sábado, 2 de agosto de 2014

Personalidades - Ariano Suassuna - Uma das grandes vozes do sertão, levada ao teatro, à TV e ao cinema

RIO - A criação literária de Ariano Suassuna nasce com o teatro. E foi como autor de clássicos como “O auto da compadecida”, “A farsa da boa preguiça” e “A pena e a lei” que ele firmou seu nome como um dos maiores autores do teatro brasileiro, equilibrando erudição e cultura popular. Reconhecido como uma das grandes vozes do sertão, Suassuna passou infância e adolescência na pequena Taperoá, na Paraíba, onde se familiarizou com a cultura da região, interessando-se pelo homem nordestino, seus causos, costumes e questões — elementos que, mais tarde, serviriam de estrutura à sua dramaturgia e moldariam seu “mundo mítico”, como dizia.



As formas da narrativa oral e a poética sertaneja também influenciaram a sua escrita dramática. Aos 15 anos, a mudança para Recife o aproximou da cultura urbana e da literatura dramática mundial, o que o levou a escrever suas primeiras peças para o Teatro dos Estudantes de Pernambuco, como “Uma mulher vestida de sol” (1947) e “Os homens de barro” (1949). Lá, criou o grupo itinerante Barraca, inspirado no mítico grupo La Barraca, do poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936). A influência ibérica intensificou-se com o aprofundamento na obra do Século de Ouro Espanhol, com especial admiração pela dramaturgia de Calderón de la Barca, assim como pela obra do português Gil Vicente.

O lastro da vivência sertaneja e o contato com a dramaticidade ibérica somaram-se ao estudo das tradições teatrais britânicas e francesas, encarnadas por Shakespeare e Molière. E foi a partir dessa mescla de referências que Suassuna lapidou sua singularidade dramatúrgica, cuja amplitude de referências unia a literatura de raiz popular brasileira, como o cordel, a referências mediterrâneas.

De Ziembinski aos Trapalhões

Após um início marcado pela conjunção da comédia de costumes com ritos e folguedos populares do Nordeste, Suassuna deixou aflorar sua dimensão religiosa. A educação familiar, cristã, o levou a recuperar o auto religioso medieval em peças como o “Auto de João da Cruz” (1950), “O arco desolado” (1952) e, já numa segunda fase, com o “Auto da Compadecida” (1955-56), que o tornou nacionalmente conhecido. Dois anos mais tarde, escreveu “O casamento suspeitoso” (1957) e “O Santo e a Porca” (1957), encenada em São Paulo com direção de Ziembinski, pelo Teatro Cacilda Becker, em 1958. Logo em seguida iniciou uma investigação sobre a linguagem do teatro de marionetes e de máscaras, que influenciaram “A pena e a lei” (1959), encenada cinco anos mais tarde em São Paulo, com produção de Ruth Escobar e direção de Antônio Abujamra.

Em 1960, Suassuna fundou o Teatro Popular do Nordeste, que encenou duas de suas novas produções, “A farsa da boa preguiça” (1960) e “A Caseira e a Catarina” (1962). No entanto, logo após essa sequência de peças, o autor interrompeu sua produção dramatúrgica para dedicar-se à prosa, à poesia e à elaboração dos conceitos que estruturaram o Movimento Armorial.

Entre 1958 e 1979, dedicou-se à criação de dois romances monumentais, “Romance d’a Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta” (1971) e “História d’o rei degolado nas caatingas do sertão/Ao sol da onça caetana” (1976), marcos fundadores do que denominou romance armorial-popular brasileiro. Inspirado por essas obras, o encenador Antunes Filho estreou, em 2006, uma adaptação teatral que sintetizou as mais de mil páginas das duas obras numa montagem de uma hora e meia, que colecionou aplausos do próprio Suassuna: “Escrevi uma história maluca, mas o Antunes conseguiu transpor todas as minhas doidices no palco”, disse, à época.

Os cariocas também assistiram, recentemente, a peças do autor. Uma delas, a premiada “As conchambranças de Quaderna” (2010), foi assinada pela diretora Inez Viana e reuniu dois de seus textos. Em 2011, João das Neves assinou montagem para "A farsa da boa preguiça". Já a Cia. Limite 151 encenou “O Santo e A Porca” (2011), com direção de João Fonseca, e o “Auto da compadecida” (2012), comandado por Sidnei Cruz.

Na TV, suas obras ganharam adaptações pelas mãos de diretores como Luiz Fernando Carvalho e Guel Arraes. Em 1994, a atriz Tereza Seiblitz deu vida à protagonista Rosa Maranhão na versão da peça “Uma mulher vestida de sol” (1947) dirigida por Carvalho e exibida como “Caso especial”, na Globo.

Em 1999, o Nordeste de Suassuna foi transposto para a tela por Guel Arraes no clássico “O auto da Compadecida”, microssérie de quatro capítulos com Selton Mello e Matheus Nachtergaele, que viraria filme em 2000. Em 2007, em comemoração aos 80 anos de Suassuna, Carvalho prestou homenagem ao autor na microssérie “A Pedra do Reino”. Em cinco capítulos, a obra, escrita pelo diretor com Luís Alberto de Abreu e Braulio Tavares, teve no elenco Irandhir Santos, Nill de Pádua e Mayana Neiva e foi gravada em Taperoá.

No cinema, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias fizeram paródia em adaptação livre do “Auto da Compadecida”. Dirigido por Roberto Farias, “Os Trapalhões no auto da Compadecida” foi lançado em 1987. O elenco trazia atores como Raul Cortez e José Dumont.



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