Recebi, hoje, no final da tarde, um convite de amigos para que, amanhã, eu me vista de preto simbolizando um luto, pelas últimas ocorrências na educação paranaense.
Lá, de forma infame e atroz, policiais, servindo ao sistema, bateram em educadores, no que a mídia, sardonicamente, denominou de "confronto".
Inegável que foram cenas execráveis de ser ver, mas fiquei a refletir se tudo aquilo tão nefando e indubitável já não vem, taciturnamente, ocorrendo, há tempos, com os docentes em suas mais variadas configurações...
Afinal, o educador já vem, há tempos, apanhando quando tem diante de si um pai que alega pagar por uma educação, mas que seja a que ele crê e quer para seu rebento; já vem, há tempos, apanhando quando a sociedade capitalista, em que está putridamente inserido, o vê como algo obsoleto, desnecessário, em um universo onde pode - se comprar, pelas mais variadas formas - inclusive a de ameaças de processos - o papel necessário para representar o conhecimento não construído; já vem apanhando, há tempo, de hipócritas e antigas políticas educacionais vigentes numa pátria que se diz educadora, já vem apanhando , há tempos, quando se vê isolado de seus outros iguais e cobardes, que já cederam ao sistema de manipulações e optam por não sair de suas zonas de conforto para não demandar com sórdidas estruturas , já vem apanhando, há tempos, de diretores, supervisores, coordenadores de escolas preocupados, desesperadamente, não com o verdadeiro produto de uma educação construída, mas sim ou com os índices do IDEB ou com o número de mensalidades nas planilhas dos departamentos financeiros das instituições educacionais; já vem apanhando, há tempos, quando o colocam numa sala sem as mínimas condições de trabalho e consequente aprendizagem ousando a ensinar para mais de 30 alunos que ali - com as mais diversas razões e muitas das vezes padecimentos existenciais - estão para tudo, menos para a aprendizagem; já vem apanhando, há tempos, quando supostos pais - na profundidade do termo - das mais variadas formas e pseudo - poderes guerreiam com eles não por um saber a ser construído, mas por uma aprovação tranquilizadora de sua incompetência enquanto progenitores; já vem apanhando, há tempos, quando descobrem - se mergulhados num universo de excelso desrespeito e visão de inoperante papel, em uma apodrecida e agonizante sociedade de valores éticos e morais.
Concluo, por conseguinte, que é preciso ser muito guerreiro para não desistir do confronto, afinal em todo sistema mais que injusto, notório é que aquele, que domina o conhecimento, transmuta - se em constante ameaça.
Na Idade Média, o impróprio queimava - se na fogueira santa; nos dias de hoje, parece apanhar das mais variadas e sutis metáforas ...
03 de maio de 2015
José Henrique da Silva
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