RIO — Uma incógnita que vem perturbando a cabeça de algumas estudantes cariocas nada tem a ver com problemas de matemática, e sim com o comprimento do short. Tradicionalmente, a Escola Parque exige dos alunos do ensino fundamental apenas o uso da camisa do colégio, sendo o restante da vestimenta escolhido pelo próprio estudante. Nos últimos tempos, porém, as meninas da unidade da Barra da Tijuca dizem que os shorts femininos vêm sendo proibidos: quem chega ao colégio vestindo um deles ouve o pedido de trocar por uma calça que esteja na seção de achados e perdidos ou amarrar dois casacos na cintura, um que tampe a parte de trás do corpo e outro, a frente. Como justificativa, estudantes alegam já ter ouvido de professores, coordenadores e inspetores que as pernas de fora distraem os meninos e que elas precisam “se dar ao respeito”.
Em meio a um inverno atipicamente quente, outras escolas do Rio, como o Colégio São Vicente, no Cosme Velho, e o Andrews, no Humaitá, veem-se às voltas com questões parecidas, levando alunos a criticar as tentativas de restringir o vestuário das meninas.
Na última segunda-feira, cerca de 40 estudantes da Escola Parque fizeram uma manifestação: foram à escola de short e espalharam pelas paredes cartazes com dizeres como “Não preciso me dar ao respeito porque ele é meu por direito”.
— Estão querendo proteger os meninos dos nossos corpos? — questiona uma estudante de 13 anos, do 8º ano da Escola Parque.
De acordo com as garotas, as alunas do ensino médio não passam por essa fiscalização. Elas não nunca foram vistas sofrendo represálias por causa dos shorts. A alegação de funcionários, de acordo com elas, é de que os alunos do ensino médio seriam mais maduros.
— Não há ganho de maturidade assim, de repente — diz outra aluna, também do 8º ano. — As regras devem ser igualitárias, e jamais podemos admitir discurso machista.
Uma estudante de 15 anos, que também cursa o 8º ano, pondera:
— A Escola Parque, que tanto adoramos, propõe um discurso diferente, inclusivo, aberto. Por isso, estranhamos essa proibição, e ainda mais esse discurso que ouvimos de alguns funcionários. Não combina com a escola.
Segundo a gestora da unidade, Claudia Simões, “não existe uma proibição, e sim uma adequação".
— A roupa tem que ser adequada ao ambiente, o short não pode ser curto demais. Não delimitamos um tamanho específico porque achamos que isso não resolve — diz ela. — Mas se algum funcionário fez discurso machista, isso não é o que a escola pensa.
DEBATE EM OUTROS COLÉGIOS
No início do ano, a mesma discussão tomou conta do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho. Depois de uma reunião sobre os uniformes, centrada na vestimenta feminina, alunas criaram o coletivo Femininjas para discutir o assunto. Agora, elas dizem, a cobrança não é mais excessiva.
— É importante que essa discussão ocorra em outros colégios também. Nossas regras sociais dizem que a mulher tem que controlar o tempo inteiro o que veste, como anda, o que fala, mas o homem não. Quando se compartilha um espaço, é preciso ter bom senso, mas tenho certeza de que as meninas da Parque, assim como as do São Vicente, só querem o direito de serem respeitadas quando usam short — diz Júlia Campos, do Femininjas.
Já no Colégio Andrews, do Humaitá, um movimento iniciado pelo grêmio em fevereiro conseguiu, três meses depois, liberar o uso de legging para as meninas. O direito conquistado requer o uso de blusa mais comprida.
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