domingo, 20 de setembro de 2015

Crônica do Dia - Um menino como cada um de nós - Fernando Molica

Rio - Nós, jornalistas, temos que noticiar um fato e, de preferência, apresentar seu contexto. Uma boa reportagem, além de narrar o que aconteceu, deve procurar revelar as razões que geraram tal situação. É importante contar se o motorista que causou um acidente estava bêbado, se o deputado que votou a favor de determinado projeto havia recebido doações de empresas interessadas na proposta. 

Crônica do Dia - Aquele menino morto na praia - José Eduardo Agualusa

Na Islândia, o governo anunciou a disponibilidade para receber 50 refugiados sírios. Indignada com a mesquinhez dos números, a escritora Bryndís Björgvinsdóttir lançou um apelo através do Facebook para que os seus compatriotas se pronunciassem sobre o assunto. Em menos de 24 horas, dez mil islandeses prontificaram-se a abrir as portas das suas casas para receber refugiados. A impressionante vaga de solidariedade levou o governo a rever a proposta original. A Islândia, importa realçar, é um pequeno país, com apenas 330 mil habitantes, metade da população de João Pessoa.



Crônica do Dia - Quarta e quinta - Luís Fernando Veríssimo

Bonita cena, no final de Internacional 6, Vasco da Gama 0 (perdão Aldir), na última quarta-feira, em Porto Alegre. O goleiro do Vasco, Jordi, saía de campo cabisbaixo, com a cara indisfarçável de quem levou seis gols numa noite, e o goleiro Muriel, do Inter, foi abraçá-lo. Os dois deixaram o gramado lado a lado, com Muriel falando sempre, certamente tentando consolar o outro e diminuir sua mágoa.
Pode-se até

Te Contei, não ? - Dilma e princesa Isabel unidas pela crise política

RIO - Em seu gabinete, a chefe de Estado do Brasil negocia com os partidos aliados a aprovação de projetos apresentados ao Parlamento e as pautas-bomba que não a deixam dormir. Ávidos por cargos e títulos que dão projeção política na Câmara e no Senado, parlamentares condicionam o apoio a favores. Enquanto isso, pelos corredores do palácio do governo, o fogo amigo ameaça: figuras próximas a ela cobiçam sua cadeira e tramam contra o poder. Nas ruas, a oposição se articula, quer que a chefe de Estado deixe o comando do país. A descrição do cenário de crise política serve para o governo da presidente Dilma Rousseff, mas foi feita em cartas, há quase 130 anos, pela primeira mulher a governar o Brasil, a princesa Isabel. O acervo, de posse do Museu Imperial de Petrópolis, Região Serrana do Rio, mostra o jeito brasileiro de fazer política — que pouco mudou ao longo dos séculos — e uma princesa de pulso firme e detentora de um humor ácido.

Te Contei, não ? - Do outro lado da fronteira

Com uma criança nas costas, um homem caminha com dificuldade por uma ponte improvisada na fronteira entre Hungria e Áustria. A travessia, clandestina e perigosa, levava à esperança de vida digna em outro país, longe de opressões políticas e conflitos. Esta cena poderia se referir a refugiados sírios ou iraquianos, escapando da violência do Estado Islâmico na atual onda de migrações para a Europa. No entanto, o sujeito e o bebê eram húngaros buscando fugir, em 1956, de seu país de origem, hoje um dos mais avessos a imigrantes. Estima-se que 150 mil pessoas tenham deixado a Hungria em menos de um mês naquele ano, pedindo asilo político principalmente na Áustria, mas também em uma série de outros países do mundo, como os Estados Unidos e o próprio Brasil.
Revolta popular iniciada por um grupo de estudantes contrários à política da União Soviética, que desde o final da Segunda Guerra Mundial controlava o país, a Revolução Húngara durou 24 dias, o suficiente para gerar 20 mil mortes.
— Dar asilo a pessoas que fugiam do domínio dos soviéticos era relativamente fácil na época, porque havia um incentivo ideológico. Simbolizava a luta contra o Exército Vermelho, visto pelos países ocidentais como o grande inimigo — explica Márcio Scalercio, professor de Relações Internacionais da PUC-Rio. — Quando um alemão pulava o Muro de Berlim, da Alemanha Oriental para a Ocidental, era visto como herói e merecedor de ajuda imediata. O mesmo acontecia com os húngaros em 1956: muitos países tiveram interesses ideológicos ao acolhê-los. E, para completar, não havia racismo em pauta, porque, afinal, eram todos europeus, o que simplificava a questão.
Assim como a Hungria, países do Leste Europeu como Polônia, República Tcheca e Eslováquia, que décadas atrás — em diferentes momentos — tiveram habitantes seus entre asilados pelo mundo, hoje estão no centro da polêmica em relação ao acolhimento a refugiados do Oriente Médio. Autoridades dos quatro países têm feito declarações racistas e xenófobas. Esta semana, uma cinegrafista de TV húngara foi demitida após ser filmada derrubando imigrantes na fronteira de seu país.
Histórico de fugas
As primeiras grandes ondas migratórias partindo da Europa ocorreram após a Primeira Guerra Mundial. A situação, porém, intensificou-se durante a Segunda Guerra, época em que os poloneses logo passaram a deixar o país em massa, devido ao ataque à capital, Varsóvia, primeira cidade fora da Alemanha a ser ocupada pelos nazistas após o início do conflito. A estimativa é de que mais de 100 mil poloneses tenham se asilado somente no Irã, mas a maior parte se espalhou por outros territórios.
A Primavera de Praga também ocasionou grande leva de refugiados europeus. Isto ocorreu em 1968, quando habitantes da República Tcheca e da Eslováquia — que formavam a Tchecoslováquia — também se levantaram contra o regime soviético, sob o qual viviam.
— A questão dos refugiados é tão grave que uma das primeiras iniciativas da Organização das Nações Unidas, pouco tempo depois de ser criada, em 1945, foi fundar um órgão para cuidar de refugiados. Desde então, merecem muita atenção tanto os refugiados de guerra, como foi o caso dos poloneses e é o caso dos sírios e iraquianos de hoje, assim como aqueles que fogem da pobreza extrema ou de lutas políticas, caso dos húngaros e tchecos — comenta Scalercio.
— Essa extrema-direita constrói sua identidade em cima do repúdio ao imigrante e, assim, conquista eleitorado, o que é triste — destaca Lauro Pereira, professor de História da PUC-SP. — A xenofobia e a islamofobia que vemos hoje com tanta evidência estavam latentes, prontas para explodir, e agora encontraram o momento “certo” porque a nova onda migratória tem aumentado dia após dia.
Segundo o historiador, a grande novidade é a Alemanha se anunciar tão aberta à recepção de refugiados, o que, para ele, é boa opção política e econômica.
— A Alemanha, assim como a Hungria, tem um problema demográfico. São países cuja população está envelhecendo e precisam de mais mão de obra jovem. Acolher refugiados é um gesto bonito, claro, mas não é despido de interesse, porque eles serão mão de obra. Além de o discurso xenófobo ser odioso, ele é burro, porque não percebe que a migração ajudaria nesse aspecto — ressalta Pereira.
“Posicionamento contraditório”
Professor de Direito Internacional da Unifesp, João Amorim lembra que a Europa está longe de ser o continente “puro” que tantos ultraconservadores propagam, e que os imigrantes que de lá já partiram somam números expressivos.
— Historicamente, as populações dos países do Leste Europeu são forçadas ao deslocamento e à segregação por conflitos armados e por forças de ocupação, principalmente a partir do século XIX. Então, o posicionamento atual contra refugiados é extremamente contraditório e revela o quão frágil e patética é a postura isolacionista e xenófoba — pontua Amorim.
Ele destaca que é extensa a quantidade de períodos na História em que houve migrações forçadas da Europa para outras regiões. Isto ocorreu nas Guerras Napoleônicas, nas guerras de unificação da Alemanha e da Itália e numa série de revoluções sociais, todas ainda no século XIX. Já no século XX, além das duas Grandes Guerras e das ocupações soviéticas, houve o genocídio na Armênia, a Revolução Russa, a recessão econômica dos anos 1930, o período do Salazarismo em Portugal, a guerra civil espanhola, a perseguição religiosa na antiga Iugoslávia e a Guerra dos Bálcãs — esta última entre Sérvia, Montenegro, Grécia, Turquia, Bulgária e Romênia.
Amorim alega que a migração, em muitos casos, costuma fazer girar a economia do país hospedeiro, além de enriquecer a cultura daquela sociedade.
— Um país que recebe imigrantes ganha uma força a mais de trabalho e de ação social. Os imigrantes, sejam refugiados ou não, são pessoas que buscam recomeçar sua vida, querem trabalhar, estudar, criar sua família. Investir em políticas de acolhimento e de inserção social é fazer um investimento futuro na solidez e na força econômica de uma sociedade. Além disso, o imigrante traz sua cultura e a história de seu povo, o que é sempre benéfico — diz ele.




Crônica do Dia - Senhor Deus dos Desgraçados -

A trágica semana em que o corpo de um menino sírio, como um dejeto, veio dar à praia na Turquia, em que multidões atravessaram a pé a Hungria, fugindo da guerra, e foram resgatados nos carros de austríacos e recebidos em Munique pelos alemães com água, comida, flores e abraços, essa semana em que o Êxodo recriou-se em chão europeu entrará para a história do continente como um momento maior de reafirmação dos valores da civilização ocidental.
O que estará em questão doravante é a vitalidade das duas grandes forças morais que sustentam o Ocidente, uma, religiosa, o Cristianismo, outra laica, os direitos humanos nascidos da Revolução Francesa.
Não foi um acaso se o Papa que se atribuiu o nome de Francisco, na viagem inaugural de seu Pontificado, desembarcou na Ilha de Lampedusa, no extremo sul da Itália, o porto seguro tão almejado por milhares de emigrantes vindos da África. Percebera o imenso questionamento ético que a tragédia da imigração coloca ao mundo cristão. É o mundo cristão, cujas virtudes são a fé, a esperança e a caridade, que vai recusar pão, chão e um teto aos que já não têm pátria e deixá-los morrer de sede ou afogados em mar escuro?
Francisco entendera que chegara a hora da verdade, que as levas de miseráveis negros vinham morrer nas praias brancas e que esse estado de coisas, por mais complexo e desafiador que fosse — e quão complexo todos sabemos que é — não permitia mais a indiferença como escapatória, nem os muros, arames farpados e policiais truculentos como solução. Fosse o Papa brasileiro, teria bradado como Castro Alves, no “Navio Negreiro”, “Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, senhor Deus, se é loucura ou se é verdade tanto horror perante os céus”.
Enquanto o primeiro-ministro da Hungria atiçava sua polícia contra a multidão de refugiados sírios, fugitivos não da miséria e sim da guerra e da escravidão, confinando-os em campos de concentração, invocando a defesa da civilização cristã que estaria, segundo ele, sendo invadida por muçulmanos, o Papa Francisco, na missa de domingo, exortou todas as paroquias e mosteiros da Europa a que acolhessem uma família de refugiados e anunciou que começaria pela sua, abrindo as fronteiras do Vaticano. Quem fala pelo mundo cristão é ele, o único líder global de que dispomos hoje, não um político obscuro e facistóide que não enxerga um palmo além das suas fronteiras.
Francisco demonstra entender que quem está naufragando é a cristandade e, por palavras e obras, se empenha em salvá-la, trazendo seus fundamentos para a vida real. Ele sabe que a civilização não sairia incólume da rejeição aos refugiados. Sabe o quanto custou à Igreja Católica o silêncio cúmplice do Vaticano frente ao extermínio dos judeus pelo nazismo.
Angela Merkel conhece bem os muros que separam os seres humanos. Ela vem da Alemanha do Leste, viveu a cicatriz que por tantos anos desfigurou a nação alemã.
Abriu a fronteira aos refugiados sírios que nada tinham a seu favor, além de coragem e determinação, nenhum direito senão o direito de asilo, inspirado nos direitos humanos, essa joia que a humanidade lapidou e que nos arrancou da condição animal quando passamos a chamar de crueldade a destruição do mais fraco que a seleção natural acata. Quando sentimos compaixão diante do sofrimento do outro, mesmo longínquo ou estrangeiro, e isso nos move e comove.
Merkel afirmou o fato moral que obriga à solidariedade. Conhece bem o peso dos crimes hediondos que a Alemanha cometeu no passado e tratou de não repeti-los. Disse ao seu povo, “a partir de hoje a Alemanha é um outro país”. E é. Uma pesquisa de opinião registrou que 96% dos alemães, muitos dentre eles filhos de fugitivos de outros exílios impostos pela Segunda Guerra Mundial, aprovam a acolhida aos refugiados.
Os alemães não ignoram as dificuldades práticas que essa acolhida representa. A beleza do gesto de solidariedade está em primeiro afirmar a necessidade do socorro e, então, por todos os meios buscar as soluções para prestá-lo. É essa a tradição humanista.
A Europa, fulcro da civilização ocidental, hoje sofre ataques terroristas em seu próprio território. Nenhum deles é mais perigoso do que a autodestruição de seus fundamentos morais, a negação de seus mitos fundadores. “Somos uma Europa de valores”, disse Merkel. É imprescindível que outros países sigam seu exemplo.
É certo que a Europa mudará com a chegada de milhões de refugiado, mas é mais certo ainda que a civilização ocidental que merece ser preservada é essa, a de Angela e Francisco.

Rosiska Darcy de Oliveira é escritora

rosiska.darcy@uol.com.br


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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Te Contei, não ? - Sinal de saída da escola


Um relatório inédito feito pelo Ministério da Educação mostra que, ao longo dos próximos seis anos, 40% dos cerca de 507 mil professores do ensino médio brasileiro atingirão as condições de idade ou tempo de contribuição para se aposentar, revela Renata Mariz. Responsável pelo estudo, o secretário de Educação Superior, Jesualdo Pereira Farias, diz que o governo deve se preocupar com a previsão. O quadro é agravado pela diminuição no número de formandos nos cursos de licenciatura em disciplinas da educação básica: segundo o Censo do MEC, houve uma queda de 16% entre 2010 e 2012.





BRASÍLIA — Ao longo dos próximos seis anos, cerca de 40% dos professores do ensino médio terão condições de se aposentar. A estimativa, calculada em estudo inédito do Ministério da Educação (MEC) ao qual O GLOBO teve acesso, mostra a necessidade de recrutar docentes para essa etapa escolar, que já sofre com falta de profissionais formados na disciplina que lecionam.
Mas a tarefa de arregimentar educadores não será fácil. A baixa remuneração e a falta de condições de trabalho geram desinteresse pelo magistério. O número de formandos em cursos de licenciatura de disciplinas da educação básica (ensinos fundamental e médio) vem caindo. Segundo o Censo do Ensino Superior de 2013, esse universo encolheu 16% de 2010 a 2012, passando de 95.550 concluintes a 80.582. E nem todos os formandos se tornam professores.
O levantamento sobre aposentadorias considerou os cerca de 507 mil docentes do ensino médio, segundo o último Censo Escolar, referente a 2013. Além de 2,75% dos profissionais com mais de 60 anos na iminência de se aposentar, havia 15,28% na faixa de 50 a 59 anos que começam a ter condições de deixar a sala de aula.
Soma-se a esse contingente boa parte dos 29,2% com idade entre 40 e 49 anos que atingirá nos próximos anos os critérios para pendurar as chuteiras, chegando à estimativa total de 40% de aposentáveis até 2021. Pela Constituição Federal, professores podem se aposentar cinco anos antes dos demais profissionais. No serviço público, entre os docentes, o requisito para homens é ter 30 anos de contribuição e 55 de idade. Para mulheres, que são 61,5% dos professores do ensino médio, basta ter 50 anos e 25 de serviço. Na iniciativa privada, não há idade mínima, apenas o mesmo tempo de contribuição exigido no setor público.
— Temos uma quantidade enorme de professores do ensino médio que vão alcançar idade e tempo de aposentadoria nos próximos anos. Eles representam aproximadamente 40% do efetivo. Temos que nos preocupar com isso — disse Jesualdo Pereira Farias, secretário de Educação Superior (Sesu) do MEC, durante uma cerimônia da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), em julho.
Em entrevista ao GLOBO, Farias explica que é razoável trabalhar com a expectativa de que 40%, de fato, deixem as salas de aula nos próximos seis anos, mas ele ressalta que o estudo é uma projeção baseada nos critérios de aposentadoria.
— Isso mostra que teremos que aumentar o esforço na formação de professores para que não haja falta de profissionais no futuro — diz.
Para fins de comparação, dados do Ministério do Planejamento indicam que cerca de 23% do funcionalismo público federal têm mais de 51 anos. Desses, 3% estão acima dos 60, idade que, aliada ao tempo de contribuição (35 anos para homens e 30 para mulheres), dá direito à aposentadoria. O percentual anual de pedidos de aposentadoria no serviço público federal não passa de 1,4% do total de servidores ativos.
O secretário de Educação Superior esclarece que não há levantamentos anteriores para verificar se o volume de professores em condições de se aposentar nos próximos anos significa um ponto fora da curva. Os resultados, diz ele, mostraram que será necessário aprofundar a pesquisa para saber quantos entram e saem por ano.
‘JÁ LIDAMOS COM CARÊNCIA DE PROFESSORES’
O estudo foi feito pelo governo como parte do monitoramento da Meta 15 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê uma política nacional de formação de profissionais da educação básica, para garantir que até 2024 todos os professores tenham nível superior em curso de licenciatura na área em que atuam.
Embora não faça diferenciação entre rede pública e particular, a pesquisa reflete sobretudo a realidade das escolas públicas, que respondem por 87% das matrículas do ensino médio no país, explica o secretário do MEC.
A projeção está alinhada com o último levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), também com dados de 2013. A pesquisa considerou o tempo de serviço dos professores na rede pública estadual, maior responsável pelo ensino médio público no país, mas que também abrange uma parcela pequena da educação fundamental em alguns municípios.
Conforme esses resultados, a aposentadoria foi classificada como “iminente” para 26% dos docentes, que à época já tinham de 21 a 25 anos de contribuição, além de 2% com condições plenas de encerrar a carreira por terem mais de 25 anos de serviço. Para o presidente do Consed, Eduardo Deschamps, os números servem de alerta:
— Se você projeta esse cenário para os próximos anos, a estimativa do governo está próxima da nossa. É algo que preocupa, mas não apenas no futuro. Hoje já lidamos com uma carência imediata de professores em algumas áreas.
De acordo com a secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Marta Vanelli, existe no ensino público uma grande determinação em se aposentar assim que as condições de idade e tempo de contribuição são atingidas, devido ao desgaste da sala de aula, à baixa remuneração da categoria e à falta de um incentivo para continuar.
— O professor não pensa duas vezes. As condições de trabalho são ruins e não há uma vantagem salarial para permanecer. Não é como o professor de universidade, que posterga a aposentadoria para trabalhar com pesquisa, extensão — explica Marta.
Embora não haja indicador exato sobre o fluxo de entrada e saída dos professores do ensino médio, em determinadas disciplinas o número de professores é muito aquém da necessidade. Física é um dos gargalos. Segundo dados do MEC, em 2013, 1.900 pessoas finalizaram o curso de licenciatura, frente aos quase 37 mil professores que lecionam essa disciplina nas escolas sem serem formados nessa área (73,2% do total).
A carência não se restringe a disciplinas de exatas. Docentes sem licenciatura em Sociologia dando aula nessa disciplina representam 88% do total. A proporção chega a 78% entre os que lecionam Artes e Filosofia, por exemplo.
NÚMERO DE FORMANDOS CAI MAIS EM EXATAS
Analisando os dados do Censo do Ensino Superior de 2013, é possível presumir que essa situação vai se agravar no futuro. O número de estudantes se formando para se alistar nas trincheiras do ensino básico vem caindo, principalmente na área das disciplinas exatas. De 2010 a 2012, houve redução de 14% dos concluintes em Física, 13% em Biologia, 10% em Química e 21% em Matemática. Em História, por outro lado, o contingente aumentou, mas apenas 1%. Em parte, essa queda pode ser explicada pelas altas taxas de evasão: só 20,5% dos graduandos terminam o curso de Física, 29,5% chegam ao fim da licenciatura em Química e 33% recebem o diploma para dar aulas de Matemática. Somente em duas disciplinas, Geografia e Artes, a taxa de sucesso é superior a 50%.
— Levando-se em conta que o quadro de redução no número de concluintes já vinha sendo identificado em anos anteriores, a gente percebe que o país não reagiu ao problema — lamenta o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. — Já vivemos apagões na oferta de professores. Mas a tendência é que isso comece a ficar sistêmico, devido ao desinteresse de nossos jovens pelo magistério.
Além disso, não há garantias de que os formandos de licenciaturas se encaminharão para as escolas. Cerca de 19 mil pessoas se formam anualmente em Educação Física. Mesmo assim, 15.537 professores do ensino médio que lecionam a disciplina não têm formação na área. Outras atividades, como em academias ou de personal trainer, são mais sedutoras.
Doutora em Educação, Dirce Zan, coordenadora do curso de Pedagogia da Unicamp, defende a necessidade de se valorizar o magistério.
— Falo pela experiência como professora das licenciaturas. O aluno recebe proposta para ingressar no mercado, muito mais atrativo que a sala de aula, e vai porque terá mais perspectivas profissionais — conta Dirce, que integra a Comissão de Formação de Professores da Unicamp.
Neves Ramos concorda:
— O Brasil precisa de jovens dispostos a substituir os professores que estão se aposentando. Estamos num momento de crise, mas, para o país avançar, é fundamental investir na atratividade do magistério.


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Artigo de Opinião - A saga dos imigrantes - Frei Betto

Rio - Todos acompanhamos, pela mídia, o fluxo migratório, rumo à Europa Ocidental, de africanos e árabes de países em conflito. Em 2015, 332 mil imigrantes já aportaram no Velho Continente. As águas do Mediterrâneo sepultaram, de janeiro a agosto deste ano, 2.500 fugitivos da miséria e da violência, em busca de um pouco de pão e paz. Em 2014, foram 3.500.
Um dos casos mais dramáticos é o dos 71 imigrantes encontrados mortos em um caminhão frigorífico nas proximidades de Viena, asfixiados pela falta de ventilação. O que fizeram os nazistas nas décadas de 1930 e 40 agora se repete em escala menor, contudo de modo não menos trágico.
O Papa Francisco tem feito insistentes apelos em defesa das vítimas de um mundo hegemonizado por um sistema no qual a livre circulação de moedas não encontra reciprocidade na livre circulação de pessoas. Ao capital, todas as fronteiras se abrem. Às pessoas, todas se fecham, sobretudo se são negras ou muçulmanas. Estas tidas, pelo preconceito, como potenciais terroristas. Quem foge da fome e da guerra quer apenas um lugar ao sol neste mundo marcado pela desigualdade e indiferença.
A Europa Ocidental colhe o fruto da semente maligna que plantou: séculos de colonialismo na África e de apoio a regimes ditatoriais no Oriente. Após extorquir riquezas naturais e sustentar ditadores sanguinários, os europeus deixaram um lastro de miséria e violência. Tivessem promovido a democracia e o desenvolvimento daqueles países, não estariam agora erguendo muros para deter a horda de imigrantes, e estes não arriscariam a vida nas águas do Mediterrâneo agarrados à frágil esperança de uma vida melhor.
A União Europeia apoiou a brutal intervenção dos EUA em países árabes. Após sustentar Saddam Hussein, Kadafi e Bashar al-Assad, as potências ocidentais, de olho no petróleo daqueles países, apelaram ao pretexto de terrorismo para derrubar as antigas marionetes e deixar no lugar o caos.
Os europeus ocidentais se esquecem do próprio passado. Entre 1890 e 1910, mais de 17 milhões de europeus migraram para os EUA — 570 mil por ano. E milhares vieram para a América do Sul. Isso quando a população mundial era quase um quarto da de hoje. O fluxo migratório do Atlântico foi muito mais intenso que o atual.
O preconceito mata suas vítimas e os valores humanos que teoricamente defendemos. E a discriminação revela a nossa verdadeira face.
Autor do romance policial 'Hotel Brasil' (Rocco)

domingo, 13 de setembro de 2015

Te Contei, não ? - 'Escola sem partido' quer fim da 'doutrinação de esquerda'

Rio - Imagine uma sala de aula onde o professor não pode comentar as notícias do dia, falar de política, ensinar a consagrada teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin, ou discutir questões de gênero e de sexualidade. Esse seria o espaço ideal para o aprendizado, de acordo com os defensores do movimento ‘Escola Sem Partido’, que prega o fim da “doutrinação de esquerda” nas instituições de ensino. Projetos desta natureza tramitam na Câmara dos Deputados e na Câmara de Vereadores do Rio, apoiados pela guinada do conservadorismo e criticados por entidades de professores Brasil afora.

Defensores do projeto creem que falta “neutralidade” e “liberdade” à educação, e acreditam que os alunos vêm sendo expostos à ideologia e aos valores do PT e do governo federal nos últimos anos. O deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF)é autor do projeto que tramita na Câmara e está pronto para ser votado na comissão de Educação.

“A proposta já recebeu parecer favorável. O professor não pode impor o que ele acha que é verdade. Queremos proibir qualquer partido político”, destacou. Segundo ele, o governo tem atuado no sentido de promover a imagem do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff nos livros didáticos. Neles, também há o que ele chamou de “exaltação ao comportamento homossexual”. “Não pode discriminar, mas não pode exaltar”, opinou.

Integrante da comissão de Educação da Câmara, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não acredita que o texto será aprovado. “Temos educadores sérios aqui, que não vão se aproveitar do clima de divisão do país para aprovar uma ideia tão demagógica”, disse. “Não é adequado para um professor fazer campanha em sala. Mas deve poder ter sua opinião, assim como o aluno. A escola deve debater política, estimular a convivência dos diferentes”, resumiu a petista.

No Rio, votação deve acontecer a partir de outubro 

Na Câmara dos Vereadores, o projeto de lei foi apresentado no ano passado por Carlos Bolsonaro (PP). Passou por todas as comissões, mas recebeu emendas e só deve ir a votação a partir do mês que vem.
“Eles querem dizer que o José Dirceu é herói”, critica Bolsonaro, que defende um ensino “diferente” nas escolas do Rio. “A doutrinação é total, a gente está vendo isso aí. O pai deve ter o direito de levar sua insatisfação para escola, para secretaria de educação”, diz. “Se o menino é filho de religiosos, vai crescer pensando na história de Adão e Eva para falar sobre o começo da humanidade. Deve-se respeitar isso.”



Por diversas vezes, o vereador manifestou preocupação com o fato de que os alunos com ideologias diferentes possam ser hostilizados em sala de aula e defendeu gabaritos múltiplos. “Quem cassou o presidente em 1964 foram os deputados, não foram os militares, por exemplo. Isso é uma resposta válida”, afirma. 
O projeto de lei apresentado na Câmara tem como base o texto publicado no portal do movimento Escola Sem Partido, que foi criado em 2004 pelo advogado Miguel Nagib, em Brasília.
O vereador Paulo Messina (PV) é autor de emendas ao projeto que, segundo Bolsonaro, torna a proposta “menos inconstitucional”. “O movimento é muito mais emocional que racional”, destaca.
Centenas debatem projeto na Uerj 
Evento na Uerj reuniu cerca de 170 pessoas para discutir o projeto ‘Escola Sem Partido’ na última quinta-feira. Organizado pela coordenação do Programa de Iniciação à Docência (Pibid), ligado à Capes e ao Ministério da Educação, a conversa reuniu educadores e estudantes de diversas instituições. Se no debate o clima foi ameno, nas redes sociais, onde foi convocado, houve ameaças. “Tenham medo, abusadores de crianças. Vocês vão se arrepender por mexer com nossos filhos, isso é uma promessa”, ameaçou no Facebook um internauta em uma das postagens. A organização chegou a pedir o reforço da segurança para o evento, mas não nenhum incidente foi registrado. Será realizado um debate, em outubro, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) para discutir o tema. 
A Associação Brasileira do Ensino de História (Abeh)e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) divulgaram notas contestando o projeto. 

Historiadora da Uerj, uma das coordenadoras do Pibid e do evento, Carina Martins criticou o fato de que, nas entrelinhas, o projeto de lei querer transformar os professores em meros “instrutores”. “O professor não é apenas um transmissor de conhecimento, isso contraria o que está na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lá, está escrito que o professor precisa preparar para cidadania, para vida profissional. Estamos voltando a um debate do começo do século XX, colocando os valores da família sobre o conhecimento científico”, opina a professora. 
Ela já participou da equipe do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do MEC, e afirma que o Ministério tem controle sobre a doutrinação nos livros didáticos. “Eu já vetei um livro com base nesse critério. O MEC está atento a ideia de que a história não pode ter apenas uma versão. Não significa que queremos uma escola com partido: a escola deve estimular o aluno a tomar partido, se envolver”, resume.
Miguel Nagib, do Escola Sem Partido 
“O movimento surgiu em 2004, quando a gente se deu conta de que as escolas estavam sendo usadas para doutrinação. Criou-se uma mentalidade progressista, favorável ao PT, que auxiliou a manutenção deles no poder.Um dos pontos é que em sala de aula, o professor não pode ter liberdade de expressão. Ali, ele é obrigado a transmitir o conteúdo, só. Ao tratar da evolução, por exemplo, ele não pode desqualificar a religião.
Não se pode obrigar os filhos a aprenderem o que os pais não querem. O governo vem tentando naturalizar o comportamento homossexual, e isso pode atingir o que um pai ensina ao seu filho. Promover os próprios valores morais é violar os direitos dos pais, e isso é ilegal. O pai pode processar o professor por abuso de autoridade de ensinar, e dizer que isso é preconceito é autoritário.
Não é prudente que se debatam assuntos que estão no noticiário dentro de sala de aula, por exemplo. O debate pode trazer problemas para a escola. O que nós queremos são cartazes em sala de aula lembrando os deveres dos professores, mas não queremos ideologia de direita, e sim que o aluno não seja intimidado e nem tenha medo de discordar”.
Fernando Penna, professor UFF 
“O impacto imediato de um projeto como esse é a desconstrução das bases da educação escolar. Este projeto de lei fala em pluralidade de ideias, mas determina a proibição de ‘atividades que possam estar em conflito com as convicções religiosas e morais dos pais’. Como o professor pode evitar discutir todos os assuntos que possam estar em conflito com a diversidade de crenças dentro de uma sala de aula? Seria o fim de qualquer diálogo na escola. A organização ‘Escola Sem Partido’ defende que o ‘professor não é educador’.
É falácia que haja doutrinação de esquerda, pois as escolas são plurais como a sociedade. Ao discutir este projeto em escolas, já conversei com professores que adotavam diferentes posicionamentos políticos. 

É no diálogo entre professores e alunos em sala de aula que o conhecimento escolar é construído.

Qualquer ameaça a essa pluralidade e à possibilidade de uma argumentação aberta e franca é um ataque à educação como um todo. Nesse sentido, a moral dos pais deve ser respeitada sempre que ela não entre em choque com os valores característicos da vida em regime democrático. A pluralidade é a base do processo educativo”.

sábado, 12 de setembro de 2015

Artigo de Opinião - Ecos do antissemitismo dos anos 1930

Uma crise humanitária de proporções históricas vem crescendo na Europa, com centenas de milhares de refugiados e migrantes econômicos do Oriente Médio, da África e de partes da Ásia que atravessaram as fronteiras do continente só neste ano. A maioria das pessoas que faz a perigosa travessia em todo o Leste do Mediterrâneo é de refugiados sírios, deslocados por uma horrível guerra civil, que forçou cerca de metade da população do país a sair de suas casas.
Notícias recentes falam em refugiados e imigrantes desesperados, à mercê de contrabandistas e traficantes de seres humanos. Fugitivos que têm confrontado muros e soldados, e estão morrendo afogados no Mediterrâneo, ou sufocados na parte traseira de caminhões.

Durante o ano passado, muitos na Europa se irritaram com o fluxo de imigração — de movimentos políticos de extrema-direita e tabloides disseminando o medo a políticos e líderes dos países. O ressentimento tem a ver, em parte, com o fardo de gerenciar a chegada dos refugiados. Mas também é em boa quantidade uma xenofobia latente — levando a protestos anti-Islã, ataques a abrigos de refugiados e uma boa dose de arrogância intolerante.
Alguns governos da Europa Oriental têm, inclusive, indicado especificamente que não querem acomodar os refugiados não cristãos, pelo suposto temor sobre a incapacidade de os muçulmanos se integrarem à sociedade ocidental.

“Os refugiados estão fugindo por medo”, pediu um porta-voz da agência de refugiados da ONU na semana passada. “Os refugiados não podem ser temidos.”
É importante reconhecer que esta não é a primeira vez que o Ocidente tem observado cautelosamente massas de refugiados. E, enquanto alguns classificam as chegadas de muçulmanos como supostamente a única ameaça, a xenofobia do presente emite ecos diretos de um momento muito diferente: os anos antes da Segunda Guerra Mundial, quando dezenas de milhares de judeus alemães foram obrigados a fugir da Alemanha nazista.
Considere este artigo de 1938, no “Daily Mail”, um tabloide britânico ainda conhecido por seus surtos de populismo de direita. Sua manchete alertava para “uma enxurrada de judeus alemães para dentro deste país”. E começou como segue: “A maneira como os judeus apátridas e alemães estão chegando dentro de cada porto deste país está se tornando uma afronta. Vou buscar cumprir a lei ao máximo.”
Com estas palavras, o Sr. Herbert Metcalde, um magistrado da velha guarda, referia-se na época ao número de estrangeiros que entravam neste país pela “porta dos fundos” — um problema para o qual o “Daily Mail” tem apontado repetidamente.

Indiferença ao sofrimento
Não importava a retórica alarmante do Estado fascista de Hitler — e os crescentes atos de violência contra judeus e outros: o sentimento popular na Europa Ocidental e nos Estados Unidos foi em grande parte indiferente ao sofrimento dos judeus alemães.
“De todos os grupos no século XX”, escrevem os autores do livro “1999”, “os refugiados na época do genocídio, refugiados do nazismo, são agora ampla e popularmente percebidos como ‘genuínos’, mas naquela época judeus alemães, austríacos e tchecoslovacos foram tratados com ambivalência: com hostilidade, bem como com simpatia”.
Parte desta hostilidade foi alimentada, como algumas das reclamações europeias são agora, por estereótipos dos refugiados como propagadores de uma ideologia perigosa — naquele momento, o comunismo e a violência anarquista.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/artigo-retorica-europeia-diante-de-crise-migratoria-traz-ecos-do-antissemitismo-dos-anos-1930-17386402#ixzz3lWMWzr77 

Te Contei, não ? - Revolta dos shortinhos

RIO — Uma incógnita que vem perturbando a cabeça de algumas estudantes cariocas nada tem a ver com problemas de matemática, e sim com o comprimento do short. Tradicionalmente, a Escola Parque exige dos alunos do ensino fundamental apenas o uso da camisa do colégio, sendo o restante da vestimenta escolhido pelo próprio estudante. Nos últimos tempos, porém, as meninas da unidade da Barra da Tijuca dizem que os shorts femininos vêm sendo proibidos: quem chega ao colégio vestindo um deles ouve o pedido de trocar por uma calça que esteja na seção de achados e perdidos ou amarrar dois casacos na cintura, um que tampe a parte de trás do corpo e outro, a frente. Como justificativa, estudantes alegam já ter ouvido de professores, coordenadores e inspetores que as pernas de fora distraem os meninos e que elas precisam “se dar ao respeito”.



Em meio a um inverno atipicamente quente, outras escolas do Rio, como o Colégio São Vicente, no Cosme Velho, e o Andrews, no Humaitá, veem-se às voltas com questões parecidas, levando alunos a criticar as tentativas de restringir o vestuário das meninas.
Na última segunda-feira, cerca de 40 estudantes da Escola Parque fizeram uma manifestação: foram à escola de short e espalharam pelas paredes cartazes com dizeres como “Não preciso me dar ao respeito porque ele é meu por direito”.
— Estão querendo proteger os meninos dos nossos corpos? — questiona uma estudante de 13 anos, do 8º ano da Escola Parque.

De acordo com as garotas, as alunas do ensino médio não passam por essa fiscalização. Elas não nunca foram vistas sofrendo represálias por causa dos shorts. A alegação de funcionários, de acordo com elas, é de que os alunos do ensino médio seriam mais maduros.
— Não há ganho de maturidade assim, de repente — diz outra aluna, também do 8º ano. — As regras devem ser igualitárias, e jamais podemos admitir discurso machista.
Uma estudante de 15 anos, que também cursa o 8º ano, pondera:
— A Escola Parque, que tanto adoramos, propõe um discurso diferente, inclusivo, aberto. Por isso, estranhamos essa proibição, e ainda mais esse discurso que ouvimos de alguns funcionários. Não combina com a escola.
Segundo a gestora da unidade, Claudia Simões, “não existe uma proibição, e sim uma adequação".
— A roupa tem que ser adequada ao ambiente, o short não pode ser curto demais. Não delimitamos um tamanho específico porque achamos que isso não resolve — diz ela. — Mas se algum funcionário fez discurso machista, isso não é o que a escola pensa.
DEBATE EM OUTROS COLÉGIOS
No início do ano, a mesma discussão tomou conta do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho. Depois de uma reunião sobre os uniformes, centrada na vestimenta feminina, alunas criaram o coletivo Femininjas para discutir o assunto. Agora, elas dizem, a cobrança não é mais excessiva.
— É importante que essa discussão ocorra em outros colégios também. Nossas regras sociais dizem que a mulher tem que controlar o tempo inteiro o que veste, como anda, o que fala, mas o homem não. Quando se compartilha um espaço, é preciso ter bom senso, mas tenho certeza de que as meninas da Parque, assim como as do São Vicente, só querem o direito de serem respeitadas quando usam short — diz Júlia Campos, do Femininjas.
Já no Colégio Andrews, do Humaitá, um movimento iniciado pelo grêmio em fevereiro conseguiu, três meses depois, liberar o uso de legging para as meninas. O direito conquistado requer o uso de blusa mais comprida.


domingo, 6 de setembro de 2015

Artigo de Opinião - Por que você não me obedece ?

Pais lamentam a má-criação dos filhos, e professores, a dos alunos






O DIA
Rio - Parece que nos últimos tempos fomos abatidos por uma epidemia de desobediência. Pais lamentam a má-criação dos filhos, e professores, a dos alunos. Isso sem falar na desobediência às regras básicas, como não estacionar em vagas para deficientes. Parece que a tão falada geração sem limites já chegou à idade adulta e, pior, já está ‘educando’ os filhos segundo verdades do tipo “temos que levar vantagem em tudo”. 

Artigo de Opinião - Discussão muito além do uso do short

Vivemos tempos em que os direitos individuais prevalecem, como nunca, sobre os deveres dos cidadãos

O DIA
Rio - Em meio às tantas crises da semana, uma notícia me chamou a atenção: a de que meninas de um tradicional colégio particular da Barra resolveram protestar. Motivo: a escola, segundo elas, que frequentam os anos finais do Ensino Fundamental, vem proibindo o uso de shorts e orientando a troca por calças ou casacos na cintura. As pernas de fora estariam ‘distraindo os meninos’. Elas não gostaram e, vestidas de shorts, espalharam pela escola segunda-feira cartazes com diversos dizeres, como “Não preciso me dar ao respeito porque ele é meu por direito”. Bravo!

Te Contei, não ? - Mau hábito que chegou com a Corte

RIO — No dia em que Dom João VI desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, ele recebeu “de presente” de um traficante de escravos a melhor casa da cidade, no mais belo terreno. Ceder a Quinta da Boa Vista à família real assegurou a Elias Antônio Lopes um status de “amigo do rei” e foi seu visto de entrada para os privilégios da Corte. Nos anos seguintes, como consequência, ele ganhou muito dinheiro rapidamente, além de títulos de nobreza. Lopes não estava só: era comum que senhores de engenho, fazendeiros e traficantes de escravos estabelecessem um regime de “toma lá, dá cá” com o rei, que chegou ao país praticamente falido. Os negócios públicos e privados já se confundiam no Brasil Colônia, mas essa ligação se estreitou com a vinda da Corte portuguesa, quando se instaurou o costume da “caixinha” — porcentagem de dinheiro desviada — e da troca de dinheiro por títulos de nobreza.

Te Contei, não ? - Morre Joel Rufino dos Santos

RIO - Detentor de três prêmios Jabuti e autor de mais de 50 livros, o escritor e historiador Joel Rufino dos Santos era um nome de referência em cultura afro-brasileira. O pensador enveredou também pela dramaturgia ao longo de sua prolífica carreira. Levam sua assinatura três peças teatrais e duas minisséries para a TV. O Tribunal de Justiça de Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) comunicou, nesta sexta-feira, conforme noticiou o blog do colunista Ancelmo Gois, o falecimento de Rufino dos Santos, que era também diretor-geral de Comunicação e de Difusão do Conhecimento (DGCOM). O historiador morreu, aos 73 anos, em decorrência das complicações de uma cirurgia cardíaca realizada no dia 1º de setembro. O corpo de Joel Rufino será cremado ainda nesta sexta-feira em cerimônia reservada a parentes.