Na segunda-feira, dia 21, telefonei para Ariano Suassuna. Fiquei surpreso com a alegria e vitalidade da voz rouca do outro lado da linha. Falamos sobre a Academia Brasileira de Letras, sobre uma citação recente que ele tinha feito do existencialista Albert Camus, – mas, principalmente, sobre nossa amizade. Não imaginava que seria a conversa de despedida. Desliguei o telefone por volta do meio-dia. Depois, fiquei sabendo pela família que, naquele dia, Ariano tinha ido ao banco e que teve muito apetite no almoço. À noite, foi levado às pressas ao hospital, depois de sofrer um AVC. No final da tarde do dia 23, não resistiu. Tinha 87 anos.
Conheci Ariano há 25 anos. Tinha muito interesse pela literatura de cordel, e ele disse que eu aparecesse em sua casa. Eu era um jovem estudante e pensava que o grande escritor fizera o convite por delicadeza. Quando bati à porta de sua casa, no bairro de Casa Forte, no Recife, percebi que não fora uma formalidade. Passamos a tarde conversando. A generosidade era uma característica única do mestre Ariano, como costumava chamá-lo. Desde então, passei a visitá-lo com frequência. Nossas conversas ficaram mais longas. Num dos últimos encontros, ele estava emotivo. “Não tenho meio-termo não, Gerson. Ando muito emocionado. Ou fico à beira de chorar. Ou então estou rindo, a gargalhar. Isso não é normal”, me disse, aos risos.