sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Te contei, não ? - Canal Campos - Macaé

No dia 19 de Fevereiro do ano de 1872 (há 140 anos) começa a navegação no Canal Campos / Macaé. O Canal Campos–Macaé, também denominado Canal Macaé-Campos, é um canal artificial que interligava as cidades Macaé e Campos dos Goytacazes na região norte do estado do Rio de Janeiro, no Brasil. O canal corta os atuais municípios de Campos dos Goytacazes, Quissamã, Carapebus e Macaé, além do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba.

Te Contei, não ? - Como e por que sou romancista - José de Alencar

COMO E POR QUE SOU ROMANCISTA

Não havendo visitas de cerimônias, sentava - se minha boa mãe e sua irmã Dona Florinda com os amigos que apareciam, ao redor de uma mesa redonda de jacarandá, no centro da qual havia um candeeiro. 
Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficaram ociosas as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, passava - se à leitura e era eu chamado ao lugar de honra. 
Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um folguedo querido; já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado. 
Lia -se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam esse excesso as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia - se em recriminações contra algum mau personagem ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói perseguido.
Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, lia com expressão uma das páginas mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos momentos depois não puderam conter os soluços que rompiam - lhes o seio.
Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também, cerrando ao peito o livro aberto, disparei em pranto, e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e suas amigas. 
Nessa instante assomava à porta um parente nosso, o Reverendo P. Carlos Peixoto de Alencar, já assustado com o choro que ouvira ao entrar. Vendo - nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais perturbou - se:
- Que aconteceu? Alguma desgraça? - perguntou arrebatadamente.
As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do P. Carlos o pranto, e evitar os seus remoques, não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:
- Foi o pai de Amanda que morreu! - disse, mostrando - lhe o livro aberto.
Compreendeu o P. Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. [...]

Alencar, José de. Como e por que sou romancista. Ficção completa e outros escritos. 
Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. v.1, p. 106-107. ( Fragmento ) 

Te Contei, não ? - Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, por Ig

Vamos ler o trecho inicial da primeira das famosas Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, escritas por José de Alencar sob o pseudônimo de Ig. Nelas, o romancista critica o poema épico de Gonçalves de Magalhães, expondo ideias interessantes sobre a questão do nacionalismo literário.

Crônica do Dia - O dia em que São Sebastião nos visitou - Pedro Doria


Foi em 13 de julho de 1566 que São Sebastião visitou o Rio. Nem todos o viram, só os índios. Ao menos, assim conta a lenda. Segundo o mestre historiador Sérgio Buarque, esses relatos de aparições de santos eram muito comuns na América espanhola. A visita de São Sebastião a sua cidade, porém, é única entre nós.

Artigo de Opinião - Esopo e os políticos - Siro Darlan


Enfim, mais uma vez, o autoritarismo e a força venceram a razão e os argumentos disponíveis dos mais frágeis

O DIA

Te Contei, não ? - Carioca, um rio órfão



RIO — Na entrada do Largo do Boticário, no Cosme Velho, uma placa informa: “No Rio Carioca, banhavam-se os índios Tamoyo, que cultuavam a sua magia, pois suas águas, segundo as crenças, davam beleza às mulheres e virilidade aos homens”. Mas, centenas de anos depois, o que se vê ali perto é um líquido com forte cheiro de esgoto correndo. Com 7,1 quilômetros de extensão — sendo mais de quatro quilômetros escondidos embaixo do asfalto de três bairros da Zona Sul —, o rio que traz o nome do povo da cidade e se confunde com a sua própria história também é um retrato de seus contrastes: nasce límpido, no Parque Nacional da Tijuca, e vai ganhando ares de valão à medida que se aproxima das construções. E o que mais impressiona: o poder público não parece interessado nele. Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e Cedae, do estado, e Secretaria municipal de Meio Ambiente e Fundação Rio Águas, da prefeitura, jogam um para o outro a responsabilidade sobre o monitoramento da qualidade do Carioca.

Editorial - Água pede gestão mais responsável


O governo, embora simpático a iniciativas para poupar o precioso líquido, não vê motivo para pânico iminente

O DIA


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Personalidades - Lygia Marina de Moraes - Os olhos que metiam medo em Tom Jobim

RIO - A boca é carnuda e aparece no retrato em preto e branco meio entreaberta, num leve sorriso, mostrando os dentes grandes. O cabelo é solto e despenteado e, na mão, ela segura um cigarro. Mas a arma da femme fatale está nos olhos: grandes, de ressaca, que tragam tudo, como Capitu. Tom Jobim trocou o verde pelo castanho, mas teria traduzido o olhar após cruzar com ele pela primeira vez numa tarde chuvosa no bar Veloso: “Mas teus olhos castanhos/Me metem mais medo que um dia de sol/É... Lígia Lígia”.

A foto ficou escondida por 19 anos, período em que a Lígia da música (na verdade, Lygia Marina de Moraes) esteve casada com o escritor Fernando Sabino, que morria de ciúmes dela. A fotografia, de 1971, foi feita por seu primeiro marido, o cineasta Fernando Amaral, e é um retrato da Lygia que fulminou corações e foi eternizada como uma das musas de Tom, que idealizou em “Lígia” um amor que nunca aconteceu. “Eu nunca sonhei com você/Nunca fui ao cinema/Não gosto de samba, não vou a Ipanema/Não gosto de chuva nem gosto de sol”.

Crônicas do Dia - Sagrado silêncio - Flávia Oliveira

Diante de explicações raivosas, julgamentos sumários, justificativas esdrúxulas, é melhor o calar respeitoso

O silêncio desapareceu na esquina da irracionalidade com a intolerância, no cruzamento do cinismo com a cara de pau. Deu lugar à hiperinflação das opiniões raivosas, dos julgamentos sumários, das explicações esdrúxulas. Aquela, acredite, é pior que a escalada frenética dos preços, velha conhecida dos brasileiros, sepultada há duas décadas. A cobiçada visibilidade nas redes sociais ou a mera incapacidade de emudecer detonaram o movimento. E a barulheira se espalhou. O habitual já não é a contrição, mas o falatório. Ao fim da semana de tristezas enfileiradas, #ficaadica: é preciso o silêncio. Diante do inexplicável, que venham o olhar solidário, o calar respeitoso.

Crônicas do Dia - Reflexões do ENEM

O aviso foi dado através dos resultados. Quem tiver “olhos para ver” que vejam e “ouvidos para escutar”, que escutem

O DIA

Crônicas do Dia - A poética da corrupção - Arnaldo Jabor

A corrupção é um rabo de lagarto que sempre se recompõe

Com a corrupção a carne apodrece, a fruta definha e o alimento se espedaça em nossas mãos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Crônica do Dia - Discriminação

(Luís Fernando Veríssimo)


Acho uma odiosa discriminação nós motoristas sermos obrigados a preencher requisitos cada vez mais complicados para ganhar uma licença de dirigir enquanto que nada sequer parecido é exigido do pedestre. E é um fato comprovado que, por exemplo, em cerca de oitenta por cento dos atropelamentos há um pedestre envolvido. (Cachorros vêm em segundo lugar.) Por que esse privilégio? O pedestre é parte atuante do trânsito de uma cidade, existe em muito maior quantidade do que carros, e no entanto não há uma única lei regulando a sua movimentação e as suas obrigações. Qualquer pessoa, literalmente, pode ser pedestre! Basta sair na rua. Até quando as autoridades fecharão os olhos a esse inexplicável favoritismo?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Resenhando - Bilac vê estrelas

Estreia de 'Bilac vê estrelas' chama atenção para escassez de trilhas sonoras inéditas em musicais

Baseado em livro de Ruy Castro, espetáculo que tem canções originais de Nei Lopes é caso raro na cena carioca atual


POR DEBORA GHIVELDER

domingo, 11 de janeiro de 2015

Crônica do Dia por Carlos Eduardo Rebuá

Por Carlos Eduardo Rebuá.


Hotel Ruanda (2004) é um filme dirigido por Terry George que relata a guerra civil ocorrida em 1994 naquele país da África centro-oriental, entre suas duas principais etnias (tutsi e hutus). À época houve quase nenhuma atenção do “Ocidente” (com a ONU se recusando em intervir no conflito, num pequenino país sem grandes “atributos” energéticos e minerais) aos eventos bárbaros que vitimaram um milhão de pessoas de um povo marcado – como toda a África – pelas perversas heranças do colonialismo e de sua versão “neo” do século XIX.

Crônicas do Dia - Eu não sou Charlie, je ne suis pas Charlie

Eu não sou Charlie, je ne suis pas Charlie
10/01/2015
Há muita confusão acerca do atentado terrorista em Paris, matando vários cartunistas. Quase só se ouve um lado e não se buscam as raízes mais profundas deste fato condenável mas que exige uma interpretação que englobe seus vários aspectos ocultados pela midia internacional e pela comoção legítima face a um ato criminoso. Mas ele é uma resposta a algo que ofendia milhares de fiéis muçulmanos. Evidentemente não se responde com o assassianto. Mas também não se devem criar as condições psicológicas e políticas que levem a alguns radicais a lançarem mão de meios reprováveis sobre todos os aspectos. Publico aqui um texto de um padre que é teóloogo e historiador e conhece bem a situação da França atual. Ele nos fornece dados que muitos talvez não os conheçam. Suas reflexões nos ajudam a ver a complexidade deste anti-fenômeno com suas aplicações também à situação no Brasil: Lboff

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Eu condeno os atentados em Paris, condeno todos os atentados e toda a violência, apesar de muitas vezes xingar e esbravejar no meio de discussões, sou da paz e me esforço para ter auto controle sobre minhas emoções…

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Tá na Hora do Poeta - O que mais dói

O QUE MAIS DÓI


O que mais dói não é sofrer saudade
Do amor querido que se encontra ausente
Nem a lembrança que o coração sente
Dos belos sonhos da primeira idade.
Não é também a dura crueldade
Do falso amigo, quando engana a gente,
Nem os martírios de uma dor latente,
Quando a moléstia o nosso corpo invade.
O que mais dói e o peito nos oprime,
E nos revolta mais que o próprio crime,
Não é perder da posição um grau.
É ver os votos de um país inteiro,
Desde o praciano ao camponês roceiro,
Pra eleger um presidente mau.


Patativa do Assaré 

Tá na Hora do Poeta - Quem é importante ? - Samuil Marchak

Certo dia, num caderno,
Numa página interna,
Deu-se a grande reunião
Dos sinais de pontuação,
Para decidir, no instante,
Qual o que é mais importante.

E logo, todo sinuoso,
A rebolar-se, entrou, pimpão,
O enxerido e mui curioso
Dom Ponto de interrogação:
- Quem é?
- Por quê?
- Aonde?
- Quando? – ele só vive perguntando ...


Chegou correndo, afobadão,
O Ponto de Exclamação,
Bufando, muito excitado,
Entusiasmado ou assustado.
– Socorro!
– Viva!
–Saravá!
– Dá o fora! – sempre a berrar!

E vêm as Vírgulas dengosas,
Muitos falantes, muito prosas,
E anunciam: – Nós meninas
Somos as pausas pequeninas,
Que, pelas frases espalhadas,
São sempre tão solicitadas!

Mas já chegam os Dois-Pontos,
Ponto-e-Vírgula, e pronto!
Tem início a discussão,
Que já dá em confusão:
–Sem por cima ter um ponto,
Vírgula é um sinal bem tonto! –
Ponto-e-Vírgula declara,
Arrogante, e fecha a cara.
–Essa não!  Tenha paciência! –
Intervêm as Reticências.
–Somos nós as importantes,
Tanto agora como dantes:
Quando falta competência,
Botam logo...  Reticências!

Til e Acento Circunflexo,
Numa discussão sem nexo,
Cara a cara, bravos, quase
Se engalfinham.  Mas a Crase
Corta a briga, ao declarar:
–Poucos sabem me empregar!
Me respeitem pois bastante,
Já que eu sou tão importante!

Mas Dois-Pontos protestou:
–Importante eu é que sou!
Eu preparo toda a ação
E a e-nu-me-ra-ção!...

–É aqui que nós entramos!
Nós, as Aspas, e avisamos:
Sem nossa contribuição
Não existe citação!

A Cedilha e o Travessão
Já se enfrentam, mas então,
Bem na hora, firme e pronto
Se apresenta o senhor Ponto:
–Importante é o meu sinal.
Basta. Fim. PONTO FINAL.

Tatiana Belinky, Di – Versos russos. São Paulo, Scipione.

Te Contei, não ? - Sintomas que revelam o que está faltando em nós!!!



Veja que interessante... A partir de certa idade, temos quase todos esses sintomas, provocados pela falta dos alimentos aqui mencionados:

Fábula do Rato

Um Rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali.

Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.

Charges


Charges


Crônica do Dia - O Rio e o ataque de Paris

O DIA
Rio - Parece distante, mas o ataque terrorista de Paris tem a ver com a realidade do Rio de Janeiro, suas crianças e adolescentes. Ele acende o sinal vermelho sobre tema pouquíssimo comentado, mas muito atual: a reformulação do currículo do ensino de História e Geografia nas escolas, contextualizando os atos históricos e promovendo debates sobre tolerância religiosa, mostrando aos estudantes as consequências — tanto na trajetória do mundo quanto nos dias de hoje — da não aceitação do próximo. 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Te Contei, não ? - O Homem


Te Contei, não ? - Gilberto Freyre, pensador do Brasil



Crônica do Dia - Feliz Ano Novo - Frei Betto

Feliz Ano Novo
aos que tiveram perdas no ano velho e ainda assim recolhem pedras em suas aljavas. Aos colecionadores de afetos que jamais permitem que suas lagartas se transmutem em borboletas. Aos cínicos repletos de palavras sem raízes no coração.

Te Contei, não ? - Precisa - se - Isaac Libermann



De pessoas que tenham os pés na terra e a cabeça nas estrelas.

Capazes de sonhar, sem medo dos sonhos.

Tão idealistas que transformem seus sonhos em metas.

Charges - Evolução



Crônica do Dia - Decadência e esplendor da espécie

Decadência e Esplendor da Espécie


Não sei o que terá acontecido com a espécie humana.

Esta ausência de pêlos...Para os outros mamíferos a nossanudez pode parecer repugnante como,par nós,a nudez dos vermes.

E,depois,a nossa verticalidade é antinatural.Estas mãos pendendo,inúteis,são ridículas como as dos cangurus sentados.

Se fôssemos veludos e quadrúpedes,ganharíamos muito em beleza e,sem a atual tendência à adiposidade,poderíamos ser quase tão belos como cavalos.

Felizmente,inventou-se a tempo o vestuário,que,pela variedade e beleza(a par de sua utilidade em vista do fatal desabrigo em que ficamos)redime um pouco esta degenerescência.

E acontece que inventamos também o mobiliário,os utensílios:no caso vigente,esta cadeira em que escrevo sentado a esta mesa,à luz artificial desta lâmpada.

E ainda este ato de escrever,isto é,de expressar-me por meio de sinais gráficos,é mais uma prova da nossa artificialidade.

Mas quem foi que disse que eu estou amesquinhando a espécie?Quero apenas significar que,em face das suas miseráveis contigências,o homem criou,além do mundo natural,um mundo artificial,um mundo todo seu,uma segunda natureza,enfim.

O homem,esse mascarado...

Mário Quintana

Crônica do Dia - Aquele amor

AQUELE AMOR 

Ela pertence à espécie de mulheres que possuem um só amor em toda a sua vida. Ou amam de verdade apenas uma vez. Seria espécie de mulheres ou a maioria assim o é, mesmo sem o saber?


Também há homens de eterno amor, embora o machismo e as deformações de sua cultura e comportamento nem sempre os convença de tal. Ou não convença a maioria. Ou será que o fato de serem colocadores de semente por determinismo biológico os leva a não prestar a devida atenção à sua destinação para o amor?
No meio da conversa ela diz, de repente, que só gostou de verdade de um homem e eis que vai buscar lá entre papéis amassados, daqueles que esturricam o couro das carteiras, não um mas três retratos dele, que espalha, qual cartas de baralho, sobre a mesa do restaurante. E fala dele com a mistura de ternura e tristeza que assaltam as mulheres que não lograram viver com o seu amor, casar-se com ele, ter seus filhos, viver em função dele e dela, unidos, pois esta é a verdadeira vontade e destinação da mulher: viver ao lado do verdadeiro amor.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Tá na Hora do Poeta - Revide II ou Queimando a falta de Respeito de um ciclo que se finda



Revide II
ou 
Queimando a falta de Respeito de um ciclo que se finda



Há muitas e muitas luas
Que, silenciosamente, 
Isto em mim está a se desenrodilhar.
Se processa,
Me amua.
E como não sou e nem jamais serei de me calar
E para que  também o novo ciclo isso não polua 
Cá vim hoje só pra vadiar,
Só pra a você alertar,
Pois como sou do bem, 
Me sinto no dever fraternal de te acautelar
O que comigo se processa
Desde que gerado fui 
Para neste planeta caminhar ... 

E longe, longe de mim  te acossar querer,
Pois não sou , de forma alguma, acurado,
Porém, indubitavelmente,  sou feito de outra matéria
Bem mais  diferente de você.

Você que, dissimulado,  com tua Verdade
Tentou me abater,
Subjugar, 
Reduzir,
Vencer,
Derruir,
Esboroar.

Te advirto que sim, 
Creio em todos os Mitos, 
E por isso venho a te precatar
Que sou concebido de matéria rara
Que a nada se compara,
Pois trago de outras viagens
A força de um jequitibá,
O ritmo suave de um Ijexá,
A solidez de um baobá,
Estou a caminho de usar laguidibá,
Tenho a certeza da flecha que a caça chama,
Tenho a acolhimento da luz que vem de Oxalá, 
E a matéria com que brinca a senhora da lama,
O axé de uma lua cheia,
O carinho  de uma linda sereia.

Trago cravado, em minha alma, dos ancestrais
As mil adversidades sofridas no escuro tumbeiro,
Todas as dores que se sofreu numa senzala,
A força do trovão que a tudo abala,
O brilho do raio que avassala.

Não, não adianta ideias de morte 
Das minhas convicções processar 
E ordenar para eu me calar,
Pois trago comigo do homem das palhas o amuleto de sorte.
Não, não, você não arranca o meu norte.
Não adianta,
Tua empáfia não me aparvalha,
Pois tenho impregnado em minha alma,
Em minha palma
O gingado do jongo, 
Do Maracatu, 
Do Caxambu
A calma que abranda meu coração
Gritando para se derrubar qualquer intolerância, qualquer tabu.

Por mais que ao seu jeito você pense em fazer rituais
Não, você não derruba meus ideais,
Pois trago  inerente  a energia de Moçambique, 
Congo, 
Benim , 
Nigéria,
De todos os guetos
De Angola e Keto. 

Não, nem adianta fazer fuzuê
E hoje do meu silêncio explico o porquê
Flores limpam qualquer má energia 
Que de você se processa,
Me dão força, encantamento, magia,
Luz contra todo esse mal que te rodopia.
Digo, reafirmo, repito
Creio em todos os Mitos
E das chamas da Senhora do Fogo
Crepito, 
Portanto, não temo atrito. 

E a despeito 
De intolerâncias,
Preconceitos,
De qualquer pleito
Só te aviso que não te quero mal,
Seria ser pequeno feito você.
Quero o que é de direito,
Respeito. 

E você outro que nem me conhece direito
E que supõe - se  superior, perfeito
Desta lírica aproveito
Para te alvorotar  que das tuas reais intenções suspeito
E que com tuas idiossincráticas atitudes apenas em mim 
Você atiça, nobre sujeito, 
Uma insubmissa sede de justiça,
Uma louca ânsia de Respeito.

E agora que o tempo deste capítulo 
Que nem sou eu que encerro,
Ao fim chega flamejante,
Aproveito a força do homem do ferro
Que o novo parágrafo  vai escrever vibrante,
E tudo isso, num passado
Que de mim quero bem distante,
Enterro !


José Henrique da Silva
Tarde de 31 de dezembro de 2014