Cresci acreditando em contos de fadas. Aquela pessoa especial, um grande amor, estaria me esperando em algum lugar. Eu poderia ser o príncipe, passar embaixo de uma torre e a bela Rapunzel deixar cair seus cabelos. Ou teria algo de Cinderela e numa balada encontraria alguém capaz de resolver minha vida, até economicamente? Sim, digo com franqueza. Muito homens têm sonhos de Cinderela, assim como muitas mulheres vão à luta e galgam torres como o príncipe de Rapunzel. Não tem a ver com o tipo de vida sexual. Mas com os sonhos românticos que são impostos durante a infância e reforçados ao longo da vida por livros, exemplos de vida. Felicidade e amor andam de mãos dadas, anunciam os livros de autoajuda. E, a cada vez, essa minha porção romântica grita.
– É agora?
E o pior: não encontrar alguém é como uma doença. A pessoa que deixa de correr atrás de uma vida amorosa torna-se, aos olhos da sociedade, um perdedor.
– Mas ela está sozinha há tanto tempo? Coitada!
Eu vejo amigos correndo para baladas, bebendo tudo o que podem na vaga esperança de no final da noite receber um sorriso de volta. Até brinco sobre como na balada a beleza se torna relativa. Uma pessoa atraente à meia-noite se faz de difícil. Ninguém serve. Às 2 da manhã descobre traços insuspeitos de beleza em alguém que nem sequer olhava antes. Às 4, 5,basta ouvir um “oi, tudo bem?”, para achar tudo lindo. Mulheres separadas vão a reuniões sociais na esperança de finalmente encontrar o tal príncipe, já que o primeiro desencantou. E ouvem as conversas mais chatas, as cantadas mais absurdas na esperança de que “ele” talvez não seja tão ruim assim. Outro dia, uma amiga reclamou de um texto de novela:
– Não sei por que inventaram a ilusão do amor romântico.
– Você já casou quatro vezes e me diz que não acredita em amor? – retruquei.
– Aiiii, o pior é que casava de novo!
Mas, como todo mundo procura príncipe ou princesa, quem aparece é submetido a uma rigorosa fiscalização. Ronca? Usa fio dental? Tem trabalho fixo? Enfim, cumpre todos os pré-requisitos para que eu, você, seja quem for, se apaixone sem medo? E aí vem a grande surpresa. A tal pessoa não existe. Ninguém passa, é pior que vestibular para medicina. Ou o nariz é grande, ou gosta de sertanejo, ou botou silicone demais. Ou, o que é pior, também está procurando. Também está testando. E agora eu, que coisa, não passei no teste!
E cada um fica procurando, tentando, por dias, meses, semanas. Nossa, mas a Bela Adormecida tinha mau hálito? Também, como será o beijo depois de 100 anos dormindo? Pobre príncipe que venceu a floresta mágica para mais uma vez, se decepcionar! E aquele homem charmoso, perfeito, alto, elegante, como ninguém jamais viu, era um Drácula, disposto a sugar, sugar e jogar fora.
A idade chega e no mínimo me torna mais maduro. Eu descobri que é preciso olhar o amor sob outra ótica. Não é a da segurança, nem mesmo a do desejo. Nenhuma relação se mantém só pelo sexo, por mais selvagem que seja nos primeiros tempos. O segredo é não procurar uma pessoa mágica, mas alguém de carne e osso. Que não precisa ser bela (bom se for, pelo menos a meus olhos), nem isso ou aquilo. Só precisa mesmo de um atributo: estar disposta a viver de verdade uma relação. A compartilhar e dividir a vida.
Diferenças, sempre vão existir. Mas o mais importante é, simplificando, a sensação de que estamos juntos nessa. Quando eu mudei meu modo de ver as coisas, ficou muito mais fácil. Não faço mais vestibular para o amor, mas não exijo também. Eu costumo dizer:
– Está aí um lago. A gente resolve se vai se atirar ou não.
Há riscos. Atirar-se num lago é impetuoso, exige decisão rápida. Se pensar muito, ninguém ousa. Mas para amar não é preciso esse mínimo de ousadia? Você quer encontrar alguém para passar a vida toda, mas é incapaz de convidar para um final de semana em Campos do Jordão, Gramado, seja onde for? Ou, pior, você convida, mas avisa que não garante o sexo, quer “sentir” na hora. Alguém aceita um convite para ser tratado como rato de laboratório, cobaia de uma relação que nem começou? Ninguém é criança. Se for para tentar, é para valer. E, sinceramente, se o sexo não for bom ou até nem rolar, paciência.
Eu mudei minha maneira de pensar. Quando deixei de esperar aquele momento mágico, que incrível, aconteceu. Mágico. Talvez esse seja o segredo. Magia não pode ser planejada. De repente, eu soube que estava diante da pessoa certa. Perfeita? Não. Simplesmente alguém que deseja compartilhar a vida. E o que mais a gente quer?
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