Rio - Parece que nos últimos tempos fomos abatidos por uma epidemia de desobediência. Pais lamentam a má-criação dos filhos, e professores, a dos alunos. Isso sem falar na desobediência às regras básicas, como não estacionar em vagas para deficientes. Parece que a tão falada geração sem limites já chegou à idade adulta e, pior, já está ‘educando’ os filhos segundo verdades do tipo “temos que levar vantagem em tudo”.
Não podemos esquecer que uma das funções dos limites é dar segurança à criança para que ela possa desenvolver sua autonomia e que só nos tornamos autônomos se um dia fomos heterônomos. Autonomia significa ter as regras dentro de si e agir decidindo em função delas, assumindo as consequências dos próprios atos. Heterônomo é aquele que segue as regras do outro, que obedece ao que o outro determina. É verdadeiro o ditado que diz que só pode mandar quem sabe obedecer.
Os limites na infância são estabelecidos quando a criança compreende o porquê ou quando ela sente que não há como fugir ou manipular as decisões. É isso que estabelece a quebra de estado mental, necessária para que haja obediência. Um pai que brinca alegremente no tapete com seu filho de 6 anos precisa fazê-lo entender quando chega a hora de parar e tomar banho. Nesse momento, a criança vai fazer de tudo para que a brincadeira continue, e o pai precisa desenvolver estratégias para que ela perceba que, independentemente da sua vontade, ela terá que tomar banho. Caso, diante de uma birra, os pais sejam ‘vencidos’ e o banho não aconteça, a aprendizagem será “só faço aquilo que tenho vontade. ” É fundamental que a criança aprenda a fazer coisas sem vontade desde cedo e entenda que as atitudes firmes dos pais não significam falta de amor.
É preciso que a atual geração de pais supere a postura de carência afetiva e reconstrua a relação de autoridade, essencial para que os filhos aprendam a obedecer. Autoridade significa ter a autorização do outro para influenciá-lo. Para construir relação de autoridade, é necessário que nossos filhos ou alunos nos vejam como alguém mais forte em quem podem confiar. O maiordesafio é que não estamos falando de força física, mas de habilidade de influenciar e convencer.
Júlio Furtado é professor e escritor
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