Mostrando postagens com marcador Ariano Suassuna. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ariano Suassuna. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Te Contei, não ? - Ariano Suassuna ( 1927 - 2014 )

Na segunda-feira, dia 21, telefonei para Ariano Suassuna. Fiquei surpreso com a alegria e vitalidade da voz rouca do outro lado da linha. Falamos sobre a Academia Brasileira de Letras, sobre uma citação recente que ele tinha feito do existencialista Albert Camus, – mas, principalmente, sobre nossa amizade. Não imaginava que seria a conversa de despedida. Desliguei o telefone por volta do meio-dia. Depois, fiquei sabendo pela família que, naquele dia, Ariano tinha ido ao banco e que teve muito apetite no almoço. À noite, foi levado às pressas ao hospital, depois de sofrer um AVC. No final da tarde do dia 23, não resistiu. Tinha 87 anos.
Conheci Ariano há 25 anos. Tinha muito interesse pela literatura de cordel, e ele disse que eu aparecesse em sua casa. Eu era um jovem estudante e pensava que o grande escritor fizera o convite por delicadeza. Quando bati à porta de sua casa, no bairro de Casa Forte, no Recife, percebi que não fora uma formalidade. Passamos a tarde conversando. A generosidade era uma característica única do mestre Ariano, como costumava chamá-lo. Desde então, passei a visitá-lo com frequência. Nossas conversas ficaram mais longas. Num dos últimos encontros, ele estava emotivo. “Não tenho meio-termo não, Gerson. Ando muito emocionado. Ou fico à beira de chorar. Ou então estou rindo, a gargalhar. Isso não é normal”, me disse, aos risos.


sábado, 16 de agosto de 2014

Crônica do Dia - Raízes do Brasil



Luiz Roberto Nascimento Silva, O Globo

A morte duplamente indesejada e quase simultânea de João Ubaldo e Ariano Suassuna nos faz pensar sobre a importância da literatura nordestina na construção da identidade do país. Se recuarmos no tempo, veremos que no século XIX um escritor como Machado de Assis, que é um cânone de nossa língua, produzirá toda a sua obra extraordinária em torno do Rio de Janeiro, então capital do país.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Te Contei, não ? - O céu está em festa

A essa altura, o Encourado está ainda mais zangado porque não consegue cumprir sua parte no julgamento – e, coitadinho, por força do papel, nem se divertir ele pode. A Compadecida, dessa vez, foi dispensada de interceder pelo homem alto e magro que, recém-chegado ao céu, reúne a maior plateia já vista de anjos e santos, todos embevecidos com sua aula-espetáculo. Ariano Suassuna ainda não percebeu, mas Manuel, o Jesus negro da peça “Auto da Compadecida”, teve de se recolher a um canto discreto para não comprometer a aura divina: às gargalhadas, ele ouve as histórias do escritor que transformou o sertão num clássico da cultura nacional e sucesso de público internacional.

sábado, 2 de agosto de 2014

Artigo de Opinião - 'Auto da Compadecida', um clássico - Barbara Heliodora

Ariano Suassuna é a prova de que uma cultura vasta e o conhecimento das grandes tradições da arte ocidental parecem ser a melhor base para a criação de uma obra essencialmente brasileira; nascido e criado no nordeste, sua obra dramática foi desde o início influenciada tanto pelo teatro de mamulengos e pela literatura de cordel, quanto por tudo que ele conhecia do teatro universal; e com o tempo Suassuna se dedicou fundamentalmente àquelas expressões de suas origens, integrando-as com as formas eruditas que lhe pareciam ser o melhor caminho para se conseguir estabelecer uma comunicação plena entre a riqueza regional e o total do Brasil contemporâneo. Desde cedo a forma dramática foi sua favorita, e sua obra teatral é vasta, com boa parte dela merecendo atenção e aplauso; no entanto, Suassuna, no teatro, pagou o preço de ter todas as peças que escreveu comparadas ao “Auto da Compadecida”, um dos raríssimos clássicos da dramaturgia brasileira, tão extraordinário que sacrificou, com a possível exceção de “O Santo e a Porca” e “O Casamento Suspeitoso”, todo o resto de suas companheiras.

Personalidades - Ariano Suassuna - Uma das grandes vozes do sertão, levada ao teatro, à TV e ao cinema

RIO - A criação literária de Ariano Suassuna nasce com o teatro. E foi como autor de clássicos como “O auto da compadecida”, “A farsa da boa preguiça” e “A pena e a lei” que ele firmou seu nome como um dos maiores autores do teatro brasileiro, equilibrando erudição e cultura popular. Reconhecido como uma das grandes vozes do sertão, Suassuna passou infância e adolescência na pequena Taperoá, na Paraíba, onde se familiarizou com a cultura da região, interessando-se pelo homem nordestino, seus causos, costumes e questões — elementos que, mais tarde, serviriam de estrutura à sua dramaturgia e moldariam seu “mundo mítico”, como dizia.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Crônica do Dia - O encontro - Luis Fernando Veríssimo

De repente, descendo na nossa direção pela praia como uma aparição, um convidado para que o dia fosse mais que perfeito: o Ariano Suassuna

Crônica do Dia - Ariano Vilão Assassino - Frei Betto

Em setembro de 2005 fui a Mossoró receber a Medalha da Abolição, concedida pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Na mesma solenidade, Ariano Suassuna mereceu o título de doutor honoris causa.

Crônica do Dia - Um colecionador de causos, astuto como João Grilo - Ricardo Noblat



João Grilo, astuto e fanfarrão, recitava versos destrambelhados, fazia traquinagens com o amigo Chicó, arrematando impressões com a maior inocência, como a que fez para Manuel, o Leão de Judá, o filho de David, o Jesus negro da peça O Auto da Compadecida:

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Te Contei, não ? - Gil Vicente e o Auto da Compadecida

                                                    

           O auto é uma peça teatral em forma poética, de origem medieval, que focaliza temas religiosos.                                                                                                                                                    
          Criação bastante popular, apresenta uma linguagem que integra vocabulário e expressões consagradas pelo povo.
            A peça o auto da Compadecida, escrita por Ariano Suassuna, em 1955, é um trabalho de montagem e moldagem baseado em uma tradição antiquíssima, que remonta aos autos medievais de Gil Vicente e também a vários autores populares que se dedicaram ao gênero do cordel.
          O filme Auto da compadecida fala sobre dois homens pobres, um chamado Chicó e o outro chamado João Grilo, que arranjavam muitas confusões, para sair delas eles usavam várias mentiras e cada vez se enrolavam mais. Nessas mentiras eles botavam mais pessoas envolvidas em confusões.
          Quando João morre, ele fica entre o inferno e o céu, Jesus lhe dá uma chance de voltar para a Terra, fazendo algo de bom que realmente o levaria para o céu e não para o inferno, a partir disso João para com suas mentiras.
           Gil Vicente nasceu em 1465 e morreu em 1536,  foi dramaturgo e poeta, suas principais obras foram: O Auto da barca para o inferno e A Farsa de Inês Pereira.
     Pesquisadores ainda discutem se Gil foi ou não o ‘’pai’’ do teatro português.                  


 Contribuição para o Blog dada pelos alunos - André, Daniel , Matheus Tavares e Sara / Turma 702 / Ativo 2012

sábado, 2 de junho de 2012

Resenha - A alegre sabedoria popular de um clássico do teatro brasileiro



O “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, é um dos dois únicos “clássicos” do teatro brasileiro (o outro é o “Vestido de noiva”, de Nelson Rodrigues), e o que mais montagens tem recebido desde sua memorável estreia, há pouco mais de 50 anos. Sua qualidade dramatúrgica e sua extraordinária brasilidade são fontes de permanente tentação para quem faz teatro, e seu diálogo com o público é garantido em todo o território nacional. Suassuna mescla as formas medievais do auto e da moralidade com a riqueza do folclore nordestino, com sua irônica e risonha sabedoria popular, criando um texto que diverte ao mesmo tempo em que chama a atenção para a imoralidade da corrupção.


Exagero na linha circense

Esta aparece tanto nos que têm o gozo de alguma parcela de poder (que pode ser a do pequeno patrão, como o padeiro, ou de considerável alcance, como as do padre e do bispo), comparada com o comportamento dos que o desamparo obriga a pequenos golpes a fim de poder sobreviver. João Grilo é parente do bravo soldado Schweik, como de Figaro; e se a Compadecida não consegue mandá-lo para o céu, dá-lhe ao menos uma nova oportunidade.

Há mais de 20 anos mantendo atividades regulares, com certa especialização em Suassuna, a Cia. Limite 151 está agora na Sala 1 do Teatro Fashion Mall, com uma montagem que busca ser fiel à concepção do autor, que fala da tradição do “drama” no circo. A cenografia de José Dias é simples e eficiente, com cortina, três pequenos segmentos de arquibancada e quatro lindos estandartes que evocam o local da ação, formando uma moldura justa para os coloridos figurinos de Samuel Abrantes. A música de Wagner Campos é discreta, e a luz de Aurelio de Simoni, eficiente como sempre. A direção de Sidney Cruz é razoável, mantendo a linha circense um pouco forte demais em certos momentos em que, principalmente na segunda metade da peça, é necessário um maior comprometimento com a verdade de cada um.

Um elenco de 12 atores, hoje em dia, é um ato de coragem, e, com melhor ou pior rendimento, o grupo se mantém, de modo geral, ligado à intenção do autor. Glaucia Rodrigues, naturalmente, destaca-se nas espertices de João Grilo, mas além do Chicó de Marco Pigossi, também Edmundo Lippi, Renato Peres, Bruno Ganem, Janaína Prado, Samuel de Assis, Lucci Ferreira, Luiz Machado, Jacqueline Brandão, André Frazzi e Arnaldo Marques procuram servir Suassuna. Com base em um texto excepcional, o espetáculo resulta alegre e agradável.

Barbara Heliodora / Jornal O Globo