sábado, 25 de abril de 2015

Te Contei, não ? - Africanos no Brasil

Africanos no Brasil
DOMINAÇÃO


Os africanos não vieram para a América de livre espontânea vontade, foram trazidos para cá para trabalhar como escravos. Com o avanço das plantações de cana-de-açúcar no Nordeste, na metade do século XVI, os africanos começaram a entrar no Brasil sistematicamente e em maior número.



DE ONDE ERAM?


Eram povos de diferentes lugares da África, com características físicas e culturais próprias, e trouxeram consigo hábitos, línguas e tradições que marcam profundamente nosso cotidiano. A maioria dos africanos entrados no Brasil saiu da região localizada ao sul do Equador, pelos portos de Benguela, Luanda e Cabinda. Outra parte considerável saiu da Costa da Mina, pelos portos de Lagos, Ajudá e São Jorge da Mina. E um número menor saiu pelo portos de Moçambique.


No Brasil os africanos não eram chamados por sua etnia, mas sim pelo nome do porto ou da região onde haviam sido embarcados. Um africano da etnia congo, por exemplo, era chamado aqui de cambinda, se esse fosse o nome do porto africano  de onde ele houvesse embarcado. Outro exemplo: os diferentes povos embarcados na Costa da Mina ( África Ocidental ) eram chamados simplesmente de minas.


GUERRA E ESCRAVIDÃO

Conseguir pessoas na África para vendê-las na América foi um negócio altamente lucrativo, que durou mais de trezentos anos. Desse negócio participaram europeus, africanos e brasileiros de diferentes condições sociais. Entenda seu funcionamento acompanhando este esquema:

PASSO 1: Os traficantes forneciam tabaco, aguardente, pólvora e, sobretudo, armas de fogo aos chefes africanos; em troca, exigiam prisioneiros de guerra.

PASSO 2: De posse dessas armas, os chefes africanos faziam guerras e obtinham prisioneiros.

PASSO 3: Os prisioneiros eram negociados om os traficantes, que os vendiam na América com escravos.
Instalou-se, assim, na África, um verdadeiro círculo vicioso: faziam-se guerras para obter prisioneiros, que eram trocados por armas de fogo e pólvora, usadas em novas guerras. A consequência mais trágica da chegada dos europeus ao continente africano foi justamente o surgimento de um novo tipo de guerra entre os povos locais: a guerra para obter e vender pessoas e traficantes especializados.

OS AFRICANOS E SUAS CULTURAS

Para o historiador João José Reis, enquanto durou o tráfico, as Américas receberam cerca de 15 milhões de africanos; 40% deles ( 6 milhões ) foram trazidos para o Brasil. Esses africanos trouxeram consigo não apenas sua força de trabalho, mas também suas culturas, que hoje fazem parte de nossos modos de viver, pensar e sentir. Três dessas culturas merecem especial atenção: a cultura jeje, com forte presença no Maranhão; a cultura iorubá, presente na Bahia; e a cultura banto, presente em todo o território brasileiro, especialmente na região Sudeste.

A TRAVESSIA

Nas fortalezas do litoral africano, homens, mulheres e crianças eram forçados a embarcar em navios pequenos e frágeis, conhecidos como navios negreiros. A viagem das praias da África Ocidental para o Brasil durava de 30 a 45 dias, conforme o lugar de partida e chegada. As condições de viagem eram péssimas, a comida era pouca e de má qualidade. As pipas de água também eram poucas, para não ocupar lugar no navio. Assim, cada escravo recebia apenas um copo a cada dois dias. Alguns bebiam água do mar e adoeciam.

Os africanos chegavam ao litoral brasileiro confusos e cansados, sem saber onde estavam. Nos mercados do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís eram examinados, avaliados e comprados. Um homem adulto valia o dobro de uma mulher e, geralmente três vezes maior que uma criança ou um idoso. Como propriedade de outra pessoa, os escravizados podiam ser vendidos, alugados ou leiloados para pagar dívidas de seu dono. Não tinham nem mesmo o direito de manter o próprio nome, recebendo um nome português.

O TRABALHO

Os escravizados trabalhavam de 12 a 15 horas por dia: começavam entre 4 e 5 horas da manhã e iam até o anoitecer. Por vezes, as manhãs dos feriados e domingos eram usadas para conserto de cercas, estradas e outros serviços. O homem trabalhava como agricultor, carpinteiro, ferreiro, pescador, carregador e em várias outras funções. A mulher cultivava a terra, cuidava dos doentes, colhia e moía a cana, lavava, passava, fazia partos, vendia doces e salgados, etc.

Entre os trabalhadores afrodescendentes havia também libertos, nome que se dava aqueles que haviam conseguido a carta de alforria documento de libertação obtido geralmente após longos anos de trabalho.

A ALIMENTAÇÃO

Nas grandes fazendas, a maioria dos escravizados recebiam uma cuia de feijão e uma porção de farinha de mandioca ou milho. Vez por outra, recebia também toucinho, rapadura e charque ( que conforme, a região, tinha o nome de carne-seca, carne do sul, carne do ceará, etc). De modo geral, a alimentação dos escravizados era insuficiente e pobre de vitaminas, o que acarretava sérios problemas de saúde e envelhecimento precoce. Muitos eram descritos como tendo 60 anos, quando tinham de fato entre 35 e 40.

A VIOLÊNCIA

Os escravizados eram vigiados de perto por feitores que, quase sempre, os castigavam por qualquer falta, como fazer uma pausa para descanso ou se distrair no trabalho. Os castigos eram muitos, como a palmatória,  a gargalheira, a corrente com algemas e a máscara de flandres.

RESISTÊNCIA

Nenhum grupo humano jamais aceitou ser escravizado. Onde houve escravidão houve resistência. No Brasil, não foi diferente. Havia razões de sobra, tais como excesso de trabalho, disciplina rigorosa, castigos e o fato de o senhor não cumprir com a plavra, negando liberdade ao escravizado que conseguia  juntar dinheiro para comprar sua carta de alforria. Nesses casos, era comum o escravo fugir.
Os escravizados, por sua vez, desenvolveram várias formas de resistência. A capoeira, por exemplo, foi uma delas. Dança e luta ao mesmo tempo, a capoeira foi uma forma de diversão e defesa desenvolvida no Brasil pelos africanos escravizados e seus descendentes. Hoje essa importante expressão cultural afro-brasileira é reconhecida tanto no Brasil como no exterior.

Os africanos e seus descendentes resistiam também desobedecendo, fazendo corpo mole no trabalho, quebrando ferramentas, incendiando plantações, suicidando-se, agredindo feitores e senhores, negociando melhores condições de vida e trabalho, fugindo sozinhos ou com companheiros e formando quilombos.

O Quilombo dos Palmares

O maior e o mais duradouro de todos os quilombos brasileiros foi o dos Palmares. Teve  início numa noite de 1597, quando cerca de quarenta escravizados fugiram de um engenho do litoral nordestino e refugiaram-se na Serra da Barriga, região montanhosa situada no atual Estado de Alagoas. Como se o lugar possuía grande quantidade de palmeiras, chamou-se Palmares.
Nos primeiros tempos, a população palmarina não era tão grande. Mas, com as invasões holandesas no Nordeste (1624-1654), desorganizou-se a vida nos engenhos, a vigilância diminuiu e os escravizados aproveitaram para fugir. Segundo João José Reis, nesse período o quilombo chegou a ter cerca de 15 mil habitantes. Os africanos e seus descendentes eram maioria, mas em Palmares havia também brancos pobres e indígenas expulsos de suas terras pelos colonos.
Os palmarinos viviam em liberdade e a seu modo, num conjunto de povoações chamadas mocambos. Para sobreviver, plantavam milho, feijão, mandioca, batata-doce; criavam porcos e galinhas; caçavam cotias, raposas, tatus; confeccionavam objetos de cerâmica, palha trançada e madeira; e faziam vasos, enxadas, pás e pilões. Geralmente, a produção de cada guerra, colheita ou festa, ou para serem trocadas nas vilas mais próximas. como Porto Calvo, Serinhaém e Alagoas.

A GUERRA

Palmares sempre tirou o sono dos senhores de engenho luso-brasileiros e das autoridades portuguesas. Para eles, Palmares era um mau exemplo para os escravizados. Por isso, desde cedo, os poderosos enviaram expedições contra o quilombo.
As primeiras expedições oficiais contra Palmares foram derrotadas pelos quilombolas. Durante a guerra, um jovem guerreiro nascido em Palmares começou a se destacar por sua liderança e firmeza. Seu nome era Zumbi.
A guerra prolongou-se por dezenas de anos. Decididas a vencer a forte resistência palmarina, no início da década de 1690 as autoridades contrataram o mercenário Domingos Jorge Velho para comandar a destruição de Palmares. Jorge Velho aceitou, mas em troca exigiu um quinto do valor dos quilombolas aprisionados, quinhentos mil réis, em panos e roupas, cem mil em dinheiro vivo e o perdão pelos crimes que havia cometido.
Houve inúmeros ataques fracassados, mas a superioridade militar, a abertura de novos caminhos até Palmares e o maior conhecimento da Serra da Barriga desequilibraram  a luta em favor dos mercenários. Jorge Velho e seus 6,5 mil homens derrubaram, com balas de canhão, a enorme muralha de madeira que os palmarinos haviam erguido em volta de sua capital,  e o combate se transformou num massacre.
Em 6 de fevereiro de 1694, a capital de Palmares foi incendiada. Depois, os demais mocambos também foram destruídos. Zumbi, ferido em combate, conseguiu escapar e resistiu por vários meses. Mas depois, traído por um homem de sua confiança, foi morto em 20 de novembro de 1695.
Em 1978, a comunidade negra brasileira transformou o dia 20 de novembro em Dia Nacional da Consciência Negra. Ou seja, um dia para refletir com profundidade sobre o racismo no Brasil e buscar formas de superá-lo, afim de que possamos viver em uma sociedade mais justa.

20 de Novembro: data do aniversário da morte de Zumbi

Remanescentes de quilombos

No Brasil de hoje ainda existem povoações habitadas por descendentes dos antigos quilombolas. Espalhadas por todo o território nacional, essas comunidades são chamadas de remanescentes. São mais de oitenta mil pessoas vivendo de um modo parecido com o de seus antepassados. Em algumas dessas comunidades, a língua falada conserva termos africanos.
A constituição brasileira de 1988 reconheceu a propriedade definitiva das terras ocupadas por comunidades quilombolas. O artigo 68 diz: "Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo os Estados emitir-lhes os títulos respectivos".
Até agora foram concedidos poucos títulos de propriedade, pois há grande dificuldade em documentar a posse da área de forma juridicamente aceita. Além disso, muitas dessas terras são cobiçadas por fazendeiros e, por vezes, estão localizadas em áreas de mananciais e reservas de extração vegetal e mineral.
Muitos habitantes das atuais comunidades quilombolas vêm travando uma luta árdua para reunir provas que são descendentes de escravizados e de que as terras em que vivem lhes pertencem.

http://historiaemfocoslsm.blogspot.com.br/2012/01/africanos-no-brasil.html

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