sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Memorial de Jorge



Imagine sentar-se no sofá em que um dia repousaram Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Tom Jobim, João Gilberto e Vinicius de Moraes. Ou deitasse na cama em que dormiam Jorge Amado e Zélia Gattai. A imaginação virou realidade para o colecionador de arte Rafael Moraes. Ele comprou o apartamento que pertenceu a Jorge Amado por mais de meia década, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Zélia imortalizou o local num capítulo do livro Chão de meninos, contando um pouco do que viveu em sua vizinhança, grudada ao lendário Beco das Garrafas. “Comprei de porteira fechada, com todo o mobiliário original, incluindo a biblioteca, a coleção de arte popular, roupas do casal e até um lenço bordado por Pablo Picasso”, diz Rafael. Para comemorar o centenário de Jorge, ele acaba de inaugurar na porta do prédio uma placa epigráfica de bronze em que se lê: “Aqui morou Jorge Amado” – a exemplo do apartamento da lte de la Clté, em Paris, onde Jorge e Zélia moraram durante anos. “Adquiri o imóvel em 2009, mas agora consegui reformar e pretendo transformá-lo no centro de referência Jorge Amado. A escrivaninha em que ele criou Gabriela está intacta.”

Crônica do Dia - A revolta dos mequetrefes - Ruth Aquino

É revoltante a perseguição do Brasil a seus 81 senadores. Durante a vida toda, servindo a nação, eles receberam sem problema dois salários extras por ano, o 14º e o 15º. Nos valores atuais, R$ 53.400. Jamais pagaram algum imposto em cima desse valor. Zero. E, agora, vem a Receita Federal e decide cobrar deles o imposto devido nos últimos cinco anos, com multas e juros. Como se eles fossem uns mequetrefes. O Leão deu um prazo de 20 dias para Suas Excelências enviarem cópias de contracheques e comprovantes de rendimentos anuais.
Os senadores deveriam aderir à onda das greves. Virou moda servidor público partir para o confronto com a presidente Dilma e, por tabela, infernizar a população na rua, nas universidades, nos hospitais e nos aeroportos. Não importa quanto ganhem. Não importa que tenham recebido aumentos nos últimos anos acima da inflação. Aumentos maiores que os da população, engarrafada pelo poder dos sindicatos.
Uma greve dos senadores teria a vantagem de nem ser percebida, porque não faria a menor diferença para a vida de ninguém. Ou alguém acha que o país sofre durante os meses de recesso em que pagamos aos senadores para que eles não façam nada? Eles não fazem nada, e nós sofremos menos ainda.
Cada senador terá de devolver R$ 64.700, fora juros e multas, referentes aos anos de 2007 a 2011. Uma fortuna! Principalmente se calcularmos a merreca mensal que eles recebem de subsídio e verbas extras. Alguns deles também ganham aposentadoria de ex-governador. Um é o presidente do Senado, José Sarney, em seu terceiro mandato – que dá exemplo ao não revelar quanto ganha.
Embora sua zelosa assessoria de imprensa se recuse a divulgar, calcula-se que, somando tudo, deve rondar os R$ 80 mil a remuneração mensal do maranhense que adotou o Amapá. Sarney recebe R$ 26.723,12 como senador, mais as aposentadorias de ex-governador do Maranhão e de servidor do Tribunal de Justiça, além das verbas extras, chamadas inexplicavelmente de “indenizatórias”. Se Sarney ganhar menos (e não mais), ÉPOCA receberá uma carta de Fernando Cesar Mesquita, da Secretaria Especial de Comunicação Social do Senado. Esperamos que ele nos informe o exato valor, discriminado, em nome da clareza.
Pelo menos cinco outros senadores, do PTB, do DEM, do PMDB, do PP e do PT, ganham, como Sarney, aposentadoria de ex-governador, que varia de R$ 11 mil a R$ 24 mil. Vários senadores, flagrados pela imprensa, decidiram abrir mão do benefício. 
Às vésperas de sair da vida pública com uma vingança na manga (deixar Renan Calheiros em seu lugar), Sarney se diz feliz porque a Receita cobrou imposto apenas em cima dos últimos cinco anos: “Se fosse de todos os meus mandatos, não seria uma facada, seria um tiro. Nem se vendesse a Ilha de Curupu, que não é mais minha, daria para pagar”. Em 1970, Sarney se tornou senador pela primeira vez.
Os senadores se insurgiram contra a cobrança retroativa. Os políticos estão inquietos com essa mania de remexer o passado em nome da moralização e da transparência. Tanto esforço para não ser tratado como homem comum, zé-ninguém, mequetrefe. E, de repente, todas as regalias são ameaçadas, e o “toma muito lá dá muito cá” passa a ser crime. Até os pares cassam mandato. Imagine ter de enfrentar a Justiça de verdade e, pior ainda, o ministro Joaquim Barbosa fazendo perguntas capciosas ao vivo, na televisão, de supetão, fora do roteiro, sem nada combinado? Por que o Brasil resolveu se tornar um país menos avacalhado e mais sério?
Essa facada da Receita Federal não ficará assim não. Se a estratégia dos réus do mensalão é jogar a culpa no próximo, no subordinado ou no morto, os senadores também não assumem culpa de nada. Dizem que o erro foi do Senado, e não deles. Exigem uma negociação coletiva.
O líder do PSDB, o senador Álvaro Dias (PR), não se conforma em retirar do próprio bolso um dinheiro que, a seu ver, é devido pela instituição. “O erro foi do Senado, e nós é que vamos pagar a conta?”, pergunta Dias, escandalizado. Provavelmente, Dias quer que a dívida dos 81 senadores com a Receita seja retirada dos cofres públicos, de nosso bolso.
Nenhuma dessas raposas políticas sabia que teria de pagar Imposto de Renda sobre o 14º e o 15º salários. Eles achavam que isso era só ajuda de custo. Porque a vida deles custa muito. Não bastam auxílio-moradia, auxílio-passagem, auxílio-telefone, auxílio-combustível, auxílio-assessor, auxílio-correio, auxílio-refeição. Precisamos fazer um mutirão, uma vaquinha para ajudar os senadores amotinados. Caso contrário, eles podem fazer greve. Já pensou? Nem vou dormir.

Crônica do Dia - Ministros e medalhas - Lya Luft



Estes são dias de competição, superação, decepções e premiações, na Olimpíada esportiva, mas também no enfrentamento entre justiça e impunidade no triste processo chamado mensalão que nos aflige. Ainda longe do final, quero, aqui do meu ponto de vista, conceder uma medalha de ouro ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com o respeito, a admiração e o reconhecimento de uma brasileira preocupada. Medalha pela serenidade, compostura, precisão, tecnicidade jurídica, evidências tantas vezes comprovadas, citadas em dia e página. Pela coragem, que não há de ser pouca. Pela possibilidade de que prevaleça a justiça, punindo-se culpados e absolvendo-se inocentes.

Sou filha de professor de direito e diretor de faculdade de direito até sua prematura morte. A Senhora Justiça era personagem em nosso cotidiano: lá estava na escrivaninha dele uma estatueta de prata da referida dama vendada, em uma das mãos a balança, na outra a espada. Andam meio esquecidas por aqui, ela e suas parceiras Decência, Integridade, Bravura. O resultado da luta aqui travada agora, porém, pode curar feridas, e abrir caminhos para a renovação neste país.

Agora, à Olimpíada esportiva: admirável a organização britânica. Solenidade e bom humor discreto e elegante. Belíssima a abertura, e motivo de orgulho nosso a ex-ministra Marina Silva ser uma das personalidades mundiais ligadas à paz e à preservação da natureza a segurar a bandeira desse evento. (Infelizes comentários de nossas autoridades nem merecem ser aqui citados: não gasto bom papel com tema ruim.) Esperemos que na Olimpíada esportiva do Brasil, em quatro anos, a organização seja parecida, dispensados os comentários e atitudes desastrosas que nos tornariam pequenos aos olhos do mundo.

Nosso país não está se saindo muito bem até agora: é de espantar que nossos atletas consigam medalhas de bronze e alguma de ouro. Enquanto escrevo, uma segunda dourada aparece, um atleta não muito badalado, que superou as nossas falhas com suas virtudes: transbordando decência, disciplina, humildade e uma enorme bravura. Agradecendo, pediu ao Brasil mais oportunidades e estímulo, mais cuidado com os jovens atletas, coisas que não recebem nos duros anos de sua preparação: muitos e excelentes centros de treinamento, preparadores bem pagos, ótimo atendimento médico, os melhores psicólogos que os ajudem a enfrentar, além do sobre-humano esforço físico, o forte desgaste emocional. Quase não vi atletas estrangeiros deprimidos ao obter um bronze, conscientes de estarem entre os três melhores do mundo em sua categoria, mas muitos dos nossos ficaram abatidos recebendo a mesma medalha: talvez a gente só os incentive a valorizar o máximo. Como o pai que não admite que seus filhos não sejam em tudo os primeiros.

O que o Brasil tem conseguido nesta Olimpíada é muito se comparado ao pouco que oferecemos. Nossos adversários vêm de países que, mesmo pobres alguns, os tratam como príncipes. Não vemos atletas estrangeiros procurando oportunidades no Brasil, mas os nossos muitas vezes precisam sair daqui para buscar condições de trabalho, reconhecimento, crescimento e sucesso. Assim, muitos jovens intelectuais, cientistas, universitários, acabam indo embora, pois aqui não encontram estímulo nem trabalho à sua altura. Ou são aplaudidos no momento do sucesso, da descoberta, da medalha, e depois esquecidos. A busca da excelência em todos os campos da atividade humana, desde a dignidade básica até a educação, a saúde, a segurança, oportunidades — hoje incluindo os esportes —, não tem sido prioridade nossa.

Voltando aos ministros do Supremo: neles está nossa esperança de que esses que por anos a fio “macularam nossa pátria” sejam punidos, se provada a sua culpa. Poderemos então respirar com peito mais desafogado e receber, como povo e como indivíduos, uma verdadeira medalha de ouro. O fardo que carregamos, nós que nos informamos, nos preocupamos, e lutamos pelo bem do Brasil, tem sido pesado demais.

Gosto de roçar minha Língua na Língua de Luiz de Camões - De onde vem a expressão "banho - maria" ?



Segundo a lenda, ela faz referência a uma alquimista judia chamada Maria - que muitos identificam como Miriam, irmã de Moisés, o líder hebreu que viveu entre os séculos XIII e XIV a.C. Citada como grande perita em vários dos mais antigos tratados de alquimia, a ela costuma-se atribuir a invenção desse processo - que consiste em aquecer ou cozinhar lentamente, da maneira mais suave e delicada, qualquer substância mergulhando o recipiente que a contém em água fervente. Usa-se, portanto, para alimentos que, sob calor excessivo, perdem facilmente sua textura e seu sabor. Segundo a Larousse Gastronomique (Enciclopédia Gastronômica Larousse), uma bíblia da arte culinária, a expressão - mais conhecida no mundo todo em sua forma francesa: bain-marie - pode conter também uma alusão à Virgem Maria, símbolo de doçura, já que o termo evoca "o mais doce dos cozimentos".

Você sabe ? !!! - O que foi o movimento PUNK?


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Foi um estilo musical criado na década de 70 e a cultura ao redor dele. Surgiu em Nova York a partir de 1974, quando os frequentadores da casa de shows CBGB e da cena underground local (usuários de drogas, poetas de rua, transsexuais e outros) formaram e apoiaram bandas que se opunham ao pomposo rock progressivo de bandas como Yes, que faziam muito sucesso na época. No ReinoUnido, especialmente em Londres, o movimento ganhou versão própria, com bandas icônicas como Sex Pistols e The Clash. Por lá, o surgimento do punk coincidiu com um momento político delicado, o que contribuiu para que muitas bandas criticassem o governo em suas músicas. No começo dos anos 80, o gênero deu lugar à new wave e ao pós-punk como estilos predominantes de rock.
REBELDES COM CAUSA
Em oposição ao movimento hippie, o punk apoiava a individualidade e a independência
Passarela Irada
O grupo britânico Sex Pistols nasceu em uma loja de roupas, a Sex, e seu visual foi criado pela estilista Vivienne Westwood, que trouxe de Nova York as peças rasgadas, os rebites, os alfinentes e os toques eróticos. Essas tendências e o incentivo à individualidade estimularam os punks a bolar visuais únicos. Até os cabelos curtos eram um manifesto: opunham-se às longas madeixas dos hippies.
Juntando os gêneros
O punk abriu a cabeça dos roqueiros para outros estilos. O grupo The Clash, por exemplo, pegou elementos do reggae. Já o Television bebeu na fonte do jazz e o Blondie, da disco. Na mesma época se destacou o ska, fusão de rock e reggae. E a vibe comunitária favoreceu subgêneros influentes, como o hardcore e o psychobilly.
Enfrentando o sistema
O punk era influenciado, principalmente na Inglaterra, pelo movimento Situacionista e por ideaisanarquistas e socialistas. A maioria das bandas era formada por gente pobre, que não via futuro com as ações do governo. Superpolitizado, o The Clash apoiava os rebeldes do movimento Sandinista, da Nicarágua.
Presença feminina
Com sua política acolhedora, o estilo abriu espaço para as mulheres. Elas passaram a integrar e até liderar bandas – entre os nomes importantes estavam Patti Smith, Debbie Harry e as The Slits. Mas nem todos os adeptos eram tão inclusivose nem todas as bandas com meninas tinham discurso feminista.
Se quiser bem feito...
A política DIY ("do it yourself", ou "faça você mesmo") pregava que músicos e fãs não dependiam de grandes corporações.Dessa ideologia, surgiram as gravadoras independentes e os fanzines, que ganharam popularidade e respeito. O DIY se expandiu para a moda e para o design – eram comuns pôsteres, flyers e roupas feitos à mão.
Filho da anarquia
Os estilos que tomaram o lugar do punk derivavam dele. Mesmo alguns que surgiram muito depois, como o grunge (Kurt Cobain afirmava que sua banda, Nirvana, era punk). Ele também foi a base dos movimentos riot- grrrl e queercore, defensoras da inclusãode mulheres e gays na música. Hoje, ainda sobrevive como gênero musical e ideologia, embora com menos proeminência.
MÚSICAS ESSENCIAIS
The Clash - London Calling
Faixa-título de um disco histórico, London Calling tinha letra que punha o dedo na ferida dos britânicos
Sex Pistols – God Save The Queen
Reza a lenda que a própria Elizabeth II proibiu que essa música chegasse ao primeiro lugar da parada britânica
Ramones –Blitzkrieg Bop
Os Ramones foram a primeira banda propriamente punk e lançaram vários hinos como esse, do primeiro álbum
O gênero também influenciou a literatura e o cinema, ajudando a lançar artistas independentes, como o diretor Derek Jarman
Inspirado no visual de índios norte-americanos, o moicano começou a ser usado no final dos anos 70 e se tornou um símbolo da causa
- "Punk” era uma palavra que descrevia garotos de programa. Ela se consolidou como gênero musical com o fanzine Punk, lançado em 1976
- O movimento foi o berço das rodas de moshing, em que os membros do público se jogam uns contra os outros. Nos anos 80, surgiu a versão só com meninas.
NO BRASIL
No final dos anos 70, em plena ditadura, nosso país também criou sua cena punk, que começou em São Paulo e Brasília e depois se alastrou para outros estados. Como os discos estrangeiros eram difíceis de encontrar, os fãs gravavam fitas K7 e compartilhavam. Grupos como Cólera, Olho Seco e Aborto Elétrico seguiam o estilo e a sonoridade das bandas estrangeiras.

FONTES Livros The Encyclopedia of Punk, de Brian Cogan, e England’s Dreaming, de Jon Savage, e documentário Botinada – A História do Punk no Brasil, de Gastão Moreira


Você sabia ? - O homem que amava as mulheres

Escritor enaltecia todas as mulheres | Foto: André Hippert / Agência O Dia

Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores...’ Os versos são do sambista Martinho da Vila, mas bem que poderiam se tratar do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. Ou melhor: de sua obra. No centenário do artista, nascido em 23 de agosto de 1912, listamos alguns dos tipos femininos mais frequentes em sua obra: a adúltera, a santa do pau oco, a prostituta boazinha, a incestuosa e a recalcada.

Autor da biografia de Nelson, ‘O Anjo Pornográfico’, o escritor e jornalista Ruy Castro garante não saber apontar qual tipo o autor preferiu retratar. “Acho que ele tinha grande paixão e compaixão por todas as mulheres de sua obra e da vida real”, define Ruy.
A professora e dramaturgista Ângela Leite Lopes, autora do livro ‘Nelson Rodrigues: Trágico, Então Moderno’, identifica uma característica comum às mulheres de Nelson. “São sempre personagens que tomam as rédeas de seus destinos. Vão à luta”, analisa.
Embora com perfis dos mais diversos, uma personagem frequente nos textos rodrigueanos é a mulher que trai. “Não foi o Nelson quem inventou a adúltera — mas talvez nenhum escritor tenha procurado entendê-la mais do que ele. Em certos casos, para Nelson, o adultério era uma vingança contra a falta de amor. Ou, como dizia ele, ‘algumas mulheres precisam trair para não apodrecer’”, diz Ruy Castro.
Para Ângela Leite Lopes, a paixão pelo tema adultério também tem razões artísticas. “Quem trabalha com teatro quer experimentar situações-limite. Adultérios, incestos, situações de trangressão”, enumera ela.
A atriz Juliana Didone, em cartaz na peça ‘Decote’ — com texto de Nelson e direção de Daniel Herz e Susanna Kruger, e que se despede amanhã, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema —, acredita que Nelson falava das profundezas das almas. “Vontades que as pessoas tinham e não falavam. Claro que ele dava pinceladas mais fortes. Mas acredito que ele estava lançando perguntas para a sociedade”, analisa Juliana.
Psicanalista e colunista da revista ‘Já É!’, Regina Navarro Lins concorda: “Nas décadas de 40 e 50, assuntos como adultério e virgindade eram tabus. Eram tempos de muita repressão sexual. Todo mundo era muito preocupado com a imagem, ‘O que os outros vão pensar?’. Nas peças, ele diz coisas das quais não se falava”.
A Adúltera
É muito recorrente na obra do dramaturgo. A Engraçadinha de ‘Asfalto Selvagem’ e a Solange de ‘A Dama do Lotação’ são algumas de uma extensa galeria.

A Santa do pau oco
Parece pura e ingênua, mas não é nada disso. Como a Silene de ‘Os Sete Gatinhos’ e a Maria Cecília de ‘Bonitinha, Mas Ordinária ou Otto Lara Rezende’.

A Prostituta boazinha
Ela se sacrificou pelo filho, como a personagem- título de ‘Dorotéia’, ou pelas irmãs, tal qual a Ritinha de ‘Bonitinha,
mas Ordinária ou Otto Lara Rezende’.

A Incestuosa
‘Álbum de Família’ conta com duas mulheres incestuosas: Glória, que é apaixonada pelo pai, e Dona Senhorinha, a mãe, que deseja o filho Nonô. A Moema de ‘Senhora dos Afogados’ é outro exemplo.

A Recalcada
As primas da personagem principal da peça ‘Dorotéia’, a Dóris de ‘Núpcias de Fogo’ e a Rosinha da crônica ‘Marido Fiel’ estão entre as personagens que se encaixam no tipo. 

Personalidade - Outro palco para Lygia


A junção de tantas datas significativas em 2012 — uma delas, seus 80 anos de vida, completados amanhã — tem levado a escritora Lygia Bojunga a uma saudável inquietação diante do que já realizou e do que ainda deseja realizar. Comemorando também os 40 anos da publicação de seu primeiro livro, “Os colegas”; os 30 anos da conquista do Prêmio Andersen, o mais importante da literatura infantojuvenil; e os dez anos da editora Casa Lygia Bojunga, a autora, que iniciou sua carreira como atriz, tem pensado até num retorno aos palcos. Ou melhor, a um palco específico, o do pequenino café-teatro de sua casa, em Santa Teresa, onde gostaria de continuar a mostrar, de uma outra forma, sua inesgotável paixão pelos livros.
Autora de clássicos da literatura infantojuvenil como “A bolsa amarela” e “O sofá estampado”, que abriram as portas da leitura para tantas gerações, Lygia Bojunga acredita ter encerrado um ciclo em torno do livro. Não que ela tenha abandonado a escrita, pelo contrário. Um novo romance, ainda inacabado (batizado de “Intramuros”), descansa na gaveta sem data e sem pressa para sair de lá. Foi justamente ao iniciar o romance que Lygia diz ter percebido o encerramento desse “redondo do livro”, como ela se refere a tantas realizações em torno do objeto que ama desde menina. Olhando ao redor, percebeu que, depois de muita labuta, a Casa Lygia Bojunga, editora que ela criou para reunir todos os seus títulos (são 22, entre infantojuvenis, romances e memórias), está com ótima saúde. O carro-chefe continua sendo “A bolsa amarela”, de 1976, cujas novas tiragens não ficam abaixo dos 15 mil exemplares. A Fundação Lygia Bojunga, instituída em 2004 com os US$ 675 mil do prêmio Alma (Astrid Lindgren Memorial Award), concedido pelo governo sueco a autores que se destacaram na literatura para crianças e jovens, também vem cumprindo bem a tarefa de incentivar, de várias maneiras, o fazer em torno do livro. Aí, conta Lygia, veio a hora de dar uma “repensada”.

— Eu gosto de livros, mas definitivamente não gosto do book world, dessa loucura de feiras, eventos, burocracias que me deixam angustiada, tendo que fazer mil coisas ao mesmo tempo — conta Lygia, que vai passar seu aniversário tranquila em Londres, onde está desde março ao lado do marido Peter, para mais uma das longas temporadas na cidade que divide, há 30 anos, seu coração com o Rio. — Estou preparando tudo para que a editora e a Fundação funcionem sem mim, sem que eu seja tão necessária no dia a dia. Agora quero dar uma desligada. Quando fui reler “Intramuros” vi que ele não estava pronto, não estava bem resolvido. E foi ficando muito claro que o que eu queria era ficar no meu mundo, dentro dos meus muros, sem me tornar reclusa.

Os muros a que Lygia — gaúcha de Pelotas que se mudou com a família para o Rio aos 8 anos — se refere também são os de sua casa em Santa Teresa, construção simples e aconchegante que vem sendo expandida para abrigar as sedes da Fundação e da editora. Há salas de exposição, com livros de Lygia, sobre Lygia e as obras que fazem parte de sua formação intelectual e sentimental; salas de leitura, onde atualmente se reúnem alguns grupos de estudo, e ainda o pequeno café-teatro para o qual volta e meia a escritora espicha o olho. Tudo integra o projeto Um Novo Nicho para Santa, espaço que Lygia planeja deixar para a comunidade, assim como o sítio Boa Liga, em Pedro do Rio, no qual a escritora chegou a implantar um núcleo de fabricação de papel artesanal e onde há cinco anos acontece o projeto Paiol de Histórias, apoiado pela Fundação Lygia Bojunga.

— A Boa Liga é um espaço semelhante a esse de Santa Teresa, só que encravado na Mata Atlântica, na natureza. São dois espaços grandes resultantes da minha trajetória, da minha história. Lá, aos 20 e poucos anos, plantei minha primeira casa. E depois aqui, em Santa Teresa. Conforme esses dois espaços cresceram, se firmaram, cresceu a ideia de torná-los públicos, e já estou providenciando isso. Quero que seja usufruído por mais gente, tem a ver com uma questão social que toda vida me angustiou. Só que nesse momento, enquanto estou por aqui, gostaria de ter contato com o público, se possível dentro do meu mundo. Agora minha vontade é de fazer algo acontecer nesses espaços.

Daí vem a tal “recaída de palco”. A ideia não chega a ser novidade para quem começou a vida como atriz e que, “já na casa dos 50”, como lembra ela, percorreu o país com monólogos nos quais falava de sua relação com os livros. As apresentações simples, sem iluminação especial, cenário ou figurino — e por isso chamadas de “mambembadas” —, marcaram não apenas quem as viu, como a própria autora.

— O projeto foi incrível, me alavancou muito, mudou minha escrita. Fiz a Trilogia do Livro (composta por “Livro — Um encontro”, “Fazendo Ana Paz” e “Paisagem”, na qual ela fala de sua relação especial com a literatura) e escrevi tanta coisa desde então. Não é que imagine que possa reeditar isso, e nem gostaria. Estou pensando exatamente nesse intramuros, nos espaços que criei. Por que não trazer agora o livro para o palco? Escrever algo e dizer ao público? Confesso que tenho olhado cada vez mais para esse palco, me vendo lá...

Brincando com a idade, e ao mesmo tempo esbanjando energia — quando está em Santa Teresa acorda diariamente às 6h para nadar —, ela diz que está na hora de juntar “os cacarecos” recolhidos pela vida. A nova fase inclui voltar mais à leitura e, quem sabe, à escrita (seu último romance, “Querida”, é de 2009), mesmo que não publique nada. Lygia, que ainda escreve à mão, em cadernos, e só passa para o computador quando percebe que a obra está pronta, lembra que já jogou muita coisa fora. E embora ainda seja homenageada de muitas formas — amanhã, por exemplo, será exibido no 10º Festival de Cinema Infantil, às 18h30m, no Cinemark Plaza, em Niterói, o filme “Corda bamba”, baseado no livro de Lygia e dirigido por Eduardo Goldenstein, com estreia prevista para outubro —, ela insiste em repetir que ainda não criou um livro “realmente bom”.

— Tive muita sorte, e não se pode desprezar isso. Mas o bom livro que eu imaginei fazer não consegui. Não acho que cheguei lá.

Para Lygia, isso abrange não apenas seus romances e pequenos ensaios pessoais como também sua mais que celebrada literatura para crianças, apesar de já não escrever para esse público há bastante tempo.

— Escrevi apenas meus primeiros livros pensando em crianças. O rótulo de literatura infantojuvenil é meio limitador, mas o tempo está apagando isso. Nada contra, sou muito grata a tudo o que essa literatura me proporcionou. Então, acho que se escrevi algo que fale de maneira verdadeira, já está bom.


Caderno de Literatura / Jornal O Globo

Você já está sabendo ? - A greve dos cem dias


RIO – Os professores das universidades federais enfrentam a maior greve em 11 anos, deflagrada há 98 dias. Das 59 instituições, 53 estão paradas. Desde 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, uma paralisação dos docentes não atinge tantas universidades por tanto tempo. Separados por mais de uma década, os dois movimentos só têm a longevidade em comum. No passado, os principais motores do movimento eram o arrocho salarial e falta de investimento nas universidades. Agora, a luta é por um novo plano de carreira e por melhores condições de ensino, principalmente nas novas unidades criadas a partir de 2007, dentro do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).
As vagas oferecidas mais que dobraram, e o número de municípios atendidos por universidades ou institutos federais pulou de 114, em 2003, para 237, em 2011. A oferta cresceu, e os problemas acompanharam. Espalham-se pelo país instalações provisórias em contêineres, e faltam laboratórios e material para aulas. Ao mesmo tempo, os professores são uma das poucas carreiras do serviço público que não foram reestruturadas durante o governo Lula.
….
— As condições de trabalho com o Reuni, em 2007, pioraram muito, porque a contratação de professores não ocorreu no mesmo ritmo da expansão. Houve uma precarização do trabalho docente, há locais onde os professores dividem a mesma sala de aula, não têm laboratórios para desenvolver pesquisas. Sobre esse ponto, o Ministério da Educação (MEC) nem marcou uma mesa de negociação. O governo quer acabar com a greve vencendo pelo cansaço — critica Marinalva Oliveira, presidente do Sindicato Nacional dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior (Andes).
O governo é duro na negociação e fechou um acordo com o ProIfes (Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior), que representa apenas oito associações de docentes. Pelo texto, os professores receberiam reajustes que variam entre 25% e 40%, parcelados até 2015. Contudo, o aumento tem como salário-base os vencimentos de 2010, e a proposta não considera a inflação.
Para o Andes, haverá perdas salariais, já que o Índice de Custo de Vida (ICV) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) prevê uma elevação de 35,5% no período. Além disso, o aumento mais robusto seria dado aos professores titulares, que são minoria. Já o presidente do ProIfes, Eduardo Rolim de Oliveira, defende o acerto com o governo e alega que foi “a melhor proposta recebida” entre todas as categorias. Para ele, o contexto atual é muito diferente do de 11 anos atrás.
— Antes vivíamos um período de arrocho salarial fortíssimo. De julho de 2010 para cá, temos o melhor salário que já tivemos, está bem menos defasado — diz.
Na quinta-feira, o Andes deu sua última cartada ao fazer uma contraproposta que pede apenas a reestruturação da carreira. Qualquer mudança desse tipo deve ser encaminhada até a próxima sexta-feira para valer a partir de 2013, e o governo não parece disposto a voltar às conversas.
Com a mesa de negociação encerrada pelo MEC e a oposição entre os dois sindicatos, houve uma radicalização do movimento. Mesmo em universidades controladas pelo ProIfes, há casos em que os professores decidiram continuar a paralisação. Assembleias lotadas e votações acirradas colocaram em rota de colisão diferentes visões sobre a luta dos docentes e o próprio modelo de carreira dos professores.
Na UFRJ, estudantes e professores favoráveis à greve chegaram a fechar a entrada do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Centro, para impedir que as aulas do curso de História fossem retomadas. O professor e historiador Francisco Carlos Teixeira classificou a atitude de “desrespeito”. Para ele, as propostas defendidas pelo sindicato não o representam, assim como diversos outros professores.
— O discurso sindical é de isonomia na carreira, iguala mérito e tempo de serviço. Mas aqui não é o lugar da isonomia. A universidade é um espaço garantido para o mérito e a produtividade. Precisa-se muito de inovação e tecnologia, e um lugar onde as pessoas progridem por tempo de serviço é um desestímulo total.
O professor da Faculdade de Educação da UFRJ, Marcio Costa, também contrário à greve, vai além. Ele diz que é necessário repensar o financiamento e a estabilidade no emprego.
— Sou contra esse modelo de estabilidade no emprego que nós temos, contra um plano de carreira nacional. Isso é um freio para a universidade. Há uma fantasia de se achar que todas as universidades federais no Brasil podem ser de ponta, mas em nenhum lugar do mundo é assim. O orçamento também não devia ser todo de recursos públicos. Quem pode deveria pagar — defende Costa.
Na proposta de carreira do MEC, estão previstas avaliações dos docentes para que haja progressão, e não apenas o tempo de serviço como deseja o Andes. As regras serão definidas por um grupo de trabalho que ainda será nomeado. Para Marinalva, o plano do sindicato torna a carreira mais atrativa para jovens doutores.
— Hoje, dois professores com a mesma função tem uma valorização diferente. Por isso queremos que a passagem entre os níveis tenha o mesmo percentual e a gratificação por titulação seja incorporada ao salário. Hoje, a carreira não atrai os mais jovens. É preciso que, quando ele entrar, saiba onde pode chegar — afirma a presidente do Andes.

Crônica do Dia - Futuro reprovado

O Brasil foi reprovado no vestibular para o futuro. Porque o futuro tem a cara de sua escola no presente.
Nas últimas séries do nosso Ensino Fundamental, as escolas públicas, onde estuda a maior parte de nossos alunos, a média do IDEB –Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - foi de 3,9. As escolas particulares foram aprovadas, mas com a sofrível nota 6. A média ponderada pelo número de alunos é de 4,1, envolvendo 1,8 milhões de alunos nas particulares, com a média 6,0, e 12,4 milhões de alunos, nas públicas, com média 3,9.
No Ensino Médio, a média ponderada, incluindo as particulares é de 3,7.
Além da reprovação geral, o IDEB mostra que o Brasil é dividido pela desigualdade na educação dos filhos dos pobres e dos filhos das classes médias e altas.
Na mesma semana, o Jornal Nacional da Rede Globo mostrou a situação de nossas escolas, passando a sensação de que assistíamos a notícias de um terremoto, que está a devastar nosso futuro.
Outro programa, o “CQC”, da Rede Band, mostrou escolas em uma cidade do Piauí, certamente piores do que as piores do Mundo. Foi possível ver o futuro. E não pareceu bonito.
Apesar disso, o MEC comemorou os resultados e ainda divulgou nota à imprensa, no dia 14 de agosto, dizendo que “O Brasil tem motivos a comemorar”.
O Ministro está no cargo há apenas oito meses e não tem culpa por este desempenho, mas deveria reconhecer a tragédia, a vergonha e convencer a presidenta da República a fazer pela educação o esforço que vem fazendo na economia.
A presidenta precisa entender a gravidade da falta de infraestrutura educacional, ainda maior do que foi a falta de infraestrutura física, e convocar todo o País a se empenhar por uma urgente Revolução na Educação de Base.
Enquanto o Brasil traça meta para o IDEB alcançar a nota 6,0, em 2021, a China está programando voo tripulado à Lua, antes de 2020.
Análise mais cuidadosa mostra que, na média, as escolas públicas federais se saem melhor do que as particulares. A melhor nota, 8,6, foi obtida por duas escolas particulares: Escola Santa Rita de Cássia e Escola Carmélia Dramis Malaguti conseguiram o primeiro lugar com nota 8,6. Logo em seguida uma pública federal; o Colégio de Aplicação da UFPE teve nota 8,1; e a média das públicas federais do Ensino Fundamental (6,3) foi superior a das escolas particulares (6,0).
Isso mostra que o caminho para fazer a revolução educacional que o Brasil precisa passa pela ampliação da presença federal na Educação Básica. A Federalização exige um Ministério para cuidar apenas da Educação Básica; a implantação de uma Carreira Federal para os professores; e a responsabilidade da União sobre a qualidade de cada escola, todas em horário integral. Isso pode ser feito por cidade, chegando a todo o Brasil no prazo de 20 anos.
Isto pode ser feito. Até porque o futuro tem a cara de sua escola no presente. E a cara de nossas escolas mostra um futuro reprovado.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF



Crônica do Dia - Planos de Saude : Lei neles! Leda Nagle

Rio -  Eu gostei quando as operadoras de celular receberam um castigo do governo. Aliás, merecido castigo. Não sei se o susto vai fazer com que elas melhorem seu serviço, nem se elas vão aprender com a punição. A operadora que eu uso nem foi punida, mas deveria. A cada dia que passa fica pior. Ontem, por exemplo, de cada torpedo que você mandava ela multiplicava a mensagem e a pessoa para a qual sua única mensagem deveria ser enviada, recebia quatro vezes seguida o mesmo texto . E fica tudo por isto mesmo. E a gente fica sem saber se pagou por uma mensagem só ou por várias e até mesmo se outra mensagem que você mandou foi realmente enviada. Comentando com amigos, descobri que pode ser pior. Uma mensagem mandada de manhã pode chegar na madrugada seguinte, assustando o pobre consumidor e prejudicando a comunicação. E de novo fica tudo por isto mesmo . E quando a ligação cai, uma , duas ou mais vezes, num mesmo telefonema, e você é obrigada a ligar repetidas vezes, na tentativa de terminar o assunto começado? Suspeita-se que seja de propósito, para que o consumidor pague mais por sua conversa. Como é difícil a vida do consumidor. Como a prestação de serviço ainda é uma pedra no sapato da gente. Como ainda temos que caminhar, reclamar, gritar e ficar no vácuo para ser bem atendido ou, pelo menos, para receber o serviço pelo qual se pagou ou se paga no país inteiro. O consumidor melhorou nos últimos anos, passou a reclamar mais, os Procons do país estão abarrotados de reclamações e de busca de soluções, mas as empresas, de modo geral, ainda não acordaram para os problemas que geram, sem querer ou querendo. O Código de Defesa do Consumidor já é maior de idade e ainda não é cumprido como deveria ser. Ainda é preciso perder muito tempo, se aborrecer, se estressar para ter, ou tentar ter, seu direito respeitado. Nem sempre dá certo. É assim com a TV a cabo, com os bancos, ou quando você compra um eletrodoméstico, tem direito a instalação grátis, agenda na empresa e quando o técnico chega na sua casa quer um dinheiro por fora, para fazer a tal instalação. Você vai ao médico, ele pede um exame, você tem plano de saúde e liga para marcar o tal procedimento, fica horas ouvindo musiquinha e quando consegue ser atendido o exame só pode ser marcado para o ano que vem. A agência reguladora já definiu prazos, os planos de saúde sabem disto, mas não respeitam. O que fazer? Reclamar. Mas se você for reclamar de tudo não vai ter tempo de trabalhar para pagar o plano. Quer saber? Estou torcendo para o governo dar um bom castigo nestes planos de saúde. A hora é deles.

Jornal O Dia

Crônica do Dia - A exceção e a regra - Ferreira Gullar




Existe um presidente da República, em pleno exercício do mandato, que doa 90% de seu salário




Falando francamente, confesso a você que já quase perco a esperança no Brasil. Basta ouvir o noticiário de televisão ou ler o jornal. É que a corrupção tomou conta do aparelho de Estado de tal modo que até parece não ter mais volta.
Não se trata apenas do roubo puro e simples, da apropriação de recursos públicos que são desviados para a caixa dos partidos e para o bolso dos políticos. É também o uso da máquina -dos mútuos favores e das leis- para benefício dos ocupantes de altos cargos nos diferentes setores do poder. Sem qualquer escrúpulo, a casta que se apropriou do país atribui-se a si mesma altos salários, vantagens e privilégios que envergonhariam qualquer um.
São salários que a maioria dos trabalhadores brasileiros jamais ganhará, mesmo que trabalhe 20, 30 anos. E o pior é que grande parte daquela gente simplesmente não trabalha. Muitos recebem como funcionários públicos para prestar serviço na casa ou na firma do parlamentar que os apadrinha.
E você se pergunta: como pôr fim a isso? E logo vê que é muito difícil, senão impossível, uma vez que toda essa safadeza está amparada em leis e dispositivos que eles próprios inventaram e aprovaram.
Para mudar essas leis, seria preciso elegermos legisladores totalmente desvinculados dessa casta corrupta. Mas como, se ela domina toda a máquina do Estado e os partidos? Os que a isso se opõem -e os há!- continuarão minoria e pouco ou quase nada conseguirão fazer. Por isso, a cada dia, meu desânimo é maior.
Bem, era, porque inesperadamente me chegaram informações de que existe um presidente da República, em pleno exercício do mandato, que doa 90% de seu salário à sociedade. Devem imaginar meu espanto ao saber disso. Mas ele existe, sim, chama-se José Mujica e é presidente da República do Uruguai.
De nome, já o conhecia e me lembro de quando foi eleito em 2009, em substituição a Tabaré Vázquez, político de esquerda como ele. Admito que, ao saber dele, temi que fosse outro exemplo do neopopulismo em que a esquerda latino-americana se transformara.
Enganei-me redondamente e só me dei conta disso agora, ao receber essa notícia escandalosa de que é ele o presidente da República que não só não rouba nem deixa roubar como entrega quase todo o salário que recebe a instituições que ajudam aos pobres. Estava eu, portanto, longe de imaginar que José Mujica fosse o exemplo de homem público que ele é, com um grau de desprendimento e consciência social como dificilmente se encontra hoje em dia. De minha parte, posso dizer que não conheço nenhum.
José Mujica tem uma longa história. Foi guerrilheiro naqueles anos em que muita gente perdeu a lucidez política e entrou nessa errada.
Ele, como outros, inclusive nossa Dilma, por força das circunstâncias, teve que abrir mão do radicalismo ideológico e aderir à normalidade institucional democrática. Elegeu-se deputado, depois senador e, durante o governo de Tabaré Vázquez, foi ministro da Granadería. Talvez algo do radicalismo guerrilheiro ainda persista em alguma de suas atitudes, como negar-se a residir no palácio presidencial após tomar posse na chefia do governo.
Mas pode ser mesmo que prefira morar em sua pequena fazenda nos arredores de Montevidéu. Para quem não gosta de pompa, a própria casa é sempre mais acolhedora.
A verdade é que, muito embora já tenha exercido mandatos e ocupado cargos no governo, não enriqueceu, já que, além dessa pequena fazenda, tudo o mais que possui é um fusca azul celeste, que não deve valer no mercado mais que R$ 3.000.
Sua mulher, a senadora Lucía Topolansky, também doa quase todo o salário a entidade sociais. A possibilidade de que isso não passe de uma atitude demagógica parece-me descabida, já que ambos se declaram em fim de carreira.
Se saber da existência de um tal político me deu ânimo novo, não significa que basta ser solidário e generoso com os mais pobres para fazer bom governo e resolver os problemas do país. Problemas esses que, a cada dia, se tornam mais difíceis de resolver. No entanto, para nós brasileiros, que vemos nosso país tomado por políticos corruptos, o exemplo de Mujica causa inveja.
AMANHÃ NA ILUSTRADA:
Luiz Felipe Ponde

Você concorda ? - Dia do Estudante: como está a qualidade dos nossos alunos ?




Antigamente, o meio de comunicação mais tradicional para se manter informado era a mídia impressa, principalmente o jornal. Como a venda era diária, as pessoas que não comprassem o jornal todos os dias não teriam acesso aos acontecimentos posteriormente e, consequentemente, saberiam menos. Se olharmos para trás é possível fazer uma breve avaliação, comparar e perceber como as gerações e os avanços tecnológicos respondem pelo conhecimento que cada um possui hoje.
Se olharmos a forma como nossos pais e avós estudaram, como o aprendizado era passado de professor para aluno, de que maneira as leituras obrigatórias eram feitas, como os trabalhos deveriam ser elaborados e entregues, além das avaliações periódicas que passavam e a forma como os alunos daquela época buscavam as informações, chegaremos a uma conclusão: eles procuravam pelo conhecimento e fixavam os conteúdos aprendidos em sala de aula com mais qualidade.
Já parou para pensar que é comum pais e avós terem respostas rápidas sobre acontecimentos e datas históricas, cultura e conhecimentos gerais, fatos marcantes de suas gerações, assim como informações básicas do nosso dia a dia? Um exemplo simples e rápido? Por que é feriado no dia 02 de novembro? O que esta data representa? E por que Tiradentes também é o responsável por um feriado em abril? Certamente, a geração deles sabe o que é, como é e porque é.
O que distancia e diferencia o conhecimento da atual geração (tecnológica e digital) com a geração de nossos pais e avós (revolução industrial – 1930 em diante) é a busca pelo conhecimento e a forma como estas gerações fizeram isso. De um lado temos a limitação tecnológica, que permitiu a realização de pesquisas, leituras aprofundadas de jornais, enciclopédias e livros, uma vez que ainda não havia acesso a Internet, e de outro, temos a tecnologia, a web, os mecanismos de buscas, os smartphones, os computadores, notebooks e tablets. Os estudantes de hoje têm aquilo que eles chamavam de “futuro”.
Nos dias de hoje, a Internet permite ter acesso de forma instantânea a qualquer tipo de assunto de qualquer data e lugar do mundo em segundos. Sabendo dessa facilidade, observamos estudantes um tanto quanto acomodados pela busca do conhecimento, o que reflete na qualidade dos alunos.
Apesar do avanço nas formas de ensino, podemos notar certa carência na educação de nosso país. Mesmo com uma ferramenta capaz de promover conhecimento, percebemos que a Internet desperta pouco o interesse dos estudantes para fins de aprendizado e pesquisa, sejam eles de escola pública ou particular, com pouco ou muito acesso a tecnologia.
É notório que temos um grande facilitador disponível para escolas, alunos, prefeituras, governos, municípios e secretarias de educação, porém, ainda falta conhecimento dos próprios governantes, educadores e empresários em como utilizar estas novas tecnologias a favor desta também nova geração, além de como estabelecer um programa de incentivo ao conhecimento. Falta de estímulo a programas educacionais com abrangência em temas atuais fazem a diferença, desde que falem a linguagem do jovem!
Uma forma dinâmica de conquistar e conhecer o perfil destes estudantes é utilizando a tecnologia e a Internet, que já são realidades. Por ela deve-se buscar programas de incentivo ao conhecimento, preferencialmente conhecendo e contemplando os estudantes. Cada escola tem e busca seu método de ensino, porém, já é possível investir em artifícios que instiguem os estudantes a buscar conhecimento de uma forma rápida, com incentivo direto mediante as premiações.
*Varlei Ramos é idealizador e diretor do Projeto PIC 10 – Programa de Incentivo ao Conhecimento, lançado recentemente no mercado brasileiro de educação, com o objetivo de estimular conhecimentos gerais em estudantes e premiar os que obtiverem as melhores pontuações com prêmios como tablets, computadores, TVs e smartphones. www.pic10.com.br

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Crônica do Dia - O mal contra o mal na novela das 9 - Eugenio Bucci


O que mais vem chamando a atenção dos adoradores da novela das 9, Avenida Brasil, é que a vilã é uma troglodita, e a mocinha é pior ainda. Nenhuma é boazinha. No festival de maldades apoteóticas que virou obsessão nacional, não existe a princesinha de porcelana, inocente e indefesa. Carminha (Adriana Esteves), que até aqui respondeu pelo papel de bandida oficial, até sabe fazer beicinho, como se fosse uma donzela da extinta Jovem Guarda, mas sua candura, quando aflora, é puro fingimento. No polo oposto, Nina (Débora Falabella), que seria a mocinha, guarda uma bruxa má e ressentida dentro de sua formosura adolescente. Tem os braços finos de garota rica e os olhos flamejantes de dragão, olhos que são uma janela para o inferno.
Mas... e o bem? Onde foi parar o bem? No duelo do mal contra o mal, irrompe essa pergunta aflita. No universo das novelas, é uma interrogação incomum – e muito corajosa.
Aí está o sentido profundo do engenhoso suspense criado por João Emanuel Carneiro. O bem evaporou. Qual será a referência moral agora? Avenida Brasil é um melodrama escarrado, como todas as novelas anteriores, mas é, ao mesmo tempo, um melodrama diferente. É melodrama porque os elementos melodramáticos estão todos lá: o casalzinho que enfrenta descaminhos antes de consumar seu desejo, a criança injustiçada que cresceu e quer vingança, o moço bonito que não sabe quem é seu pai de verdade, a pobre que fica rica, a rica que fica pobre, além da inveja, do ódio e do amor, o amor, o amor.
No mais, Avenida Brasil é diferente. Nela, não cabem as soluções moralistas. Uns são maus, e os outros também. Uns e outros são mensageiros da perfídia. Até mesmo Tufão, o raríssimo exemplar de bom caráter, é meio abobado e tem seu lado sombrio: atropelou e matou um homem, ainda que acidentalmente e, no início da história, fraquejou e traiu a noiva, ainda que lhe reste a desculpa de que só agiu mal por ter caído na armadilha de Carminha.
Uns roubam, outros premeditam as agressões mais vis, e há os que escondem crimes, próprios e alheios, num ambiente em que toda fidelidade será castigada. Ao menos por enquanto, Avenida Brasil não trabalha com a ideia de pureza e não alimenta esperança na virtude. E, se não há virtude, se o mal é convocado a lutar contra o mal, existirá um happy end em que o bem possa finalmente vencer?
O potente sucesso do atual novelão das 9 pode ter a ver com essa pergunta. Além dos bons atores, quase de praxe, dos novos enquadramentos, dos diálogos que finalmente trazem alguma espontaneidade, Avenida Brasil reflete dúvidas morais que tocam a alma brasileira do nosso tempo. Esse talvez seja o ponto central. Muito se falou que a novela tinha acertado ao pôr a classe C como protagonista, mas isso já foi tentado antes – e só isso não explica o êxito. Se a trama das 9 nos magnetizou é porque soube perguntar no tom exato, com os personagens certos: a virtude é factível nessa grande avenida chamada Brasil?
Desde muito tempo, a novela das 8 (que hoje vai ao ar às 9) tem sido a grande metáfora do país. Desta vez, a metáfora ficou mais explícita, a começar do nome: Avenida Brasil. Segundo a radiografia chocante que essa metáfora nos apresenta de nós mesmos, somos um país que perdeu a inocência e teve de amadurecer no desencanto, pondo em xeque todos os idealismos.

A pergunta sobre a existência da virtude está, para nós, na ordem do dia. Pensemos um pouco sobre o desmoronamento de nossas esperanças mais recentes. Logo após o fim da ditadura militar, nosso eleitorado acolheu as promessas de um salvador da pátria, um “caçador de marajás”, que fazia poses de príncipe anabolizado em cima de um cavalo branco (ou de uma motocicleta japonesa). Terminou em impeachment. Depois, os que derrubaram o salvador desmoralizado, que posavam de heróis, com aura de redentores, revelaram-se, eles também, um tanto malignos. Agora, estamos aí às voltas com o julgamento do mensalão, que evolui como novela misturada com reality show.
Não, não há mais lugar para redentores. O imaginário nacional parece mais adulto. Em lugar de buscar o paraíso na Terra, parece mais aberto a lidar com saídas realistas, humanas e dignas. Já não aposta tanto no herói incorruptível – e vai descobrindo o valor de instituições sólidas, ainda que operadas por homens e mulheres imperfeitos.
Na novela é fácil: o amor (sempre ele) acaba dando jeito nas misérias. Quanto ao Brasil de verdade, é mais difícil. Não perca os próximos capítulos da nossa história real.

Revista Época

É bom saber - O Brasil ainda não aprendeu

Na Escola Municipal Princesa Isabel, em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, os alunos do 6° ano não têm um professor por disciplina, como acontece com seus colegas no resto do país. As disciplinas foram divididas em áreas do conhecimento e há apenas um professor para exatas e outro para humanas. Até chegarem ao 9° ano, esses estudantes passarão mais tempo na escola. São sete horas de aulas diárias, num único turno, além de receberem reforço escolar para ajustar eventuais defasagens de aprendizagem que tenham trazido da primeira etapa dos anos iniciais. Com outras 18 escolas, a Princesa Isabel faz parte de um programa de ensino da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro criado especialmente para uma etapa esquecida do ensino fundamental: seus quatro anos finais (6° ao 9° ano). “Percebemos que a guinada no aprendizado em toda a rede só aconteceria de verdade se olhássemos para todos os anos do ensino fundamental, não apenas para os iniciais”, diz Claudia Costin, secretária municipal do Rio. “E que os anos finais precisam de planejamento especial.”

Pode-se chegar a essa mesma conclusão analisando os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados pelo Ministério da Educação na semana passada. O Ideb mede a qualidade das redes pública e particular de todo o país, em três etapas do ensino básico: 1° ao 5° ano; 6° ao 9° ano e ensino médio. O índice é calculado desde 2005, a cada dois anos, com base nas notas da Prova Brasil (que avalia habilidades e competências dos alunos em leitura e matemática) e na taxa de aprovação. Em média, a rede pública brasileira atingiu as metas estabelecidas pelo Ministério da Educação em todas as etapas. O resultado mais comemorado ocorreu nos anos iniciais. Quase 78% dos municípios superaram suas metas de desempenho nessa etapa. Entre 2005 e 2011, o Ideb passou de 3,6 para 4,4 pontos (numa escala de 0 a 10), superando a meta de 2017. É uma expectativa baixa. A meta oficial é chegar em 2021 à média nacional de 6 pontos, o mínimo dos países desenvolvidos hoje.

O desempenho foi pior nos anos finais do ensino fundamental. Apesar de a meta nacional ter sido cumprida, apenas 62% dos municípios chegaram lá. E seis Estados (Roraima, Pará, Amapá, Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Sul) não conseguiram. “A melhora nos anos finais perde o embalo”, diz Ruben Klein, especialista em avaliações educacionais da Cesgranrio.

O cenário fica ainda pior se for levada em conta a única meta que importa: aprender. Isso é medido pela Prova Brasil. As notas de leitura e matemática mostram que as redes públicas não conseguem manter, nos anos finais, a melhoria de aprendizado conquistada nos anos iniciais. Paula Lozano, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, analisou essas notas desde 2005. Nos anos iniciais do ensino fundamental, de novo, o resultado é positivo. O estudante que se formou no 5° ano em 2011 está mais preparado que o aluno que terminou o 5° ano em 2005, quando a prova foi aplicada pela primeira vez. Esse aluno está um ano letivo e meio na frente do colega que concluiu o mesmo nível de ensino seis anos antes.

O desequilíbrio do ensino fundamental não é casual. Os alunos menores tendem a melhorar mais rapidamente porque não carregam problemas de defasagem no aprendizado como seus colegas mais velhos. Foi uma decisão dos gestores da educação brasileira dar ênfase a essa fase. Em 2007, o governo federal pressionou os municípios – os grandes responsáveis pela gestão dos anos iniciais – a melhorar suas redes ao condicionar os repasses de verbas federais a avanços obtidos. Tinha-se a ideia de que, melhorando os alunos menores, eles “contaminariam” positivamente a rede à medida que avançassem para as séries seguintes.
Mas isso não aconteceu, porque a escola não se preparou para receber esses “bons alunos” nos anos finais. “É uma etapa invisível, que ficou fora do radar dos gestores e das políticas públicas”, afirma Priscila Cruz, diretora do Movimento Todos Pela Educação. Em parte, essa invisibilidade veio da divisão entre Estados e municípios da responsabilidade pelo ensino fundamental final. Do mesmo modo que os municípios estão mais preocupados com os primeiros anos, os Estados dão mais atenção ao ensino médio (97% das matrículas estão na rede estadual). E nenhum dos dois faz questão de investir no período do 6° ao 9°ano. “Não adianta achar que ganharemos medalha na educação como numa corrida de revezamento, com uma etapa passando o bastão para a outra”, diz Priscila. “A melhora tem de ser planejada para todas. A dinâmica é mais parecida com a de um time de vôlei.”

Carregar o bastão nos anos finais do fundamental requer habilidades específicas das escolas. A mudança do 5° para o 6° ano é naturalmente complicada. Os alunos deixam de ter atenção de apenas um professor para lidar com um para cada disciplina, que entram na sala a cada 50 minutos. O volume de conteúdo aumenta. Muda o jeito de estudar. O choque é tão grande que os picos das taxas de reprovação e de abandono explodem no 6° ano. Em alguns dos sistemas mais eficientes do mundo, essa passagem é cuidadosamente amenizada. Na Finlândia, o professor especialista entra só no 8° ano. Em Cuba, os especialistas dão aulas apenas de inglês, artes e educação física.
ganhos e perdas (Foto: MEC/Inep)
Não aumentar o número de professores em sala de aula tão cedo é a principal característica do projeto da rede municipal do Rio de Janeiro, que treinou os seus para dar aulas de outras áreas. O professor de matemática também dá aula de biologia. O de português ensina história. O projeto começou em fevereiro de 2011. Faz parte de um programa maior, o Ginásio Carioca, criado em 2010, que também inclui apostilas feitas pelos professores. O resultado já apareceu na última edição do Ideb. Das dez melhores escolas do Rio de Janeiro, quatro fazem parte do programa. No ranking dos anos finais, o Rio pulou da sexta colocação do Ideb para o quarto lugar.
Foi o maior avanço (22%) entre as dez capitais mais bem colocadas.

Criar programas específicos para os anos finais é crucial não só para garantir a continuidade dos melhores alunos que chegam do 5° ano, mas também para melhorar o nível dos que seguem para o ensino médio. Ele recebe e acumula, nos últimos três anos da educação básica, todas as defasagens geradas ao longo do ensino fundamental. Soma-se a isso um currículo inchado, com 13 disciplinas obrigatórias, professores que não têm competência adequada para ensinar os conteúdos e o jurássico curso noturno. Em 2011, apesar de o resultado nacional ter chegado à meta, de 3,7 pontos, houve regressão em nove Estados e no Distrito Federal. Ao anunciar o resultado do Ideb, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou que é preciso intervir no ensino médio e, dois dias depois, divulgou que o currículo será encurtado. É um sinal de que algo pode mudar, para melhor. Espera-se que outras medidas sejam tomadas para os anos finais do ensino fundamental, para que nenhum esforço – e principalmente nenhum estudante – seja perdido no meio do caminho.

É bom saber - Como montar seu prato

Houve um tempo em que, se alguém dizia que uma comida era boa, queria dizer que sentia prazer na refeição. Hoje, quando alguém fala em comida boa, em geral quer dizer que faz bem à saúde. Parece que, depois de 2.500 anos, finalmente estamos prestando atenção ao que o grego Hipócrates, pai da medicina, pregava: “Faça do seu alimento seu remédio”. E tome alho para resfriado, abacate para a pele, feijão para controlar o nível de ferro... Se você é dessas pessoas (e quem não é?) que vivem prestando atenção aos efeitos dos alimentos que consomem, prepare-se: a lista acaba de crescer. Segundo estudos recentes em culinária e saúde, os alimentos não têm efeito isolado. Eles agem em conjunto. Ingerir dois ingredientes juntos surte efeitos diferentes de consumi-los em separado. Isso porque, em seu corpo, eles interagem. No pior dos casos, fazem você passar mal. No melhor, facilitam a absorção de seus nutrientes e podem ajudar no tratamento de doenças como alergias, insônias e até alguns tipos de câncer. Antes, para comer bem, bastava procurar alimentos saudáveis, como frutas, verduras, legumes, cereais integrais e carnes com pouca gordura. De preferência, de boa procedência. Agora, os pesquisadores de alimentos afirmam que é preciso pensar em como combinar esses ingredientes.


744 alimentação imagem 1 v2 (Foto: Epoca)

Vem daí a nova moda no mundo da culinária saudável: o poder da combinação dos alimentos. De acordo com ela, comer dois ingredientes cria reações superpoderosas. “Ao somarmos um mais um podemos obter quatro. O total é maior que a soma das partes individuais”, diz Elaine Magee, nutricionista da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e autora de 25 livros sobre nutrição, incluindo o Food sinergy (Sinergia da comida). “Está provado que alguns componentes produzem grandes resultados quando consumidos juntos.” Essas combinações podem ser feitas em nossa casa. Uma série de estudos mostra que ampliar a potência de um nutriente é simples. A maior parte usa alimentos comuns à mesa do brasileiro, como alface, rúcula, tomate, laranja, ovos e peixes. As combinações são especialmente valiosas para quem precisa repor algum tipo de nutriente ou usar a alimentação como forma de reforçar terapias.
A importância da combinação entre alimentos voltou a ganhar força nos últimos anos com o aumento do número de estudos. “A eficácia de certas combinações é comprovada”, afirma Steven Schwartz, pesquisador de ciência dos alimentos na Universidade de Ohio. “Um exemplo é a união do tomate ou da cenoura com a gordura presente em comidas como o abacate. Quando consumidos juntos, esses alimentos reduzem a ação das substâncias chamadas radicais livres, que aceleram o envelhecimento das células.” Diferentemente de outras dietas famosas, que ainda levantam polêmica sobre sua eficácia para a saúde, a sinergia entre alimentos é apoiada por diferentes linhas de pesquisa. Médicos e nutricionistas concordam que, em muitos casos, comer dois nutrientes numa mesma refeição aumenta o aproveitamento de um deles. “Alguns alimentos precisam necessariamente de outros para ser absorvidos”, diz Renata Cintra, professora do instituto de biociências da Unifesp.
A ciência da combinação dos alimentos começa a chegar às mesas de restaurantes. Foi criado nos Estados Unidos, no fim do ano passado, um selo para cozinhas que investem em misturas saudáveis, o SPE, abreviação do latim Sanitas per escam (algo como “saúde por meio da comida”). Seu criador, o belga Emmanuel Verstraeten, pesquisou durante dez anos combinações de alimentos na cozinha de seu restaurante, o Rouge Tomate, em Bruxelas. Ao levar seu restaurante para Nova York, Emmanuel se uniu aos pesquisadores Eric Rimm, de Harvard, Jeffrey Blumberg, da Escola de Medicina de Tufts, e John Foreyt, da Escola de Medicina de Baylor, ambas nos EUA, para criar combinações que ajudem os nutrientes dos pratos e tenham menos gordura, sal e açúcar. Ele conseguiu montar um cardápio sem descuidar do sabor. Seu Rouge Tomate está entre os restaurantes recomendados pelo conceituado guia de gastronomia Michelin. De quebra, Emmanuel criou um novo negócio: presta consultoria para restaurantes que queiram ajustar seus menus às combinações propostas pelo selo. Ele cobra, em média, R$ 600 por prato. Nos EUA, mais seis restaurantes conseguiram o certificado, e outros 15 estão com o processo em andamento.



No restaurante The Living Room, em Nova York, um dos primeiros a aderir ao SPE, o frango assado passou por modificações para conseguir o certificado. A manteiga foi trocada por uma quantidade reduzida de óleo, que deve permanecer no prato para auxiliar a absorção da vitamina A. As batatas assadas com a casca são ricas em fibra e em vitamina C. Entraram no lugar do purê de batatas. A couve-de-bruxelas deu lugar às folhas de dente-de-leão, fonte de minerais como potássio e cálcio e das vitaminas A, B6 e C. O resultado foi uma diminuição em 39% das calorias totais, e o prato passou a ter 25% do total de vitaminas e minerais recomendados durante um dia. “Já seguíamos essa filosofia da comida saudável, mas o certificado legitimará isso”, afirma James Carpenter, chef do The Living Room.
No Brasil, ainda não existe iniciativa parecida com o SPE. A última tentativa de estimular a adoção de escolhas mais saudáveis nos restaurantes falhou. Em 2009, o Conselho de Nutricionistas de São Paulo criou um certificado para restaurantes com um nutricionista na equipe. “A maioria dos donos de restaurantes acha um custo desnecessário”, diz Maria Lúcia Tafuri Garcia, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição. O certificado foi abolido no ano passado.

Mas há restaurantes que cuidam da combinação de nutrientes. A chef Tatiana Cardoso, formada pela Natural Cookery School, em Nova York, é uma delas. “Pensar em combinar os nutrientes adequados é nutrição básica. Mas quase ninguém se lembra disso”, afirma. Tatiana comanda as cozinhas do Moinho de Pedra e do Natural com Arte, em São Paulo. O paulistano Renato Caleffi, chef do Le Manjue Bistrô, conta com a ajuda de um nutricionista para montar seus pratos. O arroz amazônico, um dos mais pedidos, mistura pirarucu em cubos grelhado com três tipos de arroz: cateto, vermelho e negro integral. Leva ainda pequi, espinafre, castanha-de-caju, salsa, tomate-cereja e azeite. O ferro do espinafre é absorvido com a ajuda da vitamina C da salsa; o licopeno do tomate, com o auxílio do azeite; e a gordura do pirarucu ajuda a diluir as vitaminas da castanha e do pequi. “A comida precisa ser pensada como uma forma de obter saúde”, diz Renato.
TERAPIA ALIMENTAR
Uma combinação campeã são alimentos ricos em gordura (como azeite, castanhas e abacate) com as fontes de vitaminas A (do agrião), E (do brócolis), D (do salmão) e K (da couve-flor). São ingredientes que muitas vezes andam juntos nas receitas do dia a dia. Além de gostosa, agora se sabe que a combinação também é boa para a saúde. “Essa mistura é eficaz porque essas vitaminas precisam ser dissolvidas na gordura para uma melhor absorção pelo intestino”, diz Linda Antinoro, nutricionista do hospital Brigham and Women’s, em Boston. Muitas dessas duplas de alimentos parecem eficazes no combate às células cancerígenas. Diferentes estudos sugerem que sua ingestão é aconselhável para quem trata algum tipo de câncer ou tenha predisposição à doença. A ingestão de um nutriente presente nas maçãs (a quercetina) aumenta a capacidade de outro encontrado nas framboesas (o antioxidante elágico) para destruir células cancerígenas. A combinação de uma substância presente no chá-verde (a catequina) com a vitamina C encontrada no suco de limão tem efeito similar. A vitamina C também pode fazer par com outra substância. Quando consumida com aveia ou cenoura (ricos em ácido fenólico), atua de forma mais rápida e eficaz para combater o colesterol ruim, que pode entupir as artérias (LDL). Isso é importante para pessoas com doenças coronárias ou histórico de derrames.
Um desses estudos, conduzido pela Universidade de Illinois e publicado na revista científica Cancer Research, trata dos benefícios da combinação de tomates e brócolis para quem tem câncer de próstata. Os cientistas de alimentos John Erdman e Kirstie Canene-Adams alimentaram ratos com células cancerígenas com uma dieta composta de 10% de tomate e 10% de brócolis. Outros ratos comeram esses alimentos separados, ou apenas suplementos com seus princípios ativos. Depois de 22 semanas, os ratos com dieta combinada de brócolis e tomate tinham os menores tumores. “Homens mais velhos com câncer de próstata que optaram por observar a evolução da doença antes da químio ou da radiação devem considerar seriamente a inclusão de mais brócolis e tomate em suas dietas”, afirma Kirstie. As pesquisas sobre combinações de alimentos consideram apenas os ingredientes naturais, não suplementos nem vitaminas em cápsulas. Os estudos do pesquisador David Jacob, da Universidade de Minnesota, mostram por quê. Ele afirma que a interação existe até mesmo dentro de um único ingrediente. “Cada alimento tem milhares de componentes. Eles são digeridos pelo corpo em sequências que ajudam na absorção dos nutrientes, ou para evitar componentes ruins”, diz. Como as nozes, ricas em propriedades antioxidantes que protegem contra as gorduras do próprio alimento.
A nutricionista Márcia Barletta, de 57 anos, se curou de uma diarreia crônica que persistia por dez anos com a ajuda de uma alimentação regrada e das combinações certas. Ela teve uma peritonite, infecção de uma membrana que reveste o abdome. Fez cirurgia e ficou 60 dias internada, tomando antibióticos. Quando recebeu alta, seu intestino não era mais o mesmo. “Tinha dores de barriga todos os dias. Mal acabava de comer e corria para o banheiro.” Márcia teve desnutrição e chegou a pesar 38 quilos. Foi quando procurou a ajuda de uma nutricionista funcional, especializada em tratamentos com alimentos. “Desenvolvi alergia ao glúten e à lactose”, diz. A alimentação de Márcia mudou. Sua fonte de cálcio passou a ser o suco de couve com alguma fruta ácida. A acidez da fruta aumenta a do estômago – e isso favorece a absorção dos minerais da couve. “Ela passou a comer mais frutas, legumes e cápsulas de lactobacilos, para recompor a flora intestinal”, diz a nutricionista Gisela Savioli, que tratou Márcia.
A melhora na dieta pode auxiliar na cura de outras doenças. A analista de sistemas Carla Adriana Nogueira Cirilo, de 39 anos, sentia dores por todo o corpo, tinha ínguas e foi diagnosticada com fibromialgia, um tipo de reumatismo caracterizado por dores generalizadas. Mesmo com o tratamento com um reumatologista, as dores persistiam. Carla procurou uma nutricionista para tratar outro problema, a intolerância à lactose, e acabou com as dores da fibromialgia. “É uma doença relacionada ao estado emocional do paciente. Essa mudança na alimentação e a solução para a intolerância podem ter tido um impacto nas dores”, diz Roberto Heymann, reumatologista da Universidade Federal de São Paulo. Carla passou a comer mandioca ou batata-doce e suco verde (couve com maçã) no café da manhã. As raízes são ingeridas com azeite ou óleo de coco, para que essa gordura segure o alimento por mais tempo no estômago e, dessa forma, a liberação da glicose seja mais lenta. No café da tarde, Carla toma sopa de abobrinha e come polpa de coco. A gordura do coco ajuda a absorver as vitaminas da sopa. Com o corpo nutrido da forma correta, Carla resolveu outro problema, a insônia. “Passei a ter sono às 21h30. A alimentação correta e nutritiva mudou minha vida”, diz.
Apesar do grande número de pesquisas acumulado nos últimos anos, há ainda algumas divergências em torno de algumas misturas específicas. É o caso das fontes de ferro, um nutriente importante para nosso metabolismo. Há duas fontes principais de ferro em nossa alimentação: as carnes vermelhas e os vegetais (legumes e verduras). O ferro da carne é abundante e facilmente absorvido por nosso organismo. O ferro que vem dos vegetais é mais difícil de ser aproveitado por nosso corpo. Isso é um desafio para quem mantém uma dieta estritamente vegetariana. Uma das soluções é misturar esses vegetais ricos em ferro com outros bem dotados de vitamina C. Um estudo da Universidade de Syracuse, em Nova York, mostrou que a vitamina C aumenta em 30% a absorção desse ferro. Ninguém discorda que essa combinação funciona. A polêmica gira em torno de alguns vegetais.
Segundo pesquisadores, o espinafre, apesar da concentração de ferro que inspirou o personagem Popeye, não pode ser considerado boa fonte desse nutriente. Tudo por causa de uma substância do próprio espinafre, chamada ácido oxálico. Ela dificulta a absorção do ferro por nosso organismo. Para alguns médicos e nutricionistas, o espinafre não é boa fonte de ferro, mesmo com a ajuda da vitamina C. De acordo com Anita Sachs, nutricionista do núcleo de medicina preventiva da Unifesp, comer espinafre pode atrapalhar até a absorção de ferro de outras fontes. “Para quem precisar de ferro, o melhor é recorrer às carnes”, afirma Anita. O ácido oxálico existe em outras fontes de ferro, como beterraba e feijão.
COMBINAÇÕES QUE EMPOBRECEM
Assim como as pesquisas descobriram combinações boas para o organismo, também detectaram algumas que devem ser evitadas. Consumir bebidas com cafeína com comidas gordurosas é uma delas. Estudos da Universidade de Guelph, Canadá, afirmam que os níveis de açúcar na corrente sanguínea, que disparam quando alguém ingere comidas gordurosas, dobram quando acompanhados de alguma bebida com alta dose de cafeína. Nos casos estudados na pesquisa, as taxas de açúcar no sangue de alguns aumentaram 65% após duas xícaras de café. As bebidas ricas em cafeína, como chás-pretos, também atrapalham na absorção do ferro dos vegetais. Outro cuidado importante para os vegetarianos: quem tem anemia provavelmente precisa cortar o café após as refeições. Pessoas com problemas específicos de saúde devem ter cuidados extras.
Há outras combinações suspeitas. Um composto ácido presente no vinho e no café (o tanino) reduz a absorção tanto do cálcio como do ferro. Outra substância (o ácido fítico) encontrada no tofu, na linhaça, no farelo de aveia e no milho tem interação semelhante e prejudica a absorção do cálcio, do ferro, do magnésio e do zinco.

O aposentado Horácio Falvela, de 65 anos, desenvolveu diabetes tipo 2 há dez anos. Parou de fumar, começou a praticar exercícios e, com a ajuda de uma nutricionista, descobriu que adicionar alimentos com fibras solúveis (das frutas secas, da aveia e do grão-de-bico) em todas as refeições auxilia no controle glicêmico. “Quando ingeridas com os carboidratos, que se tornarão glicose, as fibras solúveis retardam a absorção dessa glicose e reduzem a concentração do açúcar no sangue”, diz Celeste Elvira Viggiano, nutricionista da Sociedade Brasileira de Diabetes. “Minha glicemia, que sempre estava alta, agora está controlada”, afirma Horácio.
A combinação de nutrientes pode ser uma boa forma de multiplicar o efeito de substâncias indispensáveis para o corpo, como vitaminas, ferro ou cálcio. Mas não faz milagres. É preciso ter uma alimentação equilibrada e hábitos saudáveis. “Não adianta comer molho de tomate com azeite todos os dias para prevenir câncer de próstata se você continuar ingerindo muito açúcar, gordura e fumando”, afirma Nathaly Russo, nutricionista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “É preciso ter hábitos saudáveis para aproveitar os benefícios da alimentação.”


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