sexta-feira, 29 de julho de 2011

GILBETO GIL


A INTERFERÊNCIA DA IMPLICATURA NA INTERPRETABILIDADE DAS LETRAS DE GILBERTO GIL

Jean Carlos Neris de Paula 1

RESUMO

Considerando, em princípio, que a função principal da linguagem é a comunicação interativa dos interlocutores, este artigo, orientado pela linha funcionalista da pragmática linguística, desenvolve estudos sobre as implicaturas presentes na composição das letras de Gilberto Gil. Para tanto, explicações acerca dos tipos de implicaturas – implícitos de inferência – são desenvolvidas, procurando mostrar que o discurso poético de Gil, quando contextualizado, ganha energia documental, na medida em que, enfrentando a Ditadura Militar, apresenta implicitações sociais, políticas e históricas relevantes para a interpretabilidade de um contexto histórico-político do Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Comunicação, Contextualidade, Cooperação, Descontextualidade, Discurso, Enunciação, Ideologia, Implicatura, Inferência, Interação, Linguagem, Locutor, Pragmática, Situcionalidade, Sociolinguística.

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1 Professor, Especialista em Linguística pela Ufes. E-mail: jcndp@uol.com.br


1. INTRODUÇÃO

Um discurso é produzido por um determinado autor, em uma determinada situação sócio-histórica, de uma determinada maneira, deixando, no enunciado, pistas de interpretação contextual do sentido.
Para que essas pistas de contextualização possam ser rastreadas no texto, é necessário que haja esforços cooperativos entre emissor e receptor da mensagem, bem como conhecimentos mútuos de mundo que, se forem desconsiderados, reduzem a abrangência da enunciação, dificultando o entendimento do significado textual, muitas vezes implicado em contextualizações relevantes para o processo de construção do texto. Por isso, Ducrot; Todorov (2001, p. 298) afirmam:
“É uma constatação banal a de que a maioria dos atos de enunciação (talvez todos) são impossíveis de interpretar se se conhece apenas o enunciado empregado e se ignora tudo sobre a situação: não só não se poderá conhecer os motivos e os efeitos da enunciação, mas principalmente – é a única coisa que será considerada aqui – não se poderá descrever corretamente o valor intrínseco da enunciação, nem mesmo as informações que ela comunica” .
Assim, este artigo tem por objetivo analisar a relevância da implicatura cultural – implícitos que ocorrem na linguagem via inferência do dito e do contexto – na intelecção das letras de música do compositor Gilberto Gil, nomeado Ministro da Cultura do Governo de Luís Inácio Lula da Silva.
O estudo da implicatura em músicas de Gil foi escolhido porque o referido compositor é famoso no Brasil e no mundo pela qualidade de suas canções e também pelo seu ativismo cultural e político, o que lhe rendeu uma trajetória artística que se confunde com alguns períodos importantes da História do Brasil, justificando-se assim a necessidade de se estudar a sua obra. Entretanto muitas pessoas, principalmente jovens, não conseguem alcançar a riqueza cultural expressa no discurso de Gil, pois não têm conhecimentos socioculturais imprescindíveis à compreensão de alguns textos desse letrista, que em muitas letras apresenta fatos históricos, políticos e culturais importantes para o entendimento de sua linguagem poético-musical.
Por isso, este estudo se justifica por visar a contribuir com os ouvintes da música de Gil, facilitando a interpretação de algumas de suas importantes composições. Para tanto, faz-se necessário compreender, em suas canções, as implicaturas culturais generalizadas – as que não estão presas a um contexto específico - e estudar analiticamente as implicaturas particularizadas - aquelas que dependem de um contexto particular para serem bem compreendidas -. Esse tipo de pesquisa dinamiza o entendimento do discurso interdisciplinar de Gil, já que possibilita a compreensão de algumas fases históricas do Brasil.
Sendo assim, esta pesquisa apresentará uma biografia do cantor Gilberto Gil, identificando fases de sua trajetória pessoal e relacionando-as à vida política e cultural brasileira, com base em dados que sustentem a proposta de que uma análise descontextualizada de algumas obras do compositor pode ser feita, mas representa uma perda relevante de conteúdo significativo.
Como forma de evidenciar a riqueza das canções de Gil, será feita, através de corpus de implicaturas diferenciadas nas letras de música de Gilberto Gil, uma análise pragmática da implicitação na coerência de textos poéticos do cantor, mostrando-se o valor da contextualização, da interação e do princípio de cooperação, elementos fundamentais na consolidação da capacidade de receber e analisar discursos, pois as implicaturas evidenciam que o reconhecimento das intenções é fundamental em uma interpretação, já que o caráter intencional da significação, que pode ser identificado no processo de inferências, exige do leitor um conhecimento do sentido literal das palavras, associando o significado dos vocábulos aos conhecimentos de mundo, para que se possa chegar a um sentido real. Dentro dessa perspectiva, Lins (2002, p.119) explica: “[...] o leitor procura fazer as inferências para entender a mensagem que o autor quer passar”.
Para evidenciar a importância da implicatura contextual no entendimento das músicas de Gil, serão analisados alguns dicionários e livros de Linguística que explicam a implicatura, a inferência e o princípio de cooperação, componentes importantes para a compreensão dos atos de interação comunicacional. Mas a obra de referência principal do trabalho linguístico será o Dicionário de Linguística e Fonética / David Crystal; tradução e adaptação [da 2ª ed. inglesa rev. e ampliada, publicada em 1985], por Maria Carmelita Pádua Dias, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000. Esse dicionário é uma obra que, lançada na Inglaterra, se tornou referência imprescindível para linguistas do mundo inteiro, por sua abrangência em todo o campo da linguística moderna. Com relação ao repertório musical de Gil, o corpus de letras será retirado da Obra Gilberto Gil: todas as letras: incluindo letras comentadas pelo compositor / organização Carlos Rennó. São Paulo, Companhia das letras, 1996. Esse livro apresenta todas as músicas do cantor, devidamente datadas e seguidas de comentários que enriquecerão o trabalho.
Dessa maneira, verificar-se-á que as músicas de Gil são ricas em implicaturas diversas, pois sua obra apresenta implicação artístico-literária, sociolinguística, religiosa, filosófica, autobiográfica, política e histórica, bem como outras implicaturas criativas que podem ser detetadas.
A música Batmakumba, por exemplo, composta em parceria com Caetano Veloso, utiliza elementos que precisam ser analisados contextualmente do ponto de vista literário, artístico, musical, religioso e linguístico, para serem bem entendidos:

Batmakumbayêyê batmakumbaoba
Batmakumbayêyê batmakumbao
Batmakumbayêyê batmakumba
Batmakumbayêyê batmakum
Batmakumbayêyê batma
Batmakumbayêyê bat
Batmakumbayêyê ba
Batmakumbayêyê
Batmakumbayê
Batmakumba
Batmakum
Batman
Bat
Ba
Bat
Batman
Batmakum
Batmakumba
Batmakumbayê
Batmakumbayêyê
Batmakumbayêyê ba
Batmakumbayêyê bat
Batmakumbayêyê batman
Batmakumbayêyê batmakum
Batmakumbayêyê batmakumbao
Batmakumbayêyê batmakumbaoba
(GIL 1996, p. 98.)

Uma análise minuciosa dessa canção revela que ela possui um ritmo tribal ligado a um termo da cultura brasileira, que é a macumba, palavra usada no Brasil para identificar as religiões africanas, não cristãs, e que é um vocábulo usado pelo poeta modernista Oswald de Andrade, referência na época para os tropicalistas, os quais pretendiam unir o antigo ao moderno, o primitivo ao tecnológico, o nacional ao estrangeiro. A forma do poema-canção é de inspiração concretista e oswaldiana, trabalhando a disposição gráfica das palavras em forma de uma letra K e utilizando a letra Y, o que alude às músicas estrangeiras em voga na época, sem xenofobismos. Isso caracteriza a intenção antropofágica do texto.
Outra observação que precisa ser feita é sobre as expressões obá, baobá, pois, além da presença de oba, saudação, infere-se a entidade obá do candomblé, religião bastante recorrente nas músicas de Gil, talvez por oferecer abrigo sem discriminação a indivíduos que fogem do padrão tradicional de comportamento, já que as religiões de fulcro espiritista são pouco discriminatórias e muito discriminadas. Por isso, as comunidades umbandistas e candomblecistas funcionam como uma espécie de quilombo para aqueles que, como Gil, subvertem a ordem estabelecida.
Partindo desse tipo de análise de implicações, a música Andar com fé, de Gilberto Gil, é um texto que manifesta a implicatura sociolinguística, sem a qual ela não pode ser bem interpretada:
Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Que a fé tá na mulher / A fé tá na cobra coral / Num pedaço de pão / A fé tá na maré / Na lâmina de um punhal / Na luz, na escuridão / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / A fé tá na manhã / A fé tá no anoitecer / No calor do verão / A fé tá viva e sã / A fé também tá pra morrer / Triste na solidão / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Certo ou errado até / A fé vai onde quer que eu vá / A pé ou de avião / Mesmo a quem não tem fé / A fé costuma acompanhar / Pelo sim, pelo não. (Gil, 1996, p. 256.)
A noção de sociolinguística fundamental nessa música é explicada em livro pelo próprio autor, demonstrando o seu vasto conhecimento de língua em uso:
“A fé e a ‘Faia’”. “O uso do ‘faiá’ é assumido com a intenção de legitimar uma forma popular contra a hegemonia do bem-falar das elites. É uma homenagem ao linguajar caipira, ao modo popular mineiro, paulista, baiano – brasileiro, enfim – de falar ‘falhar’ no interior. É quase como se a frase da canção não pudesse ser verdade se o verbo fosse pronunciado corretamente – o que seria um erro... Outro dia cometeram esse ‘deslize’ na Bahia, ao utilizarem a expressão na promoção de uma campanha de cinto de segurança. Nos outdoors, saiu: ‘a fé não costuma falhar’ (a propaganda associava o cinto à fitinha do Senhor do Bonfim). Eu deixei, mas achei a correção desnecessária.”“faiá” é coração, “falhar” é cabeça, e fé é coração. Gil: “É isso aí. ‘a fé não costuma faiá’: é pra quem fala assim que ela não costuma ‘faiá’.” (Gil, 1996, p. 256.)
São muitas as implicações encontradas nas obras de Gilberto Gil, porém, como este trabalho não tem a pretensão de ser uma enciclopédia do compositor, o estudo que receberá destaque em capítulo especial será a identificação, no período da Ditadura Militar no Brasil, da implicatura histórico-política e social, já que seu repertório musical é rico nesse tipo de implicitação.

2. INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS SOBRE GILBERTO GIL

Pai de cinco filhos e atualmente casado com a produtora Flora Gil, com quem tem sociedade em todos os projetos profissionais, Gilberto Passos Gil Moreira nasce em Salvador, no dia 26 de junho de 1942. Logo depois de seu nascimento, muda-se com a família para Ituaçu, cidade do interior da Bahia, onde começa a despertar seu interesse por música. Filho do médico José Gil Moreira e da professora primária Claudina Passos Gil Moreira, vive uma vida simples de garoto de classe média, sem enfrentar grandes dificuldades financeiras.
Os primeiros ensinamentos, equivalentes hoje ao ensino fundamental, até a quarta série, Gil recebe em casa pela avó Lídia. A fim de estudar as outras séries do ensino fundamental (atuais 5ª, 6ª, 7ª e 8ª), muda-se para Salvador, onde ingressa, via curso de admissão, no Colégio Nossa Senhora da Vitória, passando a morar com a tia paterna Margarida. Nessa escola, Gil estuda também o colegial (o ensino médio de hoje). Após concluir o colegial, presta o exame vestibular para a faculdade de engenharia, mas não passa. Um ano depois, com preparação de cursinho pré-vestibular, é aprovado no curso de administração de empresas.
O interesse musical nasce por influência de Luiz Gonzaga e do baião, razão pela qual estuda acordeon na Academia de Acordeon Regina. No ano de 1959, arrisca-se a escrever seus primeiros poemas, a maioria metrificados e sob influência de leituras de poetas românticos como Gonçalves Dias e Castro Alves e parnasianos como Olavo Bilac. O poema Triste Serenata, por exemplo, seria mais tarde musicado. A estreia de Gil na música ocorre em 1962, com o lançamento de um compacto intitulado Povo Petroleiro, com a marcha Coça, Coça, Lacerdinha. A partir desse momento, a sua vida se transforma em sucessões marcantes de acontecimentos significativos ligados a fatos políticos, culturais e históricos.
Gilberto Gil e seu parceiro mais recorrente Caetano Veloso circulam na década de 60 pelos meios culturais de São Paulo e, pela utilização de várias tendências artístico-culturais da época, tornam-se imprescindíveis à criação do Tropicalismo, movimento musical de vanguarda que, retomando propostas modernistas oswaldiano-antropofágicas, funde popular e erudito, berimbau, violino e guitarra elétrica.
O período mais político de sua carreira artística começa em 1969, ano em que é preso pela ditadura militar e lança a irônica música Aquele Abraço, uma das mais famosas de sua trajetória. Depois disso, fica quase três anos fora do país, exilado em Londres com Caetano Veloso.
Gilberto Gil, intelectual, músico, cantor e compositor, está consolidado como uma das mais criativas e influentes personalidades artísticas do Brasil, e sua carreira musical já lhe rendeu, inclusive, um Grammy na categoria de Melhor Disco de World Music, um Prêmio Shell pelo conjunto de sua obra e um título do Ministério da Cultura Francês, o título de Cavaleiro da Ordem e das Artes. Filiado ao PV (Partido Verde), Gil, apesar de ser ativo em situações sociais e formador de opinião, teve atuação político-partidária discreta, pois somente uma vez experimenta ser vereador, eleito com um número expressivo de votos, na eleição municipal de 1998, em Salvador.
Mesmo muito ligado à arte de cantar, Gil expande sua atuação artística para a direção de festivais musicais e a criação de rádio on-line (Expresso 2222), bem como participa de eventos sociais e de outras atividades pelo país e pelo mundo.
É por tudo isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pretendendo valorizar um profissional respeitado e competente na produção cultural, nomeou a megaestrela Gilberto Gil para ocupar o Ministério da Cultura.
Todo esse repertório artístico e político de Gil, para ser compreendido em suas músicas, precisa, muitas vezes, de contextualizações que justificam o uso das implicaturas no entendimento do seu discurso.

3. O VOCABULÁRIO COMO REFLEXO DA CULTURA

Pelas palavras que uma pessoa utiliza, é possível identificar muitas informações sobre ela, pois é através do vocabulário empregado que um indivíduo reflete a sua cultura, a sua escolaridade e a sua identificação com determinados grupos. A leitura de mundo é feita, portanto, principalmente por meio de vocábulos. Dessa forma, o repertório vocabular de um falante apresenta a sua visão de mundo, as suas experiências, o que difere um indivíduo de outro, dinamizando a comunicação através de trocas e aprendizados vocabulares imprescindíveis à comunicabilidade.
Sendo assim, para que as pessoas possam compreender-se melhor, aumentando seu desempenho comunicativo, é necessário ampliar o cabedal vocabular, porque a implicatura convencional está muito presa ao sentido das palavras, sem o qual a interpretação de muitos textos pode tornar-se “pobre” ou impossível. O ouvinte, por exemplo, da música Sampa, de Caetano Veloso, que não conhecesse o mito de Narciso, não estaria em condições de compreender o significado do verso “É que Narciso acha feio o que não é espelho...”. Como se observa, o conhecimento de mundo é fundamental na intelecção de enunciados, uma vez que a comunicação exige repertórios culturais comuns entre os falantes, o que caracteriza o processo de interação e cooperação nos atos comunicativos. Sem esse conhecimento mútuo, surgem dificuldades de entendimento, pois o significado das palavras pode estar relacionado a vários fatores sociais, profissionais, regionais, religiosos, culturais, sexuais e outros. Dessa maneira, alguns grupos definem vocabulário próprio que muitas vezes não são iguais, na sua totalidade, com o dos demais segmentos sociais, profissionais, políticos, desportivos e religiosos. Esse desentendimento apresenta especificidades que podem ser desejadas ou necessárias como códigos sigilosos, objetivando uma comunicação interna, fechada. É por isso que aprender palavras novas de determinados grupos melhora o desempenho interpretativo das pessoas. Vem dessa teoria a importância dos dicionários técnicos, de áreas específicas do conhecimento humano, pois o domínio de vocabulários vários é instrumento de expressão individual e identificação cultural. Assim, compreender vocabulários de uso genérico e específico, bem como selecionar e contextualizar palavras e ideias, facilita e enriquece a compreensão de qualquer texto.

4. CONTEXTO

Como este estudo sobre as letras musicais de Gilberto Gil pretende, basicamente, contextualizar algumas canções de Gil a fim de mostrar a importância do contexto na interpretação de seu discurso poético, faz-se necessário, primeiramente, esclarecer que contexto é uma palavra que tem uma significação muito abrangente. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Larousse Cultural, contexto é o “conjunto das condições naturais, sociais, culturais, nas quais está situado um enunciado, um discurso; conjunto das circunstâncias nas quais se produz um acontecimento, uma ação”, e contextura é a “ligação das partes que formam um todo; maneira de interligar os fios de urdume; estrutura, arranjo”.
Essas conceituações se aproximam da etimologia da palavra contexto, que se origina de “con” (com) mais “textus”, de “texere” (trançar, entretecer, entrelaçar). Dessa forma, o contexto pode significar a presença de tudo que se encontra implícito no texto, pois envolve traços culturais e linguísticos importantes na produção e na interpretação de textos, já que considera a situação e o ambiente em que um enunciado é proferido.
David Crystal (2000 p. 65) apresenta conceitos de contexto situacional, que inclui fundamentos extralinguísticos de um texto ou enunciado, abordando a situação de produção de um discurso, bem como o reconhecimento de emissor e receptor sobre ditos anteriores e crenças externas ao proferido na organização frasal. Já no contexto de situação, Crystal (2000) destaca a multiplicidade de fatores culturais e linguísticos importantes em uma análise de enunciados, pois o contexto de enunciado abrange os fatores responsáveis pela forma, significação e adequação dos discursos.
Partindo desses conceitos, é possível concluir que uma enunciação só se torna ricamente compreensível se analisada pelo contexto de situação, o qual torna a língua dinâmica, uma vez que os atos de comunicação não se repetem contextualmente da mesma forma, e a língua, elemento imprescindível à comunicabilidade, não limita as possibilidades expressivas, porque os atos de interação comunicativa ultrapassam até mesmo a situação imediata, na medida em que abrangem também o conhecimento cultural de mundo dos falantes, o que muitas vezes mostra a complexidade interativa da comunicação. Essa multiplicidade de traços, em que contexto e código linguístico convivem, aponta para a análise dos vários implícitos encontrados nos mais variados discursos, nos quais o contexto dinamiza, humaniza e individualiza a língua.

4.1 CONTEXTUALIDADE E DESCONTEXTUALIDADE

Todo discurso que está preso, ligado, ao contexto e depende de uma análise contextual pode ser entendido como contextualidade, enquanto enunciados que se encontram “livres” de contexto podem ser vistos como descontextualidade. Alguns enunciados são mais contextualizados, ou seja, têm significação dependente de um contexto, mas existem enunciações relativamente desligadas de contextos concretos.
A contextualidade ou não de um discurso pode facilitar ou dificultar a descodificação do ouvinte, bem como enriquecer ou empobrecer uma enunciação, pois um enunciado mais contextualizado faz uso de muitos símbolos condensados, de sentidos particulares – específicos do contexto de cada ato de interação comunicativa – cujos significados geralmente se apresentam implícitos e exigem do ouvinte um esforço cooperativo de interpretação. Já uma enunciação com alto grau de descontextualidade pode permitir maior facilidade na comunicação, na medida em que se “livra” de determinados contextos situacionais e possibilita a abordagem de fenômenos em sua ausência, mas também tira um pouco da riqueza interpretativa de um texto.

5. A TEORIA DA IMPLICATURA

O termo implicatura, para David Crystal (2000, p. 143), deriva dos estudos efetuados pelo filósofo H. P. Grice e vem sendo bastante utilizado pela linguística na análise de conversação. O que motivou Grice a estudar as implicaturas foi a reflexão sobre a possibilidade de um enunciado significar mais do que literalmente expresso. A partir disso, o pensador constatou que algumas regras permitiam ao falante transmitir algo além da frase e ao ouvinte entender essa informação extra. A implicatura, portanto, constitui a possibilidade de um enunciado assumir uma significação que ultrapassa o sentido frasal, já que vai além do que é dito, exigindo do receptor da mensagem a compreensão implicada na frase, que é indicada pelo contexto e pelo reconhecimento da intencionalidade do autor, o que muitas vezes exige conhecimentos de mundo como pré-requisitos necessários à intelecção dos textos.
Segundo Grice, em seu artigo “Logic and conversation”, que surgiu nas conferências realizadas pela Universidade de Harvard, em 1975, existem dois tipos básicos de implicaturas: a Implicatura Convencional, que se encontra vinculada à significação convencional das palavras, e a Implicatura Conversacional, a qual está desvinculada do significado habitual dos vocábulos e aparece ligada ao contexto situacional do ato de comunicação.
Assim, por exemplo, a frase “Maria é mulher, mas é inteligente” afirma que Maria é mulher e que é inteligente, porém não diz que, sendo mulher, não devesse ser inteligente. Entretanto isso pode ser implicado pelo sentido convencional do conectivo adversativo mas, usado para ligar frases de significação adversária, isto é, contrária. Portanto, usando essa conjunção, o autor do enunciado manifesta implicitamente o seu preconceito machista sem, no entanto, deixar clara sua intencionalidade. Esse tipo de implicatura convencional ocorre pela força de significação das palavras, o que facilita o entendimento dos interlocutores, desde que, evidentemente, conheçam o sentido dos vocábulos empregados, pois, se isso não ocorrer, a comunicação será prejudicada. É o que ocorreria se o paciente perguntasse ao médico como resolver os problemas que tem com a mãe, e o médico respondesse que só Freud poderia explicar, mas, se o paciente não conhecesse Freud, isso dificultaria o entendimento da frase, já que o nome Freud aciona um conhecimento de psicologia que o paciente desconhece. Esse desconhecimento não daria a ele possibilidade de entender que a resposta implica informação sobre psicanálise, representada pelo “Complexo de Édipo”. Para que houvesse entendimento, ambos, médico e paciente, precisariam de um contexto cultural comum, indispensável à comunicabilidade dentro da perspectiva de análise interacional da situação discursiva.
Já a implicatura conversacional exige um conhecimento contextual de condições de produção de um discurso, ultrapassando, muitas vezes, o conteúdo semântico de expressões. Nesse caso, a metáfora constitui um evidente exemplo: se um torcedor perguntasse a outro o que ele acha do Romário, e este respondesse que o considera um Leão, ficaria claro que Romário não é efetivamente um leão, pois a frase estaria indo além do significado comum para implicar figuradamente que Romário é forte como um Leão ou que possa ser considerado o rei dos jogadores. Dessa forma, nota-se que o implicado nem sempre é verificado pelo sentido comum das palavras.
Outro exemplo de implicatura conversacional pode ser encontrado no seguinte diálogo:
(1) - Estou com Fome.
(2) - Tem um restaurante aqui perto.
Esse diálogo, para ser entendido, precisa obedecer ao princípio cooperativo - termo também retirado da obra de H. P. Grice - porque exige cálculos dedutivos e lógicos, a fim de que se consiga depreender que a resposta quer implicar que se (1) tem Fome, deve ir ao restaurante, que é perto, que deve estar aberto e que deve ter comida, e (1) deve comprar a comida para saciar sua fome. Esse princípio da cooperação, conforme David Crystal (2000, p. 210), ratifica que falantes cooperam entre si nos atos de comunicação, buscando a clareza, a informatividade verdadeira, a intenção e o entendimento. Observa-se, assim, que, em muitos casos, analisar as implicaturas textuais significa um esforço dedutivo de cooperação que indica uma lista de implícitos, às vezes indeterminados, o que pode dinamizar, mas também dificultar a intelecção de algumas frases, exigindo maturidade interpretativa do receptor da mensagem, já que o emissor nem sempre facilita a compreensão de sua enunciação.
A implicação conversacional, por exemplo, pode ser generalizada, a qual não se apresenta dependente de um contexto particular e, por isso, é muito parecida com a implicatura convencional. Um exemplo desse implícito está na frase “José deu presentes a um bebê”. Independente do contexto, a frase implica que o bebê não é filho de José. Mas o implicitado também pode se mostrar particularizado, exigindo contextualizações específicas para que possam ser calculadas. Assim, a frase “Virgínia está alegre agora” poderia implicar que ela foi readmitida em seu emprego, depois de ter sido injustamente despedida, desde que a contextualização particular fosse essa. Sem o contexto particular, o ouvinte não teria como deduzir implicaturas precisas, já que são muitas as possibilidades de interpretação. Do mesmo modo, a ironia, para ser compreendida como tal, depende de um contexto específico, pois, para que uma frase possa ser entendida como contrária ao significado expresso, é necessário que a situação seja adversa ao enunciado. É o que verificamos, por exemplo, se um professor afirmar que o aluno Claudionor é um gênio, num contexto em que o referido discente tenha obtido zero num teste relativamente fácil. Por essa implicatura, as informações fazem parte de um conhecimento compartilhado entre falante e ouvinte, dependentes de um contexto de situação, que exige o princípio da cooperação, leis que regem a comunicabilidade, já que os interlocutores têm de trabalhar a mensagem cooperando para que ela possa ser o mais univocamente possível. Para tanto, buscam um contexto cultural comum, fundamental à comunicação, conforme indicam os estudos da Sociolinguística Interacional.
Em vista disso, é importante reconhecer o valor das implicaturas, uma vez que elas ajudam o leitor a perceber o sentido real do texto, muitas vezes implícito nas entrelinhas, que precisam ser situadas no contexto cultural de mundo para serem bem analisadas. É o que este trabalho pretende exemplificar em alguns textos de Gilberto Gil - produzidos durante o período de Ditadura Militar no Brasil – os quais são ricos em implicação social, histórica e política.

5.1 AS MÁXIMAS DE GRICE

Para o filósofo Grice, o processo inferencial da implicatura considera certos princípios e máximas de comunicação que falante e ouvinte utilizam em um diálogo ou na interpretação de um texto.
A máxima de quantidade, por exemplo, se aplica ao número de informações fornecidas em uma mensagem, exigindo que não se informe mais nem menos que o necessário. Ex.: As informações completas no endereçamento postal facilitam o sistema de correspondências. Já a máxima da qualidade diz respeito à verossimilhança da informação, isto é, o receptor deve acreditar que o conteúdo transmitido é verdadeiro. Ex.: Uma placa de trânsito indicando as condições de tráfego ou a sinalização gestual feita por um agente uniformizado. Outra questão importante é a máxima da relevância ou relação, que corresponde à pertinência da informação na contextualidade, objetivando a compreensão da mensagem dentro do contexto. Ex.: O gramado de um colégio com placas sucessivas: “Ande mais um pouco”, “Prolongue sua vida”, “Andar faz bem à saúde”. A finalidade da mensagem, nesse contexto, é a preservação da grama e não uma reflexão sobre a saúde e a vida. Por fim, a máxima de modo trata de como é transmitida a mensagem, ou seja, aborda a clareza, pois defende que a frase não deve ser obscura, ambígua, prolixa ou desordenada.
Dessa maneira, para que as frases possam ser compreendidas, Grice afirma que, embora existam outras regras, como a da polidez, as quatro categorias estudadas são suficientes para explicar o fenômeno da implicatura conversacional, mas o leitor deve analisar se o emissor da mensagem respeita ou quebra essas máximas no discurso, a fim de captar a intencionalidade do autor, isto é, o sentido implicado nas entrelinhas.

5.2 A QUEBRA DE MÁXIMAS GERANDO IMPLICATURAS

As máximas podem ser violadas propositadamente para implicar sentidos que vão além do que é dito: um aluno pergunta ao seu professor em qual das obras de Gazdar se encontra a definição de pragmática e este responde que essa definição está na obra Pragmatics, Implicature, Pressupposition and Logical Form, de 1979, editada pela Academic Press, na página 2, terceiro parágrafo da introdução, na oitava linha. Como se observa, houve nesse diálogo a quebra de duas máximas, a de quantidade e a de modo, na medida em que o professor fornece mais informação que o esperado e de modo prolixo. Essa resposta do professor indica que o aluno deve perceber, implicadamente, que o mestre possui um excelente nível de especialização e conhecimento bibliográfico.
Outros exemplos de quebra de máxima podem ser verificados: um aluno universitário pergunta ao seu professor de História do Brasil o que ele acha do governo militar, e este lhe responde que o militarismo foi democrático demais. A máxima da qualidade está sendo quebrada pela ironia, pois ambos, aluno e professor, têm ciência de que os governos militares não eram eleitos pelo povo, obstaculizavam as eleições diretas e cassavam a liberdade de expressão. Assim, a resposta irônica do professor implica um sentido contrário do que ele disse, pois sugere que os militares eram, sim, muito antidemocráticos.
A máxima de relação pode, também, ser quebrada para implicar interpretações que não estão na frase. É o que ocorreria se a namorada pedisse uma aliança de presente ao namorado, e este respondesse a ela que o dia estava muito quente. Nesse contexto, fica claro que a quebra na máxima de relação é propositada para implicar que o namorado não quer enfrentar a pergunta da namorada, ou melhor, não pretende ficar noivo no momento.
Em vista disso, o leitor deve perceber que as implicaturas podem ser calculáveis, canceláveis e indeterminadas, haja vista que dependem da interpretação das máximas griceanas para verificar se houve respeito ou quebra nas categorias de quantidade, qualidade, relação e modo, pois as implicitações surgem a partir dessa análise.

6. PRAGMÁTICA

De acordo com Davis Crystal (2000, p. 205), a pragmática constitui uma parte da semiótica, bem como a semântica e a sintaxe. Em linguística, a análise pragmática se aplica à investigação da língua a partir dos usuários, a fim de se perceberem algumas escolhas e restrições que são seguidas de impactos comunicativos na interação sociocultural. Para Fávero; Koch (2005, p. 72), do ponto de vista pragmático, o texto é considerado em termos de enunciação que desenvolve uma função comunicativa:
“[...] as enunciações vêm, todavia, caracterizadas também por outros fatores de comunicação, como o objetivo da comunicação, as relações entre participantes de comunicação, o motivo ou objeto de comunicação. Assim se podem constituir diferentes tipos de enunciação que caracterizam todos os gestos comunicativos e as atitudes comunicativas fundamentais são distinguíveis”.
Desse modo, a pragmática é um estudo de difícil enquadramento conceitual, uma vez que abrange diversas áreas da comunicação contextualizada a partir de determinadas estruturas comumente usuais, como os subentendidos, as pressuposições, as implicaturas e as condições de produção de um texto.
A pragmática, por analisar intensamente os atos de fala, o contexto, a intenção, a linguagem e seu funcionamento, a competência de comunicabilidade, o desempenho de falantes e ouvintes e as dificuldades interpretativas de certos enunciados, recebe, em função dos diversos conteúdos englobados, vários termos conceituais, como pragmalinguística - estudo das estruturas disponíveis em uma língua -; sociopragmática - análise das interferências culturais e sociais na produção de discursos -; e pragmática geral - pesquisa acerca dos princípios universais e específicos da comunicação encontrados em atos de conversação -.
Dessa forma, o estudo pragmático avalia os efeitos interativos que a utilização concreta da linguagem proporciona aos falantes de uma certa comunidade linguística, pois os discursos são fortalecidos como relações sociais instauradas dialogicamente. Esse tipo de análise mostra que a intelecção e a interpretação estão implicadas em valores sociais, históricos, morais, econômicos, culturais e políticos que se instalam entre o emissor e o receptor da mensagem, considerando que a recepção e a compreensão dos enunciados exigem conhecimentos compartilhados e esforços de inferência, o que serve para articular signos e símbolos que são representativos da realidade vivenciada ou conhecida pelos usuários da linguagem.
Sendo assim, nota-se que a análise das implicaturas convencionais e conversacionais parte da pragmática para definir um escopo de traços e de máximas que regem a produção e a intelecção de sentido nos discursos.

7. CASOS DE IMPLICATURAS CONTEXTUAIS NO DISCURSO DE GIL DURANTE O PERÍODO MILITAR

A Ditadura Militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985, extinguiu partidos políticos, suspendeu direitos, estabeleceu eleições indiretas, exilou artistas, intelectuais e lideranças políticas, além de usar de violências para cassar a liberdade das pessoas que discordavam do militarismo. Torturas, desaparecimentos, explosões, sequestros, enforcamentos e medos são realidades vivenciadas nesse período de muita tristeza.
Entretanto o que poderia suprimir a produção artística e intelectual acabou, paradoxalmente, sendo um período de muita riqueza e criatividade cultural, bem como arrojado engajamento político, pois houve quem driblasse a censura imposta para expor suas ideias, ainda que isso representasse, inclusive, risco de morte, e quem enfrentasse corajosamente os militares, organizando até movimentos de guerrilha.
Gilberto Gil, nesse período, estava começando sua carreira, já que seu primeiro disco foi lançado em 1963, pela JS Discos. A partir de sua estreia, uma análise contextualizada da obra de Gil revela o porquê de sua importância cultural para o Brasil, já que suas letras musicais mostram que o compositor não se intimidou e produziu canções altamente politizadas, subversivas, engajadas e irreverentes, contrariando o poder constituído dos militares, razão pela qual foi perseguido, mas não deixou de descrever um painel representativo da cultura brasileira na época do militarismo. É por tudo isso que a obra de Gilberto Gil precisa ser estudada e compreendida sob vários aspectos, uma vez que retrata um pedaço da história brasileira. Porém muitos brasileiros, principalmente jovens, não estão inteiramente preparados para descodificar várias canções, porque não entendem a interferência da implicatura contextual na intelecção de muitas canções de Gil. Sendo assim, este trabalho pretende - diacronicamente, mas sem análises exaustivas – exibir, nas letras de Gil, exemplos de casos de implicaturas sociais, políticas e históricas que apresentam implicitações de contextualidade capazes de enriquecer a interpretação de letras engajadas, denunciando problemas, em pleno militarismo, bem como analisar canções que revelam fatos e acontecimentos históricos, os quais exigem conhecimentos políticos para serem entendidas dentro do contexto de produção poético-musical. Essas implicitações estão presentes nas composições de Gil durante o período militar brasileiro. Por isso, estudar a obra de Gil a partir da contextualização se faz necessário à compreensão de diversos textos do cantor, os quais apresentam muitas implicaturas que, se bem analisadas, enriquecem as composições de Gilberto Gil.
Para tanto, as letras serão retiradas da obra Gilberto Gil: todas as letras: incluindo letras comentadas pelo compositor / organização Carlos Rennó. São Paulo, Companhia das letras, 1996.
Em 1964, em pleno ano de implantação do militarismo, Gil, na música Antigamente, já aborda a saudade de um tempo em que se vivia “Sem nada saber de dor” (Gil, 1996, p.51), verso que, contextualizado à repressão militar, pode sugerir uma denúncia. Também composta no mesmo ano, mas inédita, a canção Me diga, seu moço relata o lamento de um eu-lírico ao constatar as dificuldades da vida, como o próprio sustento e o da família, um texto engajado politicamente, pois o verso final afirma: “Diga, que eu brigo, diga, que eu vou lutar” (p.53). Nessa mesma linha, a música Retirante denuncia a enganação política a que os nordestinos são submetidos, como se observa nos versos “Foi tanta gente pra dizer / que dava de comer pro meu sertão / Mas eu não creio, não...” (p.53). Nem a religião escapou da crítica de GIL: Procissão retrata o sofrimento dos fiéis que não desistem por acreditar na salvação divina, entretanto o locutor finaliza o poema com os seguintes versos: “Mas se existe Jesus no firmamento / Cá na terra isto tem que se acabar” (p.56). Esse posicionamento ideológico diante da religião o próprio Gil comenta, trazendo informações relevantes:
Uma canção bem ao gosto do CPC, o Centro Popular de Cultura; solidária a uma interpretação marxista da religião, vista como o ópio do povo e fator de alienação da realidade, segundo o materialismo dialético (p.56).
A Bahia, terra de Gil, é louvada em sua poesia, mas sem abandonar a criticidade. A música Eu vim da Bahia mostra, em 1965, o desejo do retirante de voltar à terra natal, porém aponta os males dessa cidade: “Onde a gente não tem pra comer / Mas de fome não morre...”, “Eu vim da Bahia / Mas eu volto pra lá...” (p.58).
Em 1966, um fato histórico, o pouso de uma aeronave na lua, é mostrado na música Lunik 9, a qual mostra justamente o pouso do Lunik 9 na lua. Quem não conhece o fato e a nomenclatura que dá título à letra musical, presa à implicatura convencional, tem dificuldade de interpretar a canção de um poeta temeroso diante da nova tecnologia, contudo crítico: “Lá se foi o homem / Lá se foi buscando / A esperança que aqui já se foi” (p.64). Isso eram críticas realizadas no auge do militarismo. Em Ensaio Geral: “Nossa turma é da verdade / E a verdade vai vencer...” (p.64).
Em companhia de parceiros famosos por serem aguerridos contra a repressão – Geraldo Vandré e Torquato Neto – Gil compôs Rancho da Rosa encarnada, que trata da esperança de dias melhores, possível de ser entendida fora do contexto militar, mas, contextualizada, ganha, certamente, maior relevância e sentido, o que torna a mensagem mais significativa ainda: “Cantamos amores / Trazemos também / A notícia da grande alegria que vem / Pra durar mais que um dia...” (p.65). Em Mancada, é abordada a necessária cobrança de honestidade: “O dinheiro que eu lhe dei / Não é meu, não / É da escola / Por favor, não mete a mão...” (p 70).
Em 1967, Gilberto Gil e Nana Caymmi cantam Bom dia, uma música que trata da despedida de um casal pela manhã, quando o homem sai para trabalhar. O tom crítico aparece: “O dia / te exige / o suor e o braço / pra usina / do dono / do teu cansaço...”(p.82). No mesmo ano, Ele falava nisso todo dia mostra a história de um jovem rapaz de 25 anos que só pensava em fazer o seguro da família e morre na porta de uma seguradora: “Ele falava nisso todo dia / se morresse ainda forte / um bom seguro era uma sorte pra família / Era um rapaz de vinte e cinco anos / hoje ele morreu em frente à companhia de seguro...”(p.86). Essa é uma canção de engajamento político, contrária à proteção burguesa e ao desprezo pela vida, dentro da visão maniqueísta da ideologia do período, que desprezava valores familiares.
Em 1968, A luta contra a lata ou a falência do café relata uma questão histórica, que é a crise do setor cafeeiro, a qual desencadeou uma mudança nas oligarquias brasileiras, dominadas pelos barões do café: “As latas tomam conta do balcão / Vivemos dias de rebelião / Enlate os restos do barão / A lata luta com mais forças / Adeus, elite do café...”(p.93). Esse texto reconstitui um momento da história brasileira, apresentando uma implicatura cultural particularizada, imprescindível à compreensão de seu sentido crítico às oligarquias. Rei do maracatu, escrito a quatro mãos por Gil e Jorge Bem, hoje Jorge Bem Jor, faz referência à perseguição ao negro pelo capitão da mata, uma implicitação histórica sobre a escravidão: “Toda vida trabalhando, se virando / e o capitão da mata procurando / um jeito de evitar que nego bote pra quebrar...”(p.99). Questão de ordem é de implicação política, mostra um momento de subversão ao sistema militar, que era feito corajosamente por jovens que se organizaram para enfrentar o militarismo, correndo risco de morte, e muitos deram, como se sabe, a vida para que as pessoas pudessem, hoje, gozar a liberdade de expressão:
“Palavras de ordem / Para os companheiros / Que esperam nas ruas / Pelo mundo inteiro / Em nome do amor / Por uma questão de ordem / Por uma questão de desordem / Os que estão comigo / Muitos são distantes / Se eu sair agora / Pode haver demora / Demora tão grande / Que eu nunca mais volte / Em nome do amor...”(p.100).
Em 1969, Com medo, com Pedro afirma a necessidade de enfrentar a vida, sem medo: “Deus me livre de ter medo agora / Depois que eu já me joguei no mundo / Deus me livre de ter medo agora / Depois que eu já pus os pés no fundo” (p.113). Essa música foi dedicada a Pedro, filho de Gil, mas foi composta bem antes do nascimento de seu rebento. A canção Cultura e civilização denota a rebeldia de Gil diante dos padrões de comportamento social: “A cultura / A civilização / Elas que se danem / Ou não / Contanto que me deixem / Ficar na minha / Contanto que me deixem / Ficar com minha vida na mão”(p.114). Objeto sim, objeto não é uma música esotérica, que aborda a chegada de “Novos seres que virão”, mas não deixa de fazer referência histórico-geográfica e crítica política: “Eubioticamente atraídos / Pela luz do Planalto central / Das Tordesilhas / Fundarão o seu reinado / Dos ossos de Brasília” (p.115). Como se observa, a falta de conhecimento histórico prejudica a interpretação da letra, o que constitui um exemplo de implicatura particularizada.
Em 1970, Minimistério trata não só do mistério, mas também do ministério, uma referência política: “Compre, olhe / Não custa nada / Só lhe custa a vida...” (p.118). Como se observa, essas insinuações são muito fortes para um período de repressão. Fechado pra balanço segue a mesma linha crítico-política: “O resto não dá despesa / Viver não me custa nada / Viver só me custa a vida...”(p.119).
Em 1972, Back in Bahia, composta depois da chegada de Gil ao Brasil, pois ele se encontrava exilado pelos militares em Londres, é uma canção que retrata a saudade que o poeta sentiu da terra Brasileira: “Lá em Londres vez em quando me sentia longe daqui...” (p.130). Entretanto o eu do poema se mostra forte, considerando o exílio uma aprendizagem: “Hoje eu me sinto / Como se ter ido fosse necessário para voltar / Tanto mais vivo / De vida vivida, dividida pra lá e pra cá...” (p.130). Brincar pra valer é uma música irreverente, que confirma a desobediência de Gil à Ditadura, inclusive brincando com a bandeira brasileira: “Eu mando e não peço / Eu sou o progresso / Na bandeira nacional...” (p.132). Chuva miúda fala de um tempo de enganação, o militarismo: “Ai meu Deus, chuva miúda / Se não muda o tempo e não abre o sol / Não vai dar pra brincar / Esse tempo que molha e não chove / Esse tempo / Esse papo que chove e não molha...” (p.133). Porque o período militar foi violento, a morte constituiu um tema presente. Entretanto, na música Morte, o eu lírico manifesta coragem para enfrentá-la sem medo: “Não precisa de muito cuidado / Ela mesma se cuida / É rainha que reina sozinha / Não precisa do nosso chamado / Medo / Pra chegar...” (p.134). Esses exemplos se encaixam em implicaturas generalizantes, pois podem ser lidos sem o contexto, mas sem dúvida perderão uma parcela significativa da intencionalidade do autor do enunciado.
Em 1973, a composição Eu preciso aprender a só ser também denuncia a repressão: “É tanta coisa pra gente saber / o que cantar, como andar, aonde ir / o que dizer, o que calar, a quem querer...” (p.136). Em parceria com Chico Buarque, um dos mais perseguidos pela censura militar, Gil Compôs Cálice, música que faz referência ao “cale-se” do período de exceção. Conforme depoimento de Gil, os dois intercalaram as estrofes entre o refrão. A primeira estrofe é de Gil, a segunda de Chico, a terceira de Gil e a quarta de Chico. O refrão, encontradiço na Bíblia: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice!” (Mt. 26:39), já sugere o calar e a violência: “Pai, afasta de mim esse cálice / De vinho tinto de sangue” (p.138). O silêncio e a agressão são denunciados: “Silêncio na cidade não se escuta... / Tanta mentira, tanta força bruta... / Essa palavra presa na garganta...” (p.138). Por causa da coragem que os dois cantores e compositores tiveram de cantar a composição em um show encomendado pela Polygram, já que foram recomendados a não cantarem, os microfones foram desligados impedindo-os de mostrar a música ao público. A preocupação com problemas sociais mostrava o grau de politização do compositor que não hesitou em exibir sua crítica em plena era militar, como se nota na canção Lamento sertanejo, em que o povo é comparado a uma boiada obediente e o eu poético se vê desgarrado dessa vida de boi: “Eu quase não sei de nada / Sou como rês desgarrada / Nessa multidão boiada / Caminhando a esmo...”(p.140). Cidade do Salvador destaca o sofrimento: “Dor e dor e dor / tanta dor / A dor / A dor / A dor...” (p.148).
Em 1974, Cibernética demonstra o interesse por um mundo melhor, sem o abuso de poder:
“Cibernética / eu não sei quando será / Mas será quando a ciência / Estiver livre do poder / A consciência, livre do saber / E a paciência, morta de esperar / Que a luta pela acumulação de bens materiais / Já não será preciso continuar...” (p.149).
Em copo vazio, novamente a dor e a enganação são abordadas: “Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho / Que o vinho busca ocupar o lugar da dor / que a dor ocupa a metade da verdade...” (p.157). Em Está na cara, está na cura, o medo é questionado: “Está na cara / Você não Vê / Que a caretice está no medo / Que o segredo está na cura, está na cara / Está na cura desse medo...” (p.159).
Em 1975, Tudo tem manifesta o otimismo, a mola mestra de quem lutava contra o militarismo: Tem, tem, tem / Sempre tem / Jeito tem / Tem, tem, tem / Sempre tem jeito tem...” (p.163). Essa música também constitui um exemplo de implicatura generalizante, por admitir interpretações descontextualizadas, mas a contextualidade da letra a torna muito mais significativa. Deixei recado exprime o trabalho do artista que não se calou: “Falei do tempo / Falei do fogo / Falei da dor / Andei correndo / Andei sofrendo / Andei demais...” (p. 164). Ninguém segura este país aborda as características do povo brasileiro, de vários estados do país, mantendo a ironia crítica:
“É moda dizer que baiano está por cima / Segurando a barra dessa rima / deve haver algum pernambucano por baixo / Um sergipano por fora / Um maranhense de fora / Um rio-grandense de toca / Um carioca pirado / Um paulista ocupado / Um mineiro calado / Um catarinense tímido / Um amazonense úmido / Cada qual no seu perfeito estado natural...” (p.165).
Abacateiro, acataremos o teu ato, embora o próprio autor negue que pensou nos militares, é uma letra de canção que pode ser vista como uma crítica ao militarismo, em que o verde do abacate lembra a farda dos militares e o ato possa ser ligado ao Ato Institucional, que cassou a liberdade de expressão e implantou o medo e a força no comando da nação, pois alguns políticos, durante o governo de Geisel, os governadores e a terça parte dos senadores, eram biônicos, isto é, indicados pelos militares, sem eleição direta: “Enquanto o tempo não trouxer teu abacate / Amanhecerá tomate / E anoitecerá mamão” / Abacateiro / Sabes ao que estou me referindo” (p.168). Pai e Mãe mostra mais uma vez a irreverência comportamental do poeta, que em pleno regime militar beija os homens que eram seus amigo: “Eu passei muito tempo / Aprendendo a beijar / Outros homens / Como beijo a meu pai...” (p.170). Jeca total mostra a vontade de ver o pobre vencer, falar o desejo e ocupar o espaço da luta pelos seus direitos: “Jeca Total deve ser jeca Tatu / Representante da gente no Senado / Defendendo um projeto / Que eleva o teto salarial no sertão / Jeca Total deve ser Jeca Tatu / Jorge Salomão...”. (p.171). Eis um exemplo de implicatura particularizada, pois o desconhecimento sobre Jorge Salomão dificulta o entendimento do texto. Jorge Salomão era irmão do poeta e compositor Waly e foi morar nos EUA, onde se fez artista respeitado, um exemplo de Jeca Total, assim como o Presidente Lula, um homem simples que venceu na vida política e, curiosamente, nomeou Gil Ministro da Cultura. Numa atitude de convidar o povo a se soltar e a manifestar seus sentimentos, a música Ê, povo, ê convida ao desabafo: “Ê povo, ê, povo, ê / Desabafa o coração...” (p.172).
Em 1976, a crença em um mundo possível é mostrada em pleno regime militar: “Nós somos apenas vozes / Ecos imprecisos do que for preciso / Impreciso agora / Impreciso tão preciso amanhã...” (p.177). No mesmo ano, a música O seu amor brinca com um famoso slogan da ditadura - Brasil, ame-o ou deixe-o -, o qual era usado para enganar a população afirmando que os exilados deixavam o país porque não o amavam. Mas na verdade muitos artistas, entre eles Gil, foram obrigados a se retirar do país. Entretanto, na canção O seu amor, a visão é bem diferente:
“O seu amor / Ame-o e deixe-o / Livre para amar / O seu amor / Ame-o e deixe-o / Ir aonde quiser / O seu amor / Ame-o e deixe-o brincar / Ame-o e deixe-o correr / Ame-o e deixe-o cansar / Ame-o e deixe-o dormir em paz / O seu amor / Ame-o e deixe-o / Ser o que ele é...” (p.180).
O próprio Gil explica, no livro, a implicatura política particularizada presente na música:
“A intenção foi brincar com o slogan da ditadura, ‘Ame-o ou deixe-o’, promovendo, através da substituição de uma conjunção, um corte profundo de ruptura no significado reducionista, possessivista e parcial do aforismo oficial, símbolo do fechamento e da exclusão maniqueísta, para criar um outro, com outra moral, a do amor – e, portanto, absolutamente generoso, democrático, libertário...” (p.180).
O que se observa é que um intérprete dessa canção que não conhecesse o slogan militar da ditadura até poderia fazer uma interpretação descontextualizada, mas não atingiria o grau politizado, contextual e histórico da letra musical, o que reduziria a expressividade política da mensagem. Já a música Balada do lado sem luz mostra o prazer de cantar a vida, mesmo que esta apresente problemas, como a falta de liberdade, bem característica da época militar:
“O mundo da sombra / Região do escuro / Do coração duro / Da alma abalada, abalada / Hoje eu canto a balada do lado sem luz / Subterrâneos gelados do eterno esperar / Pelo amor, pelo pão / Pela libertação / Pela paz, pelo ar / Pelo mar / Navegar, descobrir / Outro dia, outro Sol...” (p.183).
Era nova é uma canção que questiona o fim de certos ciclos históricos e até mesmo os messianismos que esperam tempos melhores, pois mostra que o tempo é agora:
“Falam tanto de uma nova era / Quase esquecem do eterno é / Novo tempo sempre se inaugura / A cada instante que você viver / O que foi já era, e não há era / Por mais nova que possa trazer de volta / O tempo que você perdeu, perdeu, não volta / Embora olhar o mundo cause tanto medo / Ou talvez tanta revolta / A verdade sempre está na hora...” (p.190).
A música Queremos saber revela o interesse em saber se as invenções chegarão ao acesso do povo:
“Queremos saber / O que vão fazer / Com as novas invenções / Queremos notícia mais séria / Sobre a descoberta da antimatéria / E suas implicações / Na emancipação do homem / Das grandes populações / Homens pobres das cidades / Das estepes, dos sertões...” (p.191).
Essa preocupação social de Gil demonstra a coragem de um compositor que enfrentou o militarismo, foi exilado, correu risco de morrer. Por isso, ler suas canções sem considerar o contexto em que seus discursos foram produzidos significa uma injustiça textual. Já a religião, tão incentivada pelos militares, também é criticada nas letras de Gil, principalmente pela hipocrisia, que não respeita o diferente. A música Minha jovem vizinha aborda a estranheza de uma jovem e de sua mãe diante de uma pessoa que se comporta fora dos padrões aceitos na época:
“Eu gosto tanto da jovem vizinha / Pena que ela ache tão estranha minha maneira de ser / Eu também gosto da mãe da vizinha / Pena que ela faça uma ideia tão errada de Jesus / Parece que ela não advinha / Que não foi exatamente por ser como ela é / Que o mestre foi parar na cruz...” (p.191).
Existe, nessa canção, a sugestão de que Jesus foi condenado, num sistema também de repressão, por ser diferente, por não se enquadrar nos padrões de seu tempo, assim como muitos eram perseguidos pelos militares por se comportarem de maneira livre, sem regras rígidas de comportamento. A falta de consciência racial de alguns negros também foi criticada na letra Sarará miolo: “Sara, sara, sara cura / Dessa doença de branco / De querer cabelo liso / Cabelo duro é preciso / Que é pra ser você, crioulo ” (p.192).
Em 1977, Refavela critica os conjuntos habitacionais criados no Brasil a partir dos anos 50, objetivando tirar as pessoas das favelas e dar-lhes dignidade, mas essas casas acabaram se tornando novas favelas: “A refavela / Revela o salto / Que o preto pobre tenta dar / Quando se arranca / Do seu barraco / Prum bloco do BNH...” (p.194). A letra Aqui e agora, embora pareça otimista, não deixa de abordar a vigilância e o silêncio: “O melhor lugar do mundo é aqui / E agora / Aqui, onde o olho mira / Agora, que o ouvido escuta / O tempo, que a voz não fala / Mas que o coração tributa...” (p.196). Um sonho mostra o desejo político de um eu comprometido politicamente com o povo: “Eu tive um sonho / Que eu estava certo dia / Num congresso mundial / Discutindo economia / Mais controle, Mais-valia / Da ampliação do espaço / Da poesia...” (p.200). Ainda sobre o sonhar É denuncia os problemas, mostra a importância do sonho, mas convida à ação: “A fome, o verme, a brutalidade boçal / Ainda causam mil tragédias por aí / O sonho de evitá-las é justo sonhar / É / Sonhar é natural / Mas é preciso menos falar, mais agir...” (201). Não, não chore mais, versão de Gil para “No woman, no cry, de B. Vincent, manifesta a implicatura conversacional particularizada, na medida em que fala de um tempo histórico imprescindível à intelecção da música, a Ditadura Militar. A letra aborda a vigilância, as prisões e os desaparecimentos comuns na época, mas também um certo otimismo:
“Bem que eu me lembro / Da gente sentado ali / Na grama do aterro, sob o Sol / Ob-observando hipócritas / Disfarçados, rodando ao redor / Amigos presos / Amigos sumindo assim / Pra nunca mais / Tais recordações / Retratos do mal em si / Melhor é deixar pra trás / Não, não chore mais / Não, não chore mais / Mas se Deus quiser / Tudo, tudo, tudo vai dar pé...” (p.204).
Em 1978, a postura de defesa da tolerância religiosa e até ateísta, seguida de intertextualidade com Fernando Pessoa, se manifesta no texto Entre os ateus: “Dou grito por dentro / Esperando por Deus / Não temo doenças / E vivo contente entre os ateus / E se a alma não é pequena vai saber / Que vale a pena viver...” (p. 209). O tom crítico de Gil mostra, na canção Chororô, que o lamento piegas não é bem recebido por quem deseja transformar o mundo, pois não traz bons resultados: “Chororô, chororô, chororô / É muita água, é mágoa, é jeito bobo de chorar / Mas quando uma pessoa chora seu choro baixinho / De lágrima correr pelo cantinho do olhar / Não se pode duvidar / Da razão daquela dor...” (p. 213).
Em 1979, Realce aponta a discussão filosófica da não ação como ação, isto é, a impotência que se torna potência com o desencadear dos acontecimentos, uma visão até certo ponto otimista:
“Não se incomode / O que a gente pode, pode / O que a gente não pode, explodirá / A força é bruta / E a fonte da força é neutra / E de repente a gente poderá / Se a vida fere / Com a sensação do brilho / De repente a gente brilhará...” (p. 222).
Super-homem – A canção revela uma crítica ao machismo, à falta de sensibilidade para se perceber que homem e mulher se complementam, sem superioridades, o que representa uma audácia em tempos de repressão:
“Um dia / Vivi a ilusão de que ser homem bastaria / Que o mundo masculino tudo me daria / Do que eu quisesse ter / Que nada / Minha porção mulher, que até então se resguardara / É a poção melhor que trago em mim agora / É que me faz viver...” (p. 224).
O questionamento contra o maniqueísmo é uma postura politizada, principalmente em tempos de ditadura, como ocorre na música Toda menina baiana, que aborda isso de maneira aparentemente inocente:
“Toda menina baiana tem um encanto, que Deus dá / Toda menina tem um jeito, que Deus dá / Toda baiana tem defeito, que Deus dá / Que Deus dá / Que Deus dá / Que Deus entendeu de dar a primazia / Pro bem, pro mal, primeira mão na Bahia / Primeira missa, primeiro índio abatido também / Que Deus deu...” (p. 226).
Meu Coração evidencia o engajamento político no sentido de querer um presente justo, de não se conformar com a realidade: “Meu coração não quer / Nada no futuro / Ele só quer pra já / Já que está maduro...” (p. 228).
Em 1980, Saci-Pererê exibe uma crítica, irônica e leve, atingindo até mesmo alguns jogadores de futebol, pois um poeta atento não deixa a realidade escapar da sua poesia:
“Vou prestigiar o time do Saci-Pererê / O moleque Saci-Pererê com uma perna só / Vai ver que é melhor / Do que muitos por aí com duas pernas de pau / Entra um time novo, troca o time inteiro, muda tudo / Tem jeito não / Falta alguma coisa tipo liberdade, profissão de fé / Devoção...” (p.233).
Amo tanto viver revela que a tristeza pelos tempos de dor ainda continua presente no canto de Gil: “Todas as vezes que eu canto é a dor / Todas os fios da voz / Todos os rios que o pranto chorou / Na vida de todos nós...” (p. 234). A sugestão da bissexualidade, em tempos de violenta repressão, é também uma atitude política manifestada em Corações a mil:
“Minhas ambições são dez / Dez corações de uma vez / Pra eu poder me apaixonar / Dez vezes a cada dia / Isso sem considerar / A provável rebeldia / De um desses corações gamar / Muitas vezes num só dia / Ou todos eles de uma vez / Todos dez / Desatarem a registrar / Toda gente fina / Toda perna grossa / Todo gato, toda gata...” (p. 235).
Lente do amor também sugere essa temática: “Sou capaz de enxergar / Toda moça em todo rapaz...” (p. 237). Palco mostra a intenção e o prazer do poeta ao cantar o canto de liberdade, de paz, de benfeitoria do homem para o homem, combatendo, de maneira paradoxal, o calor com mais calor: “Fogo eterno pra afugentar / O inferno pra outro lugar / Fogo eterno pra consumir / O inferno fora daqui...” (p. 238). As respostas prontas para tudo são questionadas até no plano da fé, pois a música Se eu quiser falar com Deus revela que as respostas sobre o mundo das almas ninguém pode dar: “Se eu quiser falar com Deus / Tenho que me aventurar / Decidido, pela estrada / Que ao findar vai dar em nada / Nada, nada, nada, nada / Do que eu pensava encontrar...” (p. 240).
Em 1981, Metáfora pede que aos poetas seja dada a liberdade, sem patrulha ideológica, para comporem seus versos distanciados da vigilância e das explicações: “Por isso, não se meta a exigir do poeta / Que determine o conteúdo em sua lata...” (p. 249). O Caráter de liberdade é explicado por Gil no livro:
“Eu queria responder às cobranças, que nos eram feitas na época, de conteúdos mais dirigidamente político-sociais, e falar da independência do poeta; do fato de a poesia e a arte em geral pertencerem ao mundo da indeterminação, da incerteza, da imprevisibilidade, da liberdade, do paradoxo. O poeta Haroldo de Campos se identificou com a canção, que de fato é sobre – e para – todos nós; eles, os concretistas, que foram atacados pelos conteudistas, e nós, os baianos, que abraçamos a causa deles” (P. 249).
Ainda em 1981, Nossa indica a visão de que as futuras gerações terão consciência dessa luta pela liberdade de expressão: “E os tempos futuros vão / Saber como foi / Escrever nos muros vão / Nas pedras do chão / A história da nossa ilusão...” (p. 252).
Em 1982, Na música TV Punk, os canais de televisão, a presidência, a fé e a sexualidade também receberam críticas diversas:
“No canal A / O feijão está pouco / E o muro, sem reboco / No canal B / O planeta está oco / E o presidente, louco / No canal C / O céu deu um pipoco / E deus levou um soco / Só animais nos canais / D, E, F, G / Só anões nos canais / H, I, J, K / Nada de mais nos demais canais / Até o V / Só travestis / No canal X / O locutor está rouco / E a imagem, sem foco / No canal Z / Da sua tv Punk / Sadomasopunk” (p.257).
A rua é vista pelo poeta, em Noite de lua cheia, como abrigo, um incentivo ao povo que vá às ruas e demonstre seus sentimentos: “É quando sinto que não minto quando digo: / ‘Não há perigo, tenho um grande abrigo – a rua’” (p. 259). A raça humana critica a humanidade e seus comportamentos contraditórios: “A raça humana é / Uma semana / Do trabalho de Deus / A raça humana é a ferida acesa / Uma beleza, uma podridão / O fogo eterno e a morte / A morte e a ressurreição...” (p. 261).
Em 1983, Extra representa um pedido, aos santos e ao ET, de socorro contra as injustiças: “Racha / Os muros da prisão / Abra-se cadabra-se a prisão / Faça-se abrir / Deixa Nossa dor fugir / Abra-se cadabra-se o temor / ET e todos os santos, valei-nos / Livrai-nos desse tempo escuro” (p. 262). Punk da periferia expõe os problemas das cidades:
“Quis trazer assim nossa desgraça à luz / Esgotados os poderes da ciência / Esgotada a nossa paciência / Eis que esta cidade é um esgoto só / Sou um punk da periferia / Sou da Freguesia do Ó / Ó, aqui pra vocês!” (p. 267).
O veado, pelo próprio título, marca a irreverência de um poeta que abordou os mais diversos temas, inclusive a homossexualidade, em seus textos. Na música, o autor questiona o conservadorismo, pois Gil, subvertendo os costumes da época, chegou a se apresentar várias vezes com roupas femininas:
“O veado / Como é lindo / Escapulindo pulando / Evoluindo / Correndo evasivo / Ser veado / Ter as costelas à mostra / E uma delas / Tê-la extraída das costas / Tê-la Eva bem exposta / Tê-la Eva bem vista” (p. 268).
Quilombo, o Eldorado negro mostra uma parte importante da História do Brasil, pois os negros se refugiavam em quilombos que construíam:
“Quilombo / Que todos regaram com todas as águas do pranto / Quilombo / Que todos tiveram de tombar amando e lutando / Quilombo / Que todos nós ainda hoje desejamos tanto...” (p. 274).
Em 1984, Feliz por um triz exibe problemas de um eu que se identifica com os males do povo: “Sou feliz por um triz / Por um triz sou feliz / Mal escapo à fome / Mal escapo aos tiros / Mal escapo aos homens / Mal escapo ao vírus...” (p. 283). Pessoa Nefasta exorciza o mau exemplo do povo brasileiro, que pode ser visto como o político corrupto, o empresário explorador e o ladrão desumano:
“Tu pessoa nefasta / Vê se afastas o teu mal / Teu astral que arrasta tão para baixo no chão / Tu, pessoa nefasta / Pede / que te façam propícia / Que retirem a cobiça, a preguiça, a malícia / A polícia de cima de ti...” (p. 284).
A mão da limpeza volta a questionar o racismo, desfazendo uma frase preconceituosa e politicamente incorreta:
“O branco inventou que o negro / Quando não suja na entrada / Vai sujar na saída, ê / Imagina só / Que mentira danada, ê / Na verdade a mão escrava / Passava a vida limpando / O que o branco sujava / Mesmo depois de abolida a escravidão / Negra é a mão / De quem faz a limpeza / Na verdade a mão escrava / passava a vida limpando / O que o branco sujava, ê / Imagina só / O que o branco sujava, ê / Imagina só / Eta branco sujão” (p. 288).
Febril é uma canção em que se faz alusão ao que se ouve e se vê em um show, mantendo a crítica social, marca de uma veia político-engajada: “Veio gente me pedir esmola / Veio gente reclamar uma escola / Veio gente me aplaudir / Veio gente vaiar / Veio gente dormir nas cadeiras...” (p. 294).
Em 1985, já no fim da ditadura e no início das Diretas Já, com os parceiros e amigos Caetano Veloso, Chico Buarque, Erasmo Carlos, Fausto Nilo, Fernando Brant, Milton Nascimento, Raimundo Fagner e Roberto Carlos, Gil canta Chega de Mágoa, expressando o sentimento de satisfação com o fim do período militar: “Nós não vamos nos dispersar / Juntos, é bom saber / Que passado o tormento / Será nosso esse chão...” (p.298). O otimismo paradoxal de Gil se Manifesta também em Minha ideologia, minha religião, exibindo a busca da luz no novo dia: “Minha ideologia é o nascer de cada dia / E minha religião é a luz na escuridão...” (p. 302). Nos barracos da Cidade aborda a crise de autoridade no meio do povo:
“Nos barracos da cidade / Ninguém mais tem a ilusão / No poder da autoridade / De tomar a decisão / E o poder da autoridade / Se pode não faz questão / Se faz questão, não consegue / Enfrentar o tubarão...” (p. 302).
Oração pela libertação da África do Sul exibe um poeta antenado com o mundo, preocupado com a justiça social: “Ó, Deus do céu da África do Sul / Sabei que o Papa já pediu perdão / Varrei do mapa toda escravidão...” (p. 305).
Nos exemplos abordados, a implicatura - política, histórica e social - se faz presente na medida em que várias canções, quando contextualizadas ao período de Ditadura Militar, tornam-se muito mais expressivas, ainda que seja possível perceber que algumas têm mais contextualidade de implicação do que outras.

8. CONCLUSÃO

O discurso poético-musical de Gilberto Gil é famoso, mas nem sempre compreendido em toda sua extensão político-social, pois muitas vezes, sem uma análise contextual implicada em aspectos históricos, os ouvintes não alcançam a multiplicidade calidoscópica de um poeta que representa, em sua obra, um painel cultural do Brasil, principalmente durante o período militar, quando Gil mostrou maturidade política, irreverência, coragem, poeticidade, engajamento social e habilidade discursiva inconteste, tornando-se um dos responsáveis pela derrota de um sistema que oprimia, torturava, matava e não respeitava a liberdade de expressão.
Sem a capacidade de entender esses diversos sentidos presentes nos enunciados produzidos em determinadas contextualidades, o leitor aparece como que inabilitado para perceber que discursos, como atos de interação comunicativa, constituem verdadeiras discussões. Por isso, diante da postura passiva de um ouvinte culturalmente desinformado, o texto, em vez de dialógico, torna-se monológico, haja vista que o receptor não está preparado para fazer intervenções interpretativas compatíveis com a riqueza textual das mais variadas composições, as quais evidenciam a contribuição de diversos ingredientes linguísticos e culturais.
Assim, a dimensão pragmática da análise do discurso considera a comunicação como uma prática social indissociável dos conhecimentos culturais de falante e ouvinte, pois as frases não podem ser desligadas dos contextos situacionais em que são produzidas, uma vez que isso poderia significar uma mutilação na mensagem e no entendimento, ou seja, um enfraquecimento no resultado da busca por descobertas implícitas. Se fossem radicalmente descontextualizadas, as enunciações entrariam num plano essencialmente subjetivo de interpretação que proporcionaria muitas divergências e confusões, prejudicando a eficiência da comunicabilidade e trazendo perdas históricas de informações relevantes ao desenvolvimento cultural de um povo, haja vista que uma gama considerável de textos literários se mostra carregada de documentalidade, registrando a existência humana e as mentalidades, questões atualmente valorizadas pela História e pelas ciências humanas em geral. A Ufes - Universidade Federal do Espírito Santo - já se mostra atualizada com a questão documental dos textos literários, pois desenvolve Curso de Especialização em História e Literatura: Texto e Contexto, o qual discute o texto literário como um dos objetos de trabalho para o historiador, abordando as possíveis relações que podem ser estabelecidas entre a história e a literatura.
Dentro desse processo de análise histórico-literária, importa considerar as implicaturas de sentido calculadas inferencialmente dentro das convencionalidades culturais e temporais de produção de um texto, porque esses elementos discursivos produzem a coerência textual que forma o significado e preenche uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, constituindo o principal viés de investigação da pragmática linguística, a qual considera impossível analisar a complexidade da linguagem sem a percepção de que a comunicação ocorre, necessariamente, em contextos socioculturais diversificados que precisam ser avaliados, tendo em vista que uma pesquisa funcionalista da linguagem visa a identificar sentidos sociais e culturais e a justificar as interpretações sociointerativas.
Nesse sentido, as composições de Gil se mostram interdisciplinares e devem ser trabalhadas, nas escolas principalmente, envolvendo as mais diversas disciplinas, especialmente a Língua Portuguesa, a História, a Sociologia, a Filosofia e a Literatura, com o objetivo de instrumentalizar culturalmente os discentes para que possam ser capazes de perceber a abrangência de um texto poético como registro de uma mentalidade, de uma época, de um comportamento social e político, o que eleva a Literatura a uma condição ainda mais valorizada de documento, porque passa a ser vista como texto social, político, filosófico e histórico. Essa visão torna a poesia muito mais significativa, pois pensar a textualidade literária apenas como um jogo interpretativo livre, que dá ao leitor amplas liberdades subjetivas e fantasiosas de intelecção, é uma atitude que diminui a energia múltipla dos textos.
Em suma, os educandos e os leitores em geral devem ser preparados para entenderem que os textos fazem parte de contextos socioculturais, cujos conhecimentos constituem pré-requisitos imprescindíveis a uma adequada interpretação, que só se realiza quando o leitor está amadurecido intelectual e linguisticamente para assumir uma postura ativa de busca de intencionalidades e inferências dentro das estruturas de expectativa em que se enquadram os discursos. Para que isso ocorra, a leitura exige interlocução - interação - em certo contexto situacional. Dessa forma, quanto mais se lê, mais experiência se adquire para desenvolver, de modo eficiente, uma interpretabilidade mais ampliada, com maior plurissignificação, isto é, globalizada. Assim, as leituras contextuais constituem, dentro da Sociolinguística Interacional, instrumentos de compreensão do comportamento humano e de cidadania, uma vez que podem ser utilizadas na promoção de uma sociedade mais consciente e harmônica.
Para tanto, faz-se necessário investigar sempre as variadas implicaturas que aparecem em diversos textos e autores, buscando observar que o mundo externo se acrescenta às obras de modo multifacetado, o que impossibilita definições fáceis, já que as mensagens vão além do que está dito e apresentam implicações de sentido e de repercussões textuais criativas e contextualizadas, envolvendo o mundo do texto e o mundo do leitor, bem como definindo as competências de leitura. Esse comportamento linguístico caracteriza a apropriação social dos discursos manifestada em sinais de implicaturas, as quais evidenciam pluralidades culturais capazes de ajustar a compreensão das obras a partir da organização do mundo social, que produz significados relevantes para o desenvolvimento sociocultural da humanidade, preservando saberes e críticas textuais como patrimônios históricos, sociais e políticos, tais como se observa nos textos de Gilberto Gil, o ex-ministro da Cultura do Brasil.

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