O romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, é um caso à parte no conjunto de obras em Prosa do Romantismo brasileiro. Por retratar a sociedade com uma vivacidade que nao existia nos romances apoiados na idealização, a obra é considerada de transição entre o Romantismo e o Realismo.
O livro surgiu como um romance de folhetim, ou seja, em capítulos, publicados semanalmente em um jornal do Rio de Janeiro. Por ser publicado em partes, o enredo precisava prender a atenção do leitor de uma semana à outra, com capítulos curtos e até certo ponto independentes, em geral contendo um episódio completo. A trama, por isso, é complexa, formada por histórias que se sucedem e nem sempre se relacionam por causa e efeito.
"Filho de uma pisadela e um beliscão" ( referência ao modo como seus pais flertaram ) , o pequeno Leonardo é uma criança intratável, que parece prever as dificuldades que vai enfrentar.
E não são poucas: abandonado pela mãe, que foge para Portugal com um capitão de navio, é igualmente abandonado pelo pai. Encontrará em seu padrinho, contudo, o seu verdadeiro protetor. Dono de uma barbearia e de uma boa soma de dinheiro.
A origem pouco digna desse capital - o barbeiro desviou a herança de um capitão moribundo deixara à sobrinha - só será revelada posteriormente. A fórmula "arranjei-me" sintetiza, no romance, a explicação dada pelo barbeiro para a posse do dinheiro. O autor acaba por dizer que muitos "arranjei-me", equivalentes ao atual "jeitinho brasileiro", se explicam assim, e dessa forma estende essa representaçao de sua história a toda a sociedade da época.
É uma obra marcante para a literatura brasileira: estamos diante de um novo gênero nacional, que se constrói em torno da figura do malandro. Pode - se classificar essa obra como um "romance malandro", de cunho satírico e com elementos de fábula. Esse gênero frutificará em vários romances posteriores, como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade.
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