teóricos de todos os matizes: os descendentes da civilização cromagnon da pré-história, vestidos de suposta civilidade.

A civilização ocidental, mãe do fundamentalismo jurídico da atualidade, estava a serviço dos banqueiros do colarinho branco da época do naturalismo literário. As influências históricas criavam as possibilidades criativas da essência pulsional das personagens naturalistas. O Naturalismo era uma corrente cientificista do Realismo. Sua exposição literária afirmava alguns aspectos de consideração particularizada. Ele resistia à criação das personagens idealizadas da escola romântica.

Os realistas e naturalistas criaram uma literatura de maior verossimilhança com a realidade. Não utilizavam a ingenuidade, por vezes fantasiosa, característica do estilo anterior. Valiam-se, os naturalistas, da aplicação dos princípios deterministas de Taine.

Para os naturalistas, assim como para o determinismo, os fenômenos pessoais e sociais se encontram associados por uma cadeia de fenômenos condicionados por outros que os precederam. Fenômenos esses que condicionavam, com a mesma vitalidade, a repetição da história pessoal, familiar, profissional e social, dos acontecimentos que, por sua vez, vão lhes suceder.

Aluísio de Azevedo, leitor contumaz de Eça de Queiroz, cria um intertexto tropicalizado da literatura deste, excluindo as influências da primeira fase do realismo incipiente, mascarado com as peripécias literárias da herança da escola do romantismo. O Cortiço está mais para o estilo da segunda fase literária do escritor português de "Os Maias": O discernimento social crítico da cultura de costumes da vida portuguesa. A ironia com que desmascara a hipocrisia e a crueldade ociosa da sociedade portuguesa.

Há alguns elementos, na literatura de Aluísio de Azevedo, da terceira fase literária de Eça: eles mostraram um escritor que dissertava sobre a criação de suas personagens de maneira veemente, lírica, sem que se incluísse na rigidez das etiquetas, das regras impostas pelos cânones da literatura realista e da literatura naturalista da escola européia.

Em "O Cortiço", o autor maranhense mexe com a vaidade dantesca dos "marimbondos de fogo" da sociedade maranhense, sinônimo de intriga caluniosa, mexericos e fofocas. A chamada "elite" social maranhense sentiu-se atingida pela leitura intertextual do autor: em sua terra natal nada mais era do que um "outsider". Os escitores que merecem este nome são, por vezes, os excluídos de seu tempo, porque em suas criações literárias, expõem, frente ao espelho da conduta social, a careta ávida de lucro, contraída pela ansiedade voraz, antropofágica, por ter (ter sempre mais), dos burgueses. Principalmente da burguesia praticante da "dança primata do avestruz":

A pantomima indigna das idéias e costumes da classe "A", que os fazia escravos de interesses extremamente particulares, que não possuíam nenhum resquício de democráticos. A aparente oposição que existia entre Miranda e João Romão, era, simultaneamente, a exteriorização dramatizada de uma profunda identidade de interesses comerciais (tipo levar vantagem em tudo, todo tempo), e outros, de natureza social incestuosa, entre eles. Eram, Miranda e João Romão, ambos portugueses em busca, no Brasil, da terra prometida do comércio pirata de mercadorias e de mulatas. Outros códigos literários (doutrinas científico-filosóficas), influenciavam a literatura naturalista. A exemplo da Dialética do Processo Racional.

Segundo Hegel, qualquer raciocínio pode ser lógico, desde que estruturado na trilogia seqüencial tese, antítese e síntese. O Positivismo de Augusto Comte, apregoava a superioridade da ciência para a sociedade. Comte garantia que a Teologia e a Metafísica poderiam ser excluídas da "teoria do conhecimento", uma vez que a "realidade" é uma realidade concreta, sólida, maquiavélica, implacável. Proudhon teorizou sobre as bases do pensamento socialista a partir das idéias de Comte.

O pessimismo da filosofia de Schopenhauer, outra influência da literatura naturalista, afirmava que o ser humano da espécie sapiens sapiens, está vocacionado para a dor e o sofrimento, desde que a felicidade vulgarizada pela escola romântica, não passava de um delírio persecutório: uma ilusão. Essas influências contribuíram para uma crítica da sociedade burguesa vigente na época. A maneira burguesa, liberal, a partir da qual João Romão enriquece, ao roubar seus fregueses no preço e, ao mesmo tempo, pervertendo e deformando a prática das relações sociais em benefício próprio, configura a crueldade de algumas personagens literárias que caracterizaram o Naturalismo.

A vida cotidiana da sociedade burguesa, está presente na natureza da linguagem descritiva que dispensa os eufemismos românticos. Há a presença da solidariedade no exercício da iniciativa estética na literatura realista e na criação literária do realismo.

A literatura realista cria a possibilidade de conceituar de maneira, por vezes "expressionista", a aderência incestuosa, simultânea, das influências do realismo literário, somadas à realidade burlesca da sociedade: O sentimento de harmonia na narração das emoções de prevalência social do mundo burguês decadente e cerimonioso, ao mesmo tempo real e horrível. Os naturalistas consideravam-se, na época, os únicos a criar metáforas literárias para explicar racionalmente o universo limitado pelos cinco sentidos dos interesses fundamentalistas burgueses do liberalismo.

Em Portugal, essas idéias criaram a polêmica conhecida como "Questão Coimbrã", quando Antero de Quental contestou as críticas dos românticos, através do texto conhecido por "Bom Senso e Bom Gosto". Em suas "Odes Modernas", nas poesias que representavam a fase realista do autor, há a presença das idéias de justiça social, igualdade e dignidade, precursoras das atuais idéias de cidadania. Futuramente (nas literaturas fantástica e de ficção científica), essas criações, de maneira gradual, foram integradas ao discurso literário científico da ficção (realista e científica), formas culturalmente elaboradas para que sejam mostradas, de maneira mais eficaz e intensa, o futuro das relações sociais nas quais prevalecem as diferenças, os preconceitos e a exclusão social.

Em outras palavras: os interesses da burguesia cromagnon, que autodenomina-se "elite". Elite é o que há de melhor num grupo social. Na realidade, a burguesia é uma minoria dominante, constituída de indivíduos que visam apenas o lucro. Do ponto de vista intelectual, espiritual, histórico, político e econômico, há muito a burguesia é uma escória. Veja o leitor no documentário do cineasta Michael Moore, "Fahrenheit 11 de Setembro", que o presidente dos Estados Unidos, o famigerado "Bush de Blair", se reporta à "elite" americana como sendo, para ele, uma "massa de manobra" para os interesses pessoais e os de sua "família".

A "elite" é a escória. Abastada. "Elite" nos Estados Unidos autodenomina-se de pele branca, do olho azul, rica e protestante. Essa "elite" costuma fazer guerras e usar as pessoas negras e "os mulatos", porincipalmente os de origem latino-americana, morando em "cortiços", para ir morrer por eles, onde quer que seus interesses estejam sendo defendidos.

Atualmente, a principal guerra que fomentam é no Iraque. É a "família" do "Jedy" Bush em grandes negociatas com a "família" americanófila de sauditas. O presidente dos EUA atacando "Satâ" Darth Wader (Hussein), que nunca matou sequer uma barata americana. "Bush de Blair" está a garantir parte do petróleo do oriente médio para as contas correntes de sua turma de delinquentes milionários: a "elite" americana do partido Republicano. Depois que eles mataram os irmãos Kennedy (o presidente John e o senador Ted), parece que não há nada que os faça parar com o despotismo político. Burguês.

A corrupção e a impunidade dessas importantes autoridades da política do complexo industrial militar, faz com que eles tomem não "mão grande", até eleições ganhas pelo partido Democrata. O terror e o medo que essas "autoridades" estão implantando nos Estados Unidos, se confirma na atual baixa auto-estima do povo americano, que deles vêm aceitando tudo, até a quase extinção dos direitos individuais em nome de uma suposta proteção dos americanos na luta contra o terrorismo. Ora, os terroristas são aqueles que matam um presidente e um senador de seu próprio país para poder fabricar armas, helicópteros, e bombas à vontade. Invadir países, fabricar guerras, E ficaram impunes, até hoje.

Para a desgraça e a vergonha de uma nação que se apelida de "democrática". A "elite" burguesa fede, através dos corpos dos americanos mortos nas guerras que o complexo industrial-militar promove. Como afirmou, com propriedade, a poesia daquele cantor popular. Quem vai parar a burguesia? Ou o planeta acaba com a burguesia, ou a "elite" dessa burguesia acabará com o mundo, Ao "defendê-lo" apenas para seus interesses.

Se alguém fizer um exame de DNA, ou equivalente para saber o quanto há de sangue branco nessa "elite", verá que a progênie da grande maioria deles é mais negra do que eles mesmos possam pensar. Que diferença se a pele deles é negra ou branca? Na realidade "a burgusia
fede e quer ficar rica". Mais rica. Sempre. Sem que a ética e a moral sejam levadas em consideração. Só isso, A isso eles chamam de cultura, de civilização e de "democracia".

Os "mulatos" e os habitantes latinos dos "cortiços" são os que vão morrer em mais essa "guerra suja". E o pilantra do "tio" Sam, representado pelo golfista à "black-tie", o "Bush de Blair", continua com aquele sorriso de hiena. De ave de rapina. Mentindo para o mundo globalizado pela impunidade e a corrupção? Até quando?
 
 
Decio Goodnews