RIO - O aumento do acesso de alunos mais pobres aos ensinos médio e superior teve papel fundamental na redução, verificada desde o início da década passada, da desigualdade no Brasil. Porém, ao analisar características do 1% mais rico e constatar que uma parte importante da concentração de renda não será reduzida pela ampliação das políticas educacionais, Marcelo Medeiros e Juliana Galvão, do Ipea, mostram que há um limite que a melhoria da educação, sozinha, não consegue ultrapassar no combate à desigualdade.
Não significa dizer (e os autores em nenhum momento afirmam isso) que, ao olhar dados gerais da educação no país, já chegamos a esse limite. O trabalho dos dois pesquisadores é focado no 1% mais rico, a parcela da população cujos rendimentos têm alto impacto no cálculo da desigualdade. Olhando dados gerais, o atraso do Brasil pode ser constatado pelo último relatório educacional da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
De uma lista de 38 nações, o país é o que tem a menor proporção de pessoas de 25 a 34 anos com ensino superior completo: apenas 14%. A média dos países da OCDE (em sua maioria, desenvolvidos) é de 39%. O Brasil fica a léguas dos líderes Coreia (66%) e Japão (59%), e atrás também dos latino-americanos Chile (22%) e México (24%).
Esta baixa proporção de brasileiros com ensino superior é o que explica o fato de um diploma universitário ainda valer tanto no Brasil, como demonstram as contas da economista Sonia Rocha. Isso pode ser verificado também pelas estatísticas da OCDE. Por aqui, um trabalhador com nível superior tem, em média, renda 147% maior em comparação com um que tenha apenas o ensino médio. Na média das nações desenvolvidas, mais ricas e igualitárias, o percentual é de 59%. Como há mais profissionais de maior qualificação no mercado, é natural que o prêmio pela conclusão da universidade seja menor por lá.
E não é apenas aumentando o acesso dos mais pobres aos bancos escolares que o Brasil ainda poderia reduzir mais a desigualdade pela educação. Há também o desafio, ainda mais complexo, da qualidade. Na avaliação educacional, sabe-se que o principal fator a explicar o desempenho escolar é a renda e escolaridade dos pais. Crianças de maior nível socioeconômico, portanto, chegam à sala de aula com uma vantagem em relação às demais que nada tem a ver com seu esforço pessoal ou qualidade da escola.
Para corrigir essa distorção, os países com alto desempenho educacional procuram equalizar as oportunidades oferecendo às crianças que mais precisam escolas melhores, de modo a compensar a desigualdade que trazem de berço. No Brasil, fazemos o oposto. Um estudo do pesquisador José Francisco Soares, hoje presidente do Inep (instituto de avaliação e pesquisa do MEC), mostra que as escolas que atendem majoritariamente alunos mais pobres são também aquelas com pior infraestrutura na rede pública. Não surpreende, portanto, que a desigualdade educacional, em termos de aprendizado, tenha crescido nos últimos anos, como mostram estudos do próprio Soares e do educador João Batista Araújo e Oliveira.
Como era de se esperar, a diferença no aprendizado vai se traduzir mais tarde em salários. Foi o que demonstraram em estudo Naércio Aquino Menezes e Andréa Zaitune. Eles identificaram que havia significativa relação entre as notas no Enem em português e matemática e os rendimentos, cinco anos depois, no mercado de trabalho.
A desigualdade, portanto, também tem muito a ver com o que acontece em sala de aula.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/analise-longo-caminho-percorrer-16111092#ixzz3amafTNih
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