quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Artigo de Opinião - Cidadania nas escolas e outras utopias - João Pedro Roriz

O Senado aprovou projeto de lei que pode tornar obrigatório o estudo de cidadania nas escolas. O MEC é contra, pois se preocupa com a já saturada grade escolar. Pior do que não ter a matéria é aplicá-la de modo equivocado. O Brasil sofre a dicotomia entre teoria e prática, e os parlamentares agem como Pollyanna ao produzir leis idealistas para um país irreal.
“Cidadão”, segundo o dicionário, é o indivíduo no “gozo de plenos direitos civis e políticos”. Mas as mazelas criam um cenário onde é possível observar grandes grupos à margem de seus direitos e alheios a seus deveres. Não é possível falar de cidadania sem passar recibo de incompetência histórica governamental. Mas o senador Sérgio Souza, proponente da lei, prefere culpar as pessoas. “O cidadão já é corrupto no momento em que quer levar vantagem na fila”, diz ele.
É possível em nosso mundo compreender o real significado da palavra cidadania? Sem incorrer nos clichês do tema, acredito que não. As escolas atendem aos pedidos dos sonhadores de Brasília enquanto muitos jovens seguem inconscientemente o equivocado discurso de revolta que compõe o universo cultural das metrópoles. Nesse Brasil ‘descoberto’ por Cabral, os professores só poderão falar maquinalmente aos jovens sobre sua sonhada e abstrata cidadania; sobre ‘direitos’ e ‘deveres’ que os tornarão ‘comportados’, pois assim desejam os governantes — muitos dos quais, corruptos.
Liberdade é consciência. Mas os políticos da distante Brasília esqueceram que “o sol da liberdade em raios fúlgidos” ainda não brilha para todos “no céu da pátria” deste instante.


Escritor e jornalista, autor do livro ‘Almanaque da Cidadania’

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