O jornalista americano Andrew Schorr usou a rede para superar a leucemia e o medo
ANDREW SCHORR
"Soube que estava com leucemia em 1996, aos 45 anos. Na época, meus filhos, Ari e Ruth, tinham 6 e 2 anos. E planejávamos o terceiro. Sou jornalista, tenho uma empresa de comunicação e moro em Seattle, nos Estados Unidos. O primeiro sinal da doença apareceu quando fazia minha corrida matinal. Passei a mão no rosto e senti que estava escorrendo sangue pelo nariz. Dias depois, aconteceu de novo. O primeiro médico que procurei, Peter Littlewood, me disse que provavelmente não era nada e me pediu um exame de sangue. No mesmo dia, me ligou. A contagem de células brancas (leucócitos) estava alterada como se meu corpo estivesse lutando contra uma infecção recente. Fui encaminhado para o oncologista Eric Feldman, que me pediu novos exames e confirmou que eu estava com leucemia linfoide crônica (LLC).
Quando se descobre uma doença como o câncer, a primeira reação é não acreditar. Depois, chega o medo. É difícil não imaginar o pior. Pensava em meus filhos. Como eles cresceriam sem o pai? Como minha mulher, Ester, faria para cuidar de tudo sozinha: a educação deles, a casa, as finanças. São inúmeras dúvidas misturadas com o medo e a tristeza. Meu oncologista me explicou que a doença evolui devagar, mas é incurável. Eu faria quimioterapia imediatamente.
Fiz, então, o que muita gente faz e o que muitos médicos detestam: fui para a internet procurar informações sobre a doença. O primeiro passo era encontrar fontes confiáveis. Comecei minha busca pelo site da Acor, sigla em inglês da associação que oferece informações on-line sobre câncer. Encontrei artigos que me levaram a outros endereços. Deparei com outras pessoas que tinham o mesmo problema que eu. Soube de suas histórias pessoais, do tratamento que fizeram. A descoberta dessas pessoas teve um efeito calmante sobre mim. Não estava sozinho. Passei a trocar mensagens com elas. Vi como levavam uma vida normal, como mantinham a doença sob controle. Foram meus amigos on-line que me recomendaram o médico Michael Keating, do Centro de Câncer MD Anderson, em Houston – referência no tipo de leucemia que eu tinha. Keating me disse que essa doença pode ficar estável por muitos anos e poderia até não ser tratada, desde que acompanhada regularmente. Sugeriu que eu não deveria fazer quimioterapia naquele momento. Fiquei chocado e feliz ao ouvir isso. E mais: ele nos incentivou a tentar o terceiro filho. Um ano depois, nasceu nosso filho Eitan, que hoje está com 14 anos. Em 2000, fiz quimioterapia-padrão e tomei um remédio experimental. Hoje, não apresento mais células de leucemia detectáveis.
Em 2005, criei o site PatientPower, com vídeos e entrevistas com os melhores especialistas de saúde, além de depoimento de pessoas que convivem com doenças crônicas. Em julho, publiquei The web-savvy patient: an insider’s guide to navigating the internet when facing medical crisis (algo como O paciente ligado na web: guia para navegar na internet na hora de uma crise médica). O livro é um guia com dicas para filtrar os resultados das buscas. Nada substitui um bom médico. Mas, com bom senso, encontramos informações e amigos valiosos na rede. Graças a essa ajuda, tenho qualidade de vida com minha família, meus dois cães, dois gatos e uma doença controlada."
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