terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Artigo de Opinião - MPB nas escolas - Ricardo Cravo Albin

Nada mais estimulante que a história da música popular do Brasil para definir as várias qualificações da alma do povo miscigênico que nós somos. Tanto as letras das músicas quanto a diversidade inebriante de seus ritmos permitem a qualquer pessoa um mergulho em profundidade na alma poliforme e descontraída, alegre ou romântica, cafusa ou mulata, simples ou por vezes mais sofisticada desta nossa quase “civilização tão própria e original” que representa a nação.
De mais a mais, e insisto, as letras (sobretudo elas) inferem toda uma conexão muito conveniente da literatura e da história do país, de modo muito direto e muito simples. E nossos ritmos — o cadinho mágico dos gêneros musicais — exibem opulentamente a magnética magia da ginga, da dança, da sensualidade, e até da ingenuidade de um povo argamassado quer pela mistura dos três raças formadoras (a índia, a branca e a negra), quer pela capacidade de surpreender ao absorver e amalgamar os estrangeirismos que nos chegam além das fronteiras, deglutindo-os com uma sofreguidão criativa inebriante e quase sempre surpreendente.
Por tudo isso, clamo de há muito que não há nada mais eficaz do que ensinar-se nas escolas municipais do país esta história. Mas, vejam bem, a saga da MPB, a sua história, essa linda e maturada trajetória que nos povoa há séculos (sendo que o último, o século 20, foi consolidador e definidor) e que resume como poucas outras a grandeza descontraída da civilização brasileira.
É verdade que aqui e acolá a gente vê e sabe de notícias esparsas de tentativas de introduzir-se a música nas escolas do primeiro grau. Não bastam aulinhas de violão ou de coral. Mas atentem para detalhe importante: é fundamental que se estabeleçam os parâmetros verdadeiros dessa riquíssima história, a de seus míticos personagens e a dos seus principais gêneros musicais, que rolam pelo espaço de dezenas de décadas a fio.
Até porque, para que as crianças do primeiro grau possam por ela se interessar, é necessário — eu diria obrigatório — que a verdade do que existe hoje em MPB possa ser exemplarmente qualificada. Se agora nós temos o que temos é porque tivemos origem e fôlego para chegar até aqui. Bem ou mal. A meu ver muito bem.
Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin

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