quinta-feira, 31 de maio de 2012

Resenha - Trono de Sangue




Diante de um totem formado por dois grandes teares, três bruxas literalmente “tecem” com longas agulhas seus malignos vaticínios: a de que um general da corte da Escócia será coroado rei e, para se manter no trono, terá de tomar cuidado com um homem não nascido de ventre feminino. Essas predições pontuam a magnífica tragédia “Macbeth”, de William Shakespeare. Na versão em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo, a partir da sexta-feira 1º, as feiticeiras não são interpretadas por mulheres, mas por homens. Era assim que na época elisabetana, no século XVI, as personagens femininas ganhavam vida no palco. A originalidade da montagem assinada pelo diretor Gabriel Villela e protagonizada por Marcello Antony está em mostrar a história de um rei que manchou o trono de sangue na potência de todos os recursos cênicos. As bruxas, por exemplo, usam bermuda, colete militar, meiões, joelheiras, óculos de sol e uma estranha coroa formada por retroses de tecelagem. Suas agulhas são antenas de rádio, objeto que depois, nas mãos de soldados, lordes e do próprio rei, tornam-se lanças e espadas. Da mesma forma, o sangue que seus “gumes” provocam não são feitos de ketchup, mas de um amontoado de linhas vermelho-encarnado.

Esse uso de objetos e roupas incomuns liberta o espectador e abre espaço para outras inovações. A primeira delas é a utilização de um narrador, que comenta a ação à maneira brechtiana. Segundo Villela, sua função é “reconstruir a história perante a plateia”. Nessa síntese, os 20 personagens totais são interpretados por apenas oito atores. Os únicos que não se revezam em cena são Marcello Antony e Claudio Fontana, no papel de Lady Macbeth. A ideia original do diretor era que Antony fizesse a personagem feminina, mas a mudança veio para melhor. De sua parte, Antony contribuiu para uma cena capital, o monólogo que inclui a definição da vida como “um conto cheio de som e fúria significando nada” – ele assume movimentos de marionete. “Tive essa ideia no momento em que Macbeth repete ‘o amanhã, o amanhã, o amanhã”, diz o ator, para quem a peça chega em um momento oportuno: “Estamos vendo isso agora com esses políticos que fazem o que querem com o poder.” 


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