Nelson Motta, O Globo
Ninguém duvida que são muitos os craques brasileiros jogando nas melhores
equipes do mundo, nem que poucos países têm tantos recursos naturais e tanto
potencial humano como o Brasil. Então por que não ganhamos de nenhuma seleção de
primeira linha há quase quatro anos e o país só cresceu 0,9% no ano passado?
Cada governo tem a seleção que merece?
Quando fomos campeões em 1958, a seleção encarnava o otimismo e o
desenvolvimentismo dos anos JK, o Brasil construía uma nova capital e se tornava
capital mundial do futebol. A vitória na Suécia, dizia Nelson Rodrigues, acabava
com o nosso complexo de vira-lata perdedor, o brasileiro deixava de ser um
Narciso às avessas, que odiava a própria imagem.
Na vitória de 1970, querendo ou não, a seleção representava o “Brasil grande”
da propaganda oficial do governo Médici, refletindo no campo o “milagre
econômico” que fazia crescer a classe média, orgulhava a população e dava altos
índices de popularidade à ditadura militar.
Nada foi mais parecido com os breves anos Collor do que a seleção de Lazaroni
em 1990, que nos fez passar vergonha na Itália e, pior ainda, acabou eliminada
pela Argentina.
Copa de 1994. Foto: Getty Images
Só no governo Itamar Franco, em 1994, com o país convalescendo do impeachment
de Collor e o Plano Real em andamento, o Brasil voltaria a ganhar uma Copa do
Mundo, a duras penas, nos pênaltis, com mais esforço do que brilho.
A vitória de 2002 foi conquistada com o equilíbrio do talento individual e da
eficiência coletiva em campo, quando o Brasil crescia e se modernizava com
estabilidade econômica, democrática e social, entre o fim do governo Fernando
Henrique e o inicio da era Lula.
Já a seleção atual, mesmo com os seus talentos individuais, não deslancha nem
decola. O desempenho da equipe de Dilma se assemelha à gestão de Mano Menezes, e
a volta de Felipão parece um retorno ao estilo papaizão de Lula.
Como a pátria em chuteiras, a seleção é uma metáfora do momento do país, pela
bolinha econômica que está jogando e pelo risco de não defender nossa meta (como
Júlio César em 2010) dos chutes da inflação. O Brasil é uma caixinha de
surpresas.
Nelson Motta é jornalista.
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