terça-feira, 31 de julho de 2012

Crônica do Dia - Talento diante de uma tela em branco - Artur Xexéo


Não é sempre que isso acontece em teatro. Mas tem acontecido, todas as noites, de quinta-feira a domingo,
no recém-inaugurado Teatro Geo, em São Paulo. No centro do palco, está uma tela em branco. De costas para a plateia, o pintor Mark Rothko e seu jovem assistente, Ken, com movimentos que seguem a trilha       sonora, preparam a base do que no futuro será uma obra do artista famoso, pintando a tela de vermelho. Rothko ocupa o espaço de cima, pincelando da esquerda para a direita; Ken, a de baixo, indo da direita para a esquerda. Quanto o trabalho é concluído, quando a tela está inteiramente vermelha, o público não resiste e aplaude. Em cena aberta. Como se fosse um número de circo, uma dupla de malabaristas que tivesse superado um movimento especialmente difícil. Mas era só uma cena bonita. Uma das muitas cenas bonitas de “Vermelho”, a peça de John Logan que faturou seis prêmios Tony quando estreou na Broadway há dois anos.

Tenho minhas suspeitas sobre o que faz a plateia aplaudir "Vermelho" em cena aberta. Numa comédia, é fácil o público demonstrar sua aprovação ao que está vendo. Suas gargalhadas confirmam que o espetáculo está no caminho certo. Num musical, o público é convidado a aplaudir praticamente cena por cena o que está sendo mostrado. A intensidade das palmas ou o nível das gargalhadas confirmam ou não o acerto da montagem teatral. “Vermelho” não é uma comédia nem um musical. É uma peça sobre o velho e o novo, sobre o moderno e o ultrapassado, sobre a relação de mestre e aprendiz, de pai e filho. É sobre arte. Ela existe apenas na força do texto, na força do diálogo entre Mark Rothko e seu assistente ficcional. O público não tem chance de, com sua reação, demonstrar que está aprovando. O aplauso em cena aberta é isso. É como se a plateia estivesse dizendo aos atores: “Vão em frente! Estamos gostando!”. E há muito o que
gostar em “Vemelho”.

“Vermelho” não é uma biografia de Mark Rothko, o pintor russo, naturalizado americano que, nascido com o século XX (1903) e tendo se suicidado em 1970, tornou-se um dos inventores do expressionismo abstrato. A peça é centrada num momento específico do artista. Em 1958, ele foi convidado para criar quatro painéis que seriam expostos, em Nova York, no então novo restaurante The Four Seasons. Pelo trabalho, ele ganharia US$ 35 mil, equivalentes hoje a US$ 2 milhões. Uma ninharia perto do que estão valendo atualmente seus trabalhos. Com o preço de US$ 86,9 milhões alcançado por uma de suas telas — “Orange, red, yellow”, de 1961 — em leilão este ano na Christie’s, Rothko transformou-se no artista contemporâneo mais caro do mundo. Mas era mesmo uma fortuna em 1958. E o artista ficou empolgado. Ele alugou um ginásio desativado da Associação Cristã de Moços e pôs-se a trabalhar. É neste ginásio que se desenrola a trama. O autor imaginou um jovem artista contratado por Rothko para ser seu assistente e é no diálogo entre os dois que se estabelece o conflito teatral. Não há referências à mulher do pintor ou à sua filha. Quase
nada sobre sua vida particular. Mas há muito sobre suas obsessões artísticas, como o livro “A origem da tragédia”, de Nietzche, ou a tela “Estúdio vermelho”, de Matisse.

O que importa em ”Vermelho“ é o conflito de gerações. Rothko orgulhava-se de sua arte ter “pisoteado” Picasso e o cubismo. Mas não reage bem quando Ken lhe mostra que, da mesma forma, Andy Warhol e a arte pop vêm “pisoteando” suas formas retangulares e sua luta por encontrar a harmonia — ou o desacer-
to? — entre as cores primárias.

Mark Rothko é interpretado por Antonio Fagundes. Não é um papel fácil. O pintor era conhecido por sua antipatia e autocentrismo. Meio dono da verdade. Fagundes entrega-se ao personagem sem tentar suavizá-lo para agradar ao público. É um trabalho de grande ator. Chega a mudar a postura de seu corpo para parecer mais barrigudo e menos simpático. É como se sobrasse naquele ser humano apenas a tragédia de ser artista. E sua transformação, do começo da peça, quando mostra-se até arrogante ao explicar sua arte, ao homem perplexo, quase humilde diante dos novos tempos, no fim do espetáculo, é merecedora de prêmios.



A versão brasileira, que Jorge Takla dirige com brilho além de criar um cenário deslumbrante, ganha novo significado ao escalar o filho do protagonista para interpretar o jovem assistente. Bruno Fagundes não tem que enfrentar apenas o gigantismo de Antonio Fagundes em cena. Tem que enfrentar o próprio pai. E ele se sai bem na tarefa.

Rothko trabalhou quase dois anos no projeto, concluiu três painéis e... desistiu da empreitada. Devolveu o dinheiro que tinha recebido como adiantamento. A primeira série de telas foi vendida individualmente. A segunda foi abandonada e, provavelmente, nunca tenha sido vendida. A terceira está na Tate Gallery, em Londres. Rothko nunca explicou direito o motivo de ter desistido do trabalho. A peça tenta explicar. E, quando o faz, cria ótimo teatro.

Jornal O Globo

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Te Contei, não ? - Marcas e heranças dos falares de Jorge

RIO - Em clave negativa, e historicamente inegável, pesam sobre Jorge Amado, homem e obra, dois fardos: de um lado o mito da baianidade festeira e sexualizada ao extremo, de suas Gabrielas e Tietas e seus respectivos garanhões, da malandragem determinista, da afamada preguiça, exageros que têm motivado as leituras mais equivocadas sobre o povo baiano; do outro, a pena vendida a um dos mais sanguinários ditadores do século XX, Stálin, para quem escreveu o livro, quase uma ode, “O mundo da paz”. Esta é a parte do legado a não ser seguida
Contudo, uma das maiores contribuições de Jorge Amado para mais de uma geração de escritores, direta ou indiretamente, é a linguagem despojada, próxima ao registro popular do falar baiano. Aponto isso como conquista estilística que se integrou ao acervo da língua literária escrita no Brasil. Se outros escritores, em suas respectivas regiões, a partir da década de 1930, sob a bandeira do regionalismo, seguiram o mesmo filão, Jorge Amado, por sua vez, consegue o feito de falar ao mundo a partir também do exotismo de uma localidade, e não circunscrevê-la somente.
Necessário apontar o ganho linguístico do romancista baiano porque é fácil negá-lo depois de ter sido alcançado, pois quantos não o utilizam crendo que tal feito nasceu por combustão espontânea, sem que ninguém num primeiro momento tenha se esforçado para realizá-lo. Ignorar esse mérito é ignorar o desenvolvimento da língua literária no Brasil no século XX. Do mesmo modo, muitos dos que escrevem hoje desdenham autores, para ficarmos nos poetas, como Tomás Antônio Gonzaga, Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Alphonsus de Guimaraens, por considerá-los, do alto de suas ignorâncias, ultrapassados. Por mais que maneje outros idiomas, a influência profunda que marca o estilo de um autor provém dos seus antecessores em sua própria língua. E não teríamos a complexidade da linguagem literária hoje sem o esforço e talento de toda uma tradição — pequena, é verdade, mas nossa.
Jorge Amado deu não apenas rosto, mas corpo romanesco à Bahia. Temos atualmente várias outras realidades passíveis de serem capturadas pela literatura. Mas aquele mundo por ele criado existe, com os seus personagens e tramas picarescas, sua malícia quantas vezes romantizada, mas também esclarecedora do nosso caráter. O candidato ou jovem escritor que desejar conhecer o retrato da Bahia no tempo terá impreterivelmente que ler o autor de “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água” — considerado por muitos a sua obra-prima.

João Filho é poeta e escritor baiano; participou de antologias como “Terriblemente felices”, “Nueva narrativa brasileña” e“Geração Zero Zero: Fricções em rede”

Te Contei, não ? - NO Brasil e no exterior, eventos lembram centenário

RIO - Jorge Amado saiu do interior da Bahia para ganhar o mundo, seja por meio da tradução de suas obras, do exílio ou do prazer em viajar. Natural que o centenário de seu nascimento extrapole as fronteiras do Brasil. E o escritor que teve seus livros adaptados para cinema, teatro e TV vai ter a data lembrada em exposições, filmes, peças e palestras. As comemorações se iniciam antes mesmo do dia 10, data em que ele completaria cem anos. Na terça-feira, a Academia Brasileira de Letras abre a mostra “Jorge Amado —100 anos”, que mostrará as primeiras edições dos livros do acadêmico, a cronologia de sua obra e painéis de fotos. Organizada pelo cineasta e acadêmico Nelson Pereira dos Santos, exibirá ainda todos os filmes, novelas e programas de TV adaptados de seus livros. Outras exposições estão programadas pelo país, como “Jorge, Amado e universal”, no MAM de Salvador, a partir do dia 10, e “Ilê Axé Opô Afonjá — O candomblé e Jorge Amado”, também em Salvador, em dezembro, na Fundação Casa de Jorge Amado.

Ilhéus será palco, de 4 a 12 de agosto, do projeto Amar Amado, com seminários, ciclos, festivais e shows de Caetano Veloso, Margareth Menezes e família Caymmi. Caetano se apresentará dia 10, cantando músicas que fazem referência a obras de Amado, como “A luz de Tieta” e “Milagres do povo”.
Nas artes cênicas, o ano promete leituras dramatizadas em espaços Sesc, o espetáculo teatral “O sumiço da Santa”, com direção de Fernando Guerreiro, em Salvador, e “Capitães da areia por eles mesmos”, dirigido por Elisa Mendes, em Ilhéus. Para o ano que vem, está previsto o musical inspirado em “Gabriela”, de João Falcão, no Rio (leia mais na página 4). E está em estudos “Amado Gonzagão: um baião dos dois”, sobre os dois artistas que completariam cem anos em 2012.
O cinema vai homenageá-lo este ano com a mostra “Jorge cineamadográfico”, no interior da Bahia, e dois longas, “As fantásticas aventuras de um capitão” (leia mais na página 4), em fase de finalização, e “Dona Flor e seus dois maridos”, que deve ser rodado em novembro.
No exterior, a agenda também é variada. Ao longo do ano, Roma, na Itália, abrigará o evento “O mundo de Jorge Amado” e uma mostra de cinema. Haverá uma homenagem a Jorge no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, na França, com a exibição do documentário “Jorge Amado”, de João Moreira Salles, e “Capitães da areia”, de Cecília Amado, neta do escritor, além de mostras de filmes na Universidade de Salamanca, na Espanha, na Embaixada do Brasil em Londres, na Inglaterra, e em Los Angeles, nos Estados Unidos. Também estão programados colóquios na França, em Portugal e na República Tcheca. Em Helsinque, na Finlândia, artistas plásticos estão criando obras inspiradas no universo de Jorge, que serão mostradas em agosto. Por fim, em Berlim, na Alemanha, o espaço da Embaixada do Brasil recebe no dia 6 de agosto a noite “Jorge Amado em Berlim — ... Um sopro de liberdade atravessa o mundo”, com leitura em português e alemão de trechos da obra, capoeira, música e exposição de fotos.

Te Contei, não ? - Uma casa que guarda as palavras do escritor


SALVADOR - Myriam Fraga lembra de como reagiu ao ser convidada por Jorge Amado para dirigir a fundação que iria cuidar do acervo do escritor:
— Eu me assustei. Nunca tinha assumido um cargo administrativo.

Hoje, 25 anos depois da inauguração, a Fundação Casa de Jorge Amado é o principal centro de referência sobre Amado do país. Em 2011, 61.488 visitantes passaram pelos dois casarões azuis de quatro andares no Largo do Pelourinho, que guardam um acervo de 19 mil manuscritos, 56.139 recortes de jornais, revistas e periódicos, 48.369 correspondências, 6.152 livros, 414 livros, 165 prêmios e 32 CDs do autor baiano, além de 29.788 negativos de imagens feitas por Zélia Gattai — autora da maioria das fotos que retratam Amado.
Neste ano, com o centenário, o número de frequentadores deve crescer. Para efeitos de comparação, no ano passado a fundação recebeu 4.296 alunos. Até junho deste ano, já foram 4.217 estudantes.
Em setembro, Myriam lançará “Uma casa de palavras — 25 anos depois”, sobre a fundação. O lema da casa, sugerido por Amado, é “Se for de paz, pode entrar”. Para o escritor, a fundação não deveria ser um depósito de documentos, mas um centro “vivo e atuante”.
Myriam está citada no livro “Bahia de Todos-os-Santos”. “Que poderoso poeta é essa moça!”, escreveu Amado. Ele falava de sua eleição para a Academia das Letras da Bahia e dizia que um dia ela entraria para a ABL, com o seu voto.
Uma preocupação de Amado é que o dia a dia burocrático roubasse o tempo dela para a poesia.
— Ele dizia: “Tenho medo de que você não escreva mais”.
O receio mostrou-se infundado. Myriam acumula a criação com a administração. Há um ano lançou “Poesia reunida” e prepara agora “Memórias de alegria”, em homenagem a Jorge Amado.
—São coisas que escrevi sobre ele, viagens, histórias, palestras.
Em tributo ao centenário do escritor, haverá de 13 a 17 de agosto o II Colóquio de Literatura Brasileira, com palestras de nomes como os acadêmicos Ana Maria Machado, Domício Proença Filho e Murilo Melo Filho, além de Paloma e João Jorge, filhos de Amado.

Te Contei, não ? - Passeio pela Salvador de hoje e de 1986


SALVADOR - Em 1945, a Salvador de Jorge Amado era, nas palavras do escritor, uma cidade pobre de hotéis, paupérrima de restaurantes, sem teatros e com pequena vida noturna. “Falamos mal dos hotéis, dos restaurantes, dos cabarés. Falemos agora mal dos cinemas. A Bahia ainda está à altura do cinema que merece”, escreve ele em “Bahia de Todos-os-Santos — Guia de ruas e mistérios de Salvador”. O livro ganhou revisões em 1960, 1966, nos anos 1970 e em 1986. No mês que vem, a última adaptação feita por Amado chega às livrarias pela Companhia das Letras. O relançamento oferece boa oportunidade para ver o que ainda se mantém da Salvador descrita por ele em 1986.

— O livro é um canto de amor à cidade, contando da história, da gente, do sentir, da beleza, dos grandes personagens ali nascidos e criados e, sobretudo, da maneira de ser única e original dos habitantes — diz Paloma Amado, filha do escritor.
De 1945 para 1986, muita coisa mudou, como o próprio Jorge dizia. Aquela cidade “provinciana, descansada, tranquila, doce, bela e única”, com pouco mais de 300 mil habitantes, havia se tornado uma metrópole “ruidosa, movimentada, turbulenta, sua doçura fundamental entrecortada de violência”. De 1986 para cá, ela está ainda mais ruidosa e movimentada. Mas muitos dos cenários e personagens listados no guia se conservam. Escreve Amado: “Dos filhos de Caymmi, (João Gilberto é) o mais louco e o mais angelical. Dos segredos das camarinhas surgiu Gilberto Gil, acento negro na voz límpida, melodia que desce da senzala para conquistar a praça e o poder. Da festa de Nossa Senhora da Purificação em Santo Amaro, de comício impossível, proibido, desembocou Caetano Veloso, barco em mar de temporal”.
Entre os muitos outros artistas ainda ativos está o escultor Mário Cravo, ilustrador de livros de Amado como “Suor” e “Navegação de cabotagem”. No guia, ele é chamado de “mestre”, dono de uma “uma arte revolucionária”, um dos pioneiros da arte moderna na Bahia. Hoje, aos 89 anos, ele trabalha diariamente pela manhã em seu ateliê.
— Amado foi o maior contador de histórias do século XX — diz Cravo, que prepara exposição na galeria Paulo Darzé, em Salvador, para 13 de abril de 2013, quando completa 90 anos. — Mostrarei obras recentes e antigas, com objetos que representam fases mais importantes da vida.
Quem também não para de trabalhar é a fotógrafa Arlete Soares. Aos 72 anos, continua à frente de sua editora, a Corrupio, e lançou no ano passado o livro “Anônimos”, com fotos de suas andanças por China, Tibet, Índia, Nepal e Egito. No guia, Amado dizia que ela, “devorada sempre pelo fogo da paixão”, era um dos “promotores de cultura mais importantes do Brasil”.
— Jorge embelezava as coisas. Era otimista, sempre de bem com a vida — minimiza os elogios.
Citada no livro, mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, é uma das principais líderes do candomblé do país. Era muito ligada a Amado, assim como a Dorival Caymmi e Carybé. Em “Bahia de Todos-os-Santos”, o autor a define como “prudente e forte, flexível e inteligente, capaz e firme”, dizendo que com ela os dias de grandeza do Axé do Opô Afonjá retornaram. Amado era Obá Àrolu da casa — título dado aos amigos e protetores do terreiro. Aos 87 anos, mãe Stella cumpre intensa rotina de obrigações, rituais e reuniões.
— Que jeito, rapaz. Estou com problema nas pernas, dor ciática, mas a cabeça está dando para entender, para fazer meus bozós — diz ela, lembrando que já gostava de Amado antes de conhecê-lo. — Toda moça gosta de escritor. Era como se Jorge encarnasse os personagens.
Mais tarde, nos anos 1960, ele passou a frequentar o centro, onde ficava horas conversando com mãe Senhora — nessa época mãe Stella era apenas filha de santo do terreiro.
— O santo dele é Oxóssi. Meu orixá, também. A gente já tinha essa ligação espiritual.
A geografia da cidade espalha-se pelo livro. Em 1986, a Rua Chile é “o coração da cidade”, onde “se exibe toda a gente”, cenário do “comércio mais elegante, do footing, da conversa, de negócios também, de namoros, de brilho, de exibição”.
— A importância dela é passado. Era a rua dos coronéis e dos grã-finos. Hoje não presta mais — diz o vendedor de água de coco que faz ponto em frente ao Elevador Lacerda.
Mas ela pode vir a recuperar uma pequena parte da magia. Será erguido no antigo prédio do jornal “A Tarde” o primeiro hotel Fasano do Nordeste, em frente à Praça Castro Alves.
Um dos capítulos do guia se detém nas igrejas. “Diz a lenda que a cidade do Salvador conta com 365 igrejas, uma para cada dia do ano. Dizem os amigos dos números exatos que entre igrejas e capelas elas somam 76. Pouco importa.” Uma das mais populares é a de Nossa Senhora do Rosário dos Negros, no Pelourinho, “sempre cheia de gente, extremamente ligada aos ritos do candomblé”. A igreja, do século XVIII, foi reaberta em abril, após um ano e meio fechada para obras.
Em 1945, havia poucos restaurantes “apresentáveis”. Para uma boa comida baiana, Amado recomendava o Estrela do Mar, de propriedade de Maria de São Pedro. Em 1986, ela já havia morrido, mas a tradição continuava, agora com um restaurante que levava seu nome. Hoje em dia, o Maria de São Pedro divide espaço com o Camafeu de Oxóssi — outro restaurante frequentado por Amado — no Mercado Modelo. À frente, o filho caçula de Maria, Luis Domingos, de 72 anos.
— Às vezes ele vinha direto da Europa para o restaurante. Nosso forte é a moqueca, mas galinha ao molho pardo era seu prato preferido aqui — afirma Domingos.

Te Contei, não ? - Zélia, a companheira até o fim


RIO - Eu atravessava a sala quando vi na TV uma cena entre Nacib e Gabriela, da novela da Globo de 1975.

— Mamãe, por que eles estão enrolados num lençol?

— Porque está calor.

A resposta não me convenceu. Assim que consegui dominar a leitura peguei “Gabriela, cravo e canela”, que li (inconsciente, mas baianamente) numa rede. Depois, devorei outros três livros de Jorge Amado. Zélia Gattai veio mais tarde, na época da faculdade. E que refresco foi ler “Anarquistas, graças a Deus”. Ver a realidade da imigração italiana, um dos fatores de transformação do Brasil moderno, de modo tão fluente. Não por acaso, o livro esgotou uma edição após a outra, ganhou prêmio e virou minissérie. Zélia ainda lançou outras memórias, mas o que mais me marcou foi a autora ter escrito sua primeira obra aos 63 anos. Por quê? Tive a chance de perguntar quando ela tomou posse na Academia Brasileira de Letras, na cadeira que por 40 anos foi do seu marido, mas de repente parecia tão sem sentido e tão claro: que as feministas não me leiam, mas Zélia foi a companheirona de Jorge Amado. Nos encontros comunistas, no governo federal, no exílio, nas conversas com Pablo Picasso, no quintal da casa do Rio Vermelho.
Aquela que a família apelidou de atrevida, que cresceu em São Paulo ouvindo seus pais contando histórias (o pai, inventadas; a mãe, reproduções de romances), queria conhecer Jorge depois de ter lido seus livros. Quando conseguiu, em 1945, tudo mudou. Zélia contou em seu discurso de posse na ABL:
“Pela primeira vez eu via Jorge de perto e me encantei. Fiquei pensando: apenas 32 anos, com tantos livros escritos, tantas e tais aventuras. Estava eu perdida em meus devaneios quando o vi estender a mão para mim: ‘Você vai trabalhar comigo...’ Em seguida, segurou-me pelo braço: ‘Venha, me acompanhe, vou ditar um comunicado à imprensa.’ Parou diante de uma máquina de escrever. ‘Sente...’ Ai, meu Deus! ‘Eu não sei escrever à máquina’. Não sabe bater à máquina? Que moça inútil!’ Me contive para não chorar, e ele, percebendo o meu constrangimento, tratou de desfazer a brincadeira: ‘Não pense que vai se livrar de mim assim.’ Jorge sempre me dizia: ‘Ao pousar pela primeira vez os olhos em você, meu coração disparou.’ Desse momento em diante, 56 anos se passaram, e eu continuei a seu lado, acompanhando-o.”

Te Contei,não ? - Entre amigos e orixás, Amado, CAymmi e Carybé

 
RIO - Um romancista, um artista plástico e um compositor popular. A uni-los, uma grande amizade, o amor pela Bahia e a fé nos orixás. No Axé de Opô-Afonjá, candomblé de Mãe Ondina, os três foram feitos obás de Xangô, Jorge Amado e Carybé primeiro, Dorival Caymmi depois. Os três orgulhavam-se das honras com que foram distinguidos em Salvador, símbolos da forte presença da cultura afro-brasileira em suas obras, os romances de Amado, a pintura de Carybé e as canções de Caymmi. Com um detalhe: cada um passeando pela arte do outro, Caymmi na pintura de Carybé, Carybé na literatura de Amado, Amado na música de Caymmi
Amado e Carybé se conheceram primeiro. Hector Julio Páride Bernabó, argentino de nascimento, adotou o apelido de Carybé supondo ser o nome de um peixe amazônico (anos depois Rubem Braga esclareceria que caribé é sinônimo de “mingau ralo”). Seu encontro com Amado deu-se quando ele ilustrou “Jubiabá”, romance de 1935 — o mesmo que seduzira um outro grande amigo estrangeiro, o fotógrafo francês Pierre Verger (1902-1996), que adotaria o nome Fatumbi. Carybé viajara pelo mundo antes de se fixar no Brasil, mais precisamente na Bahia miscigenada, dos cultos afros e das histórias sobre o mar. Como nos romances de Amado e em seus quadros, murais, desenhos e ilustrações. Seria fiel a tudo isso até morrer, aos 86 anos, em 1997.
O escritor e o artista plástico se associariam em vários outros trabalhos, além de capas e vinhetas dos romances de Amado. Este dedicou àquele o livro “O capeta Carybé”, em que define o amigo como “...feito de enganos, confusões, histórias absurdas, aparentes contradições e, ao mesmo tempo, a própria simplicidade”. A quatro mãos, os dois escreveram “Bahia, boa terra Bahia”. Sozinho, depois de 30 anos de pesquisas, Carybé lançou em 1981 a “Iconografia dos deuses africanos do Candomblé da Bahia”. E, novamente juntos, a sagração como Obá Olorum, Amado, e Obá Onoxocun, Carybé.
Segundo a neta e biógrafa Stella Caymmi, nem o avô, nem Jorge Amado se lembravam de quem os apresentou. Mas foi em 1938, pouco após a chegada do compositor ao Rio, numa caminhada do Belas Artes ao Nice, dois cafés que fizeram história na vida boêmia do Rio. Jorge era o redator-chefe de “Dom Casmurro” e “Diretrizes”, que tinham como colaboradores intelectuais de esquerda amigos do escritor. Entre eles, o futuro governador da Guanabara Carlos Lacerda.
Ambos ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), Amado e Lacerda muito influenciaram Caymmi, que, no entanto, jamais se filiou ao partido. No máximo, concordou em acompanhar o amigo escritor em seus comícios e passeatas de candidato a deputado federal e em musicar letra dele para a campanha de Luiz Carlos Prestes ao Senado, em 1945: “Vamos votar em Prestes/ Votar no Partido Comunista/ Para todos terem terra/ E o pão de cada dia/ Para o povo, liberdade/ Para o Brasil, democracia.”
Àquela altura, Amado e Lacerda já estavam em lados opostos havia tempo, desde 1939, quando Lacerda rompeu com o PCB. Nunca mais se repetiria o encontro lítero-musical que os três tiveram no sítio de Lacerda, em 1938. A improvável parceria dos três, música de Caymmi para letra dividida entre Amado (“O teu corpo nos meus braços/ Nossos passos pela estrada...”) e Lacerda (“A chuva apaga a marca dos teus passos/ No caminho abandonado...”), resultou na canção “Beijos pela noite”, só gravada em 1994 por Danilo e Simone Caymmi.
A parceria entre Jorge Amado e Caymmi não ficaria naquela primeira experiência. Têm letra de Amado as canções “Modinha para Teresa Batista” e “Canto de Obá”. Sem contar a clássica “É doce morrer no mar”, que Caymmi fez numa reunião na casa do coronel João Amado de Faria. Inspirada em versos do romance “Mar morto”, com outros acrescentados pelo próprio Jorge Amado, a canção nasceu: “É doce morrer no mar/ Nas ondas verdes do mar...”, que Caymmi gravou em 1941.
Os dois jamais deixariam de estar juntos. Nas palavras de Amado: “Os orixás da Bahia possuem seus favoritos, para eles reservam o dom da criação e a grandeza. Assim aconteceu com o moço Dorival Caymmi. Os orixás cumularam de talento e dignidade esse filho da grande mistura de raças que nas terras brasileiras se processou e se processa, criando uma cultura e uma civilização mestiças que são a nossa contribuição ao tesouro do humanismo.”

TE Contei, não ? - Encenado, mas ainda timidamanete




RIO - Além das versões para o cinema e para a TV, a obra de Jorge Amado também foi levada aos palcos. O infantil “O gato malhado e a andorinha Sinhá” ganhou mais de dez encenações, seguido por “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água”, “Dona Flor e seus dois maridos” e “Capitães da areia”, que será reencenada em outubro, em Salvador, com supervisão de Cecilia Amado, neta do escritor. Entre todas, foi “Capitães...” que marcou a importância de Amado nos palcos, tanto pela qualidade das montagens de Carlos Wilson, em 1982, e de Roberto Bomtempo, em 1992, quanto, principalmente, por seu uso nos cursos de teatro.

— “Capitães...” é muito utilizada para a formação, porque leva a buscar soluções simples e criativas — diz a pesquisadora Tânia Brandão. — Mas até hoje a teatralidade da obra de Jorge não foi investigada e experimentada como deveria.
O mesmo pensa o diretor João Falcão, que planeja para o ano que vem uma versão musical para “Gabriela”.
— “Gabriela” é muito rica em detalhes e musicalidade. É bastante teatral — diz Falcão.
Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), o escritor foi perseguido e preso inúmeras vezes entre os anos do Estado Novo (1937-1945), época em que seus livros, tidos como subversivos, foram queimados e impedidos de serem levados à cena. Foi nesse período, em 1944, que Amado escreveu sua primeira e única peça, “O amor do soldado”, que narra um breve romance do poeta Castro Alves. A peça foi relançada em livro, em 2011, mas até hoje permanece inédita nos palcos

Te Contei, não ? - Universo sob medida


RIO - Fã de Chaplin, amigo de Fellini e fonte de inspiração para a geração de realizadores responsáveis por fazer da Bahia um polo produtor de filmes no fim dos anos 1950, Jorge Amado já serviu como matéria-prima para 17 longas-metragens, que nele buscavam tanto alegorias místicas do imaginário afro-baiano quanto o olhar realista para o cotidiano dos desvalidos. De sua obra literária saíram desde um blockbuster como "Dona Flor e seus dois maridos" (1976), que por 34 anos foi o maior fenômeno brasileiro de bilheteria, até um cult como "Tenda dos milagres", que levou Nelson Pereira dos Santos à disputa pelo Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1977. Na medida para a narrativa audiovisual, com sua riqueza descritiva, a prosa de Amado vem sendo adaptada para a telona no Brasil e no exterior desde 1948, quando Anselmo Duarte (1920-2009) estrelou "Terra violenta".
- Jorge foi um cronista do comportamento humano. E seu poder único de observação é a maior contribuição de sua obra à linguagem cinematográfica - diz Bruno Barreto, que assumiu a direção de "Dona Flor e seus dois maridos" aos 21 anos, depois que Glauber Rocha (1939-1981), primeiro cineasta atrelado ao projeto, não pôde dirigir o filme.
Hoje esquecido, "Terra violenta" iniciou o namoro do cinema com Amado. Produzido pela Atlântida Cinematográfica, com base no livro "Terras do sem fim", o drama dirigido por Edmond F. Bernoudy e Paulo Machado abriu um veio que atraiu de cinemanovistas como Cacá Diegues ("Tieta do Agreste") a revelações da Retomada como Sérgio Machado ("Quincas Berro d'Água"), que batizou seu filho de Jorge em tributo ao escritor.
- Quando exibi meu primeiro longa, "Cidade Baixa", de 2005, na França, muitos críticos definiram o filme como uma releitura contemporânea da Bahia de Jorge Amado, ainda que ele fosse um roteiro original meu e do Karim Aïnouz - diz Machado. - Jorge foi um dos fundadores do imaginário brasileiro na arte.
À força do êxito dos romances de Amado no exterior, cineastas estrangeiros também foram atraídos pelo aroma de suas especiarias , a começar pelo português José Leitão de Barros (1896-1967), que filmou "Vendaval maravilhoso" (1949) com base no livro "ABC de Castro Alves". Em seguida, veio o americano Hall Bartlett (1922-1993), que lançou "The sandpit generals" (1971), com base em "Capitães da areia". Houve ainda o francês Marcel Camus (1912-1982), ganhador da Palma de Ouro por "Orfeu negro" (1959). Ele encerrou sua trajetória em tela grande levando "Os pastores da noite" (1964) às salas de exibição, em 1979.
Hollywood não ficou indiferente aos 10.735.524 ingressos vendidos por "Dona Flor e seus dois maridos". Depois que o triângulo amoroso entre Florípedes (Sonia Braga), Teodoro (Mauro Mendonça) e o espírito zombeteiro Vadinho (José Wilker) concorreu ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, o produtor Keith Barish convocou o diretor Robert Mulligan (1925-2008) para rodar um remake do longa brasileiro: "Meu adorável fantasma" ("Kiss me goodbye", 1982). Sally Field, James Caan e Jeff Bridges estrelaram a refilmagem, que não deu lucro.
- Nunca vi a versão americana - diz Barreto, que em 1983 filmou (sem êxito) "Gabriela, cravo e canela", tendo Sonia Braga e Marcello Mastroianni em cena.
Na ficção, a última adaptação do escritor a estrear foi "Capitães da areia" (2011), de sua neta Cecilia Amado. Atualmente, Marcos Jorge finaliza "As fantásticas aventuras de um capitão" baseado em "Os velhos marinheiros".
- A capacidade de ser sofisticado e ao mesmo tempo acessível é uma lição que o cinema tem a aprender com Amado - diz o paranaense Marcos Jorge.
Nos documentários, o autor de "Jubiabá" (filmado por Nelson Pereira em 1986) inspirou filmes de Fernando Sabino, João Moreira Salles e Glauber Rocha, que serão exibidos de 7 a 12 de agosto, na Caixa Cultural na mostra Jorge Amado.

Te Contei, não ? - Na TV, visto por multidões


Sonia Braga dá vida a Gabriela, na novela que foi ao ar em 1975
Foto: Divulgação

RIO - Escolhida como protagonista de “Gabriela, cravo e canela”, trama dirigida por Maurício Sherman para a TV Tupi, em 1961, Jannette Vollu foi a primeira mulher a interpretar a sensual personagem de Jorge Amado no vídeo. Mas foi a atriz Sonia Braga quem entrou para a História ao dar vida à retirante criada pelo autor baiano, na marcante novela de 1975. A cena em que a personagem enlouquece a Ilhéus dos anos 1920 ao subir no telhado para resgatar uma pipa tornou-se um clássico da TV. Refeita agora com Juliana Paes, a sequência foi exibida na semana passada no remake assinado por Walcyr Carrasco para a atual faixa das 23h, da Globo.

— Eu mesma me surpreendo com a química daquele momento. Alguma coisa aconteceu naquele dia — diz hoje Sonia Braga. — Eram outros tempos. A gente era hippie. Não existia alisamento ou chapinha. A novela devolveu um pouco da identidade da mulher brasileira.
Mas Sonia defende a relevância dos romances do autor ainda hoje.
— O nosso Shakespeare é Jorge Amado. E, mais que no teatro ou no cinema, foi na TV que suas obras puderam ser vistas pelas multidões. Espero que não demore tanto para termos outros títulos dele na tela. Jorge lança um olhar carinhoso para o povo brasileiro.
A atriz acompanha a nova versão de “Gabriela” e crê, de alguma forma, fazer parte da produção.
— O que todo mundo vê como um remake, para mim é um flashback. Vejo tudo com uma perspectiva que só eu tenho. As pessoas me param na rua para comentar. É bem estranho. Alguns papéis são importante para a sua carreira. Esse foi para a minha vida.
É fácil ouvir essa afirmação de uma atriz que já viveu uma personagem de Jorge. Betty Faria, a Tieta da novela escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares para a Globo em 1989, diz que a trama — recém-lançada em DVD — marcou sua carreira.
— As adaptações dos romances de Jorge Amado têm um apelo muito popular. Sinto que seus personagens são muito verdadeiros — observa Betty.
Diretor da “Gabriela” de 2012, Mauro Mendonça Filho também defende que a escrita de Jorge ainda é atual.
— “Gabriela” é um dos livros mais políticos, mesmo com o nome de uma mulher no título. Isso porque não deixa de ser política a história de Gabriela. A visão do Walcyr sobre a obra é feminina. Mas o mundo ainda é dos homens, o coronelismo ainda existe, por exemplo. Jorge nunca foi ingênuo. Certas obras você transpõe para a TV e a TV é que é ingênua, não a obra. Ele sempre tem a visão mais à frente do tempo. A TV impõe certos limites, mas essa obra ainda é ousada.
Fã do autor de “Gabriela”, Carrasco buscou no livro, e não na adaptação feita por Walter George Durst para a novela de 1975, a inspiração para a sua trama. O novelista garante que a maior pressão ao escrever uma nova versão de uma obra tão conhecida vem dele mesmo.
— Eu não pensei na expectativa criada por essa nova versão, mas na minha responsabilidade artística para com um grande autor — explica.
A sensualidade e força das mulheres e as relações de poder são temas recorrentes do autor, que já teve obras adaptadas para a TV em diferentes formatos. “Terras do sem fim” ganhou duas versões: um folhetim para a TV Tupi, em 1966, e outro para a Globo, em 1981. “A morte e a morte de Quincas Berro D’água” foi transformada em telenovela pela Tupi, em 1968, e exibida na faixa “Caso especial” pela Globo, em 1978.
“Tenda dos milagres” virou minissérie da Globo, em 1985, pelas mãos de Aguinaldo Silva. “Tereza Batista” e “Dona Flor e seus dois maridos” também foram adaptadas para o mesmo formato pela emissora em 1992 e 1998, respectivamente. A primeira foi protagonizada por uma então desconhecida Patrícia França. A segunda trouxe Giulia Gam como a cozinheira dividida entre o farmacêutico Teodoro e o malandro Vadinho.
Na Band, “Capitães da areia” também foi transformada em minissérie, no ano de 1989. Em 1995, “Tocaia grande” rendeu uma novela na Manchete. Com 236 capítulos, a trama teve direção geral de Walter Avancini, também responsável pela condução de “Gabriela” em 1975. Adaptação dos livros “Mar morto” e “A descoberta da América pelos turcos”, a novela “Porto dos milagres”, de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, fez sucesso em 2001, na Globo