Rodrigo Bethlem: Maconha, porta de entrada
Liberação do uso da substância pode prejudicar toda uma geração
Rio - Os governos dos estados do Colorado e de Washington, nos Estados
Unidos, que liberaram o consumo da maconha para fins recreativos e vão
supervisionar o cultivo, a distribuição e até o marketing, vão dar uma
alavancada na economia. Segundo pesquisa, a venda da maconha deve saltar de 1,4
bilhão de dólares para 2,34 bilhões. Mas, no futuro, quantos milhares de jovens
serão afetados por essa decisão?
A partir de agora, esses jovens vão poder consumir, sem problemas, uma substância que, comprovadamente, afeta o cérebro humano, principalmente do adolescente, e reduz o desempenho escolar. E ainda pode aumentar o número de pessoas com problemas de memória e esquizofrenia.
A partir de agora, esses jovens vão poder consumir, sem problemas, uma substância que, comprovadamente, afeta o cérebro humano, principalmente do adolescente, e reduz o desempenho escolar. E ainda pode aumentar o número de pessoas com problemas de memória e esquizofrenia.
Foi comprovado estatisticamente que em todos os países em que a maconha foi
legalizada — como na Suécia, nos anos 70 —, houve um aumento de consumidores. A
maconha pode não viciar tanto quanto outras drogas, como defendem alguns
especialistas. Mas é a porta de entrada. Desafio qualquer ‘especialista’ a ir a
uma cracolândia e perguntar ao usuário de crack se antes de se tornar um viciado
ele não começou dando um ‘tapinha’ num cigarrinho de maconha. Cerca de 90% dos
usuários de crack começam assim.
Em dezembro, o governo do Uruguai, além de liberar o consumo, tomou para si o
trabalho dos traficantes e, também, vai produzir e vender maconha. A alegação do
governo é a redução da criminalidade.
Não sei se é uma ingenuidade, um despreparo ou falta de conhecimento
acreditar que uma lei que regula a produção e a venda — e libera o consumo — vai
conseguir reduzir a criminalidade, ou acabar com o narcotráfico, já que 80% da
renda do tráfico vem da cocaína e derivados.
A única certeza é que a liberação da maconha vai provocar um aumento
considerável do número de viciados. O Uruguai pode estar assinando a certidão de
óbito, no longo prazo, de milhares de jovens. A liberação da maconha pode
prejudicar toda uma geração.
Rodrigo Bethlem é secretário municipal de Governo e presidente do
Conselho Municipal Antidrogas
Julita Lemgruber: Maconha como porta de saída
Artigo ‘Maconha: porta de entrada’, do secretário municipal de Governo, Rodrigo Bethlem, publicado pelo DIA, merece algumas correções
Rio - O artigo ‘Maconha: porta de entrada’, do secretário municipal de
Governo, Rodrigo Bethlem, publicado pelo DIA , merece algumas
correções.
Em primeiro lugar, Bethlem fala “nos países que legalizaram a maconha” e cita
a Suécia. Ora, o único país que até hoje o fez foi o Uruguai, que ainda está
formulando a legislação regulatória. Alguns países descriminalizaram o uso de
drogas, sim, o que é coisa muito diferente. Um desses países foi Portugal, há
mais de dez anos; pasmem os leitores, o consumo entre jovens lá se reduziu! E a
Holanda, que jamais legalizou a maconha, mas desde 1976 criou a política dos
coffee-shops e aprendeu a conviver com o uso da substância, apresenta índices
muito menores do que a maior parte da Europa Ocidental quando se trata de
percentual de indivíduos de 15 a 34 anos que consomem cocaína e outras
drogas.
Quanto ao fato de a maconha funcionar como porta de entrada para outras
drogas, como defende o secretário, é a própria Organização Mundial de Saúde que
sustenta ser o mercado ilegal e o contato com o traficante que expõem o usuário
a drogas mais pesadas. Vale lembrar que não há nenhum estudo científico que
apoie a associação causal da maconha com a esquizofrenia. A maconha pode
funcionar como gatilho para a manifestação da doença em indivíduos que
apresentem predisposição para esta patologia. Alegar que a legalização no
Uruguai não reduzirá a criminalidade é ignorar que o tráfico no Uruguai se
abastece, sobretudo, da venda de maconha. Retirar a droga das mãos dos
traficantes significa golpear a capacidade financeira do tráfico.
É preciso hoje admitir que legalizar é regular, não “liberar geral”. Ao
contrário, é criar regras claras, com idade mínima para consumo, informação
sobre a qualidade do produto e seus riscos, além de restrição de locais de uso —
como já se faz com o cigarro. O objetivo é educar para a prevenção,
desestimulando o consumo por adolescentes e oferecendo tratamento aos
dependentes.
É importante lembrar, também, que 20 estados americanos já aprovaram a
maconha para uso medicinal e está mais do que provado seu poder terapêutico para
tratar a esclerose múltipla, as náuseas provocadas pela quimioterapia ou a falta
de apetite dos indivíduos portadores do vírus HIV.
Devemos reconhecer que todas as drogas podem causar mal, principalmente
quando usadas de forma abusiva. A responsabilidade do poder público é tratar a
questão das drogas como tema de saúde e reduzir os danos do uso problemático de
drogas. De qualquer droga, a começar pelo álcool que é uma droga lícita.
Por último, é fundamental conhecer o trabalho do psiquiatra Dartiu Xavier da
Silveira, da Universidade Federal de São Paulo, para entender que a maconha pode
funcionar como porta, sim, mas uma porta de saída para usuários problemáticos de
crack.
Julita Lemgruber é socióloga e coordenadora do Centro de Estudos de
Segurança e Cidadania da Candido Mendes
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