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domingo, 16 de agosto de 2015

Te Contei, não ? - Influência da Cultura Africana na Cultura Brasileira



Moleque, quiabo, fubá, caçula e angu. Cachaça, dengoso, quitute, berimbau e maracatu. Todas essas palavras do vocabulário brasileiro têm origem africana ou referem-se a alguma prática desenvolvida pelos africanos escravizados que vieram para o Brasil durante o período colonial e imperial. Elas expressam a grande influência africana que há na cultura brasileira.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Te Contei, não ? - A vinda da família real

No século XIX, Napoleão Bonaparte  tornou-se soberano do império da França, seu objetivo era apoderar-se de toda a Europa. Para alcançar tal intento devassou o exército de diversos países, porém o mesmo não conseguiu com as forças militares e navais da Inglaterra. Para enfrentar-los, Napoleão decretou o Bloqueio Continental - determinação que vetava os países da Europa de negociar com a Inglaterra.


Neste momento da história, Portugal era governado pelo provável herdeiro da coroa, Dom João. Portugal e Inglaterra eram velhos cúmplices, o que deixou Dom João em uma posição delicadíssima. A situação dele não era nada fácil, o que fazer? ir contra Napoleão e correr o risco de uma invasão francesa ou esperar para ver a Inglaterra invadir o Brasil? Nem uma nem outra atitude era fácil para D. João.

A saída encontrada, em conluio com os ingleses, foi a mudança da comitiva portuguesa para o Brasil. Em novembro de 1807, sob proteção da força naval inglesa, D. João, sua linhagem e a nobreza que o rodeava mudaram-se para o Brasil. Aportaram em território brasileiro cerca de quatorze navios com 15 mil pessoas. Após a chegada da linhagem real, Dom João passou alguns dias em Salvador, quando tomou duas decisões que deram uma injeção de ânimo na economia brasileira: determinou a abertura dos portos aos países amistosos e a autorização para a instalação de indústrias, antes coibida por Portugal.

Surgiram várias fábricas e trabalhos manuais em tecido, mas que não foram adiante devido à confluência dos tecidos ingleses. Entre outros feitos importantes para a economia, pode-se citar a construção de estradas, melhorias nos portos e o ingresso do chá no país. A atividade agrícola voltou a crescer. No início do século XIX, o açúcar e o algodão subiram no ranking das exportações, ficando em segundo lugar, e o café subiu para o topo nas exportações brasileiras.

Após sair de Salvador, o rei foi para o Rio de Janeiro, lá chegando em 08 de março de 1808, transformando a cidade em residência fixa da corte portuguesa. A chegada da família real ao Brasil e sua instalação no Rio de Janeiro trouxeram para a colônia o status de Reino Unido de Algarves. Coube à D. João instituir alguns ministérios, entre eles o da Guerra, da Marinha, da Fazenda e do Interior. Estabeleceu órgãos fundamentais para o bom andamento do governo, como o Banco do Brasil, a Casa da Moeda, a Junta Geral do Comércio e o Supremo Tribunal. As melhorias não foram só econômicas, mas também culturais e educacionais. A Academia Real Militar, a Academia da Marinha, a Escola Real de Ciências, de Artes e Ofícios, a famosa Academia de Belas-Artes e dois colégios de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro e em Salvador, foram algumas das contribuições recebidas com a vinda da realeza para o Brasil. Entre outras benfeitorias, pode-se citar a criação do Museu Nacional, do Observatório Astronômico, a Biblioteca Real - combinação de diversos livros e documentos que vieram de Portugal -, a estréia do Real Teatro de São João e o surgimento do Jardim Botânico.

O Brasil, enquanto colônia, não possuía nenhum meio de comunicação, até então proibido oficialmente, contudo a vinda de D. João mudou essa realidade. Em 10 de setembro de 1808, imprimiu-se o primeiro jornal do país, a Gazeta do Rio de Janeiro. Porém, nem tudo foi glória, os cariocas tiveram que arcar com o alto custo de tudo, além de serem coagidos a doar alimentos e tecidos para manter a mordomia da Corte, que não se importava em esbanjar. A imagem que D. João passa logo que chega não é bem vista por muitos moradores, que se vêem obrigados a ceder seus imóveis privados para que a coroa abrigue todos os que vieram consigo, os que aqui chegaram tiveram carta branca para escolher a residência que melhor lhes conviesse. Feita a escolha, estas casas eram marcadas com as letras P.R, que queriam dizer Príncipe Regente, e a partir daí estipulavam um tempo determinado para que seus moradores as desocupassem.

Foi com o intuito de empregar essas pessoas que D. João criou os órgãos acima citados. O Rio de Janeiro passou por uma grande transformação, expandiu-se, ganhou chafarizes, para que houvesse fornecimento de água, pontes e calçadas, assim a realeza poderia caminhar despreocupadamente. Construíram-se ruas e estradas, e a iluminação pública foi instalada.

Enquanto o Brasil se vangloriava por ter deixado de ser colônia e o Rio de Janeiro se transformava na sede do reino, em Portugal a situação não era das melhores, o povo encontrava-se depauperado em conseqüência da guerra contra Napoleão e o comércio estava em decadência devido à abertura dos portos brasileiros.

Revoltados, os portugueses exigiram, em 1820, a volta de D. João, com a eclosão, ao norte de Portugal, da Revolução do Porto. Pediam também que fossem banidos os administradores estrangeiros e o comércio brasileiro fosse realizado somente pelos mercantes de Portugal. D. João resolveu que a melhor solução para esses problemas era sua volta para Portugal, a qual deu-se em 26 de abril de 1821, porém aqui ficou seu filho, D. Pedro, no papel de governante do Brasil, satisfazendo desta forma não só os portugueses, mas também os brasileiros. O embarque de D. João foi bastante conturbado, pois este decidiu levar consigo o dinheiro e o ouro do Banco do Brasil. Foi necessário D. Pedro determinar que as tropas dessem um fim ao burburinho, evitando desta forma que o navio atracado fosse invadido e revistado. Desta forma, D. João foi-se embora, assim como nosso dinheiro esvaiu direto para os cofres de Portugal.

Te Contei, não ? - O Paço imperial

O Paço Imperial

é um edifício colonial localizado na atual Praça XV, no centro histórico do Rio de Janeiro, Brasil.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Te Contei, não ? - Memórias do Canecão

RIO — Losia Borges do Nascimento; solteira; bailarina; 1,69m; 58kg; 19 anos; fez cinema; manequim 42; sapato 37. Ao lado de Roberto Carlos e Caetano Veloso, de Chico Buarque e Amália Rodrigues, a moça, personagem anônima, é parte da história do Canecão que emerge dos 22 baús do arquivo da casa de shows, recém-entregue aos cuidados do Instituto Cultural Cravo Albin. Fotos de momentos históricos do local, áudios de shows e programas dos espetáculos, roteiros anotados e registros de naturezas diversas - desde cardápios (nos quais se pode acompanhar a inflação pela variação do preço da coxinha) até cartazes anunciando atrações, passando por peças curiosas como a pasta "Ficha das mulatas - Réveillon 1977", onde estão os dados de Losia que abrem esta reportagem.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Te Contei, não ? - Ariano Suassuna ( 1927 - 2014 )

Na segunda-feira, dia 21, telefonei para Ariano Suassuna. Fiquei surpreso com a alegria e vitalidade da voz rouca do outro lado da linha. Falamos sobre a Academia Brasileira de Letras, sobre uma citação recente que ele tinha feito do existencialista Albert Camus, – mas, principalmente, sobre nossa amizade. Não imaginava que seria a conversa de despedida. Desliguei o telefone por volta do meio-dia. Depois, fiquei sabendo pela família que, naquele dia, Ariano tinha ido ao banco e que teve muito apetite no almoço. À noite, foi levado às pressas ao hospital, depois de sofrer um AVC. No final da tarde do dia 23, não resistiu. Tinha 87 anos.
Conheci Ariano há 25 anos. Tinha muito interesse pela literatura de cordel, e ele disse que eu aparecesse em sua casa. Eu era um jovem estudante e pensava que o grande escritor fizera o convite por delicadeza. Quando bati à porta de sua casa, no bairro de Casa Forte, no Recife, percebi que não fora uma formalidade. Passamos a tarde conversando. A generosidade era uma característica única do mestre Ariano, como costumava chamá-lo. Desde então, passei a visitá-lo com frequência. Nossas conversas ficaram mais longas. Num dos últimos encontros, ele estava emotivo. “Não tenho meio-termo não, Gerson. Ando muito emocionado. Ou fico à beira de chorar. Ou então estou rindo, a gargalhar. Isso não é normal”, me disse, aos risos.


sábado, 13 de setembro de 2014

Te Contei, não ? - Cultura Indígena

Introdução 

Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegava 5 milhões de nativos, aproximadamente. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia).
Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.
A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses. 
O primeiro contato entre índios e portugueses em 1500 foi de muita estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Sabemos muito sobre os índios que viviam naquela época, graças a Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral ) e também aos documentos deixados pelos padres jesuítas.
Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio).
Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha.
As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras, casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de estabelecer alianças contra um inimigo comum.
Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Desta madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (oca). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo.
A organização social dos índios
Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios. 
educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.
Os contatos entre indígenas e portugueses
Como dissemos, os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho. 
O canto que se segue foi muito prejudicial aos povos indígenas. Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequenos número de índios que temos hoje.
A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considera pelo europeu como sendo inferior e grosseira. Dentro desta visão, acreditavam que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura europeia. Foi assim, que aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e também sua identidade.

CanibalismoAlgumas tribos eram canibais como, por exemplo, os tupinambás que habitavam o litoral da região sudeste do Brasil. A antropofagia era praticada, pois acreditavam que ao comerem carne humana do inimigo estariam incorporando a sabedoria, valentia e conhecimentos. Desta forma, não se alimentavam da carne de pessoas fracas ou covardes. A prática do canibalismoera feira em rituais simbólicos. 

Religião Indígena

Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados. Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais. Isto mostra que estas tribos acreditavam numa vida após a morte.

Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada 

- Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700). 
Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio).

- De acordo com dados do Censo 2010 (IBGE), o Brasil possuía, em 2010, 896.917 indígenas. Este número correspondia a 0,47% da população do Brasil.

Te Contei, não ? - Bota - abaixo ameaça tesouro de Dercy

Tombamento pelo Iphan enfrenta dificuldades por conta da derrubada de casario antigo para construção de prédios

AZIZ FILHO


Rio - Sabe nada quem só pensa em Dercy Gonçalves quando ouve falar em Santa Maria Madalena. A pequena cidade tem tantos atrativos que poderia ser, para o norte do estado, o que Paraty é no sul. Poderia, se houvesse mais consciência local sobre o potencial da preservação. Perambular pelas ruas madalenenses proporciona um misto de admiração – pelas belas construções do ciclo do café – e de tristeza, pela destruição incessante.

O Iphan abriu processo de tombamento do centro a partir de estudos da UFF. A exemplo de Búzios e Ouro Preto, o tombamento jogaria o casario antigo para valores inimagináveis. A ameaça ao sonho parte, no entanto, exatamente dos proprietários dos imóveis que seriam beneficiados. Muitos derrubam tudo para fazer prédios sem estilo, de olho no dinheiro ralo do turismo menos qualificado de eventos, como o Carnaval.



“O turismo é a única alternativa para um futuro rico, e uma cidade turística não pode ter prédios verticais. É assustador que prefiram destruir a preservar essas joias”, lamenta o ex-secretário de Educação, Nelson Saraiva.

A professora aposentada Celi Castro Elias morou em uma dessas joias: o casarão da foto ao lado, na Praça Coronel Braz. Ele começou a ser construído para hospedar Dom Pedro II, mas, com a queda do imperador, só foi concluído em 1891. “Nasci e vivi até os 25 anos neste casarão. Meu pai se orgulhava de nos mostrar que as telhas eram da França”, recorda Celi, hoje com 74.

O movimento contrário ao tombamento não é o único desafio de Madalena. Como é comum nas cidades do interior, a poluição visual da fiação aérea e de letreiros sem critério enfeia o que deveria ser lindo. Nem o poder público colabora. A Câmara Municipal fica na antiga Cadeia Pública. O belo prédio colonial foi restaurado, mas não escapou da instalação de um letreiro prateado de gosto para lá de duvidoso, digno de um palavrão de Dercy Gonçalves.



terça-feira, 22 de julho de 2014

Te Contei, não ? - Segredos do Gabinete

A digitalização de obras do século XIX pertencentes ao acervo de uma das mais importantes bibliotecas do Rio resgata preciosidades esquecidas do passado

por Rafael Teixeira e Thayz Guimarães | 23 de Julho de 2014
Alexandre Macieira/Riotur



Cronista prolífico de seu tempo, o escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890), autor de Amor de Perdição, dividiu-se entre os livros e o jornalismo. Em 1854, quase uma década antes de escrever sua obra-prima, aventurou-se na criação de um periódico batizado de O Bico de Gaz (assim mesmo, com z, conforme a grafia da época). Já na edição de lançamento, não escondia a ambição e destacava na primeira página que a missão do jornal era "acender o fósforo das luzes nas plagas escuras da ignorância". Apesar das altas aspirações, o folhetim de oito páginas teve vida efêmera e durou apenas um número, do qual restaram três exemplares — um na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, e dois no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio. Em ambas as instituições, a obra integra um conjunto de documentos raros, consultado por um número reduzidíssimo de pesquisadores. Ironicamente, O Bico de Gaz, de tão antigo e precioso, acabou esquecido. Agora, graças a um esforço empreendido por pesquisadores cariocas, escapa dessa espécie de maldição. A partir de setembro, poderá ser lido por qualquer pessoa conectada à internet. A obra é parte de uma coleção de 45 periódicos do século XIX com um total de 32 000 páginas disponibilizadas na rede. "Nosso acervo finalmente está ao alcance de interessados de todo o mundo", comemora a especialista em literatura portuguesa Gilda Santos, coordenadora da iniciativa.


domingo, 6 de julho de 2014

Te Contei, não ? - A "Alma brasileira" e a herança da escravidão

A "Alma brasileira"
e a herança da escravidão

A Formação da "Alma brasileira"

Na edificação da nação brasileira há dois componentes básicos: o material (econômico) e o cultural (de cunho psicológico, espiritual e humano). A contribuição do negro se dá nos dois aspectos, durante e após o período da escravidão. Do ponto de vista material, o negro transforma a paisagem natural com o seu trabalho. Tudo, enfim, estava para ser construído: estradas, pontes, igrejas, hospitais, prédios, plantações etc. O braço escravo, praticamente fez de tudo.

Te Contei, não ? - Influência Negra na Cultura Brasileira


O negro está na formação da própria alma brasileira.Na música, por exemplo, há influência predominante dos escravos trazidos da ÁFRICA, principalmente no que se refere ao ritmo, onde a marcação é geralmente feita por atabaques ou tambores.Além deles , são instrumentos de origem africana a cuíca, o berimbau, o agogô, a cabaça ou chocalho e amarimba.

domingo, 29 de junho de 2014

Te Contei, não ? - Importância da Cultura Africana

A partir da metade do século 16, os africanos chegaram ao Brasil para trabalhar como escravos. Com eles, vieram os costumes, as religiões, as tradições, uma cultura forte e diferente das que já estavam aqui, vindas dos europeus e dos índios. A união e a mistura de todos esses elementos deram origem à identidade brasileira.


As contribuições da cultura de origem africana para a construção da personalidade brasileira são inegáveis. Elas estão em toda parte.

Música: Além do samba, que é o estilo brasileiro mais famoso no mundo, outros ritmos também vieram da mãe África: Maracatu, Congada, Cavalhada, Moçambique. Além disso, muitos instrumentos musicais:

afoxé: tipo de chocalho feito com uma cabaça e uma rede de miçangas;
agogô: cones de metal tocados com uma baqueta;
barimbau;
caxixi: cesto de vime em forma de chocalho encerrado no fundo uma cabaça com sementes;
atabaque: tambor alto;
cuíca: parecido com tambor, mas com uma varinha encostada à pele, que fricciona produzindo som;
djembe;
ganzá e muitos outros.

Culinária: Ingredientes como o leite de coco, a pimenta malagueta, o gengibre, o milho, o feijão preto, as carnes salgadas e curadas, o quiabo, o amendoim, o mel, a castanha, as ervas aromáticas e o azeite de dendê não eram conhecidos nem usados no Brasil antes da chegada deles. Muitos pratos conhecidos e apreciados aqui vieram de lá: vatapá, o caruru, o abará, o abrazô, o acaçá, o acarajé, o bobó, os caldos,o cozido, a galinha de gabidela, o angu, a cuscuz salgado, a moqueca e a famosa feijoada. E os doces? Canjica, mungunzá, quindim, pamonha, angu doce, doce de coco, doce de abóbora, paçoca, quindim de mandioca, tapioca, bolo de milho, bolinho de tapioca entre outros.
Saiba um pouco mais sobre alguns pratos:

Abará: Bolinho feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água;
Acaçá: Bolinho feito de milho macerado em água fria e depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira;
Ado: Doce de origem afro-brasileira feito de milho torrado e moído, misturado com azeite-de-dendê e mel;
Aluá: Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos orixás nas festas populares de origem africana;
Quibebe: Prato feito de carne-de-sol ou com charque, refogado e cozido com abóbora;
Acarajé: Bolo de feijão temperado e moído com camarão seco, sal e cebola, frito com azeite de dendê;
Mungunzá: Feito de milho em grão e servido doce (com leite de coco) ou salgado com leite;
Vatapá: Papa de farinha-de-mandioca com azeite de dendê e pimenta, servida com peixe e frutos do mar

Religiões: Na África, há muitas religiões diferentes. Antes de vir para cá, cada um seguia a religião de sua família, clã, ou grupo. Mas quando chegaram aqui, os escravos foram separados de seus parentes e pessoas próximas. Por isso, passaram a se reuniar com pessoas de outras etnias para realizarem os cultos secretamente. Para que todos pudessem participar, essas reuniões eram uma mistura de cada religião, com rituais e cultura unidos e partilhados. Daí surgiu o Candomblé. A crença nasceu na Bahia e tem sido sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em geral. A Umbanda, que também tem origens africanas, une práticas de várias religiões, inclusive a Católica. Ela se originou no Rio de Janeiro, no início do século 20. Tem muitas outras religiões de origem africana:
Babaçu (PA);
Batuque (RS);
Cabula (ES, MG, RJ e SC);
Culto aos Egungun (BA, RJ e SP);
Culto de Ifá (BA, RJ e SP)
Macumba (RJ),
Omoloko (RJ, MG, SP),
Quimbanda (RJ, SP),
Tambor-de-Mina (MA),
Terecô (MA),
Xambá (AL, PE),
Xangô do Nordeste (PE),
Confraria,
Irmandade dos homens pretos,
Sincretismo

Artes marciais: A capoeira, uma mistura de dança e luta, foi criada pelos escravos como uma estratégia de defesa. Como os treinamentos de combate eram proibidos, os escravos que conseguiam fugir mas que eram recapturados ensinavam aos demais os movimentos. Embalados pelo som do berimbau, eles enganavam os capatazes, que achavam que estavam apenas dançando. Assim, eles treinavan nos engenhos sem levantar suspeitas. A capoeira só deixou de ser proibida no Brasil apenas na década de 1930. Em 1953, o mestre Bimba apresentou a arte ao então presidente Getúlio Vargas, que a chamou de “único esporte verdadeiramente nacional”.
Língua: As línguas africanas exerceram tanta influência no modo de falar do povo brasileiro que a nossa língua já é considerada diferente do Português de Portugal. Na Bahia, são usadas cerca de 5 mil palavras de origem africana. A maior parte das palavras que enriqueceram o vocabulário brasileiro vêm do quimbundo, língua do povo banto. Na época da escravidão, o quibundo era a língua mais falada nas regiões Norte e Sul do país.
Palavras de origem banta: 
BAGUNÇA – desordem, confusa, baderna, remexido.
BANZÉ – confusão, barulho.
BATUCAR – repetir a mesma coisa insistentemente.
BELELÉU – morrer, sumir, desaparecer.
BERIMBAU – arco-musical, instrumento indispensável na capoeira.
BIBOCA – casa, lugar sujo.
BUNDA – nádegas, traseiro.
CACHAÇA – aguardente que se obtém mediante a fermentação e destilação do mel ou barras do melaço.
CACHIMBO – pipo de fumar.
CAÇULA – o mais novo dos filhos ou irmãos.
CAFOFO – quarto, recanto privado, lugar reservado com coisas velhas e usadas.
CAFUNÉ – ato de coçar, de leve, a cabeça de alguém, dando estalidos com as unhas para provocar o sono. 
CALANGO – lagarto maior que lagartixa.
CAMUNDONGO – ratinho caseiro.
CANDOMBLÉ – local de adoração e de práticas religiosas afro-brasileiras da Bahia.
CANGA – tecido utilizado como saída-de-praia.
CANGAÇO – o gênero de vida do cangaceiro.
CAPANGA – guarda-costas, jagunço.
CAPENGA – manco, coxo.
CARIMBO – selo, sinete, sinal público com que se autenticam os documentos. 
CATINGA – cheiro fétido e desagradável do corpo humano, certos animais e comidas deterioradas.
CHIMPANZÉ – espécie muito conhecida de macaco.
COCHILAR (a ortografia correta deveria ser coxilar) – dormir levemente.
DENDÊ – palmeira ou fruto da palmeira.
DENGUE – choradeira, birra de criança, manha. 
FUNGAR – aspirar fortemente com ruído.
FUZUÊ – algazarra, barulho, confusão.
GANGORRA – balanço de crianças, formado por uma tábua pendurada em duas cordas. 
JILÓ – fruto do jiloeiro, de sabor amargo. 
MACUMBA – denominação genérica para as manifestações religiosas afro-brasileiras.
MANDINGA – bruxaria, ardil, mau-olhado.
MARIMBONDO – vespa.
MAXIXE - fruto do maxixeiro.
MINHOCA – verme anelídeo. 
MOLEQUE – menino, garoto, rapaz.
MOQUECA – guisado de peixe ou de mariscos, podendo também ser feito de galinha, carne, ovos etc.
MUCAMA – criada, escrava de estimação, que ajudava nos serviços domésticos e acompanhava sua senhora à rua, em passeios.
QUIABO – fruto do quiabeiro.
QUILOMBO – povoação de escravos fugidos.
SENZALA – alojamentos que eram destinados aos escravos no Brasil.
SUNGA – calção de criança.
TANGA – tapa-sexo.
TITICA – fezes, coisa sem valor, excremento de aves.
ZABUMBA – bombo.


domingo, 22 de junho de 2014

Te Contei, não ? - Dorival Caymmi


 Dorival Caymmi Dorival Caymmi

Dorival Caymmi no seu aniversário


Em 30 de abril de 2014 deveria haver festa, o azul mais bonito no céu, uma fraternidade de civilização, um almoço coletivo em todo o Brasil. Imaginem por quê, Dorival Caymmi faz 100 anos.  

Por Urariano Mota



Nascido em 30 de abril de 1914… – vocês já vêem a dificuldade em saudar um artista de gênio sem cair no ridículo, porque começamos com a prosa mais insossa, “nascido em 30 de abril…”. Por isso peço licença, até dos ouvidos, para falar de um Caymmi nosso, privado, falsamente privado, porque sempre julgamos que a melhor música é assunto íntimo, quando ela é assunto íntimo de toda a gente.

 
Acredito, mas não sei a razão, que as músicas, as composições de que mais gostamos, trazem e traçam um destino prévio para o nosso ser, para a nossa conformação de espírito. Digo mais, se não me internam em um hospício, se prometem que com isto eu não receberei um atestado de louco, digo mais, como um doido varrido de pedra: acredito que as músicas, as composições de que mais gostamos, traçam até mesmo um destino, elas fazem o nosso destino. Nós gostamos delas sem saber que esse afeto vai nos marcar indelével por toda a vida. Nós amamos essas humanas sem saber que elas são proféticas. Digo isto, escrevo isto, e cá dentro há um ser agitado, convulso entre a dor e o riso, como naquelas máscaras antigas do teatro. Pois com abalos no fígado, no ventre e no peito, quero apenas dizer:
 
Ai, que saudade eu tenho da Bahia 
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia
‘Bem, não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão’
 
Ai, se eu escutasse hoje não sofria
Ai, esta saudade dentro do meu peito
Ai, se ter saudade é ter algum defeito
Eu pelo menos mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar
 
Ponha-se no meu lugar
E vejam como sofre um homem infeliz
Que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz
 
Sem comentário, deveríamos passar para uma linha adiante. Mas não, voltamos, porque como burro teimoso não arredamos do canto. Por que essa composição nos toca tanto? Há nela, é certo, uma lembrança antiga, de infância, em que a cantávamos sem nunca ter ido à Bahia, sem compreender mesmo o sentido de saudade. Cantávamos pela música, pela melodia, deveríamos dizer. Ou porque, talvez, as crianças compreendam sem saber a razão. (Às vezes, mal conseguimos falar, e já cantamos coisas tristes, bem tristes, de um mal e desengano do qual ainda não possuímos a experiência. Cantamos como papagaios? Não, até onde lembramos, cantamos com sentimento, e sentimos um desejo imenso de solidão, quando ainda mal possuímos o sentido disso.)
 
Sim, poderia ser dito, cantávamos pela melodia, nada a ver com a letra. (Há uma cor nessa melodia, sentimos, que vem como réstia de raio do sol amarela.) Depois, aí sim, com as perdas que começamos a somar, melhor, a integrar nos músculos que ganhamos, compreendemos a letra, pensamos. Ai se eu escutasse o que mamãe dizia! Deve então ser isto, pensamos. É a falta dela que nos faz dizer, ai, se eu escutasse aquela que não tenho ao meu lado. Mas não podemos, por mais memória que tenhamos, não podemos viver sempre assim. Viver sob o signo da perda é o próprio sentido da maldição. Mas Caymmi resiste, enquanto avançamos. Então chega ao ponto de ser a canção profética, que cantamos com voz dura, como homem de fato, durão, grosso, estúpido e burro, quando temos o peito mole, feito em pedaços: “que teve que desabafar, dizendo a todo o mundo o que ninguém diz”.
 
Vejam que situação. Que vergonha. Foder-se calado parece mais varonil e másculo. Então que se fodam os varonis, que vá à merda o homem que nega o sentimento. Porque “pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz”. Sim, tomamos isso para nós, quando nem temos a glória nem o dinheiro, mas acreditamos nisso, como se o tivéssemos. E sentimos assim porque sabemos, agora, de viva experiência, que o fundamental mesmo é o indispensável: sempre estranho à gorda conta bancária, ao bom restaurante, ao carro do ano. Pobre de quem acredita nesse ouro. Pobre de quem só tem esse ouro. Vejam que situação.
 
Então chegamos ao específico, ao profético da canção, que cantávamos quando de nada sabíamos, há muito tempo, e pelo que nos ocorreu depois, dizemo-nos.
 
Ponha-se no meu lugar
E vejam como sofre um homem infeliz
Que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
 
Isso foi, era e é o meu destino, dizemo-nos. É por isso que eu cantava, desde a infância. Sim, foi isso, sim… Mas, acordamos, será mesmo uma profecia pessoal, uma antecipação do destino só meu e de mais ninguém? Ou será, mais propriamente, uma antecipação de toda a gente, um fiel a marcar a esperança e desesperança de toda uma humanidade? Nisto não estará mesmo a vitória da arte, o de falar a uma só pessoa, quando fala a todas as pessoas? Isto me ocorre, porque agora vejo que todo homem tem um menino dentro, que deve ter sido feliz algum dia. Até mesmo em meio ao maior desassossego, alguma breve felicidade o menino teve. Todo homem. Daí que a gente, com esse exclusivismo besta, fica a pensar que Caymmi é o mestre, o menestrel somente da gente, e de mais ninguém. Marina.
 
Marina, morena
Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo
Mas faça um favor
Não pinte esse rosto que eu gosto
Que eu gosto e que é só meu
Marina, você já é bonita
Com o que Deus lhe deu
Me aborreci, me zanguei
Já não posso falar
E quando eu me zango, Marina
Não sei perdoar
Eu já desculpei muita coisa
Você não arranjava outra igual
Desculpe, Marina, morena
Mas eu tô de mal
 
De mal com você
De mal com você.
 
A música de Caymmi lembra para nós o que é fundamental, cheiro, cheiro como beijo, cheiro também de aroma, primário e sofisticado que ele é a um só tempo. Agora mesmo, chove na rua, em pleno verão, e esta chuva lembra Caymmi, porque há um cheiro de água a molhar a terra quente, que remete a cuscuz no fogo, de manhã. E vem com ela um cheiro de mar, de vento no mar, que ele cantou como ninguém. Coisas fundamentais, que ouro nenhum compra, pobre de quem acredita.
 
Há, certo, um outro Caymmi, que todo o mundo estrangeiro conheceu no estilo Carmen Miranda, cheia de bananas na cabeça, turbante, olhinhos virados e saracoteios. Mas esse é melhor deixar para as citações exóticas em filmes de Woody Allen. De “O que é que a baiana tem?” guardamos tão só os versos que cantamos baixinho, quando a moça bonita passa na praia, bem baixinho, cá íntimo:
 
“Quando você se requebrar, caia por cima de mim, caia por cima de mim…”.
 

Isso bem baixinho, sem ninguém ver. Em voz alta podemos cantar, acompanhando aquela voz retumbante de Nana Caymmi. Salve, gênio do Brasil. Salve, salve, Caymmi. Desde que nos entendemos de gente, nós gostamos muito de você. Desde quando tínhamos saudade da Bahia, sem conhecer a Bahia, porque pensávamos que a Bahia fosse a nossa mãe. Só louco. 

sábado, 19 de abril de 2014

Entrevista - Mia Couto

A língua portuguesa está se transformando, muito por causa do papel das nações emergentes lusófonas da África. Nesta entrevista exclusiva a ÉPOCA, concedida em São Paulo, o escritor moçambicano Mia Couto, de 59 anos, diz que, apesar da renovação de linguagem que a África apresenta hoje, o Brasil reúne condições para se tornar a nação dominante do ponto de vista cultural e lingúsitca. Em relação aos países africanos, Couto diz que é preciso distinguir entre independência e descolonização – e que a África ainda não enfrentou o segundo termo. Para ele, o Brasil serviu como modelo para a formação da identidade nacional das nascentes nacos lusófonas da África, mas pelo lado da mistificação, o que se esgotou rapidamente. Ele afirma que o Brasil virou as costas para a África.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

TE Contei, não ? - País vive 'apartheid cultural' em vários estados

País vive ‘apartheid cultural’ em vários estados

  • Desigualdade na oferta de cinemas, teatros, livrarias e museus é obstáculo à implantação do Vale-Cultura
 
Publicado no Jornal O Globo 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Te contei, não ? - Livros de Bolsa

Açucarados, leves, bem-humorados, os chik lit (ou romance de mulherzinha) são disputados em feiras literárias internacionais e estouram nas vendas tratando de questões como casamento, dieta e moda

Ana Weiss
Confira, em vídeo, as adaptações para o cinema de obras literárias destinadas especialmente ao público feminino:
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As autoras não gostam do termo, as livrarias quase não o usam e as editoras mais chiques o evitam, mas o “chick lit”, subgênero da ficção voltado para o público feminino (carinhosamente apelidado de romance de mulherzinha), ganha cada vez mais espaço em corações e estantes e tem sido uma das grandes apostas das casas editoriais. Tanto que o último livro de uma das mais conhecidas heroínas dessa vertente literária, Bridget Jones, chega às livrarias com o subtítulo “Louca pelo Garoto” mantendo a marca de sexto colocado na lista dos mais vendidos do jornal “The New York Times”.
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Na frente, inclusive, de “50 Tons de Cinza”, maior fenômeno de vendas dos últimos tempos, mesmo sendo o menos divertido dos três da série escrita por Helen Fielding. A Companhia das Letras comprou o título, que era publicado desde os anos 1990 no Brasil pela Record. Agora cinquentona, a personagem inclui novos números em suas contas diárias. Além de calorias, passou a calcular os seguidores perdidos por tuitar bêbada e a quantidade de piolhos encontrada na cabeça dos filhos. A esperteza de Helen Fielding na apresentação dos pensamentos que se atropelam na cabeça de Bridget não perdeu a graça. Mas funcionava melhor quando a protagonista se debatia com a crise dos 30. Ainda assim, a Companhia das Letras, pouco afeita a subgêneros da moda, resolveu apostar no filão em que não tinha muitos títulos. E não foi só ela.
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Na Feira de Frankfurt, realizada em outubro na cidade alemã, “I Take You”, de Eliza Kennedy, foi alvo de disputa de três grandes editoras brasileiras. Quem arrematou os direitos de publicação foi a Rocco. “A autora discute as relações amorosas atuais e trata da relação/instituição chamada casamento, que resiste a tudo e vale a pena”, resume a gerente editorial Vivian Wyler, que apostou no romance, ainda sem título em português. A Rocco não costuma errar em suas tacadas. Em 2005, lançou “Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você”. A história de Greg Behrendt e Liz Tuccillo acabou quatro anos depois adaptada para o cinema com Jennifer Aniston e Drew Barrymore nos papéis principais – foram mais de dois milhões de livros vendidos.
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“A Companhia das Letras publica obras de qualidade, que nós mesmos gostaríamos de ler. É ainda melhor, claro, quando um bom livro tem também a possibilidade de atingir o grande contingente de novos leitores que há no Brasil. Por isso “Bridget Jones: Louca pelo Garoto” surgiu com um projeto privilegiado”, diz Rita Mattar, da Companhia. Ela lembra que “O Diário de Bridget Jones” foi um dos livros que inspiraram a criação do próprio termo “chick lit”. “Em muitos aspectos, Helen Fielding é pioneira no gênero e reconhecemos o valor da honestidade e da irreverência com que ela retrata o cotidiano da mulher contemporânea.” Lançado em 1996, o primeiro volume da série é considerado um dos dez romances que melhor definem o século XX segundo uma pesquisa realizada pelo jornal inglês “The Guardian”.
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 Na época, vendeu 160 mil exemplares no Brasil, informa a editora Record, que há mais tempo aposta na chick lit em território nacional. O grupo é dono dos glamourosos “O Diabo Veste Prada” e “Sex and The City” e de suas continuações, como “A Vingança Veste Prada”, lançado em agosto no Brasil. E aposta em novos talentos, como a brasileira Carina Rissi, autora do sucesso instantâneo “Procura-se um Marido”, que esgotou em menos de um mês. Lançado pela Verus, do mesmo grupo Record, sua primeira leva teve 20 mil exemplares, pirateados a rodo. Ainda assim, foi preciso reimprimir. Helen Fielding explica a popularidade de Bridget pelo fato de suas atitudes carregarem o zeitgeist (espírito de época) de sua geração. Carina Rissi prestou atenção à dica. O próximo livro da autora, “Perdida”, deve chegar às prateleiras como dica de Natal – e já está vendido para o cinema.  


Revista Isto É