quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Editorial - Sempre atrás do prejuízo

Sempre atrás do prejuízo


É notória a falta de proatividade no Brasil. Parecemos cultivar  o hábito de se estarmos sempre a um passo atrás de tudo. Em situações calamitosas, esse atraso invariavelmente é fatal. O Brasil chora, atônito, a morte de quase 300 jovens em Sant Maria e brada palavras de ordem clamando justiça, como se nos gritos saíssem gotas de sangue e de bile que surtissem esse efeito.
No último ano, este espaço expôs a carênciade proatividade em quatro situações. Duas se referiram a equívocos, duas, a méritos. Estão na lista negativa o desabamento do Edifício Liberdade, que completou um ano semana passada, e um caos no sistema de transportes sobre trilhos que parou a cidade - e que teve um bis ontem, ainda que em menor proporção. Nas benesses, contam - se a redução das mortes nas estradas no Carnaval pela PRF, em face do feriado de 2011, e o plano de contingência contra desastres da chuva, anunciado pelo governo em agosto.
Fiquemos com a questão do prédio da 13 de Mao. Em comum com o inferno na boate Kiss, uma legislação ignorada e lacunas inadmissíveis na fiscalização. Na casa noturna, as licenças estavam em renovação, e ninguém se preocupou com o fato de a banda costumeiramente soltar fogos em suas apresentações, mesmo num espaço exíguo e superlotado. No Centro do Rio, obras que desfiguravam e desestabilizaram um imóvel foram feitas na surdina - e escancararam uma cratera fiscalizatória.
Se o Brasil quer ser um país sério, tem de se reerguer das tragédias e virar a mesa, estando sempre um passo à frente. Isso se faz com que leis efetivas e fiscalização ativa.

Jornal O Dia - 29/01/13

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tá na Hora do Poeta - De pai para Pai




De pai para Pai

Pai,
Minha ficha conheces bem ,
Sabes que sou um bom sujeito,
Portanto, com todo devido respeito,
Não perderei tempo em mais delongas,
Solicitações ou preces longas.
Certamente o Senhor sabe de minha devoção
E – por ser pai também -   
Minha preocupação
Entende muito bem...

Pais não foram feitos
Para ver filho
Doente, aflito,
Ou com rotas com defeitos.
Portanto,
Aguardando que seja dissipado o conflito
A oração  já está feita
Aguardando ter sido bem aceita.

José Henrique da Silva
30/01/12

domingo, 27 de janeiro de 2013

Tá na Hora do Poeta - Numa tarde em Paraty



Numa tarde em Paraty

Novamente pisando,
Pelas doces ruas de Paraty andando,
Vou sentindo,
Em ti pensando,
De saudades vibrando ....

Ao caminhar por por íngremes pedras
Cheiros sinto de labirintos,
...
Dores e alçapões,
Riquezas miseráveis,
Medos, aflições e escuridões ...

Pelo mestre tempo,
Na fina chuva trazida pelo vento,
Faço como que uma viagem.
Ouço preces, gritos,
Risos de uma real malandragem.
Revejo gente
Que absurdamente trabalha
Enxergo almas
Que de pavor na ardência do chicote se chocalha.

Vislumbro pelo cais
Um brincar de imaginação,
Partidas de navios.
E por trás de janelões
Uma traição.
Paixões incandescentes
Corpos em desvarios,
Louco trançar de pernas
Juras eternas,
Desenfreados roçares de cabelos e pelos,
Almas em fogueiras,
Em corpos em esteiras.
A sede que desmaia,
Antes que a noite
Na manhã se derrame
E caia.

Em cada esquina
Um tecer de história,
Um jogo de memória,
Que para quem tem consciência, decência,
Alucina.
Nesse melancólico fim de tarde
A construção de uma cidade
Que arde
Em escusas vontades.
No cais de águas azul de anil
Espelhada está a triste história
De uma terra chamada Brasil .

José Henrique Silva
23/01/2013

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Crônica do Dia - Dois na cama - Luiz Fernando Veríssimo

Nos anos 30, reagindo a uma onda de protestos contra a “licenciosidade” nos filmes de Hollywood, a indústria cinematográfica americana criou um código determinando o que o público podia e não podia ver na tela. Nudez nem pensar, beijo de boca aberta esquece, sexo só sugerido e assim mesmo dentro de certos limites específicos. Homem e mulher, mesmo casados, não podiam aparecer na mesma cama. Durante os anos de vigência do código puritano, cama de casal, e tudo que ela implicava, era proibida, a não ser que fosse ocupada por uma só pessoa.

Com uma exceção, como sacou o Ruy Castro numa das suas colunas recentes na Folha: o Gordo e o Magro. Há várias cenas nos filmes do Gordo e o Magro em que os dois dormem juntos na mesma cama de casal – isso quando o sono não é interrompido por um fantasma ou uma briga pelo cobertor. E ninguém, que se saiba, jamais protestou contra os dois homens numa cama só. Talvez porque a ideia do Gordo e o Magro fazendo sexo não tenha ocorrido nem à mente mais suja ou mais puritana. Ou talvez se concedesse a uma dupla humorística, cujo fato de ser inseparável fazia parte da sua graça, uma licença que outros casais da tela não tinham.

O curioso é que justamente nessa fase em que o puritanismo reinou, alerta contra qualquer alusão sexual, por menos explícita que fosse, ninguém prestava atenção, por exemplo, no estranho relacionamento do Batman com o Robin. Nunca se soube se os dois dormiam juntos, mas essa seria uma especulação natural numa época tão fixada em sexo e seus subterfúgios. Mas só se começou a fazer este tipo de interpretação – o Zorro e o Tonto representando o colonialismo branco e a submissão do índio, mas certamente dormindo agarradinhos no frio das planícies – tempos depois, quando o ridículo código já tinha acabado, e as camas de casais podiam ser ocupadas por três ou quatro de sexos diferentes.

Mas entende-se. O puritanismo é uma espécie de inocência. Concentra-se tanto no rabo do vizinho que não vê mais nada. 

Jornal O Globo

Entrevista - Elza Soares - "Vamos celebrar o Mané Garrincha"


Elza Soares com a imagem de Garrincha vestindo a camisa do Botafogo
Foto: Gustavo Stephan / O GloboSem receber um centavo de Garrincha, Elza Soares é herdeira de seu bem mais valioso. A uma semana dos 30 anos de sua morte, em 20 de janeiro de 1983, o craque vive na capacidade da ex-mulher de usar a arte para driblar as pancadas da vida. Depois de perder três filhos e seu maior amor, Elza ainda solta a voz com otimismo e bom humor para sustentar um mito de rara grandeza.
Entre o apogeu e a derrocada, qual a imagem que fica do Garrincha?
Do futebol feliz, daquele homem alegre, que entrava em campo e acabava com qualquer tristeza e monotonia. Esquece o outro lado, já tem muita gente por aí fazendo besteira. Se soubesse por que ele foi esquecido já tinha corrido atrás como fiz para evitar que tirassem o nome dele do estádio de Brasília. E ganhei. Fui lá na Câmara e falei: “o que sobrou para ele foi isso”.
O Brasil não gosta de olhar para suas mazelas?
É como dizia o Cazuza: “Brasil, mostra a sua cara, quero ver quem paga para a gente ficar assim...” O espelho às vezes mostra coisas feias. Eu amo o espelho, mas tem gente que não gosta. Sou um ser humano, tive momentos de desespero mas você não pode sair gritando por aí. A dor é minha e me doeu. Melhor celebrar do que sofrer. Vamos celebrar o Mané Garrincha.
Já se passaram 40 anos da Copa de 1962, quando o Garricnha conquistou a madrinha da seleção como seu maior troféu...
Parece que foi tudo agora, ainda sinto o cheiro, o calor dele. Mané era muito limpo, cheiroso e asseado. Foi uma coisa de pele, de encostar, arrepiar. Alquimia total. Muito amor. Depois da Copa, ficamos fechados vários dias na minha casa na Urca. Na época, se deixava o pão e o leite na porta. Acumulou tudo. Eu saía devagarinho, pegava uma garrafa de leite, um pão, e entrava.
Consta que a paquera no início era com o Pelé...
Deus me livre. Não estou desfazendo, mas nunca fui esse tipo de mulher. Se fosse o Mané, seria o Mané e não o Pelé. Tenho respeito, mas para mim o rei é o Mané.
Como pintou o clima?
Negócio de Pelé?
Não, Mané. Pelo que você conta, o Pelé nem chegou perto...
Se alguém chegou, não fui eu. Tinha vinte e poucos anos, sempre tive corpo muito perfeito, mas para conquistar o Mané, o negócio era fazer uma boa comida. Gozado que ele era caçador mas gostava muito de peixe. Eu fazia uma peixada na panea de barro, com pirão, muito coentro, pimenta. Ele chegava em casa e só pelo cheiro já sabia que quem tinha feito era eu. Comia com muito gosto porque depois ele tinha outro peixe para comer. Prefiro falar assim com essa ironia que era dele.

Como vocês se conheceram?
Fui ver um treino da seleção em Friburgo antes da Copa. O Mané pediu para falar comigo, disse que tinha comprado um disco meu e estava espantado com a forma como eu cantava. Também falou que tinha ganhado um disco da cantora cubana Celiz Cruz e do músico J.J Johnson, que era o maior tombonista na época. Fiquei surpresa: “Cara, você conhece J. J. Johnson?”. Ficamos conversando e na hora de ir embora ele me deu um beijo. Eu correspondi, lógico. Receber um beijo e não retribuir seria falta de educação.
E no Chile?
Quem tomava conta dos jogadores era um cara muito bravo, o Paulo Amaral, mas ele gostava de mim e me levou para fazer uma visita à concentração. Foi um auê. Eu era uma menininha, custei muito a virar mulher. Na nossa conversa, eu falei para ele da minha preocupação porque estava faltando um monte de coisa lá no Brasil, arroz, feijão, soja, e sabe o que Mané disse? “Não se importa não, tenho um sítio e quando eu voltar vou abastecer vocês, desde que você faça uma feijoada para mim”. Essa foi nossa conversa, não dá para esquecer.
Em sua primeira aparição pública, no programa de calouros de Ary Barrosso, você disse que vinha do planeta fome, mas em 1962 a escassez que te preocupava era outra?
Estava falando do povo. Eu já tinha filé mignon na geladeira. Não precisava do Garrincha para nada. Na minha casa, só não tinha cerveja porque nunca gostei de bebida. Nem sabia que ele bebia, fui descobrindo aos poucos. Ele começou a chegar bêbado, dizia que tinha vindo de uma festa. Com o tempo, essa festa passou a ser todos os dias. Ele enterrava as garrafas de cachaça na beira da Lagoa, quando a gente morava lá. Saía para pescar e voltava embriagado. É triste demais para quem viu aquele garoto no auge virar aquele cara tão acabado.
E a separação?
Foi muito doída, tinha que fazer se não ele matava o meu filho. Pegava o menino pelos pés na beira da piscina e ficando gritando: “vou soltar”. Quando bebia ficava agressivo. É aquele negócio de o médico e o monstro. Depois, vinha cabisbaxo. Vivemos entre a dor e o desejo até o fim. Mané era um grande amante, um puta amante, só dizendo assim. Essa fama não é à toa. Era habilidoso até demais
Numa crônica, o Hermínio Bello de Carvalho tornou público o mito da virilidade ao revelar seu espanto diante da queda da toalha de Garrincha no vestiário do Botafogo...
Tudo que o povo queria era que o Mané deixasse cair a toalha. Todo mundo queria ver aquele índio criado a Toddy, livre, ao vento. O Mané tinha muito humor. Era uma pessoa linda de se lidar, que tem a cara do Brasil. Sumia para o mato, vivia sem camisa, com aquela sunga, as pernas tortas... Dizia: “Criola, tô indo”. Se enfiava no sítio do Chico Anysio e desaparecia. Trazia só passarinho. Era a paixão dele, conversar com os pássaros. Era gentil, sabia tirar a cadeira para uma mulher sentar, como já não se faz mais hoje. Se fizer, a mulher cai de bunda no chão. Nunca ouvi um palavrão da boca dele.
Em meio às dores, é preciso preservar a delicadeza.
Perdi três filhos, dois foram embora porque não tinham o que comer. Nem por isso, deixei de ser o que sou. Acordo todo dia com esperança de que vai ser melhor. Se está difícil, não briga. Brinca. Usei muita maquiagem, muito curativo para esconder as feridas. Tenho a minha medicina que é a música. Graças a Deus estou com um show maravilhoso, “Deixa a nega gingar”, vou para a Europa e muita gente por lá ainda pergunta por ele. As vezes, é preciso dar uma beliscada. Tudo que acontece hoje no futebol começou com ele. Gosto de passar naquele muro do Botafogo para ver a caricatura dele e apontar: olha lá o cara. Tenho camisas 7 que compro nas Copas do Mundo. É esquisito, você sofre dobrado, suspira fundo porque é muito frágil. Toda alegria do povo é sofrida, são momentos, um bom carnaval, um bom réveillon. Natal não sei se é muito bom, fica todo mundo contando dinheirinho para comprar presente. A gente não controla nada. Ninguém é de ninguém, fica tudo aí.
Para quem veio do planeta fome, a vida lhe ofereceu um rodízio completo de emoções.
As vezes foi pesado, mas teve de tudo. Só quem veio do planeta fome sabe dar valor a um banquete. Tento sair e levar muita gente mas tem quem adore o planeta fome, quem não faça nada para sair dele, é pao e circo mesmo. Não adianta ficar de vítima. A vida dá chance e você tem que aproveitar. Cantando o espírito fica livre, lindo e maravilhoso, mas evito algumas músicas do passado, como “Se acaso você chegasse”, a primeira que gravei, porque me lembram muito dele.
Você sobreviveu literalmente a um tiroteio por ficar ao lado dele, não?
Em 1970, lembro que ele foi me buscar num show e o nosso carro foi cercado por homens armados. Como o trânsito parou e as pessoas começaram a nos reconhecer, eles foram para a porta da nossa casa, no Jardim Botãnico. A gente já tinha subido para o quarto quando os vidros começaram a pipocar. Tinha um piano na sala que foi partido ao meio. O segurança perdeu parte do braço. Nunca soubemos o motivo, apenas que tínhamos que sair do Brasil. Vimos a final da Copa de 1970 num quarto em Roma, com o Mané chorando.
Ficou na sua conta o fim do primeiro casamento e da carreira que o proprio Garrincha não conseguiu conservar...
Peguei ele já em declínio. Eu estava lá em cima e ainda era acusada de me aproveitar. Tinha uma coisa meio absurda, um falso moralismo, porque ninguém falava que eu saía para cantar pelo Brasil em cima de caminhão para dar de comer às meninas deles, porque ele não tinha como pagar a pensão. Quem ganhava dinheiro era eu. Abri minha vida para ele, engravidei para lhe dar um filho. Moramos na Urca, Ilha do Governador, Lagoa, Jardim Botânico e ainda mandei fazer a casa de Jacarepagua para trazer as filhas dele, sete meninas. Queria dar o melhor para ele, tínhamos mordomo, governanta. O Mané se incomodava com a presença do mordomo sempre atrás dele e mandava que fizesse um prato para sentar na mesa e comer com todo mundo.
Você tinha a ilusão de que poderia transformá-lo num homem da sociedade?
Eu achava que um dia ele ia ser isso. Um vez, fiz um jantar incrível para que não se falasse apenas da bebedeira. Consegui botar um blazer no Mané, comprei naquela casa mais chique de Copacabana. Quando desceu a escada, era um lorde, estava lindo. Eu achava que ele iria virar um lorde. Para mim, sempre foi. Depois, teve o bar naquela casa que comprei da família do Nelson Rodrigues em Vila Isabel. Minha intenção era o Mané receber times que viessem jogar no Rio, mas foi pior porque havia muita garrafa nas prateleiras. Quando procurava por ele, estava dormindo atrás dos sacos de feijão, completamente embriagado. Perdi o bar, tinha que perder.
Você também tentou completar a escolaridade dele?
Depois que parou de jogar, contratei um professor particular, o Sebastião Filgueiras, de uma família de advogados fortíssimos. Foi uma decepção logo na pimeira aula. O Mané não deu uma palavra e ainda ficou bravo comigo, que eu o estava chamando de analfabeto. Foi uma lição. Garrincha dificilmente lia um jornal, o negócio dele era caçar, era natureza. Também caçava muito rabo de saia. Sabia caçar muito bem, era macho, tinha essa necessidade. Eu sabia, mas a casa dele estava lá. Ele voltava.
Garrincha fazia planos, tinha ambições?
Não. Mané era hoje. Gostava muito de olhar o céu, as estrelas e se espantava: “Meu Deus, como essa gente é boba, não sabe que vai viver por um tempo tão curto, para que ficar preso a tanta coisa, não vai levar nada..” Tinha uma filosofia de vida que também é a minha.
Espiritualmente, ainda tem alguma conexão com ele?
Tenho não. É muito dificil. Rezo muito, converso com ele, peço ajuda, mas não tenho esse poder. Nós nos separamos.
Você consegue rever o Garrincha no futebol de hoje?
Vejo o Neymar querendo fazer um pouco do Mané. Espero que um dia ele faça, rezo muito por ele, pode ficar tranquilo, como rezei muito para o Romário, para o Ronaldo. Tem que tomar conta do menino. Neymar usa a camisa 11 que o Garrincha usou em 58, tomara que chegue lá. É um menino leve, sem problemas, feliz. Torço para que não se machuque. Também gosto muito do Ronaldo e espero que agora como dirigente ele possa fazer da Copa uma homenagem ao Garrincha. Os jogadores de hoje não sabem quem ele foi. Nem citam. Quero fazer um museu para o Messi e o Cristiano Ronaldo conhecerem o Mané.
Pela sua capacidade de driblar a vida com arte, você é uma herdeira legitima de Garrincha.
A gente improvisa muito, Na vida e na musica também. Estrou sempre dando meu olé para cá e para lá. Mas com toda a brincadeira, levo a vida a sério, é linda demais, exige cuidado. Sou agradecida a tudo, até às criticas. Sem elas talvez não soubesse valorizar o que ganhei e o significado da palavra amor.

Artigo de Opinião - As drogas serão legalizadas ?

Em 2013, o mundo observará a experiência da liberação do consumo de maconha em dois Estados americanos. Como esse exemplo afeta a política das drogas na América Latina - e também no Brasil
Juliano Machado, Epoca, 30/12/2012

Os defensores da legalização das drogas começam 2013 com um apoio vindo de longe. Não de Amsterdã, a conhecida capital mundial dos coffee shops de maconha, mas da maior referência na criminalização desse mercado, da produção ao consumo. Os Estados Unidos são os grandes fiadores do combate aos entorpecentes pelo mundo - a expressão "guerra às drogas" foi cunhada pelo presidente Richard Nixon, em 1971. Em novembro de 2012, os moradores de dois Estados americanos,
Colorado e Washington, votaram pela descriminalização da venda, do porte e do cultivo de maconha para consumo pessoal para maiores de 21 anos. Nas terras das Montanhas Rochosas e da Microsoft, liberou geral.
Nos dois Estados, um morador poderá comprar até 28 gramas de maconha em estabelecimentos licenciados. Se preferir, terá o direito de plantar em casa até seis pés da erva. Foi a maior demonstração de que a política de proibição das últimas quatro décadas começa a ser questionada no maior mercado consumidor de drogas do planeta. Os exemplos do Colorado e de Washington deverão abrir o caminho para outros Estados fazerem o mesmo. A principal aposta é a Califórnia, onde em 2010 houve um referendo para legalizar a maconha. O "não" venceu, mas os californianos flertam com a ideia há tempos. Foram os primeiros a aprovar a maconha para uso medicinal, em 1996. É provável que o movimento pró-legalização se organize para 2014, nas próximas eleições legislativas.
As mudanças nos EUA fortalecem a corrente de líderes da América Latina a favor de uma revisão da política de repressão às drogas, financiada em grande parte por Washington. No centro do debate estão os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e do México, Enrique Pena Nieto. Eles governam, respectivamente, o maior fornecedor de cocaína para os EUA (quase 90% da demanda) e a principal porta de entrada da droga no mercado americano. Ambos partem do princípio de que, se os próprios americanos duvidam da eficiência do combate às drogas, é hora de pesar o valor dessa política. No México, as mortes associadas à guerra contra o narcotráfico são estimadas em 50 mil, desde 2006.
Não se espera, no curto prazo, uma onda de legalização na região. "Muitos países latino-americanos ainda consideram prematura a ideia", afirma o americano John Walsh, estudioso das leis sobre drogas na América Latina. O Brasil pode dar o primeiro passo nessa direção ainda em 2013. O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá votar a constitucionalidade da criminalização do porte de drogas para uso pessoal - uma lei de 2006 prevê, como pena, advertência ou prestação de serviços comunitários. A ação é movida pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que vê na lei um desrespeito ao direito constitucional da intimidade e da vida privada. As atenções no continente se voltarão primeiro ao Uruguai. O presidente José Mujica enviou um projeto de lei ao Congresso que legaliza o porte, o cultivo e o uso pessoal de maconha. A proposta vai além: dá ao Estado o monopólio da venda da droga, um negócio que gira em torno de US$ 40 milhões no país. A previsão é que a Câmara e o Senado, de maioria governista, aprovem o texto no primeiro semestre. Mesmo se o plano for bem-sucedido, é preciso considerar que o Uruguai tem pouco mais de 3 milhões de habitantes e baixos índices de criminalidade. "A América Latina tem uma oportunidade histórica de mudar a visão sobre as drogas, mas as chances de sucesso aumentam se os países maiores se unirem", diz a colombiana Amira Armen- ta, do Programa Drogas e Democracia do Instituto Transnacional.
Nos EUA, a lei federal ainda considera crime o porte de maconha para uso pessoal. O presidente Barack Obama já disse que o assunto não será prioridade de seu governo, mas o Departamento de Justiça deve ser pressionado pelas autoridades antidroga a contestar as mudanças em Washington e no Colorado. "Quando o caso chegar à Suprema Corte, a cláusula de supremacia de nossa Constituição imporá a lei federal. Essas leis serão revogadas nos próximos 18 meses", diz Peter Bensinger, chefe da Agência de Combate às Drogas dos EUA de 1976 a 1982.
Cerca de 200 mil pessoas morrem anualmente por problemas relacionados ao consumo de entorpecentes em todo o mundo. O tabaco e o álcool, ambos de uso irrestrito, matam muito mais: 5 milhões e 2 milhões por ano, respectivamente. Se as drogas forem legalizadas, dizem os "proibicionistas", aumentará o número de viciados e de mortes. O consumo vem caindo nos países ricos, mas é estável ou tem aumentado pouco nas nações mais pobres. As Nações Unidas mantêm a política de combate, mas está prevista uma sessão especial para discutir o assunto. O encontro, porém, será apenas em 2016. Até lá, a disputa entre as turmas a favor e contra deverá esquentar ainda mais.
 
Com Teresa Perosa

Entrevista - Paulo Coelho - " A humanidade terá de ser mais responsável e menos destrutiva"

Em 2011, o escritor Paulo Coelho sofreu uma obstrução nas artérias do coração que o lançou ao limite entre a vida e a morte e o estimulou a repensar toda sua carreira de autor de sucessos. “Os momentos difíceis nos ensinam a viver melhor”, disse a ÉPOCA de sua casa em Genebra, na Suíça. Hoje, aos 64 anos, menos viajante e mais preocupado com a qualidade de vida, ele encontra tempo para meditar, planejar um romance a ser lançado em 2013 e fazer previsões. Nesta entrevista, discorre sobre o futuro do Brasil e do mundo. Segundo ele, a palavra de ordem para os meses que virão é “responsabilidade”.


1. ÉPOCA – Que sentimento o senhor recomenda à humanidade para os próximos meses?
Paulo Coelho – O sentimento da responsabilidade. A humanidade terá de ser mais responsável e menos destrutiva. A comunidade social permite que qualquer pessoa tenha uma voz que será ouvida. É preciso aproveitar isso para se fazer ouvir. É o contrário do que acontece hoje, nas caixas de comentários de notícias. Em vez de se dar conta de que são responsáveis pelo que dizem, elas se dedicam a criticar qualquer coisa e pessoa de forma violenta e indiscriminada. É o que se chama de “trolar” no jargão da internet. Faça com que sua voz seja ouvida com responsabilidade, e não como uma brincadeira. Mais responsabilidade e menos “trolagem”!
2. ÉPOCA – Que lugar inspirador ou para peregrinar o senhor recomenda para 2013?
Coelho – Peregrine por seu coração. Ele é inspirador. As pessoas estão frequentando muito a lógica e deixando de lado o sentimento. O coração tem uma caixa de ferramentas de que você precisará em 2013. Ali, você encontra a intuição e a capacidade de reagir rápido sem pensar muito. Com isso, não quero ser irracional. Refiro-me ao coração como metáfora, não como órgão. A linguagem do coração será cada vez mais importante. Usando seu coração, você volta ao estado de criança. Sem a ingenuidade da criança. Isso lhe dará condições de ser criativo para os desafios do ano. Fará você se adaptar às crises do mundo, como lidar com as novas linguagens. O coração pode não ser pragmático, mas é sábio. Procure conhecer o interior de sua alma. E assim estará no meio da tempestade, com raios e trovões a sua volta, e se sentirá bem. Você é um desconhecido, e seu potencial é maior do que você sabe. Passeando pela alma, você ficará feliz com o que encontrará. As pessoas temem a confrontação. No outono, as folhas brincam entre si que não querem cair, mas não adianta: elas cairão. A paz é uma utopia se associada à ideia de ausência de conflito. Aceite os conflitos, dê boas-vindas a eles e toque para a frente, porque isso é parte da condição humana.
3. ÉPOCA – Quais serão os maiores obstáculos para o crescimento pessoal humano em 2013?
Coelho – A zona de conforto será o pior obstáculo. Você cria essa zona achando que tem controle sobre tudo. Ora, isso é uma ilusão completa. No momento em que você acha que está tudo bem à sua volta, aí é que reside o perigo. Estou aqui parado, mas não me sinto tranquilo. Persigo a atividade, evitando a crença no controle. Aprendi isso em duas situações. A primeira foi em 1974, quando me achava o rei do mundo, porque tinha acabado de lançar a canção “Gita”, com Raul Seixas. Foi quando fui preso, desapareci – e aí meu mundo caiu. A segunda foi em 1979. Era um executivo de gravadora, achava que sabia aonde queria chegar. Troquei a Polygram pela CBS e aí fui mandado embora. Não consegui mais arranjar emprego. Foi uma bênção. Mas na hora você sofre. Você não tem controle sobre nada.
4. ÉPOCA – Que poder espiritual ou habilidade o senhor pretende desenvolver no ano que vem?
Coelho – Quero fazer algo de que não tenho certeza se conseguirei: aprender árabe e hebraico. Acredito que, no caso de línguas em conflito, como essas duas, quem sabe as palavras “não estão sendo mal traduzidas”? Quando Lutero traduziu a Bíblia e ela se tornou a base do idioma alemão, demonstrou que as palavras do latim eram imprecisas. A língua necessita de uma precisão. Se você entende os idiomas, passa a entender melhor as pessoas que falam aquelas línguas. Eu gostaria de manter um diálogo entre essas duas línguas distintas. São línguas místicas. O hebraico com o misticismo da cabala e o árabe com a poesia do Corão. Quem sabe não consigo aproximar esses dois universos?
5. ÉPOCA – O ano de 2012 foi marcado pela ascensão da literatura erótica para mulheres. O senhor acha que a tendência continuará? Quais as consequências desse tipo de literatura para as mulheres?
Coelho – Vejo como uma coisa positiva. Se gente como a Erika (Leonard James, autora da trilogia erótica Cinquenta tons de cinza) vende tantos livros, é porque tocou numa veia sensível que estava oculta. Esse tipo de literatura é liberadora. A relação das pessoas em relação ao sexo é ainda travada. Minha geração experimentou o sexo como livre. Depois, houve um retrocesso tremendo. É hora de as pessoas repensarem a sexualidade.

6. ÉPOCA – A literatura continuará a contribuir para o aperfeiçoamento das pessoas ou perderá terreno para a tecnologia?
Coelho – A literatura viverá uma transformação radical, por causa das pessoas. A primeira delas é a linguagem. Não há mais espaço para escrever a seus pares. Isso é perder a relevância. A literatura é beneficiada pela busca da simplicidade. O blogueiro se educa em concentrar-se na essência do que escreverá. É essa a transformação na literatura. Ela se tornará importante, mas não será como a conhecemos hoje. Literatura precisa de estilo, de conteúdo e de uma plataforma. A literatura está mudando nos três níveis. Como escritor, tenho de me adaptar à nova linguagem. Minha literatura sempre seguiu o princípio da objetividade que evita a superficialidade, sem perder a poesia. Escrever pelas redes sociais é fazer literatura. Hoje em dia, a literatura, como tudo, está migrando para a tela dos celulares. A literatura será lida pelo telefone.

7. ÉPOCA – O torcedor brasileiro tem pela frente dois eventos internacionais sediados no país: a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014. Vamos vencer?
Coelho – Minha esperança é que o Brasil dê o show que ele dará. Não tenho dúvida de que venceremos. A Olimpíada de Londres foi criticada, mas foi responsável pela recuperação do país. Espero que aprendamos com os erros alheios.
8. ÉPOCA – Os brasileiros estão ficando mais ricos. A riqueza nos trará felicidade?
Coelho – O Brasil se livrou do complexo de vira-lata. Demos um passo gigantesco. Antes, o brasileiro batia no peito e dizia que tinha orgulho, mas, no fundo, admirava outras culturas. Agora ele é brasileiro, está contente de ser brasileiro, porque sua voz é ouvida. O brasileiro está conquistando a vida plena. Demorou!
9. ÉPOCA – Ficaremos mais sábios ou mais superficiais?
Coelho – Não sei. Se escolhermos combinar os lados masculino com feminino, a intuição e a força, ficaremos mais sábios. Mas é impossível saber ao certo. Estamos sendo arrastados ao mar da banalidade. Quando você sofre o excesso de informação, a tendência é voltar à simplicidade. Bater papo no bar ou na praça foi a origem da filosofia na ágora de Atenas. A saturação faz com que a gente queira voltar ao simples. E a tecnologia colabora nessa volta. Por mais que pareça uma contradição, a tecnologia nos ajuda a voltar aos fundamentos, à escolha das fontes de informação. Se, antes, sentíamos o fascínio pela internet, agora vivemos um momento de seleção e concentração da informação. Indo mais fundo, você acaba simplificando. E a simplicidade nos deixará mais sábios.
10. ÉPOCA – De onde virão os ventos da mudança política e cultural para o mundo, se é que haverá mudanças?
Coelho – A tecnologia está mudando tudo. As pessoas estão passivas ou ativas de uma maneira errada. Fazem “trolagem”, porque acham que estão colaborando, mas não estão fazendo nada.

11. ÉPOCA – O senhor vê um mundo unido por uma ideologia, como dizia John Lennon na canção “Imagine”?
Coelho – Não. É o oposto de John Lennon. Acredito num mundo em que as diferenças serão respeitadas. Estamos caminhando para um mundo de minorias. A globalização econômica dissolveu as fronteiras. Isso nos leva a voltar à condição tribal, tendo a tecnologia como ajuda. As minorias terão de ser respeitadas.
12. ÉPOCA – Devemos temer a intolerância religiosa?
Coelho – O grande problema deste milênio é que ele aponta para a intolerância religiosa. As pessoas, por ausência de fé, precisam provar a elas próprias que têm fé. As agendas políticas são determinadas pelas agendas religiosas.
13. ÉPOCA – A que pergunta o senhor gostaria de responder, caso um repórter do futuro aparecesse na sua frente?
Coelho – Gostaria de responder a uma só pergunta: “Você viveu com dignidade?”. Esperaria responder ao repórter com um sonoro “sim!”.
MEDITAÇÃO O escritor Paulo Coelho na Dinamarca, em 2007. Ele diz que, depois do susto que o coração lhe deu em 2011, quer ficar mais tempo na sua casa em Genebra, na Suíça (Foto: Joachim Ladefoged/VII/Corbis)

Crônica do Dia - Bola de Cristal

Embora pareçam previsões, já se sabe que muitas coisas realmente acontecerão no ano que vem. Quando aposto, não erro, e é delas que vou falar. O principal é que estou com os místicos: o mundo caminha para o Apocalipse. Só que isso talvez seja divertido.

A Apple criará um novo ícone tecnológico. O iPhone 6 já está previsto para junho. Ou algum outro gadget desembarcará no país de forma retumbante, como o iPad Mini, cuja presença ainda é tímida. Os aparelhos da Apple se tornaram troféus sociais. Quem não tiver o último lançamento cairá de status. Nas escolas mais caras, haverá “applebullying”. Os novos aparelhos terão muitos recursos, além do original, como simplesmente falar ao telefone. Não saberei como usar a maior parte do que a maravilha oferecer. Mesmo assim, me sentirei feliz por ter um modelo com todas as inovações.

• Surgirá uma nova síndrome psiquiátrica. As pessoas começarão a gritar quando alguém insistir em exibir as centenas de fotos virtuais da última viagem armazenadas no smartphone. Em alguns casos mais graves, um dos dois engolirá o aparelho.

•  A medicina usará nanorrobôs para controlar o funcionamento dos órgãos. Sinto que alguns já controlam meu cérebro.

•  Um novo regime entrará em moda, com base em algum hormônio ou bactéria geneticamente modificada. As atrizes emagrecerão ainda mais. Talvez Angelina Jolie se torne transparente.

•  Por falar em Angelina Jolie, no próximo Oscar o mundo cairá em si. E tomará consciência de que aquelas pernas magrinhas não são nada sexy, com fenda ou não no vestido.
•  Na intimidade, os homens continuarão preferindo quem tem alguma gordurinha para pegar.
•  A expressão de algumas estrelas ficará paralisada por excesso de Botox. O rosto de alguns astros também continuará imóvel pelo mesmo motivo. Todos afirmarão que se trata de interpretação minimalista.
•  Após um longo estudo, se descobrirá que a expressão parada de alguns atores e atrizes não é provocada pelo Botox. São assim mesmo.
•  Um novo filme tentará o Oscar de Melhor Estrangeiro. A opinião geral será que não merece. É o de sempre. Brasileiro gosta de pichar o que dá certo. Cansei de ouvir que O palhaço não merecia, apesar da qualidade do trabalho do Selton Mello. Quando se trata de arte nacional, aqui se torce contra.
•  Um grande poeta brasileiro publicará seus poemas, em edição limitada. Ninguém perceberá.
•  Um best-seller americano ou inglês de pouca qualidade será traduzido e publicado, no estilo Cinquenta tons de royalties. Só se falará dele.
•  O MSN já entrou em decadência e sofrerá o mesmo destino do Orkut, que até ganhou fama de brega. O Facebook explodirá com novas ferramentas para chats on-line. As relações se tornarão tão íntimas que noivados, casamentos e divórcios acontecerão via Facebook. Com direito a lua de mel, discussão de relação e tudo mais. Sem o contato físico, que poderá se tornar coisa do passado.
•  Depois do casamento gay, ganhará impulso o divórcio gay. Os casais gays passarão a enfrentar longos processos de divisão dos patrimônios, para a alegria dos advogados. Lavarão cuecas e sutiãs nos tribunais e chegarão a acordos milionários. Tudo igual aos héteros na mesma situação. O pessoal da diversidade descobrirá que era feliz e não sabia.
•  Azuis, verdes, laranja, pink. O verão de 2013 aposta em cores vibrantes, que lembram bastante o mau gosto dos anos 1960. Dirão que é atrevimento e criatividade das grifes e dos costureiros. Mas a indústria já se programou para fabricar os tecidos há uns cinco anos.
•  Surgirá uma nova tendência gastronômica, com porções mínimas a preços máximos. Os gourmets aplaudirão, mesmo que, no íntimo, prefiram ovo frito. A culinária nacional será valorizada, mas sofrerá o que chamam de releitura. Pode ser que algum chef importante crie o estrogonofe de dobradinha. A espuma de jiló. Ou a musse de feijoada.
•  Um guru descobrirá um erro de cálculo na interpretação do calendário maia. E dirá que o mundo terminará em dezembro de 2013. Pirenópolis, em Goiás, sofrerá nova explosão populacional, para a felicidade dos corretores locais. A agenda do fim dos tempos já está prevista. De manhã, tsunami. Ao meio-dia, aterrissam os alienígenas canibais. Ao anoitecer, chuva de meteoros. Quem sobreviver ainda terá de enfrentar um show de Michel Teló.
•  Pode ser que o mundo inteiro acabe e só sobre o Brasil. Aí, sim, descobriremos que não estamos preparados para esse evento.



Walcyr Carrasco

C^rônica do Dia - 50 previsões que darão errado

1. Lula dirá que sabia de alguma coisa.

2. Serra ganhará uma eleição. De Mister Simpatia. Fará um implante capilar com o hair stylist de Haddad, Celso Kamura.

3. Lula elogiará a imprensa brasileira e dará entrevista coletiva anunciando que não será mais candidato a nada.

4. Dilma viverá lua de mel com a base aliada, em especial com o PT. Será eleita musa dos sindicatos.

5. O PIB crescerá mais que o anunciado por Mantega.

6. Aécio Neves se recusará a ser candidato tucano à Presidência e passará a organizar concursos de misses.

7. O PSDB revelará, enfim, o projeto alternativo da oposição para o Brasil.

8. Fernando Henrique deixará outra pessoa falar pelo PSDB.

9. Rosemary Noronha procurará o cirurgião plástico de Dirceu e cairá na clandestinidade – mas, antes, mudará os óculos.

10. Dirceu será preso sem regalias. Jogará fora o celular e doará as bermudas chiques para Carlinhos Cachoeira.

11. Cachoeira assumirá as têmporas brancas a pedido da namoradinha do Brasil, Andressa.

12. O jogo do bicho acabará.

13. Nenhum policial achacará bicheiros ou traficantes nem armará autos de resistência em ações de extermínio.

14. Vazarão na internet fotos de Nicole Bahls vestida.

15. A gostosa do BBB não posará nua.

16. Clarice Lispector deixará de ser citada nas redes sociais.

17. Ninguém mais postará fotos de comida no Facebook.

18. Arnaldo Jabor acordará feliz.

19. Chico Buarque e Fernando Morais pedirão mais liberdade e democracia em Cuba.

20. Michel Teló desistirá de fazer música chiclete.

21. Acabarão os comerciais com Ivete Sangalo.

22. Luana Piovani não tuitará o marido surfista e ficará invisível.

23. O orçamento das obras para a Copa e a Olimpíada será revisto para baixo, porque sobrou dinheiro.

24. A CBF será uma confederação acima de qualquer suspeita.

25. Meu Botafogo será campeão brasileiro depois que o time aprender holandês com o Seedorf.

26. A reforma tributária sairá e pagaremos menos impostos.

27. Renan Calheiros fará história na presidência do Senado votando projetos importantes para o país.

28. Sarney & Filha doarão parte de sua imensa fortuna ao “Maranhão-esperança”, projeto ambicioso para reduzir o analfabetis­mo, a prostituição infantil e a miséria do Estado.

29. O Congresso aprovará o fim do 14o e do 15o salários para os parlamentares e proibirá notas frias.

30. Deputados e senadores passarão a trabalhar na segunda e na sexta-feira para votar questões proteladas há 12 anos.

31. Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski concordarão.

32. Serão ressuscitados os rios Tietê e Pinheiros.

33. A Baía de Guanabara será enfim despoluída. Quem chega de carro ao Rio de Janeiro deixará de sentir cheiro de podre.

34. A Rocinha acabará com o esgoto a céu aberto, antes de ga­nhar teleférico turístico e obra póstuma de Niemeyer.

35. Os pobres poderão fazer cirurgias de emergência. Nenhuma criança ou velho morrerá por falta de assistência médica.

36. Desabrigados por tempestades e inundações terminarão o ano reassentados em áreas fora de risco.

37. Os celulares de traficantes presos em São Paulo serão bloquea­dos e eles não poderão mais dar ordens para tocar o terror.

38. Nenhum bueiro explodirá no Rio, e os cariocas finalmente saberão o motivo das explosões.

39. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, impedirá que a especulação imobiliária acabe com os parques e as reservas ambientais.

40. Não haverá arrastões nos restaurantes de São Paulo e nas praias do Rio.

41. Não haverá apagões.

42. Aeroportos funcionarão direito e acabarão com o táxi-bandalha.

43. Passagens aéreas no Brasil ficarão mais acessíveis, e uma competição saudável no setor beneficiará a população.

44. Operadoras de celular deixarão de extorquir os consumidores, e as contas passarão a ser inteligíveis.

45. Bancos reduzirão as taxas dos correntistas, contribuindo assim para a saúde financeira de quem os sustenta.

46. Empresas, privadas ou estatais, respeitarão o tempo máximo de espera ao telefone e deixarão de enlouquecer quem recorre a seus serviços de atendimento.

47. Não receberemos mais nenhuma chamada de telemarke­ting na hora do jantar e no fim de semana.

48. O lixo – coleta e reciclagem – passará a ser encarado com seriedade pelos governos.

49. Famílias brasileiras deixarão de emporcalhar as praias e os parques. Cada um levará seu saquinho de lixo, ensinando às crianças que quem ama cuida.

50. Feriadões deixarão de ser pretexto para exterminar famílias nas estradas, por culpa de direção irresponsável, ultrapassagens imprudentes e álcool.

Ruth de Aquino

Entrevista - Robério de Ogum

          "Gostaria de errar minhas previsões"

Um dos médiuns mais requisitados do País prevê para 2013 o agravamento da crise econômica no Brasil e no mundo e um período de conflitos e guerras

                                                        por João Loes


 Chamada.jpgAPOSTA
Robério de Ogum diz que quatro ministros da presidenta Dilma irão cair em 2013

Foi em novembro de 2012 que o médium paulista Robério Alexandre Bavelone, 58 anos, conhecido nacionalmente como Robério de Ogum, recebeu a primeira indicação de que 2013 seria um ano complicado para o Brasil e o mundo. Desde então, de sua casa em Alphaville, na região metropolitana de São Paulo, ele passou a acompanhar as mensagens que diz receber de seus guias espirituais alertando para crises, guerras e mortes. “Vamos perder um grande ex-jogador de futebol, outros dois que foram campeões do mundo, duas das maiores atrizes da televisão, um grande homem da comunicação esportiva e um grande cantor de música popular”, diz, sem dar nomes por temer processos. Como um dos mais famosos médiuns do País, Robério de Ogum já aconselhou celebridades, políticos, esportistas e empresários e acertou previsões controversas como a cura de Reynaldo Gianecchini e a saída de Mano Menezes do comando da Seleção Brasileira, só para citar duas recentes. “Mas erro também”, afirma. “A maioria das previsões que faço quero errar”, diz, admitindo que boa parte das antevisões que recebe é negativa. Em conversa com ISTOÉ ele apontou perspectivas cinzentas para 2013.
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 "Vejo Lula como o candidato do Partido dos
Trabalhadores para as eleições presidenciais"
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"São grandes as chances de o Felipão não
continuar como treinador da Seleção Brasileira"
 
Istoé - Como será 2013? 
Robério de Ogum -
Teremos muitas dificuldades, muitas perdas, muitas transformações. No plano espiritual, este ano será regido por Ogum, que é um santo de guerra, e por Iemanjá, que é mais dócil. Enquanto o primeiro fará do ano um período muito difícil, a segunda tentará amenizar todo esse peso. Se 2012 foi o ano da justiça, 2013 será o ano do conflito, da guerra.  
Istoé - Em 2012, a crise econômica pesou na Europa com reflexos no mundo e no Brasil. Ela continua em 2013?  
Robério de Ogum -
Este é um ano muito complicado financeiramente também. Todas as camadas da população – dos mais pobres aos mais ricos – sofrerão com a crise econômica que continua em 2013. Vai ser pior do que 2012. Para o mundo e para nós, brasileiros. 
Istoé - Então o pibão que a presidenta Dilma falou que espera para 2013 é inviável? 
Robério de Ogum -
Seria muito pretensioso, diante de todas as circunstâncias, cravar que teremos um pibão, que só a gente vai crescer. Como espiritualista, eu não consigo enxergar isso. Não tem Dilma ou Barack Obama com força suficiente para atenuar o que vem em 2013. 
Istoé - O sr. vê algum outro país entrando em grave crise em 2013? 
Robério de Ogum -
A Argentina pode cair em uma convulsão social no ano que começa. Olhando espiritualmente para a Argentina, se vê que há uma espécie de resgate de tradições mais antigas, como o peronismo. Isso é coisa dos espíritos antigos que ainda vagam por lá, saudosos de outro tempo.
 
Istoé - Politicamente, no Brasil, o que acontece de relevante?  
Robério de Ogum -
Veremos a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com muita força, mobilizando o País inteiro, fazendo discursos apaixonados e atuando, como nunca, no corpo a corpo com os eleitores. Nesse sentido ainda, se nada de muito atípico acontecer, vejo Lula como o candidato do Partido dos Trabalhadores para as eleições presidenciais de 2014. No plano espiritual, Dilma já abriu mão da candidatura em 2014 se Lula chegar com força e saúde e manifestar o desejo de se candidatar. 
Istoé - E a presidenta Dilma? Como fica polticamente? 
Robério de Ogum -
Em 2013 veremos a Dilma com prestígio em ascensão. Ela vai continuar a passar o País a limpo, punindo quem tem que punir e cortando na carne. Ela não vai ter piedade de nada. 
Istoé - Ministros cairão? 
Robério de Ogum -
Não sei se a presidenta Dilma vem com uma limpeza de ministérios. Mas mudam pelo menos quatro ministros, não posso dizer quais. É uma estratégia política dela. Espiritualmente, porém, percebe-se que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está mais cansado. Se ele pudesse deixar o cargo, sinto que ele deixaria. Isso pode acontecer em 2013. 
Istoé - Surgirá alguma nova liderança política em 2013? 
Robério de Ogum -
Vejo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, como uma força em ascensão bastante importante. Vai ter gente fazendo de tudo para lançá-lo como político. Mas não vai acontecer porque ele não vai aceitar. Outra grande liderança que é de nível estadual e deve tentar algo em nível federal é o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Ele pode até se tornar ministro, deixando o cargo de governador.  
Istoé - O sr. falou em muitos conflitos pelo mundo. Onde exatamente? No Oriente Médio? 
Robério de Ogum -
Quando falo em guerra e em conflito não me limito às guerras com armas e sangue. Guerras ideológicas terão grandes consequências em 2013. Na Europa, por exemplo, vemos uma Alemanha que titubeia e pode vir a desistir de ajudar outros países do bloco. Uma guerra de vontades dentro da União Europeia, entre grandes potências, como a França e a própria Alemanha, também não está descartada.  
Istoé - Em meio a tantas crises e guerras, como fica o presidente americano, Barack Obama? 
Robério de Ogum -
Eu previ a dificuldade das eleições. Quando a campanha começou e ele parecia disparado na frente, pensei que tinha errado. Mas aí ele começou a despencar nas pesquisas. No fim, meu guia espiritual me alertou que ele seria salvo por um evento natural que daria a ele uma chance de mostrar sua liderança. E foi isso que aconteceu, com o furacão Sandy na Costa Leste. Isso o ajudou demais. Porque a certa altura da campanha ele correu um risco real de perder. Não perdeu, mas terá um segundo mandato cheio de problemas. 
Istoé - Muito se fala da saúde do papa Bento XVI. Como será 2013 para ele? 
Robério de Ogum -
O papa vai viver um ano muito difícil em termos de saúde. 
Istoé - Em 2013, teremos a Jornada da Juventude no Brasil. Ele vai conseguir vir? 
Robério de Ogum -
Muito difícil. Sinto hoje, com relação a ele, o que sentia com relação ao papa João Paulo II pouco antes de ele morrer. 
Istoé - 2013 também é ano de Copa das Confederações no Brasil. Como a Seleção irá se sair? 
Robério de Ogum -
O Brasil será campeão com certa facilidade. O futebol brasileiro brilhará, apesar da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que terá um ano muito difícil. 
Istoé - Difícil em que sentido? 
Robério de Ogum -
averá grande movimentação dentro da CBF. O presidente, José Maria Marin, deve deixar a presidência em 2013 por causa de escândalos que irão surgir. 
Istoé - Isso não terá impacto na Copa das Confederações? 
Robério de Ogum -
O Brasil vai conseguir entregar um belo evento. Mas as coisas vão dar certo não por causa da CBF, e sim porque o governo e o povo estarão muito empenhados nisso. 
Istoé - E o técnico, Luiz Felipe Scolari, como fica nessa confusão toda? 
Robério de Ogum -
No ano passado fiz a previsão de que o treinador da Seleção Brasileira, Mano Menezes, cairia. E caiu. Nessa mesma época, já via o Felipão indo para o comando da Seleção. E, nesse cenário de crise na CBF, são grandes as chances de o Felipão não continuar como treinador da Seleção Brasileira. O Felipão não vive um grande momento. Ele já não tem a mesma luz que tinha, pois está muito mais racional do que emotivo. O forte dele sempre foi a emoção.
 
Istoé - No ano passado o sr. previu uma contusão para o Neymar que não aconteceu. 
Robério de Ogum -
Eu errei. Quando fiz essa previsão, via que o Neymar estava muito exposto. Até espiritualmente. Mas ele soube superar isso com o livre arbítrio dele. Ele tomou as decisões certas e se protegeu. Hoje, Neymar é mais maduro espiritualmente. Graças a Deus ele não se machucou. Foi bom eu ter errado. 
Istoé - O sr. gosta de errar previsões?
 

Robério de Ogum -
Olha, gostaria de errar minhas previsões. Quando erro, a pessoa geralmente tem um futuro mais tranquilo. Quando acerto, geralmente não é coisa boa. Porque previsão é assim. Se eu falar para você: “O Neymar vai brilhar e jogar fora do País”, isso é sabido, já está escrito. 
Istoé - Então o sr. garante que ele vai para o Exterior até 2014?
Robério de Ogum -
No final de 2013 ele vai para fora. Mas isso é chover no molhado. É evidente que o Santos vai trazer um ou dois jogadores de fora e depois vender o Neymar. Qualquer um sabe disso. Não é previsão, é lógica. 
Istoé - Que personalidades precisam tomar cuidado em 2013? 
Robério de Ogum -
O ex-presidente José Sarney, a rainha da Inglaterra, Eliza-beth II, e o papa Bento XVI. O ano também não é bom para o Silvio Berlusconi (ex-primeiro-ministro italiano), que pode sofrer um atentado.  
Istoé -  2012 foi o ano do fim do mundo, que não aconteceu. Por que as pessoas precisam tanto acreditar em profecias do fim dos tempos?
Robério de Ogum -
O interesse talvez seja tão grande porque é uma questão cuja resposta só é conhecida por Deus. Questionei o plano espiritual sobre essa história do fim do mundo em diversas ocasiões. O meu guia, Senhor Ogum, costuma rir porque ninguém, a não ser Deus, sabe quando o mundo vai acabar. Especular sobre isso não faz nenhum sentido. Mas há quem faça. Tem gente que vende vela a R$ 150 e jura que ela garante proteção contra o fim do mundo, outros que benzem as pessoas com água da torneira dizendo que é benta. É uma tristeza, mas existe. E existe não só na minha religião, mas em todas. É a exploração da fé.  
Istoé - Mas você acredita no fim do mundo? 
Robério de Ogum -
Acredito no juízo final. O dia em que todos nós estaremos diante de Deus e ele fará a separação entre o lixo humano e os humanos de bem. Esse dia vai chegar. Só não sei quando nem como vai ser. Só Deus.  
Istoé - Como é a sua rotina? 
Robério de Ogum -
Eu dou o meu corpo, toda a minha matéria física para o plano espiritual usar. Acordo às 5h30 da manhã e já estou a serviço. Tomo ordem e bronca o dia inteiro. Mas é assim. Me sinto um privilegiado. Hoje faço cerca de 20 atendimentos pessoais por dia no meu templo e dou apoio a algumas empresas que estão comigo há mais de 35 anos. Já atendi 300 pessoas em um dia, já viajei o Brasil dando apoio ao técnico Wanderley Luxemburgo. Mas cansei. Hoje vivo uma rotina mais tranquila. Ainda assim, é bem puxado. É o meu trabalho.  

Revista Isto É