domingo, 1 de fevereiro de 2015

Artigo de Opinião - Intolerância à brasileira - Flávia Oliveira



Enquanto se comove com assassinatos na França, país minimiza cotidiano de preconceito religioso, presente até na escola pública


O ataque ao semanário francês “Charlie Hebdo”, na primeira semana de 2015, na França, intensificou o debate sobre intolerância religiosa mundo afora. Muito se escreveu e comentou acerca dos que matam e morrem por um Deus, não só neste estranho início de século XXI, mas ao longo da História. Contudo, a justificada comoção pelos assassinatos cometidos no atacado pelos jihadistas de Paris eclipsou, de certa forma, o cotidiano de preconceito que minorias religiosas enfrentam no Brasil nosso de cada dia. São atitudes que vão do constrangimento à demonização, da agressão verbal à violência física. E, não raro, têm como ponto de partida a escola pública.

A democrática sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio, abrigou, quarta-feira passada, um ato ecumênico contra a intolerância religiosa e pela liberdade de expressão. Dele participaram líderes de todos os credos, do candomblé ao catolicismo, do islamismo ao luteranismo e ao budismo. Um dia antes, um episódio de preconceito religioso tomou as redes sociais. A um grupo de componentes da Estação Primeira de Mangueira, que participava de entrevista numa emissora de TV ligada a uma igreja neopentecostal, foi pedido que a palavra orixás fosse suprimida do refrão do samba-enredo de 2015. Os músicos ignoraram e têm sido saudados pela coragem no enfrentamento. Mas a atitude de intolerância ficou evidente. Houve tentativa de censurar, não o culto, mas a simples menção a um substantivo que remete às religiões de matriz africana.

No ato na ABI, os líderes espirituais reivindicaram a criação de um Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Antes disso, o Brasil precisa decidir que modelo de Estado laico pratica. É esperada para este primeiro semestre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) pedindo que o ensino religioso em escolas públicas seja de natureza não confessional. A mesma Carta que consagra o princípio da laicidade prevê a disciplina em escolas públicas, abrindo espaço para o proselitismo dos cultos majoritários. É o alerta da Adin, de 2010, assinada pela procuradora Deborah Duprat de Britto Pereira, que tem como relator o ministro Luís Roberto Barroso.

Presidente da Comissão Contra a Intolerância da Alerj, o deputado Carlos Minc promoveu audiências públicas sobre o tema. Rio de Janeiro e Espírito Santo, diz, são os dois estados brasileiros onde as escolas públicas, além de permitir educação confessional, usam material didático fornecido pelas igrejas. No Rio, por lei, o professor concursado tem de ser credenciado por entidade religiosa.

De 500 docentes de religião admitidos por concurso estadual em 2004, 68% eram católicos, e 26%, evangélicos, informa Stela Guedes Caputo, coordenadora do grupo de pesquisa Ilé Oba Òyó, da Pós-Graduação em Educação da Uerj. “Misturar educação com religião na escola pública ajuda a produzir cotidianos discriminadores, contrários à educação multicultural. A laicidade é a única maneira de garantir que qualquer religião ou a ausência de religião e fé tenham liberdade plena na sociedade”, defende.

Amanda Mendonça dedicou a dissertação de mestrado na UFRJ ao ensino religioso na rede pública estadual. Concluiu que a legislação privilegia credos majoritários, além de gerar discriminação e preconceito. “Há a exclusão de ateus, de agnósticos e das religiões de matriz africana, em especial”, diz. É a intolerância à brasileira.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/intolerancia-brasileira-15144545#ixzz3QVA2mbrr

Um comentário:

  1. Na minha opinião cada um tem sua religião, seu gosto, e não podemos julgar essas pessoas, elas não gostam disso, gostam de ter sua própria vida, seu próprio gosto e religião. Não acho certo ver as pessoas cuidando da vida dos outros, se eles querem aquilo, deixa ficarem com aquilo que escolheram. Não temos que interferir na vida de ninguém, cada um tem a sua e pronto.
    Vemos na televisão casos e casos de preconceito religioso, pessoas se matando, brigando, e cuidando do que não é da conta delas. Não podemos deixar isso barato, temos que denunciar e criar leis contra isso. O mundo de hoje está muito preconceituoso, e às vezes sem conhecer um pessoa, à chamam de burra, de ignorante, pela religião e por vários outros motivos.
    Eu acho muito feio mesmo quem comete esses atos, e faz todas essas maldades, e as pessoas vendo que ficam impunes acabam cometendo mais até de uma vez, acho que elas não se tocam que estão fazendo algo horrível, acabando com a pessoa, às vezes deixando a pessoa em depressão e também acaba causando o suicídio dessas pessoas, que não tem liberdade e não conseguem viver quietos com suas escolhas. Então precisamos acabar com essa impunidade, para essas pessoas que fazem maldades nunca mais as repetirem.
    A religião gera muitas brigas, guerras, e mortes, como por exemplo os terroristas islâmicos, que não aceitam nada além de sua religião, matam, torturam, pela religião, sem se tocar que aquilo que fazem é uma maldade com pessoas inocentes que não fizeram nada para acabar daquela maneira. Temos que acabar com o preconceito religioso, e todos os outros tipos de preconceito. O religioso está presente em todos lugares, não podemos continuar dessa maneira, temos que acabar com isso tudo, toda essa violência que a religião causa, pois acho que a mesma não foi feita pra isso.

    Victor Melo Ismério
    802

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