sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Te Contei, não ? - Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, por Ig

Vamos ler o trecho inicial da primeira das famosas Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, escritas por José de Alencar sob o pseudônimo de Ig. Nelas, o romancista critica o poema épico de Gonçalves de Magalhães, expondo ideias interessantes sobre a questão do nacionalismo literário.


Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, por Ig
Carta Primeira

Meu amigo.

Não é um juízo crítico que pretendo escrever sobre o poema do Sr. Magalhães: nem tenho habilitações, nem tempo para o fazer com a calma e o estudo preciso.
São apenas as impressões de minha leitura, que desejo comunicar - lhe, para que as publique se entender que o merecem, e que são justas.
O pensamento do poema, tirado dos primeiros tempos coloniais do Brasil, é geralmente conhecido; era um belo assunto que, realçado pela grandeza de uma raça infeliz, e pelas cenas da natureza esplêndida de nossa terra, dava tema para uma divina epopeia, se fosse escrita por Dante.
O Sr. Magalhães tratou este assunto em dez cantos, e ligou à ação principal, à ação da epopeia, um pequeno drama de amor, que forma um ligeiro episódio.
Como não escrevo um juízo crítico, mas sim as ideias que me produziu a leitura do livro, irei fazendo as minhas reflexões pela mesma ordem em que meu espírito as formulou.
O poema começa por uma invocação ao sol e depois aos gênios do Brasil. A primeira parte é fria: o sol de nossa terra, esse astro cheio de esplendor e de luz, devia inspirar versos mais repassados de entusiasmo e de poesia.
A segunda parte tem beleza: ressumbra aí essa doce melancolia que sente o espírito quando considera nesse vasto solo habitado por tantas raças que desapareceram da face da terra, que pereceram ou emigraram para regiões desconhecidas.
A tradição dos índios do Norte falava de uma grande peregrinação feita pela raça tapuia quando a nova raça invasora dos tupis se assenhoreou de suas terras; talvez a invasão dos portugueses tenha produzido o mesmo resultado. 
Depois da invocação segue a descrição do Brasil: há nessa descrição muitas belezas de pensamento, mas a poesia, tenho medo de dizê-lo, não está na altura do assunto.
Se me perguntarem o que falta, decerto não saberei responder; falta um quer que seja, essa riqueza de imagens, esse luxo da fantasia que forma na pintura, como na poesia, o colorido do pensamento, os raios e as sombras, os claros e escuros do quadro.
Parece - me que Virgílio, que descreveu a Itália, Byron a Grécia, Chateaubriand as Gálias, Camões os mares da Índia, teriam achado no sol do Brasil algum novo raio, alguma centelha divina para iluminar essa tela brilhante de uma natureza virgem e tão cheia de poesia.
Parece - me que o gênio de um poeta em luta com a inspiração, devia arrancar do seio d'alma algum canto celeste, alguma harmonia original, nunca sonhada pela velha literatura de um velho mundo.
Digo - o por mim: se algum dia fosse poeta, e quisesse cantar a minha terra e as suas belezas, se quisesse compor um poema nacional, pediria a Deus que me fizesse esquecer por um momento as minhas ideias de homem civilizado.
Filho da natureza embrenhar - me - ia por essas matas seculares; contemplaria as maravilhas de Deus, veria o sol erguer - se no seu mar de ouro, a lua deslizar - se no azul do céu; ouviria o murmúrio das ondas e o eco profundo e solene das florestas.
E se tudo isso não me inspirasse uma poesia nova, se não desse no meu pensamento outros vôos que não esses adejos de uma musa clássica ou romântica, quebraria a minha pena com desespero mas não a mancharia numa poesia menos digna de meu belo e nobre país.
Brasil, minha pátria, por que com tantas riquezas que possuis em teu seio, não dás ao gênio de um dos teus filhos todo o reflexo de tua luz e de tua beleza?

Alencar, José de. Obra completa. 
Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.v.4, p.864 - 5. 

5 comentários:

  1. Nessa carta podemos reparar o modo e a intensidade dos pensamentos com que José de Alencar escrevia, para min, considerando a mudança significativa da língua devido a época, o artista manuseava suas palavras muito bem, sem contar o sentido ao todo que fazia com que o texto ficasse muito bem detalhado e perfeitamente construído.
    Sabendo que crítico era umas das profissões de Alencar mesmo ele tento citado acima que essa carta não era uma de suas obras críticas ele da sua opinião ao Gonçalves de Magalhães sobre seu poema.Alencar diz que escreve somente o que ele pensa sobre o assunto ou seja não se aprofundou o suficiente para definir como uma crítica, mas somente com sua opinião ele consegue transmitir muito bem o que ele pensa a respeito da obra.
    Ele deu um ar podemos dizer poético a mostra disso e o ultimo paragrafo cujo qual faz uma observação com aspecto meio que negativo em cima do Magalhães pois ele se refere a ele quando fala "ao gênio de um dos seus filhos " .Ele também mostra um certo nacionalismo ao longo do texto devido aos elogios a beleza natural que nosso Brasil possui.
    Ele formula o texto de forma em que inicialmente ele anuncie que aquilo não e uma obra crítica dele depois ele tenta separar as partes do poema e analisá-las posteriormente ele coloca na carta a ideia geral da obra de Magalhães depois coloca sua opinião final.Fazendo essa analise percebi que mesmo não se dedicando a crítica analise de Alencar possui uma estrutura totalmente perfeita, pode ate estar faltando dados sobre o assunto mas e inegável que é admirável o talento de Alencar.
    Acho interessante uma coisa que sinto falta hoje em dia nessa profissão é a falta do que se pode chamar ate de respeito entre esses profissionais, pois vejo que antigamente eu vejo pessoas que amavam o que faziam (pelo menos os grandes escritores) e davam reconhecimento ao talento e as obras dos outros artistas com o tempo isso se perdeu, percebo que hoje em dia os artistas tem uma luta incensante, uma competição, um com o outro para ver quem chega ao topo e se um tiver a chance de se sobre sair a custas de outro não tenha certeza que isso sere feito então acho que a profissão perdeu um grande respeito devido a falta de espirito.

    Aluno: Wenderson F. R.

    Turma: 901

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  2. Em estas cartas podemos apreciar o vocabulario que tinha o honoravel Jose de Alencar nessa época, coisas tao simples como dar uma critica construtiva ja nao sao diariamente ovservadas hoje em dia, também os poemas de este século XXI tem muita menos profundeza que os da aquela época considerada a época dourada da poesia ou a era dos poetas.
    Era facil detalhar e apreciar a paixao que se tinha pela poesia em esse tempo, hoje em dia os poetas escrevem poesías iguais como se foram remakes de poemas de dois séculos atrais e quase sempre esto nao e por o verdadeiro, puro, franco, e magnifico amor pela poesía, os poetas de hoje fazem poemas para ganhar uma grande quantidade de lucros e benefiços.
    Em esta critica constructiva se pode ver que Jose de Alencar usa um vocabulario muito refinado e demostrando uma grande paixao pela poesía e pela arte que evidentemente era ums dos principais entretenimentos da época, tal vez por isso e que se tinham tantas idéias para os diferentes tipos de pinturas, poesías, esculturas e outros tipos de artes en general.
    hoje em dia temos muitos mais entretenimentos: filmes, videogames, televisáo, realidade virtual, realidade aumentada e disenho digital entre outras o que faiz pensar que as pessoas de hoje em dia passam o arte por sovrevalorado ou muito "antigo" para esta generaçao.
    Coisas tao nobles como pintar, esculpir ou poesía e considerado uma perda de tempo e que nao genera nada e somente sao por diversâo, claramente demostrando uma enorme falta de amor ao arte e uma enorme falta de espiritualidade.
    O que os pintores modernos querem e dinheiro facil e rapido fazendo zero esforço e zero dedicaçao, completamente evidente pelas pinturas abstractas modernas que sao nada mais que tirar pintura no cuadro ou pintar uma forma tao simple como um retángulo, claramente alguma coisa se perdeu no caminho

    Aluno: Santiago Ragaglia

    Turma: 901

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  3. José de Alencar crítica de uma forma muito formal o poema épico de Gonçalves de Magalhães onde Alencar diz que faltou originalidade e inspiração. O patriarca de uma forma muito educada e simples diz a sua opinião a respeito do poema. Mas o que me impressiona é o quão penetrante é a forma como ele fórmula os detalhes e faz com que nós fiquemos até mesmo com pena do Gonçalves de Magalhães. Somente um grande escritor poderia fazer esse efeito.
    As Cartas sobre a Confederação dos Tamoios mostra o quão crítico alencar era. Ele já até arrumou confusão com Dom Pedro ll, e em suas obras ele sempre está criticando a sociedade de alguma forma: a hipocrisia, a desigualdade, o egoísmo e etc.
    Mas também aparenta uma rivalidade entre Alencar e Magalhães. Pois provavelmente existiam intrigas entre escritores onde um queria ser melhor que o outro a qualquer custo, apesar de que Alencar não precisava desse tipo de coisa para ser considerado o melhor.
    Mas tem uma coisa que Alencar tinha e que foi o responsável por essa crítica era o interesse pela leitura. Ele leu o poema épico inteiro e ainda fez um livro mostrando suas críticas sobre ele. Ele tinha uma coisa que hoje a maioria esmagadora das pessoas não tem. Mas isso mostra que a nossa sociedade não evolui nada e só piorou, piorou até um estado onde nós fazemos Teclonogias ultra-avançadas só para elas pensarem por nós. Aí nós não precisamos mais fazer contas pois existem calculadoras, não lemos mais pois podemos ver um filme. Mas a leitura não está só nos livros, mas também nos jornais. As pessoas preferem ver o jornal nacional ou o da Band ao invés de se informar nos sites de jornais e revistas que estão na internet. Pois para ler um jornal você precisa LER, mas para assistir um jornal, basta você não ser surdo. Então é muito mais fácil ouvir e ser manipulado por um telejornal que atende os interesses dos milionários do que pesquisar e se informar corretamente. Quer dizer, até a falta de leitura explica a situação política atual do país.
    Aluno: Bruno de Lorenzo
    901

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  4. Concordar, discordar, parcialmente concordado, meu pensamento segue diferente... Tudo isso se resume em duas palavras, opinião crítica, em que segue com o seu conhecimento, no qual você acredita, acha, o que é levado e adotado para a sua vida. São críticas e não deixam de ser consideráveis, pois fazem parte de alguma formação.
    Criticar sabendo o que se está criticando de forma sábia, é o que se iguala com José de Alencar, que opõem sua opinião e de forma alguma deixa de ser aquele o que verdadeiramente é. Em sua carta além de formular uma opinião, ele acrescenta o momento em que ele vive em sua terra, o nacionalismo, em que descreve os raios de sua luz, e forma as suas cores do pensamento. Percebe se com mais vigor nesse trecho de sua carta, “se algum dia fosse poeta , e quisesse cantar a minha terra e as suas belezas, se quisesse compor um poema nacional, pediria a Deus que me fizesse esquecer por um momento as ideias de homem civilizado.”
    Suas palavras sutis entram com vigor em sua crítica, e como ele próprio diz, “a palavra é simples e delicada flor do sentimento, nota palpitante do coração, ela pode elevar-se até o fastígio das grandezas humanas, e impor leis ao mundo do alto desse trono”
    Laura Lyssa Carvalho de Sous-801

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  5. O projeto de José de Alencar no mundo da literatura foi formado através da polêmica que girava em torno da Confederação dos Tamoios, poema de Gonçalves de Magalhães, favorito do imperador Dom Pedro II e considerado o chefe da literatura brasileira. A crítica feita por Alencar ao poema relata o grau de seus estudos de teoria literária e seus conhecimentos do que devia ser característico da literatura do nosso país, sendo que, em seu ponto de vista, o gênero épico era incompatível, por causa, por exemplo, da forma de uma literatura nascente. Não concordava com o fato de Dom Pedro II estar "sustentando" Gonçalves de Magalhães com o dinheiro que a população dava em impostos. Achava uma injustiça, e o mesmo, ao meu ver, tinha razão. Ainda bem que José de Alencar "peitava" a situação e, como nesse caso, conseguiu o que queria. Acabou se tornando o patrono da literatura brasileira e deixando marcada a sua história de vida, a qual nunca irá ser esquecida (espero!).
    Jade Tavares, 801

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