domingo, 31 de março de 2013

Te Contei,não - Em busca de autoridade

 

Feliciano manda prender manifestante e restringe acesso a comissão; PSC ataca petistas

Evandro Éboli

Jailton de Carvalho


BRASÍLIA Na tentativa de se manter no comando da Comissão dos Direitos Humanos, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) mandou prender manifestante, trocou de plenário e esvaziou a sala, proibindo protestos no colegiado. Ao encerrar a primeira reunião da comissão que conseguiu presidir de fato, Feliciano disse que está ali graças às mãos de Deus. Ontem o dia foi de nova confusão, e, pela primeira vez, integrantes dos movimentos LGBT tentaram invadir o gabinete de Feliciano, sendo contidos pelos seguranças.
O primeiro tumulto começou quando a comissão ouvia o deputado estadual paulista Fernando Capez (PSDB) sobre a situação dos torcedores corintianos presos na Bolívia. O manifestante Marcelo Regis Oliveira, de um grupo LGBT de Brasília, protestava e disse que Capez estava sentado ao lado de um deputado racista, em referência a Feliciano. Imediatamente, o presidente da comissão determinou a seguranças que o retirassem da sala.
- Segurança, aquele rapaz de barba. Me chamou de racista. Racista é crime pelo Código Penal. Ele vai ter que provar isso e vai sair preso daqui - disse Feliciano, dando início à confusão generalizada.
O deputado, então, decidiu mudar de plenário e vetou a presença de manifestantes na audiência pública que tratou da contaminação por chumbo de parte da população de Santo Amaro da Purificação (BA), problema que teve origem na década de 1960. Antes de trocar de plenário, Feliciano enfrentou os manifestantes:
- Vocês não respeitam os direitos humanos. Isso aqui não é a casa da baderna. Não aceito pressão. Podem gritar, podem espernear. Deus é bom.
Grupos favoráveis e contrários a Feliciano se aglomeravam na porta do plenário. Os evangélicos cantavam músicas religiosas, enquanto os manifestantes do movimento LGBT protestavam contra o deputado, separados por seguranças da Câmara. Antes de iniciar a sessão, Feliciano recebeu os cinco convidados para a audiência, alguns representantes de ministérios.
- Vivemos um momento ímpar da democracia. Os senhores puderam constatar o nível de democracia aplicado por um segmento (LGBT). Eles nem param para nos ouvir e impedem nossa entrada. Agradeço o esforço e coragem de virem até aqui - afirmou Feliciano.
O deputado Nilmário Miranda (PT-MG) pediu a palavra antes dos convidados:
- A solução é uma só: a saída do Feliciano. Não sei qual seu objetivo. Fui contra sua presença desde o primeiro dia, desde que seu nome despontou como possível presidente.
líder do PSC diz que pt tem falso moralismo
Com o PSC e Feliciano irredutíveis, o clima esquentou entre parlamentares da legenda e do PT. Depois de ouvir críticas a Feliciano de dois deputados petistas no plenário, que condenaram a retirada do manifestante, o líder do PSC, André Moura (SE), em discurso, criticou o partido da presidente Dilma Rousseff por ter indicado dois condenados pelo mensalão - José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP) - para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
- O que me chama mais a atenção são os deputados do PT que vêm aqui criticar a Comissão de Direitos Humanos. Já que são tão moralistas, por que não serem moralistas, por exemplo, com a Comissão de Constituição e Justiça? Por que não pegar um espelho e olhar para si mesmo e perguntar: por que o PT indica para a CCJ dois mensaleiros condenados pela mais alta Corte deste país, o STF? - indagou André Moura.
Com toda a polêmica, Marco Feliciano diz acreditar ter dado à comissão uma visibilidade inédita. No final da audiência pública, ele se disse emocionado com o relato sobre o drama da contaminação de pessoas por chumbo em Santo Amaro. E aproveitou para atacar seus críticos.
- O senhor (porta-voz das famílias contaminadas) representa pessoas que nessa comissão não tiveram vez e voz. Se vocês ficassem gritando pelos corredores e se impedissem alguma sessão de funcionar (uma alusão aos manifestantes que o criticam), teriam sido atendidos - disse Feliciano, que completou: - Até ontem essa comissão era desconhecida. Talvez tenha sido a boa mão de Deus que nos colocou aqui, para mostrarmos as boas coisas. Com tantos deputados presentes (quatro ao todo) me sinto realizado. Quebramos uma barreira e demos uma lição - disse Feliciano.
Expulso da primeira reunião na comissão, um grupo de cerca de 50 manifestantes tentou, sem sucesso, invadir o gabinete do deputado Feliciano, em um dos prédios anexos da Câmara. Em meio aos protestos, o servidor público Alysson Prata, de 21 anos, foi detido e levado para uma sala da delegacia de polícia da Câmara. Prata, depois de prestar depoimento, fez exame de corpo de delito e disse que foi agredido por um segurança, que o teria agarrado pelo braço esquerdo enquanto negociava com o chefe da segurança para impedir a invasão do gabinete. O manifestante relatou que foi surpreendido pelos agentes. E um deles teria gritado:
- Prende esse veado - sustenta Prata.
A Polícia Legislativa informou que vai investigar a suposta calúnia contra Feliciano e apurar se houve abuso da segurança.
Na pressão pela renúncia, integrantes da ONG Avaaz, que faz campanhas virtuais, entregaram ontem à cúpula do PSC 455 mil assinaturas eletrônicas em apoio à petição que pede a saída de Feliciano da comissão. A Rede Fale, integrada por organizações evangélicas, entregou mais de 19 mil assinaturas virtuais e um documento assinado por 273 líderes evangélicos de todo Brasil com o mesmo pedido.


O Globo

sábado, 30 de março de 2013

Mistura mais que linda !!!! - Debret & Clara Nunes


O que você sabe sobre .... A vinda da Família Real ?




















Te Contei, não ? - O Rio de Machado de Assis

O Rio de Machado de Assis

Em 1840 - um ano depois do nascimento de Machado de Assis - começa no país o Segundo Reinado. O príncipe herdeiro Dom Pedro II, aos 14 anos de idade, tem sua maioridade antecipada e no ano seguinte é coroado Imperador do Brasil. O Rio de Janeiro, capital do reino desde 1808, além de principal centro urbano do país, é também seu centro político e nervoso. Em todos os setores, a cidade manifesta fortes ambições cosmopolitas de inspiração européia.

Considerado prudente e austero, Dom Pedro II empenhou-se em conciliar os interesses da elite. Cumpria com afinco suas obrigações burocráticas, cultivava a literatura e gostava de cercar-se de artistas e intelectuais. Os principais jornais do país ficavam no Rio de Janeiro, e tinham suas sedes na Rua do Ouvidor: O Jornal do Comércio, fundado em 1827, e a Gazeta de Notícias, de 1874. Em 1887, José do Patrocínio fundava o jornal A Cidade do Rio, importante veículo abolicionista, defendido por setores da sociedade.

Do ponto de vista humano e urbanístico, o Rio de Janeiro em que Machado de Assis viveu dificilmente poderia ser considerado "a cidade maravilhosa" que se transformaria no mais conhecido cartão postal do país. A paisagem natural imponente servia de cenário para inúmeras mazelas sociais, incluindo graves problemas de saúde pública e planejamento urbano. Em boa parte da maior metrópole brasileira, as ruas eram estreitas, as vielas sujas, e a iluminação, rede de esgotos e abastecimento de água eram inexistentes ou precários.

As casas de tijolo e alvenaria eram escassas, e uma parcela significativa da população era obrigada a procurar moradia em cortiços e favelas, enquanto um segmento reduzido vivia em elegantes palacetes nas ruas de Botafogo e Laranjeiras. Entre os dois extremos - cortiços e palacetes - uma classe média emergente expandia a cidade para os subúrbios construindo casas singelas. Esta nova classe social era formada por pequenos assalariados, funcionários públicos, negociantes bem-sucedidos, médicos e integrantes das milícias nas últimas décadas do século XIX.

Os transportes urbanos praticamente não existiam, e os que haviam ainda eram de tração animal - charretes ou carroças puxadas por um ou dois cavalos, quando não por braços humanos. Foi somente a partir de 1892 que alguns bondinhos, chamados "elétricos" começam a circular na cidade, ligando o Flamengo e o Largo da Carioca.

Embora a cidade cultivasse um lado "Belle Époque", de saraus, costumes de influência européia e moda importada de Paris, a imensa maioria da população defendia a sobrevivência nas ruas. Vendia-se de tudo nas calçadas - leite, aves, frutas, legumes, sorvetes, miudezas. A cidade poderia dar a impressão de uma grande feira, e o comércio era, de fato, a atividade que mais progredia na cidade. Na virada do século, a renda da cidade provinha basicamente dos serviços públicos, do movimento do porto e do comércio.

O crescimento desordenado da cidade (690 mil habitantes na virada do século) e a inexistência de saneamento básico formavam um solo fértil para o aparecimento de doenças. E o Rio de Janeiro do tempo de Machado de Assis foi, antes de tudo, perigosamente insalubre. A febre amarela, a varíola, a cólera e a peste eram algumas das graves doenças que ameaçavam a população, sobretudo nos meses do verão. Por isso, durante os meses mais quentes, as famílias de maior poder aquisitivo trocavam os perigos do Rio pelo ar mais saudável de Petrópolis, elegante reduto dos cortesãos de Dom Pedro II.

Na cidade de profundos contrastes sociais, a abolição da escravatura em 1888 e o fim da monarquia estimulavam ímpetos modernistas. Medidas sanitárias impostas pelo médico Oswaldo Cruz no início do século e obras urbanísticas realizadas pelo Prefeito Pereira Passos anunciavam uma nova era para a capital da República. Nos poucos anos que antecederam a morte de Machado de Assis, o Rio de Janeiro passou por profundas transformações. "Era a transição da cidade malsã para a "maravilhosa", definiu o escritor Pedro Calmon.
 


 

Te Contei, não ? - Realismo X Naturalismo


A partir da segunda metade do século 20, as concepções estéticas que nortearam o ideário romântico começaram a perder espaço. Uma nova tendência, baseada na trama psicológica e em personagens inspirados na realidade, toma conta da literatura ocidental. Estava inaugurado o Realismo-Naturalismo.
No Brasil, essa passagem ocorre em 1881, com a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908), e de O Mulato, de Aluísio Azevedo (1857-1913). Enquanto o livro de Machado apresenta acentuado viés realista, o de Aluísio é claramente naturalista.
Realismo
O Realismo brasileiro é completamente diferente do europeu. A obra de seu principal autor, Machado de Assis, escapa de qualquer tentativa de classificação esquemática.
Na fase madura, Machado produz uma literatura essencialmente problematizadora. Com minuciosa investigação psicológica, ele indaga a existência humana. Ele ainda substitui o determinismo biológico por acentuado pessimismo existencialista e discute temas como a relatividade da loucura e a exploração do homem pelo próprio homem.

A intertextualidade e a metalinguagem marcam o estilo de Machado. O uso da linguagem poética, do jogo proposital de ambigüidades, da recuperação de lugares comuns e do microrrealismo psicológico também são características fundamentais da obra machadiana. Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires são alguns romances do autor.

Naturalismo
O principal autor naturalista no Brasil é Aluísio Azevedo. O determinismo social predomina em sua obra, construída através de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das personagens. Aluísio é autor de O mulato, Casa de pensão e O cortiço, obras com acentuado caráter investigativo e cuidadosa análise de comportamentos sociais.

Com o que ficar atento?
A riqueza literária do Realismo-Naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção. A dramaturgia também evolui e consolida a comédia de costumes como um gênero maior – na obra de França Júnior e Artur Azevedo, por exemplo.

Vale lembrar que o Realismo-Naturalismo brasileiro oferece amplo painel de uma época em que o país era monárquico, escravocrata, patriarcalista e passava por profundas mudanças socioeconômicas e culturais.

Como pode cair no vestibular?
Muitos vestibulares tem cobrado conhecimentos sobre a obra de Machado de Assis e os temas problematizados pelo autor, como a própria vida e a literatura.

Como já caiu no vestibular?
(PUC-SP) No romance Dom Casmurro, o narrador declara: "O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência". Entre as duas pontas, desenvolve-se o enredo da obra. Assim, indique a seguir a alternativa cujo conteúdo não condiz com o enredo machadiano.

a) A história envolve três personagens, Bentinho, Capitu e Escobar, e três projetos, todos cortados quando pareciam atingir a realização.
b) O enredo revela um romance da dúvida, da solidão e da incomunicabilidade, na busca do conhecimento da verdade interior de cada personagem.
c) A narrativa estrutura-se ao redor do sentimento de ciúme, numa linha de ascensão de construção de felicidade e de dispersão, com a felicidade destruída.
d) A narrativa se marca por digressões que chamam a atenção para a inevitabilidade do que vai narrar, como o que ocorre na analogia da vida com a ópera e em que o narrador afirma "cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quattuor..."
e) O enredo envolve um triângulo amoroso após o casamento e todas as ações levam a crer na existência clara de um adultério.
Gabarito
Resposta correta: E
Comentário: Narrado sob a perspectiva viciada e unilateral de um narrador personagem tendencioso, o romance Dom Casmurro é construído sob o signo da incerteza.

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/realismo-naturalismo-contexto-historico-autores-dicas-questao-comentada-598963.shtml


Você já sabe disso ? - O Mulato






O romance O Mulato, de Aluísio Azevedo, foi publicado em 1881 e causou escândalo na sociedade maranhense, não só pela crua linguagem naturalista, mas sobretudo pelo assunto de que tratava: o preconceito racial. A obra teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte e tomado como marco do Naturalismo no Brasil.

Na época, a obra foi muito mal recebida pela sociedade maranhense e Aluísio Azevedo, que já não era visto com bons olhos, tornou-se o "Satanás da cidade". Para se ter uma idéia da indignação causada pela obra, pode-se citar o fato de o redator do jornal A civilização ter aconselhado Aluísio a "pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo". O clima na cidade ficou tão ruim para o autor que ele decidiu retornar ao Rio de Janeiro.

Alguns elementos naturalistas quer estão presentes nesta obra são: a crítica social, através da sátira impiedosa dos tipos de São Luis: o comerciante rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o padre relaxado e assassino, e uma série de personagens que resvalam sempre para o imoral e para o grotesco; o anti-clericalismo projetado na figura do padre e depois cônego Diogo, devasso, hipócrita e assassino; a oposição ao preconceito racial que é o fulcro de toda a trama; o aspecto sexual referido expressamente em relação à natureza carnal da paixão de Ana Rosa pelo mulato Raimundo; o triunfo do mal, pois no desfecho, os crimes ficam impunes e os criminosos gratificados: a heroína acaba se casando com o assassino de Raimundo (grande amor de sua vida), e o padre Diogo, responsável por dois crimes, é promovido a cônego.

Observa-se no texto abaixo a caracterização dos costumes da província, dos mexericos e do preconceito, manifesto na maledicência de que participam D. Bibina, Lindoca, D. Maria do Carmo e Amância Souselas:
- Ele não é feio... a senhora não acha, D. Bibina?... segredava Lindoca à outra sobrinha de D. Maria do Carmo, olhando furtivamente para o lado de Raimundo.
- Quem? O primo d’Ana Rosa?
- Primo? Eu creio que ele não é primo, dona!
- É! sustentou Bibina, quase com arrelie. É primo sim, por parte de pai!...
Por outro lado, Maria do Carmo segredava a Amância Souselas:
- Pois é o que lhe digo, D. Amância: muito boa preta!... negra como este vestido! Cá está quem a conheceu!...
E batia no seu peito sem seios. - Muita vez a vi no relho. Iche!
- Ora quem houvera de dizer!... resmungou a outro, fingindo ignorar da existência de Domingas, para ouvir mais. Uma coisa assim só no Maranhão! Credo!


Há também muitos resíduos românticos, pois foi escrito em plena efervescência da Campanha Abolicionista e o autor não manteve uma posição neutra, imparcial. Ao contrário, ele toma o partido do mulato, idealizando exageradamente Raimundo, que mais parece o herói dos romances (ingênuo, bondoso, ama platonicamente Ana Rosa e ignora a sua condição de homem de cor).

O autor descreve o ambiente da cidade de São São Luiz com muita nitidez. Observe:

Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, os vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; os folhas das árvores nem se mexiam; os carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontra vã viva alma no rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.

É nessa atmosfera abafada, tanto do ponto de vista climático quanto do convívio social, que são apresentadas as personagens. Até os cães se envolvem no ambiente de letargia preguiçosa: Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos. O mal cheiro domina o ambiente: Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente. A grosseria do ambiente envolve as ações das personagens: O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço (...) as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.

Observa-se que, se os cães "tinham uivos que pareciam gemidos humanos", as peixeiras, animalizadas, têm "tetas opulentas". Homens e animais se misturam, portanto, no universo bestializado e asfixiante de São Luís do Maranhão.

É nesse ambiente que chega a São Luís o jovem advogado Raimundo, sobrinho há muito afastado de Manuel Pescada. Raimundo corresponde perfeitamente ao protótipo do herói romântico, pelo qual Ana Rosa tanto esperava. Sua descrição em tudo contrasta com a de Luís Dias. Ambos são, no entanto, personagens planas, superficiais, e servem apenas para que o autor prove sua tese anti-racista.

Sobre o personagem Raimundo

Raimundo saíra criança de São Luís para Lisboa. "Em toda a sua vida, sempre longe da pátria, entre povos diversos, cheia de impressões diferentes tomada de preocupações de estudos, jamais conseguira chegar a uma dedução lógica e satisfatória a respeito da sua procedência. Não sabia ao certo quais eram as circunstâncias em que viera ao mundo, não sabia a quem devia agradecer a vida e os bens de que dispunha. Lembrava-se no entanto de haver saído em pequeno do Brasil e podia jurar que nunca lhe faltara o necessário e até o supérfluo. "Esse jovem rico e virtuoso regressa a São Luís, depois de anos na Europa, formado e com o intuito de desvendar o mistério de seu passado. Antes, passara um ano no Rio de Janeiro e agora volta a São Luís para rever seu tio e protetor distante, Manuel Pescada.

Depois do nascimento de Raimundo, José Pedro casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca e impiedosa. Enciumada com a atenção especial que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordenou que a negra fosse açoitada e que suas partes genitais fossem queimadas.

José Pedro, indignado com tamanha crueldade, leva o filho para a casa do irmão em São Luís. Voltando à fazenda, flagra a mulher e o então jovem e sedutor Padre Diogo em pleno adultério. Enfurecido, José Pedro mata Quitéria e forma um pacto de cumplicidade com o Padre Diogo: esconderão a culpa um do outro. Desgraçado e doente, José Pedro refugia-se na casa do irmão. Ao se restabelecer, resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é assassinado por ordem do Padre Diogo, que já começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada.
Raimundo é bem recebido pela família do tio, com exceção da sogra de Manuel, a racista radical Dona Maria Bárbara. Estranha alguns olhares enviesados da população, mas imagina-os fruto do estranhamento causado por um forasteiro.

O sedutor advogado, como não poderia deixar de ser, logo cai nas graças de sua prima Ana Rosa que, arrebatada, declara-lhe seu amor. Raimundo corresponde à paixão da prima, mas os jovens encontram fortes obstáculos. Principalmente a oposição de Manuel Pescada, que queria a filha casada com Luís Dias, da avó Maria Bárbara, racista intransigente e do Cônego Diogo, velho amigo da casa e adversário não declarado e ardiloso de Raimundo.

Acontece que, ao contrário dos amantes, seus três grandes opositores conheciam as raízes negras de Raimundo. Aos poucos o leitor vai tomando conhecimento das origens do herói, que, no entanto, permanece ignorando tudo.

Obcecado por desvendar suas origens, Raimundo insiste em visitar a fazenda onde nascera. Após diversos adiamentos, seu tio finalmente o leva até a Fazenda São Brás. No caminho, o mulato começa a obter as primeiras informações sobre o passado trágico de seus pais. Ao pedir ao tio a mão de Ana Rosa em casamento, vê-se recusado. Perplexo, Raimundo acaba descobrindo que a recusa se deve a suas origens negras. Na fazenda, Raimundo é abordado, à noite, por uma velha negra de aspecto fantasmagórico, que o quer abraçar. Assustado, por pouco não mata a estranha aparição. No caminho de volta a São Luís, descobre que se tratava de sua mãe, Domingas.

Ao retornar à capital do Maranhão, Raimundo resolve voltar para o Rio de Janeiro. Não suporta mais viver com o tio e muda-se de sua casa, enquanto prepara-se para viajar. Pouco antes do embarque, manda uma carta a Ana Rosa confessando seu amor. O amor pela prima o impede de partir. Os amantes se encontram e Ana Rosa acaba engravidando. Contra tudo e contra todos, armam um plano de fuga. No entanto, o Cônego Diogo usa das confissões de Ana Rosa e da colaboração subserviente do caixeiro Dias, que intercepta as cartas do casal, para, ardilosamente, impedir a concretização da fuga. No momento em que planejavam partir, os amantes são surpreendidos. O Cônego Diogo orquestra o escândalo e finge-se de protetor do casal. Raimundo volta para casa atordoado e, ao abrir a porta de casa, é atingido nas costas por um tiro disparado por Luís Dias, com uma pistola que lhe emprestara o Cônego Diogo.

Ana Rosa, desolada, aborta o filho de Raimundo. "A nova firma comercial, Silva e Dias, nasceu entretanto, no meio da mais completa prosperidade."

Desfecho irônico

Seis anos depois da morte de Ramundo, no Clube Familiar, vemos Ana Rosa e seu marido Dias saindo de uma recepção oficial:
 
 
"O par festejado eram o Dias e Ana Rosa, casados havia quatro anos. Ele deixara crescer o bigode e aprumara-se todo; tinha até certo emproamento ricaço e um ar satisfeito e alinhado de quem espera por qualquer vapor o hábito da Rosa; a mulher engordara um pouco em demasia, mas ainda estava boa, bem torneada, com a pele limpa e a carne esperta.
Ia toda se saracoteando muito preocupada em apanhar a cauda do seu vestido, e pensando, naturalmente, nos seus três filhinhos, que ficaram em casa a dormir.
- Grand'chaine, double, serré! berravam nas salas.
O Dias tomara o seu chapéu no corredor e, ao embarcar no carro, que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
- Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!..."
A ironia final, bem a gosto naturalista, coloca por terra toda a idealização romântica de Ana Rosa e Raimundo. Morto o primo, a prima acaba por se casar com seu assassino, e parece levar, ao lado do marido que tão ferozmente rejeitara anteriormente, uma feliz e próspera vida burguesa. O mal triunfa, associado à igreja corrupta e ao comércio burguês.

Personagens principais

Raimundo - filho do irmão de Manuel Pescada, José Pedro da Silva, com sua escrava negra Domingas. A idealização própria dos romancistas românticos, a superioridade absoluta: moral, intelectual e mesmo física, observa-se na descrição deste personagem:
"Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro, se não foram os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos, tez morena e amulatada, mas fina, - dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode, estatura alta e elegante, pescoço largo, nariz direitoAche os cursos e faculdades ideais para você. É fácil e rápido. e fronte espaçosa. A parte mais característica de sua fisionomia era os olhos grandes, ramalhudos, cheios de sombras azuís, pestanas eriçadas e negras, pálpebras de um roxo vaporoso e úmido,- as sobrancelhas, muito desenhadas no rosto, como a nanquim, faziam sobressair a frescura da epiderme, que, no lugar da barba raspada, lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sobre papel de arroz.
Tinha os gestos bem educados, sóbrios, despidos de pretensão, falava em voz baixa, distintamente, sem armar ao efeito, vestia-se com seriedade e bom gosto; amava os artes, as ciências, a literatura e, um pouco menos, a política."


Ana Rosa - prima e noiva de Raimundo, filha de Manuel Pescada que não consentia no casamento da filha com seu sobrinho, por ser ele filho da escrava Domingas. Leitora ávida de romances, como a Emma Bovary, de Flaubert, ou a Luísa do Primo Basílio, de Eça de Queirós. Seu pai, Manuel Pescada, quer fazê-la casar-se com seu colaborador, o caixeiro Luís Dias.

Cônego Dias - assassino do pai de Raimundo.

Luís Dias - empregado de Manuel Pescada, que por instigação do cônego acabou por assassinar Raimundo. (...) era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal denuncia na casca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas do rosto, no desprezo do próprio corpo, na taciturnidade paciente daquela exagerada economia, adivinhava-se-lhe uma idéia fixa, um alvo para o qual caminhava o acrobata, sem olhar dos lados, preocupado, nem que se equilibrasse sobre um corda tesa. Não desdenhava qualquer meio para chegar mais depressa aos fins; aceitava, sem examinar, qualquer caminho desde que lhe parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais rapidamente ao ponto desejado. Lama ou brasa - havia de passar por cima; havia de chegar ao alvo - enriquecer. Quanto à figura, repugnante: magro e macilento, um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava perto da gente sentia-se logo um cheiro azedo de roupas sujas.

Manuel Pescada - um português de uns cinqüenta anos, forte, vermelho e trabalhador. Diziam-no afilado para o comércio e amigo do Brasil. Gostava da sua leitura nas horas de descanso, assinava respeitosamente os jornais sérios da província e recebia alguns de Lisboa. Em pequeno meteram-lhe na cabeça vários trechos do Camões e não lhe esconderam de todo o nome de outros poetas. Prezava com fanatismo o Marquês de Pombal, de quem sabia muitas anedotas e tinha uma assinatura no Gabinete Português, a qual lhe aproveitava menos a ele do que à filha, que era perdida pelo romance
 
 

Tá na Hora do Poeta - O leão e o ratinho - Ana Carolina Pereira Ribeiro

 
 
 
O leão e o ratinho
 
 
 
O rei das selvas
Dormia em uma das belas florestas
Sob a sombra de um carvalho
Um leão amarelo e grisalho
 
Aproveitando a ocasião
Um ratinho líder espertalhão
Quis cortar o caminho
Chamando o seu bandinho
 
Quando faltava um
O leão acordou
O ratinho pediu para sair
Mas o leão nao deixou
 
O ratinho insistiu
E logo falou:
Quando você precisar
Eu que irei te salvar
 
Depois de tanto insistir
O leão deixou o ratinho sair
Como o seu estômago já estava cheio
O leão voltou a dormir
 
Depois de alguns dias
O leão se prendeu
Por uma rede deixada
Para quem não esperava
 
O leão tentou se soltar
Mas tudo só ia a falhar
 
Os seus urros de raiva
Fizeram a terra tremer
Ao ouvi-los o ratinho
Foi logo lhe socorrer
 
O leão percebeu
que o que o ratinho dizia
Não era mentira
Nem fantasia
 
Uma ação ganha a outra
Tamanho não é problema
Pequenos amigos
Podem ser grandes amigos
 
 
Ana Carolina Pereira Ribeiro
 
Turma 701 / Ativo 2013
 
 
 

sexta-feira, 29 de março de 2013

Te Contei, não ? - Descobertos novos marcadores de câncer

Um enorme esforço internacional, envolvendo mais de 100 instituições e testes genéticos em 200.000 pessoas, descobriu dezenas de marcadores no DNA que podem ajudar a revelar ainda mais o risco de uma pessoa para desenvolver câncer de ovário, mama ou próstata.

Te Contei,não ? - Socos que abalaram a alma

As agressões sofridas no pátio da escola municipal Gonzaga da Gama Filho, em Benfica, não deixaram apenas hematomas e dores em Jefferson Costa da Silva, de 25 anos.

Os socos levados no rosto também abalaram seu equilíbrio psicológico e emocional. O agente educador, agredido por um aluno de 17 anos no último dia 13, tenta retomar a vida em outro colégio. Sem ainda entender o motivo pelo qual foi atacado, incorporou um exercício mental à rotina: não lembrar do episódio.

“Estou tentando evitar pensar nas agressões. Não é uma coisa boa ficar lembrando, isso sempre mexe comigo. Então a ideia é tentar esquecer e seguir a vida. Hoje estou em um colégio menor”, relata Jefferson, que ainda sente dores na testa e na cabeça.
Direção da Escola Municipal Gonzaga da Gama Filho, em Benfica, pediu, e PM reforçou patrulhamento, colocando viatura no pátio da unidade | Foto: Divulgação
Direção da Escola Municipal Gonzaga da Gama Filho, em Benfica, pediu, e PM reforçou patrulhamento, colocando viatura no pátio da unidade | Foto: Divulgação
Segundo a vítima, os olhos também ficam roxos em decorrência dos vários socos no rosto. Por conta das lesões, ele precisou ficar três dias em casa. Com medo, o inspetor conta que tomou a decisão de se transferir da unidade de Benfica logo após o fato.

“Você acaba criando um preconceito com estudantes que moram em comunidades. Aí conversei com minha mulher e decidi que era o mais seguro para mim”, admite. Já em outra escola, classificada por ele como mais "tranquila", Jefferson não sabe apontar os motivos aparentes da agressão. Ele levou socos ao tentar impedir a entrada no colégio de um aluno que estava suspenso.

“Sempre tive um bom relacionamento com todos lá. Nunca teve um ato sequer de violência. Não tem como descrever e não sei o que pensar”, desabafa.

Menor foi para o Conselho Tutelar

Na final da manhã desta quarta-feira, o menor voltou à unidade. Mas enquanto conversava com amigos do lado de fora, foi abordado por PMs da UPP Mangueira, que o conduziram para o Conselho Tutelar.

A lesão corporal foi registrada na 17ª DP (São Cristóvão) e o responsável pelo menor já foi intimado. No dia 21, Leila Soares, 43, diretora da Escola Municipal João Kopke, na Piedade, também foi agredida por um aluno de 15 anos e registrou ocorrência na 24ª DP


O Dia

Crônica do Dia - Até quando as drogas vão vencer?

Nasci numa família de classe média alta, sou carioca da Zona Sul e trabalho com moda desde os 14 anos. Tinha 15 anos quando bebi pela primeira vez. O álcool já caiu torto: bebi compulsivamente e saí da festa derrubada. Cheguei em casa de manhã, com os sapatos nas mãos, passando mal e apaguei. Em seguida, fumei maconha e achei um horror. Mais tarde, aos 17, comecei a cheirar cocaína. Parecia purpurina. Quando experimentei, falei: “Gente, é isso, me encontrei”. Naquela época, na década de 70, eu não tinha informação alguma sobre os efeitos nocivos desta droga. Depois do meu casamento e do nascimento do meu filho, dei uma parada.
Passei uma temporada em Belo Horizonte, voltei para o Rio e mergulhei na noite. E a noite carioca era regada por muita bebida. Era um mundo de ‘glamour’: uma limusine vinha à minha casa para me levar às festas e às boates da moda. Nos anos 80, já era uma mãe relapsa, só cumpria minhas obrigações básicas e, já separada, tinha muitos namorados. Meu filho me viu cheirando muitas vezes e, aos 14 anos, ele foi morar com a família do pai. Nessa época, perdi o controle. Me desfiz da minha loja e passei a trabalhar para terceiros. Comecei a mentir para mim mesma. Saía de noite, não conseguia acordar e inventava uma mentira. Isso acontecia repetidamente.
Chegou uma hora que não deu mais. Acabei pedindo para sair antes de ser dispensada. Na década de 90, sem trabalho, comecei a traficar cocaína para pagar o meu vício. Era chamada de traficante de ‘tapete persa’ porque só vendia para gente bacana. Por causa da droga, sofri vários acidentes de carro e num deles quase perdi uma perna. Numa noite, encontrei um grupo de hippies na Praça Santos Dumont, na Gávea. Fui com eles para o bairro de Coelho Neto e, na manhã seguinte, acordei sob uma laje, dormindo na rua, como uma mendiga.
Resolvi, então, parar, aquele episódio foi um sinal. Passei a frequentar os Narcóticos Anônimos e levei um ano para entender a minha doença. Há 16 anos não bebo nem cheiro cocaína. Nossos jovens deveriam ser informados na escola e em casa sobre os malefícios das drogas e do álcool, esse tema deveria ser curricular. E os anúncios de bebida deveriam ser proibidos, assim como o seu uso em programas de TV, como acontece no ‘Big Brother Brasil’. Não proibiram as propagandas de cigarro? Por que ainda não fizeram isso com o álcool? Recentemente, o Brasil chorou pelo cantor Chorão. Mais um exemplo triste da vitória da droga. Até quando?


Lulí Bevilaqua é estilista

Te Contei, não ? - Assembleia também de Deus

Cerimônias católicas e cultos evangélicos nas instalações da Alerj causam polêmica

Natanael Damasceno
natand@oglobo.com.br

Uma reunião movimentou o auditório Senador Nelson Carneiro, no sexto andar do prédio anexo da Assembleia Legislativa do Rio, ontem à tarde. Com cerca de um terço do espaço ocupado, o lugar foi palco de discussões sobre temas díspares, como o significado da Páscoa e o papel da mulher na sociedade. Os assuntos, precedidos da exibição de um filme sobre a celebração cristã, chamaram a atenção das 36 pessoas que participaram do evento com fervor. O grupo, no entanto, formado por funcionários do Parlamento, assessores de deputados e visitantes, não estava numa audiência pública. Tampouco estava de uma das reuniões das comissões da Casa. Todos participavam de um culto evangélico conduzido pela ex-deputada Edna Rodrigues e pelo pastor Joel Vilon da Costa. Prática antiga, os eventos religiosos no espaço legislativo têm incomodado parlamentares, que ressaltam a laicidade da instituição. E, seja nos bastidores da Casa ou nas ruas, alimentam uma polêmica: se o Legislativo é laico, esse tipo de manifestação é constitucional?

Procurador regional da República e professor de direito constitucional da Uerj, Daniel Sarmento afirma que essa prática, também adotada por um grupo católico ligado à deputada Miriam Rios (PDT), vai contra o que determina a Carta Magna:

— Uma coisa é você fazer um culto num local público, como um parque. Outra coisa é você fazer isso num local como o Parlamento, onde o espaço deveria ser usado para discussões de interesse público.

Atualmente organizados sob a responsabilidade da deputada Graça Pereira (PSD), os cultos evangélicos acontecem todas as quartas-feiras há pelo menos nove anos. Edna Rodrigues, pastora da Igreja Universal, que conduziu o encontro de ontem à tarde, conta que eles começaram a acontecer devido ao interesse de um grupo de parlamentares na oitava legislatura da Casa (entre 2003 e 2006).

— Fizemos um requerimento ao então presidente da Casa, Jorge Picciani, e não houve qualquer manifestação contrária — afirma.

Edna, que perdeu o mandato em 2006, explicou ainda que hoje cada reunião é patrocinada por um deputado da extensa bancada evangélica da Casa — segundo a Alerj, pelos menos dez dos 70 deputados estaduais professam a religião — e organizada pelo pastor Vilon da Costa, assessor parlamentar de Graça Pereira.

— Cada reunião tem um responsável, que nem sempre vem aqui. Alguns nem são evangélicos — explica a pastora Edna Rodrigues.

Ela, Vilon da Costa e Graça Pereira rebatem as acusações de que atrapalham a atividade parlamentar. Dizem que ocupam o espaço na hora do almoço e que não usam dinheiro da Assembleia para realizar os encontros. No entanto, os parlamentares contrários à prática afirmam que já tiveram dificuldade para agendar discussões de interesse público devido à extensa agenda dos eventos religiosos. De acordo com a mesa diretora, pelo menos dez encontros aconteceram no local nos últimos dois meses.

E, na semana que vem, haverá mais três: o culto dos evangélicos na quarta-feira, o encontro católico na quinta-feira e uma missa na terça-feira à tarde.

— Só comecei a organizar os encontros católicos depois que meus eleitores vieram a mim com o pedido. E não fiz isso sem consultar a mesa diretora e a Arquidiocese. A missa de terça-feira, por exemplo, deve ser celebrada pelo próprio Dom Orani (arcebispo do Rio) — argumenta Miriam Rios. — E nos últimos dois anos, apenas duas vezes cancelamos um encontro porque alguém precisou do espaço. A prioridade são os eventos da Casa.

Graça Pereira também se defende:

— As pessoas trabalham aqui e a gente percebe que, quando estão ansiosas, buscam conselhos. Por isso, sentimos a necessidade do espaço, semelhante ao que existe em instituições como a Polícia Militar e o Tribunal de Justiça.

O procurador Daniel Sarmento, porém, lembra que a Casa representa um dos poderes do Estado. Presidente da Alerj, o deputado Paulo Melo disse, por meio de sua assessoria, que o auditório não é um espaço da Casa usado só para eventos religiosos e que eles acontecem apenas quando não atrapalham a agenda política. •

‘É inadequado, inconstitucional’

Corpo a corpo

Daniel Sarmento

Procurador regional da República e professor de direito constitucional, ele diz que o Brasil não incorporou o princípio do Estado laico

• O senhor acha que os cultos e missas no Parlamento são adequados ao espaço?

Essa é uma prática totalmente inadequada. É inconstitucional. Você não pode utilizar as instalações do Poder Legislativo para fazer um culto religioso. A Constituição fala do princípio do Estado laico, mas o Estado brasileiro não conseguiu incorporar esse princípio ao seu dia a dia.

• Na sua avaliação, essa é uma exclusividade do Parlamento fluminense?

Isso não acontece apenas no Rio. Outro dia, fui participar de uma audiência pública em Brasília, sobre o direito ao aborto, e tivemos todos que ficar esperando o fim de um culto evangélico que acontecia no local.

• Por que isso acontece?

Embora o princípio da laicidade exista desde o nascimento da República, ele nunca foi levado a sério. Então, não é uma novidade. Você pode observar isso ao constatar que há um crucifixo na sala do Supremo Tribunal Federal, onde se discutem questões como o direito ao aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, assuntos aos quais a Igreja sempre foi abertamente contrária.

• Mas e a liberdade de expressão?

Isso não é cerceamento ao direito de expressão. O cidadão tem todo o direito de professar sua religião. Mas uma coisa é ele fazer isso na sua igreja. Outra é usar o espaço do Poder Legislativo para isso. (Natanael Damasceno)

‘A Casa não deixa de ser laica’

Corpo a corpo

Joel Vilon da Costa

Pastor da Igreja Presbiteriana, o assessor da deputada Graça Pereira coordena hoje o agendamento dos cultos evangélicos na Alerj

• O que o senhor tem a dizer aos críticos dos encontros religiosos na Assembleia?

Essa é uma casa aberta ao povo. Os eventos não são fechados aos evangélicos. Já recebemos convidados de outras religiões, como o deputado Marcio Pacheco, que não só patrocinou um encontro como participou do culto. Nunca impedimos que um padre participasse das nossas reuniões, nem nunca reclamamos das manifestações ligadas às outras religiões.

• Mas o Legislativo não deveria ser uma instituição laica?

A Casa não deixa de ser laica por causa dos nossos encontros. Uma coisa é a atividade parlamentar. Outra é a utilização do espaço para dar aquilo de que o povo precisa. Não utilizamos recursos públicos. E, institucio-nalmente, não existe uma comissão de parlamentares evangélicos ou religiosos para tratar dos cultos. Nós organizamos, fazemos de forma voluntária, fora do horário do trabalho. Por isso, não acho que os encontros afetem a laicidade da Casa.

• Quem frequenta os cultos evangélicos? Os deputados responsáveis acompanham os cultos?

Nem sempre os parlamentarem acompanham as reuniões. E não são apenas os funcionários da Alerj que aparecem. Os cultos são conhecidos e atraem muitos visitantes de empresas próximas e de instituições como o Tribunal de Justiça, que mantém iniciativas semelhantes. (N.D.)




O Globo

Te Contei, não ? - Nordeste terá mais royalties

Principais bacias de óleo da 11ª rodada de licitações ficam em estados não produtores
 
 
 
 
 
Ferrenhos defensores da distribuição imediata dos royalties de petróleo — ao ponto de apresentarem proposta de emenda constitucional (PEC) para modificar a Carta Magda —, a médio e longo prazos estados do Norte e Nordeste podem estar dando tiro no pé. Prova disso é o potencial da 11ª rodada de licitações que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) promove em maio, podendo agregar mais de 7,5 bilhões de barris de petróleo às reservas nacionais.
Conforme o edital, serão ofertados 289 blocos na margem equatorial do Brasil, formada pelas bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar, todas classificadas como nova fronteira exploratória. As bacias maduras nesta rodada são: Sergipe-Alagoas, Recôncavo Baiano e a porção terrestre da bacia do Espírito Santo. Segundo a ANP, a rodada permitirá a descentralização da produção de petróleo e gás.
“Essa sanha pelos royalties é burrice. Nos próximos anos, estados como Maranhão, Rio Grande do Norte e Piauí terão maior produção de óleo, por conta da exploração que vem sendo feita”, explica o deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ).
 
Diversificação da produção
 
Um dos objetivos da 11ª Rodada é diversificar geograficamente a produção de petróleo e gás. Em 2012, por exemplo, a Petrobras fez descobertas importantes de óleo na bacia Sergipe-Alagoas.
Diretora-geral da ANP, Magda Chambriard disse que a rodada terá excelentes oportunidades para empresas de origem nacional e estrangeira


o Dia

Te Contei, não? - Abandono faz Lapa virar "casa" de moradores de rua

Comerciantes reclamam que a desordem urbana na região atrapalha os negócios

 
POR Constança Rezende
 
Rio - Esmolas fartas, facilidade de acesso às drogas baratas e sobras de comida. Com tantos atrativos, os moradores de rua da Lapa resistem às operações sistemáticas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS).

Do outro lado, a população de rua reclama do tratamento e dos abrigos oferecidos pelo estado. Moradores e comerciantes sentem-se cada vez mais incomodados com a situação.

A gerente da loja de ferragens Couso, que fica na Praça João Pessoa, um dos lugares de maior concentração de população de rua da Lapa, Singoala Luz, diz que os moradores de rua espantam seus clientes, com abordagens por dinheiro e cachaça.
Nesta sexta-feira foi o primeiro dia de reabertura das ruas na Lapa que fechavam nas noites de sextas, sábados e domingos | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Nesta sexta-feira foi o primeiro dia de reabertura das ruas na Lapa que fechavam nas noites de sextas, sábados e domingos | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
“Tem dias que os moradores de rua até brigam na minha porta”, relata. O gerente da drogaria que também fica na praça, Ivanildo Alves, diz que a população fica no local porque muitos restaurantes dão sobras de comida para eles.

A moradora do bairro há 23 anos, Lúcia de Paula, que ontem desviava o carrinho de seu neto de 10 meses das pessoas que dormiam na rua, conta que, de dezembro para cá, o número de moradores de rua aumentou no local. “Com as UPPS, muitos deles migraram para cá porque aqui tem mais acesso às drogas”, argumenta.

A Secretaria de Desenvolvimento Social diz que realiza diariamente ações de abordagem social junto aos moradores de rua na Lapa. De acordo com os estudos da pasta, a população é composta predominantemente por homens adultos, entre 25 e 53 anos, usuários de drogas lícitas (álcool) e ilícitas.

A maioria tem comportamento agressivo e mostra resistência à abordagem dos assistentes sociais. O órgão alega que a ampla oferta de serviços e facilidades oferecidos por entidades assistenciais no bairro incentiva a migração e a permanência da população de rua na região.
Comerciantes dizem que moradores de rua atrapalham os negócios | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Comerciantes dizem que moradores de rua atrapalham os negócios | Foto: André Mourão / Agência O Dia
‘Melhor na rua que no abrigo’

O morador de rua Francisco Sales, que dorme na Lapa há um ano, disse que escolheu o bairro por ter melhor acesso a comida e bebida.

“Sou viciado nesta praga (álcool) há 30 anos. Aqui, consigo mais fácil”, afirmaSales, que diz ser ex-garçom do Hotel Pouso Real, na Rua do Rezende.

Ele conta que já foi levado pela Secretaria de Desenvolvimento Social três vezes para o abrigo Boa Esperança, em Santa Cruz, mas que prefere dormir no papelão. “Aquele lugar é uma boca de fumo e mais sujo do que aqui”, disse. A secretaria disse que o local passa por reforma.

Setenta acolhimentos por semana

A Secretaria de Desenvolvimento Social informou que realiza, em média, 70 acolhimentos na Lapa, por semana. Os adultos são encaminhados para a Central de Recepção, na Ilha, ou para o Abrigo Rio Acolhedor, em Paciência.

Crianças e adolescentes vão para a Central Carioca ou para Central Taiguara, no Centro.


Te Contei, não ? - As empregadas e a Escravidão - Urariano Mota

empregada e escravidãoPor caminhos tortos, Joaquim Nabuco teve uma das suas iluminações quando escreveu: "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. Sim, por caminhos tortos, porque depois de uma frase tão magnífica, de gênio do futuro, Joaquim Nabuco sem pausa continuou, num encanto que esconde a crueldade:
“Ela (a escravidão) espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor...”.
Penso na primeira frase de Nabuco, a da escravidão como característica do Brasil, nestes dias em que o Congresso dá um primeiro passo para a superação da herança maldita. Não quero falar aqui sobre as conquistas legais para as empregadas domésticas, da nova lei sobre a qual os jornais tanto têm falado como num aviso: “patroas, cuidado, domésticas agora têm direitos”. Falo e penso nas empregadas que vi e tenho visto no Recife e em São Paulo. No aeroporto de Guarulhos eu vi Danielle Winits, a famosa atriz da Globo, muito envolvida com o seu notebook, concentradíssima, enquanto o filhinho de cabelos louros berrava. Para quê? A sua empregada, vestida em odioso e engomado uniforme, aquele que anuncia “sou de outra classe”, cuidava para que a perdida beleza da atriz não fosse importunada. Tão natural... os fãs de telenovelas não viam nada de mais na mucama no aeroporto, pois faziam gracinhas para o bobinho lindinho.
Em outra ocasião, numa terça-feira de carnaval à noite, vi no Recife uma jovem à minha frente, empenhada em ver a passagem de um maracatu. Tão africano, não é? Junto a ela uma senhora – desta vez sem uniforme, mas carregando no rosto e modos a servidão – abrigava nos braços um bebê. Os tambores, as fantasias, eram de matar qualquer atenção dirigida à criança, que afinal estava bem cuidada, sob uma corda invisível que amarrava a empregada. Então eu, no limite da raiva, oferecei o meu lugar à sua escrava sobrevivente, com a frase: “a senhora, por favor, venha com o seu filho aqui para a frente”. A empregada quis se explicar, coitada, morta de vergonha, enquanto a doce mamãe não entendia o chamamento irônico, pois me olhava como se eu fosse um marciano. Espantada, parecia me dizer: “como o meu filho pode ser dessa aí?”.
O desconhecimento de direitos elementares às empregadas domésticas, como privacidade, respeito, a falta de atenção para ver nelas uma pessoa igual aos patrões, creio que sobreviverá até mesmo à nova lei. É histórico no Brasil, atravessa gerações e atinge até mesmo os mais jovens e pessoas que se declaram à esquerda. É como se estivesse no sangue, como se fosse genético, de um caráter irreprimível. Até antes delas vão a democracia e a igualdade. A partir delas é outra história. Quantas vezes vemos nos restaurantes jovens casais com suas lindas crias, tendo ao lado as escravas, que nem sequer têm direito a provar da bebida e da comida? Isso nos domingos e feriados, pois esses são os dias das patroazinhas se divertirem. É justo, não é? O feminismo se faz para que mulheres sejam cidadãs, mas a cidadania só alcança os iguais, é claro.
Em todas as situações desconfortáveis, se ousamos estranhar, ou agir com pelo menos um olhar atravessado para essa infâmia, recebemos a resposta de que as domésticas são pessoas da família. Parentes fora do sangue, apenas separadas por deveres, notamos. É o que se pode chamar de uma opressão disfarçada em laços afetivos. A ex-escrava é considerada como um bem amoroso, íntimo, mas que por ser da casa come na cozinha e se deita entre as galinhas do quintal. O que, afinal, é mais limpo que se deitar com os porcos no chiqueiro. Não estranhem, porque não exagero. Não faz muito tempo no Recife era assim. E por que estranhar esse tratamento? Olhem os grandes e largos e luxuosos apartamentos do Rio e de São Paulo, abram os olhos para os minúsculos quartinhos de empregadas, entrem nos seus banheiros, que Millôr dizia serem a prova de que no Brasil empregadas não têm sexo no WC.
Não posso concluir sem observar que os pobres copiam os ricos, e que o tratamento dado às domésticas se estende em democracia para todas as classes sociais. Menos para as empregadas, é claro. "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”, dizia Nabuco.


http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questoes-de-genero/265-generos-em-noticias/17801-as-empregadas-e-a-escravidao-por-urariano-mota