segunda-feira, 20 de junho de 2011

PARA REFLETIR ....



POR QUE LER LOBATO?






Os clássicos do autor do Sítio sempre revelam algo inédito e inesperado, além de ser fundamental para a formação cultural dos alunos






Por MILENA RIBEIRO MARTINS - professora de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Paraná









Monteiro Lobato ( 1882 - 1948 ) é considerado por escritores e críticos como o grande clássico da Literatura Infantil Brasileira, aquele cuja obra estimulou a criação de outras obras de importantes escritores. Os 22 títulos que contêm as aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo se inscrevem numa tradição que não pode ser ignorada por quem queira compreender esta nossa cultura.



Por ter sido um entusiasta de estudos sobre a cultura nacional, Lobato denunciava veemente a valorização excessiva de modelos estrangeiros. Ao mesmo tempo, porém, o escritor reconhecia a permeabilidade e as possibilidades de diálogo fértil entre as culturas. Assim, embora criticasse a falta de um estilo nacional e a importação de modelos europeus nas artes plásticas e na literatura, Lobato tornou o Sítio um lugar em que convivem personagens originários de diversas culturas, de extração erudita e popular. Em outras palavras, no universo mítico do Sítio, a cultura estrangeira é incorporada à brasileira, num espaço povoado por seres brasileiros , por costumes locais, temperado por uma culinária que recende a bolinhos de polvilho, café e jabuticabas.



Crianças de diferentes gerações conheceram as personagens do Sítio e suas aventuras sem nunca terem lido os livros que lhes deram vida. Essa forma de primeiro acesso ao universo lobatiano não tira o mérito da leitura subsequente. Pelo contrário. Seu alcance e permanência reforçam a relevância da obra de Lobato no nosso imaginário, seja pela fantasia, seja pela representação realista do mundo. Em outras palavras, os produtos da indústria cultural audiovisual não substituem a leitura do livro: podem dialogar com ela.



Quando chegam ao Ensino Fundamental, as crianças trazem em sua bagagem um conjunto de histórias a que tiveram acesso por diferentes meios, em versões transformadas, pasteurizadas, destituídas de conflitos, da violência e da intensidade de suas versões originais. Se uma das funções da escola é a formação cultural dos seus alunos, é importantíssimo que ela garanta o acesso aos textos clássicos integrais por meio da sua leitura, por mais que personagens e enredo já sejam conhecidos. Não se trata de uma leitura de repetição, se concordarmos com Ítalo Calvino: "Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos."






REVISTA CARTA FUNDAMENTAL - Março de 2011





















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