É injusta a posição do Brasil no ranking mundial de corrupção da Transparência Internacional, divulgado na semana passada. Vamos protestar. O Brasil está em 69o lugar numa lista de 175 países considerados mais limpos, ou livres de corrupção. Tem alguma coisa errada aí. A avaliação foi feita em agosto, bem entendido. Ninguém do júri viu ou leu os depoimentos da Operação Lava Jato.
Se tudo for verdade, devemos ser campeões do mundo em volume de dinheiro roubado dos cofres públicos. Não tem para mais ninguém. O Brasil deve ser mais corrupto que os lanterninhas desse estudo, Somália, Coreia do Norte, Sudão e Afeganistão. O ministro do Superior Tribunal de Justiça Felix Fischer, presidente do STJ até setembro, concorda: “Acho que nenhum outro país viveu tamanha roubalheira”.
Esse troféu só pode ser nosso, pelo gigantismo do país, pelo poder das empreiteiras e pelos danos infligidos a 750 grandes obras públicas – segundo a planilha do doleiro Alberto Youssef. Essa planilha, “perturbadora” nas palavras do juiz Sergio Moro, foi apreendida no dia 15 de março! Imagine a ansiedade do PT para ganhar no primeiro turno. Só depois da eleição, descobrimos o significado da sigla PAC: Programa de Aceleração da Corrupção. O “C”, de crescimento, está desmoralizado pelo PIB abaixo de 1% neste ano.
Ninguém no mundo pode disputar o título de mais corrupto com o Brasil, caso as investigações comprovem a amplitude da “suruba” – mais conhecida como “corrupção ativa e passiva” de empresários, governo federal, governos estaduais, e os “agentes” públicos e privados, financeiros e políticos. Desviando bilhões. O troféu deve ser nosso, se ficar comprovada a propina oficial “doada” ao partido que governa o país há 12 anos, o PT – que acabou de ser reeleito, legitimamente, por pouco mais da metade do eleitorado.
É inoportuno e negativo o coro de “Fora, Dilma”, ou a torcida por impeachment. A oposição tucana não deve se rebaixar aos métodos da oposição raivosa petista. Em 1998, comandada por Lula, ela gritava “Fora, FHC” em manifestações na Esplanada. Lula, brandindo a bandeira da ética, chamava os parlamentares de “300 picaretas”. Quem acusava o “golpismo” contra a democracia? Dilma hoje interpreta as críticas como atentado a seu governo. Ministros ladeiam a presidente “estarrecida”, como se fossem guarda-costas dela e do tesoureiro sumido do PT.
Os tucanos também têm escândalos para chamar de seus. Um deles, o cartel do metrô e dos trens, em governos estaduais do PSDB de 1998 a 2008, criou até ferrugem. Os valores são baixos se comparados aos estratosféricos da Lava Jato. Mas o roteiro imoral é o mesmo, com ex-servidores, executivos, lobistas e doleiros entre os 33 indiciados. O mais correto agora é não arquivar nada e punir os culpados. O partido tem de pedir perdão.
Devemos ser campeões mundiais da roubalheira e da arrogância, porque temos até notas fiscais de propinas pagas na maior estatal, a Petrobras. Que outro país lida com a suspeita de alta corrupção de 35 parlamentares, cujos nomes não foram divulgados nem pelo juiz da Lava Jato, nem pelo procurador-geral da República – e hoje disputam sombras sob as togas do Supremo Tribunal Federal? Cadê os nomes dos 35 parlamentares citados pelo ex-diretor da Petrobras e atual delator estrela Paulo Roberto Costa?
“O que ocorre na Petrobras ocorre no país inteiro: portos, aeroportos, hidrelétricas, ferrovias e rodovias. É só pesquisar”, disse Costa. Ele é o único personagem, até agora, a se dizer “profundamente arrependido” e “enojado” com o que ocorria. Os outros negam ou se fazem de tontos. De uma forma ou de outra, Costa comove. Porque só pode ter falado a verdade. E ela dói em cada brasileiro honesto.
Sempre tivemos o pressentimento de que a corrupção, o suborno e a propina estavam entranhados no modus vivendi do Brasil e, especialmente, de Brasília. Nunca antes na história do país olhamos na cara da serpente, nem conhecíamos a potência de seu veneno.
O veneno apodrece órgãos maiores e menores. Na última terça-feira, o superintendente do Incra no Maranhão, Antonio César Carneiro de Souza, foi preso por cobrar R$ 2,5 milhões por mês de propina a madeireiras ilegais para liberar devastação de terras indígenas. Assumiu o cargo em outubro por indicação do PT. E foi secretário de Meio Ambiente do Maranhão, nomeado pela ex-governadora Roseana Sarney. Algum espanto?
Novo governo, velhas ideias, novas metas maquiadas, velhas manobras, novos juros, velho “toma lá dá cá”. A sujeira que sai dos bueiros do Poder e as pantomimas no Congresso provocam nojo. Ainda não dá para voltar a ser uma indignada otimista. Falta o desfecho.
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