sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Resenhando - A terra dos meninos pelados - Graciliano Ramos

 
Título: A Terra dos Meninos Pelados
Autor: Graciliano Ramos
Editora: Galera Record
Páginas: 29
Sinopse: Havia um menino diferente dos outros meninos. Tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Não tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando. Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul.
Sinopse retirada do Skoob




Graciliano Ramos alcançou o seu auge como romancista ao criar e desenvolver o romance “Vidas Secas”, lançado em 1938. Porém, o autor também teve um importante papel ao criar contos que retratavam a realidade da sociedade brasileira e, principalmente, a desigualdade social. 

Um de seus contos mais famosos é “A Terra dos Meninos Pelados”, lançado em 1939, que retrata, em forma lúdica, a questão das diferenças entre as classes e o preconceito. Apesar de ser lúdico, o conto, que se passa em um mundo fantástico, onde tudo é possível e tem importância, transformou a literatura infanto-juvenil brasileira.

Mostrando inovação em sua narrativa desde as primeiras palavras escritas, Graciliano apresenta um protagonista que fugia do normal: um garoto diferente, dono de um olho preto e outro azul, que sofria constantemente comentários maldosos dos meninos de sua rua. Ao fazer isso, ele mostra claramente que ali existia uma diferença, pois por ser “diferente” dos outros, Raimundo acabava ficando de fora do grupo dominante. Dessa forma, o menino acabava se isolando e ficando excluído do convívio social.

Narrado com uma linguagem coloquial, o texto acaba sendo de fácil entendimento uma vez que o autor abusa de frases simples e expressões da nossa rotina. Essa ferramenta utilizada aproxima o leitor aos personagens, deixando tudo mais dinâmico. Outro meio que Graciliano usa é o de colocar o poder de entendimento em criaturas incapazes de tê-lo. Em Tatipirum, cidade na qual Raimundo encontra os meninos pelados, todo tipo de objeto fala: os carros, por exemplo, possuem senso de humor, conseguem se expressar. Vários outros personagens vão sendo apresentados com as mesmas características: a laranjeira, o tronco, a rã, as cobras, a cigarra (representante absoluta dos artistas da cidade) e a aranha (dona da maior indústria têxtil do local). 

Durante toda a construção do texto, o contista faz questão de trabalhar com os neologismos. Na narrativa, vários nomes vão surgindo e tendo significados diferentes dos normais. Em Tatipirum, os personagens humanos possuem nomes extremamente focados nesse fenômeno: Caralâmpia, Pirenco, Talima, Pirundo e Sira são alguns deles. Sem contar, é claro, de muitas palavras criadas para enfocar o mundo fantástico – perfeito, diga-se de passagem – em que o personagem está situado. A metáfora também é usada e pode ser percebida nas entrelinhas de toda a obra. 

O que fica claro é que, ao criar a "terra dos meninos pelados", o romancista acaba desenvolvendo um lugar no qual todos - mesmo com todas as diferenças - possuem vez. Essa terra democrática proposta ao leitor evidencia uma crítica social muito forte e presente na sociedade, apesar de ter sido escrita ainda durante a segunda geração. Por fim, foi misturando essa temática cotidiana ao contexto sociopolítico de Raimundo, ficou evidente a que Graciliano Ramos ao escrever o conto, queria mostrar que existem milhares de meninos com olhos (altura, peso, idade, cultura, condições, etc.) diferentes.
 
 
http://www.diariodebordodeumleitor.com/2013/02/especial-terra-dos-meninos-pelados.html

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