Filho de escravo, Seu Manel, 95, relembra como era a vida em Valença e brinca com modernidade
EDUARDO FERREIRA
Rio - A porta de uma das 36 casas de tijolo de barro, cobertas de sapê, se abre no Quilombo São José da Serra, a 57 quilômetros do Centro de Valença, no Sul Fluminense, e lá de dentro sai com toda a sua elegância Manuel Seabra, de 95 anos. Vestido com um terno cinza e chapéu, o morador mais antigo do local logo é cercado por filhos, netos, bisnetos e tataranetos pedindo bênção e beijando sua mão.
“Essa mão já arou muita terra. Eu nasci e fui criado aqui. Era roçador de pasto e trabalhava das 6h às 18h todos os dias. Preguiça era uma palavra que não existia. Qualquer coisa, meu pai me dava um castigo ou me batia. Hoje todo mundo tem muita liberdade. São outros tempos”, disse o filho de escravo, que já perdeu as contas de quantos descendentes deixou.
Seu Manel participou de apresentação de jongo, ontem, Dia da Consciência Negra, na cidade mineira de Rio Preto: longevidade e sabedoria
Foto: Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Mais antigo quilombo do estado, criado por volta de 1850, São José da Serra é formado por cerca de 110 descendentes de escravos que vieram do Congo, Guiné e Angola, e moravam nas terras da Fazenda São José da Serra. “Meu avô e meu pai eram escravos e fugiram das senzalas para o quilombo. A estrada de terra para chegar aqui não existia. Era muito difícil escapar e chegar vivo no quilombo. Ainda bem que eles chegaram”, conta ele, com sorriso nos lábios.
Tempos difíceis que em nada lembram a modernidade de hoje em dia. "Quando eu era pequeno, não havia luz. A iluminação era feita por querosene. Para comprar comida, eu tinha que ir até o distrito de Santa Isabel a pé. Levava duas horas para ir e duas para voltar debaixo de sol ou de chuva. Às vezes a gente ficava doente e não existia remédio. Tomávamos um chá de ervas e rapidinho ficava bom", contou.
Nessa época, Seu Manel (como é conhecido) nem iria imaginar a transformação do quilombo. Nos tempos atuais, há televisões em várias casas. Em 1994, por exemplo, na Copa do Mundo, a reportagem do O Dia esteve no local e verificou que existia apenas um aparelho que era ligado na bateria de um carro. Ninguém tinha geladeira, aparelho de som. Hoje, grande parte dos quilombolas já tem. Além disso, os adolescentes e crianças podem aproveitar a sala com cerca de 11 computadores conectados na internet (uma espécie de lan house). "Temos facebook e celular pega em alguns pontos daqui também", afirmou Adriana da Silva, 22, casada e mãe de Kiara Rosa, de um ano e meio. Seu marido, o cinegrafista Jéferson Rosa, 26, não nasceu no quilombo, mas sempre está por lá. "Quando estou de folga, eu venho. Aqui é a minha família".
Alguns querem ir para o Quilombo, mas há quem pretende deixá-lo em busca de uma profissão. "Quero ser soldado do exército. Sempre vejo na televisão as ações dos militares e tenho vontade de ser um deles", afirmou Kaique de Oliveira, 12 anos.
A preocupação de muitos deixarem o Quilombo está nas palavras de Jorgina da Silva, 62 anos. "Tinha muito mais gente aqui, mas alguns casaram, foram estudar, trabalhar e saíram. Espero que alguns permaneçam para perpetuar nossa cultura. Aqui ainda a agricultura de subsistência é o principal, tanto que planto milho", comentou ela enquanto a filha pintava sua unha. "Estou me preparando para o Jongo mais tarde".
No Dia da Consciência Negra, cerca de 50 quilombolas saíram de suas casas, entraram em um ônibus fretado, passaram por 60 quilômetros de estrada de terra e foram fazer uma apresentação de Jongo para os alunos da Escola Municipal Dr. José Rogério Moura de Almeida, no município de Rio Preto, em Minas Gerais. Essa iniciativa se transformou em um projeto de integração das culturas apoiado pela prefeitura do município mineiro. O criador foi o professor de Geografia, Josemar de Freitas, 36 anos. Em 2013, os estudantes foram conhecer o Quilombo São José da Serra. "A ideia é que os alunos e todos que trabalham na escola aprendam a riqueza dos costumes dos afrodescendentes e saibam valorizá-la", ressaltou.
No cotidiano dos quilombolas está presente a crença religiosa da Umbanda e Catolicismo, artesanato, benzeduras e o Calango. Cultura que o presidente da Associação de Moradores do Quilombo, Toninho Canecão, quer que seja difundida. ele explicou a importância do conhecimento de costumes diferentes pelas pessoas. "Estamos tentando passar a cultura afrodescendente para as outras gerações e apresentar para quem não conhece. Queremos que o país aprenda os nossos costumes para que em um futuro breve o preconceito não exista mais. A ideia é que somos todos irmãos, independentemente de cor ou religião".
Os quilombos foram muito importantes para a história do Brasil,um grande exemplo é o zumbi dos Palmares,o mesmo é considerado um dos grandes líderes de nossa história.Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial.
ResponderExcluirZumbi morreu dia 20 de novembro,o dia é lembrado e comemorado no Brasil como o Dia da Consciência Negra.
Nessa reportagem,podemos relembrar o que eram os quilombos uma forma de refúgio dos escravos.De acordo com seu Manel,a vida de hoja é bem mais moderna que a de antigamente,pode-se dizer que tudo hoje em dia conseguimos com facilidade,no passado para encontrar um remédio era preciso sair da zona rural,onde a maioria morava e vir para cidade grande.
O significado dos quilombos é basicamente,o de Zumbi.Mostrar a cultura africana,o seu valor e viver como irmãos,imdependente de cor ou religião.
Gustavo Salvini Dolor-801
Os negros eram visto como coisas, objetos com que os brancos poderiam fazer o que quisesse, a qualquer momento. Como os negros eram maltratados, com isso iam para os quilombos onde lá eram bem tratados e viviam em sociedade .
ResponderExcluirOs quilombos eram onde os refugiados(escravos) se escondiam, lá a cultura africana continuou a ser cultuada. Um dos mais populares é o Quilombo dos Palmares onde resistiu a vários ataques e continuou fortalecido e abrigando mais negros.
Os negros contribuíram muito para nossa cultura, por isso até agora não sei porque há preceitos, eles batalharam muito para chegarmos a este patamar.
Nesta reportagem nós revela praticamente dos quilombos e também nos faz repensar sobre a cultura africana e sua importância, tanto para o passado quanto para os dias de hoje.
Aluna:Bruna de Oliveira Monteiro
turma:801