Doadas, roupas usadas em espetáculos pela Pequena Notável, que nasceu em Portugal, estão desbotadas e enferrujadas. Recuperação custará R$ 1, 5 milhão
Rio - Parte da história da Pequena Notável padece, ironicamente, no museu
criado em sua homenagem, no Aterro do Flamengo. Um lote de 454 objetos de Carmen
Miranda precisa passar por tratamento de conservação. Destes, 91 peças, entre
roupas, turbantes, bijuterias e sapatos, doadas em 1956, ano seguinte a sua
morte, pelo seu marido, o norte-americano David Alfred Sebastian, e os irmãos
dela, vão ser restauradas. Algumas estão em péssimo estado.
No acervo, há preciosidades como os trajes usados nos filmes
‘Copacabana’ (1946) e ‘Scared Stiff’ (1947), em shows na Inglaterra, em Cuba e
nos EUA e a fantasia que a artista vestiu na última apresentação antes de
morrer. A Secretaria Estadual de Cultura estima gastar R$ 1,5 milhão somente
para fazer a restauração de 91 objetos. A licitação para contratar uma empresa
responsável pelo serviço está prevista para o dia 24 de janeiro.
No edital, é justificado que o acervo de indumentárias “devido a
sua fragilidade, vem sofrendo perdas desde então”. O documento afirma ainda que
a conservação é necessária para a transferência da coleção para o novo Museu da
Imagem e do Som, na Avenida Atlântica, de frente para a Praia de Copacabana. A
mudança, no entanto, só deve ocorrer daqui a um ano, prazo previsto para durar o
trabalho de reparação.
O museu possui cerca de 10 mil itens, entre acervo museológico (694),
documental, textual e bibliográfico (2.654) e hemeroteca (6.700) — recortes de
jornais e revistas. Será nele que a empresa ganhadora da licitação vai
trabalhar.
Na lista das roupas que estão em condição ruim, há uma saia de tecido de
várias cores em losango que Carmen Miranda usou no espetáculo musical ‘Streets
of Paris’, na Broadway, em 1939. A apresentação foi o propulsor das suas
apresentações nos EUA, onde, em 1955, viria a falecer, aos 46 anos, em casa,
após a gravar uma participação especial num programa.
Algumas peças estão qualificadas como em péssimo estado. É caso de um bustiê
e um turbante que a atriz usou em ‘Scared Stiff’. O sutiã está com ferrugem, sem
fecho e com o tule usado desbotado. O adereço da cabeça está sujo, os fios
metálicos estão oxidados e as plumas estão soltas.
Sobrinha da cantora, Carmen de Carvalho Guimarães, de 77 anos, ainda guarda
em casa relíquias. Uma estatueta presenteada por Darcy Vargas, mulher do
ex-presidente Getúlio Vargas, está entre os mimos de que ela não abre mão.
“As alianças de casamento sumiram do museu. Então, a gente fica
receoso de doar uma coisa tão preciosa, que foi este presente da família
Vargas”. Questionada, a Secretaria de Cultura disse que nunca houve registro
catalográfico das alianças de casamento no museu.
Relíquias serão transferidas para o Museu da Imagem e do
Som
A prefeitura ainda não sabe qual será o destino do Museu Carmen Miranda,
quando o acervo for para o Museu da Imagem e do Som, em Copacabana. Desde
janeiro, o público não pode mais entrar na atual instalação para visitação, por
causa da arrumação que está sendo feita para retirar os objetos. A Secretaria
Estadual de Cultura, responsável pela administração, explicou que , até que a
transição ocorra, o acervo continua aberto para pesquisa e consulta com
agendamento prévio.
A família da Pequena Notável vive modestamente. Seus sobrinhos criaram uma
empresa para administrar a imagem da artista, que na década de 1940 chegou a ter
o maior salário de Hollywood. “Nossa riqueza foi tê-la na família. Ela ajudou os
irmãos, mas ninguém ficou rico. Moro num apartamento de 70 metros quadrados em
Copacabana que foi comprado com o dinheiro da venda da casa da Carmen na Urca”,
afirmou a sobrinha Carminha.
Além da casa, os irmãos ficaram com um andar de salas comerciais que foi
vendido na Avenida Presidente Vargas, no Centro: “Davam prejuízo porque eram
alugadas por um valor bem barato. O Amaro (irmão de Carmen) tinha que colocar
dinheiro do bolso. O rendimento não dava para as despesas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário