terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Te Contei, não ? - Memória quase destruída de uma diva "brasileira" - Carmem Miranda - a Pequena Notável

Doadas, roupas usadas em espetáculos pela Pequena Notável, que nasceu em Portugal, estão desbotadas e enferrujadas. Recuperação custará R$ 1, 5 milhão


Christina Nascimento

Rio - Parte da história da Pequena Notável padece, ironicamente, no museu criado em sua homenagem, no Aterro do Flamengo. Um lote de 454 objetos de Carmen Miranda precisa passar por tratamento de conservação. Destes, 91 peças, entre roupas, turbantes, bijuterias e sapatos, doadas em 1956, ano seguinte a sua morte, pelo seu marido, o norte-americano David Alfred Sebastian, e os irmãos dela, vão ser restauradas. Algumas estão em péssimo estado.
Doadas, roupas usadas em espetáculos pela Pequena Notável, que nasceu em Portugal, estão desbotadas e enferrujadas
Foto:  Divulgação
No acervo, há preciosidades como os trajes usados nos filmes ‘Copacabana’ (1946) e ‘Scared Stiff’ (1947), em shows na Inglaterra, em Cuba e nos EUA e a fantasia que a artista vestiu na última apresentação antes de morrer. A Secretaria Estadual de Cultura estima gastar R$ 1,5 milhão somente para fazer a restauração de 91 objetos. A licitação para contratar uma empresa responsável pelo serviço está prevista para o dia 24 de janeiro.

No edital, é justificado que o acervo de indumentárias “devido a sua fragilidade, vem sofrendo perdas desde então”. O documento afirma ainda que a conservação é necessária para a transferência da coleção para o novo Museu da Imagem e do Som, na Avenida Atlântica, de frente para a Praia de Copacabana. A mudança, no entanto, só deve ocorrer daqui a um ano, prazo previsto para durar o trabalho de reparação.
O museu possui cerca de 10 mil itens, entre acervo museológico (694), documental, textual e bibliográfico (2.654) e hemeroteca (6.700) — recortes de jornais e revistas. Será nele que a empresa ganhadora da licitação vai trabalhar.
Na lista das roupas que estão em condição ruim, há uma saia de tecido de várias cores em losango que Carmen Miranda usou no espetáculo musical ‘Streets of Paris’, na Broadway, em 1939. A apresentação foi o propulsor das suas apresentações nos EUA, onde, em 1955, viria a falecer, aos 46 anos, em casa, após a gravar uma participação especial num programa.
Algumas peças estão qualificadas como em péssimo estado. É caso de um bustiê e um turbante que a atriz usou em ‘Scared Stiff’. O sutiã está com ferrugem, sem fecho e com o tule usado desbotado. O adereço da cabeça está sujo, os fios metálicos estão oxidados e as plumas estão soltas.
Sobrinha da cantora, Carmen de Carvalho Guimarães, de 77 anos, ainda guarda em casa relíquias. Uma estatueta presenteada por Darcy Vargas, mulher do ex-presidente Getúlio Vargas, está entre os mimos de que ela não abre mão.
“As alianças de casamento sumiram do museu. Então, a gente fica receoso de doar uma coisa tão preciosa, que foi este presente da família Vargas”. Questionada, a Secretaria de Cultura disse que nunca houve registro catalográfico das alianças de casamento no museu.
Relíquias serão transferidas para o Museu da Imagem e do Som
A prefeitura ainda não sabe qual será o destino do Museu Carmen Miranda, quando o acervo for para o Museu da Imagem e do Som, em Copacabana. Desde janeiro, o público não pode mais entrar na atual instalação para visitação, por causa da arrumação que está sendo feita para retirar os objetos. A Secretaria Estadual de Cultura, responsável pela administração, explicou que , até que a transição ocorra, o acervo continua aberto para pesquisa e consulta com agendamento prévio.
A família da Pequena Notável vive modestamente. Seus sobrinhos criaram uma empresa para administrar a imagem da artista, que na década de 1940 chegou a ter o maior salário de Hollywood. “Nossa riqueza foi tê-la na família. Ela ajudou os irmãos, mas ninguém ficou rico. Moro num apartamento de 70 metros quadrados em Copacabana que foi comprado com o dinheiro da venda da casa da Carmen na Urca”, afirmou a sobrinha Carminha.
Além da casa, os irmãos ficaram com um andar de salas comerciais que foi vendido na Avenida Presidente Vargas, no Centro: “Davam prejuízo porque eram alugadas por um valor bem barato. O Amaro (irmão de Carmen) tinha que colocar dinheiro do bolso. O rendimento não dava para as despesas”.
Público não pode mais entrar desde janeiro no museu que tem 10 mil itens. Pesquisa e consulta poderão ser feitas com agendamento prévio
Foto:  Divulgação



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