sábado, 21 de novembro de 2015

Crônicas do Dia - Estranhou o quê? - Moacyr Luz


Hoje é dia da Coinsciência Negra, dia de festa e reflexão


O DIA
Rio - Meu primeiro amigo negro se chamava Didé, morava na casa 8 da Rua da Cozinheira, bem nas meiúcas da Vila Aliança. Rua de conjunto habitacional, minha residência era exatamente em frente. Foi o meu primeiro amigo. Depois veio Deralcino Santana, Beto Veterinário, tantos que, me coço pra escrever um por um, seus nomes e agradecer a tabelinha de afetos.

Aprendi muito com Carlinhos 7 Cordas, Marcelinho Moreira, Gordinho e o genial Ovídio Brito, artistas fundamentais em alguns dos meus discos. O convívio com Marcos Esguleba, Zero, Mestre Trambique, Pretinho da Serrinha e Paulino Dias, de outras faixas musicais.

Meus parceiros Wilson Moreira, Das Neves, Teresa Cristina, Sereno, Martinho da Vila e Nei Lopes, gênios da raça.

Enfim, um parágrafo pra Luiz Carlos da Vila.

Brinco com a Dona Esmerilada, mãe do poeta, que se for necessário, me exponho num desses programas populares, faço o teste de DNA, me submeto à regressão hipnótica, jogo búzios, provando o nosso grau de parentesco. Somo irmãos de sangue, carvão e giz.

Luiz compôs com Rodolfo e Jonas, a definitiva obra sobre o gênero para o carnaval de anos atras, a imortal, "Valeu, Zumbi".

Arrepia lembrar os versos de "quizomba" ouvidos até hoje nos quilombos do novo século.

O destino me aproximou do Clube Renascença, abraço mais negro, impossivel. Antes d'eu me transformar em samba já conhecia a feijoada feita na lenha pelo eterno presidente Jorge Ferraz. O som da madeira estalando embaixo da caramboleira inspirava acordes de liberdade. O tronco, as correntes, a chibata, tudo fumaça pra nunca mais.

Mais uma vez, nomes. Pacheco, Chico, Sergio Garçom, Cesinha, Daniel e Evangelista. Manoel e Carlos, sob nova direção.

Meu cabelo, que nunca foi liso, virou sarará feito um partido alto do mestre Casquinha.

Por aí a conta não para. Meus guerreiros do Samba do Trabalhador, Visual, Junior, Álvaro e Mingo, e, claro, os anjos próximos Oswaldo Cavalo, Jorge Alexandre, Ivan Milanês e Miúdo.

Quando fui à Luanda, Angola, cumprir tres shows e algumas tardes livres pra respirar a energia dquela terra, escutei do querido Vinito, sentado ao volante de um zero quilômetro: - O Môa, não se espante, não. Aqui quem manda somos nós!

Dei um riso de alívio e felicidadade. A frase se escondeu na memória por um bom tempo até nascer o tema "Estranhou o Quê?" melodia repetida, quase um "rap", questionando as surpresas sociais.

Ainda faltam nomes pra agradecer, Flávia Oliveira, Jorge Bonifácio Jiló, Inaldo e o cabloco Paulão Sete Cordas, olhos verdes de generosidade.

Hoje é dia da Coinsciência Negra, dia de festa e reflexão.

- Estranhou o quê? Preto pode ter o mesmo que você!.

E-mail: moaluz@ig.com.br

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