sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Crônica do Dia - O dia em que São Sebastião nos visitou - Pedro Doria


Foi em 13 de julho de 1566 que São Sebastião visitou o Rio. Nem todos o viram, só os índios. Ao menos, assim conta a lenda. Segundo o mestre historiador Sérgio Buarque, esses relatos de aparições de santos eram muito comuns na América espanhola. A visita de São Sebastião a sua cidade, porém, é única entre nós.


Aconteceu em batalha. O Rio era ainda a vila velha, uma paliçada incrustada entre o Pão de Açúcar e o Morro de São João, poucas dezenas de homens aterrorizados pelos tupinambás da Guanabara. Tentavam apenas sobreviver enquanto ansiavam por reforços.

Naquela manhã, Francisco Velho, responsável pelo casebre que fazia as vezes de Igreja de São Sebastião no meio da vila, saiu de canoa pela baía. Foi de trás de Paquetá que apareceram os índios. De surpresa. Tocaia. Liderados por Guaixará, principal de uma aldeia em Cabo Frio, formavam um exército. Os textos do tempo sugerem que algo entre 80 e 180 canoas cercaram o pobre. Quando Velho recebeu reforços, não chegavam a meia dúzia as canoas portuguesas.

São poucos os relatos a respeito da Batalha das Canoas, todos escritos por jesuítas. De um deles só há uma cópia, em latim, trancada nos cofres da sede da Companhia de Jesus, em Roma. Poucos o leram.

Os tupinambás estavam em maioria e os portugueses percebiam que a morte era certa. Então explodiu, em uma de suas canoas, um barril de pólvora. A explosão apavorou a mulher de Guaixará, que soltou um grito. Fugiram todos. Por milagre.

Tempos depois, quando a batalha final contra os índios já havia sido vencida, veteranos daquele conflito teriam a chance de perguntar quem era aquele soldado com armadura que os expulsara. Ou, nas palavras do padre José de Anchieta, “quem era um soldado que andava armado, muito gentil-homem, saltando de canoa em canoa”.

Vinicius Miranda Cardoso, um dos historiadores que se debruçaram nos detalhes desta misteriosa aparição do padroeiro, encontrou outra testemunha. É Martim Afonso, o bom Arariboia, principal dos temiminós aliados. Segundo o padre Pero Rodrigues, Arariboia também viu o santo lutando ao lado dos portugueses, embora sem precisar quando.

Dia 20 é Dia de São Sebastião. Dom Sebastião, o rei que desapareceu jovem noutra batalha, inspirou o batizado. Os portugueses gostavam de batizar suas cidades homenageando santos. Não somos, porém, São Paulo, São Vicente, Salvador. Somos Rio de Janeiro. O São Sebastião do nome ficou escondido.

E, ainda assim, mesmo que apenas em lenda, só aqui aconteceu: o padroeiro nos visitou, estava armado e garantiu aos fundadores sua primeira vitória militar relevante.

Aquela batalha virou o jogo e garantiu aos portugueses a vitória.



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