domingo, 9 de novembro de 2014

Te Contei, não ? - Tem que participar

RIO - As famílias brasileiras têm um forte vínculo afetivo com suas crianças e seus jovens, mas isso nem sempre se traduz numa preocupação adequada com a escola. Esta é a principal conclusão da pesquisa “Atitudes pela Educação”, realizada pelos institutos Ibope e Paulo Montenegro em parceria com o Movimento Todos pela Educação, as fundações Roberto Marinho, Itaú Social e Maria Cecília Souto Vidigal e os institutos C&A e Unibanco. O estudo mostrou que uma em cada cinco famílias apresenta baixos índices de envolvimento com os filhos nos dois aspectos. Por outro lado, a análise dos dados indica que há potencial para o maior comprometimento com a vida escolar dos alunos.


A pesquisa ouviu 2.002 pais ou responsáveis por estudantes entre 4 e 17 anos. Ao final, eles foram divididos em cinco perfis, conforme o grau de envolvimento afetivo com os filhos — o que é chamado de “vínculo” — e com a vida escolar — classificado como “valorização”.

No campo afetivo, foram verificados aspectos como o tempo que os pais passam com os filhos dentro e fora de casa e a forma como estabelecem diálogos sobre opiniões e preferências deles. Já sobre o âmbito escolar, os entrevistados mostraram desde a frequência com que participam das atividades ligadas ao colégio à maneira como acompanham as tarefas.

Os pais que se mostraram mais eficientes nesses dois aspectos foram definidos como “comprometidos” e representam a minoria dos entrevistados: apenas 12%. São os que mais se informam sobre a proposta de ensino da escola (86%) e mais sabem das notas e do desempenho acadêmico dos alunos (79%). Eles também são os mais instruídos: cerca de 50% têm ensino médio ou superior completo.

A nutricionista Patrícia Toledo Piza, de 45 anos, sente-se parte dessa minoria. Mãe dos gêmeos Lucca e Luigi, de 13 anos, e Giovanna, de 11, ela mantém um diálogo constante com os três e controla com afinco a educação. Está sempre em contato com os professores e participa de todos os eventos escolares. Patrícia também acompanha as tarefas diárias e estabelece metas.

— Se houver mais de quatro observações no caderno por não terem feito dever de casa em um mês, ficam sem o computador — conta. — Mantenho esse controle por acreditar que é através da educação que eles conquistarão seus objetivos futuros. Sempre tento mostrar esse aspecto a eles. Sei que vou deixá-los mais preparados para a vida.

MAIORIA DEVE MELHORAR

Mas é o grupo dos chamados “vinculados” que reúne a maior parte dos pais brasileiros, com 27% dos entrevistados. São aqueles que prezam mais pelo vínculo afetivo com seus filhos e menos pela ligação com a escola. A diferença é ilustrada por números: se 95% deles procuram conversar com a criança quando notam algum comportamento diferente, somente 20% dialogam com outros pais sobre a qualidade da escola.

— A maior parte dos pais apresenta um vínculo afetivo superior à importância que eles dão à escola — avalia a coordenadora-geral do Todos pela Educação, Alejandra Meraz Velasco. — Por isso, existe um espaço para que se envolvam mais com este segundo aspecto.

Segundo Alejandra , o fato de os pais já terem um bom diálogo com os filhos pode ser visto como um facilitador para a melhora em relação ao aspecto escolar. A evolução seria incorporar conversas e atividades referentes a esse assunto à rotina da família.

— Os pais precisam sinalizar aos filhos que a escola é importante e determinante para a vida, além de acompanhar melhor a rotina nos colégios. Também podem agregar aos hábitos das famílias atividades extracurriculares que ajudem em sala de aula — recomenda, pontuando que tais práticas estão diretamente relacionadas ao rendimento dos estudantes.

Mas essa não é uma obrigação restrita aos responsáveis. Como destaca Alejandra, as escolas também estão envolvidas na missão.

— Os colégios devem buscar estratégias para trazer os pais à escola, com reuniões em horários mais flexíveis e com pautas mais amplas, que não sejam somente acadêmicas. Também precisam permitir que os responsáveis participem mais do cotidiano do colégio — enumera.


Já o grupo dos “envolvidos”, que representa 25% dos pais, mantém relações assíduas com a comunidade escolar, mas tem um ambiente familiar menos propício a um relacionamento próximo com a criança e o jovem. Entre eles, por exemplo, 79% checam se a criança estudou para as provas e 67% acompanham o calendário de provas. Por outro lado, somente 35% procuram levar os filhos para programas culturais, prática de esportes ou atividades ao ar livre nos dias de folga.

A pesquisa identificou ainda o grupo dos “intermediários” (17%), que atribui maior responsabilidade da vida escolar dos filhos à própria escola. Também há os “distantes”, aqueles que menos têm vínculos tanto com os filhos quanto com as unidades onde eles estão matriculados. Neste último caso, o quadro foi considerado alarmante pela consultora em educação Andrea Ramal, doutora no tema pela PUC-Rio.

— É um volume muito alto. Temos que lembrar que essa criança está sozinha, abandonada ao próprio desempenho — afirma.

Segundo a especialista, isso mostra que não existe uma política de educação dos pais estabelecida no Brasil. O ideal seria que eles fossem capacitados e incentivados a acompanhar a vida escolar dos filhos.

— Estou falando de uma política pública, que venha do ministérios e das secretarias estaduais e municipais, com diretrizes concretas nessa direção, para todas as etapas do ensino — diz. — Parece um exagero pensar em mais essa atribuição para as escolas, mas não é. Foi isso que a Coreia do Sul fez quando promoveu sua grande reforma educacional. Chamou os pais para dentro da escola a fim de que aprendessem a acompanhar o desempenho dos filhos.

Para ela, é justamente o grupo minoritário dos “comprometidos” que deve servir como meta no Brasil. Segundo ela, ter apenas 12% dos pais dentro desse recorte também configura uma realidade preocupante:

— Enquanto não houver esse discurso da participação da família no processo educacional, o nosso Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não será diferente de quatro. Uma prova disso é que as escolas públicas que conseguem se sair muito bem nesse indicador são justamente aquelas que trabalharam com os pais.

Para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, ainda não há no Brasil uma tradição de acompanhamento familiar da vida escolar dos alunos. Segundo ele, os pais de hoje não sentiram a presença de seus progenitores na escola e, por isso, também demonstram menos preocupação com esse fator.

Além disso, Cara acredita que as escolas não criaram sistemas de ensino capazes de receber com mais eficiência os responsáveis pelos estudantes. Seria preciso, então, quebrar esse ciclo vicioso, algo que as famílias com maior instrução e escolaridade já estariam fazendo:

— Filhos de pais participativos tendem a reproduzir esta característica no futuro, quando forem pais e tiverem filhos. Por isso, é importante que os sistemas de ensino estimulem a participação dos pais. Outra necessidade é criar leis e normas que liberem os pais das atividades profissionais para o acompanhamento escolar dos filhos.

O presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, também percebeu a correlação diretamente proporcional entre vínculos e o grau de instrução dos pais:

— Aqueles com maior nível de escolaridade valorizam mais a educação e, consequentemente, procuram assegurar melhores condições de educação aos filhos. Outra razão importante é disponibilidade de tempo: pais com mais escolaridade têm mais rendimentos, melhores empregos e mais disponibilidade, com menor pressão de tempo.

MACHISMO RELEGA PAPEL DE COBRANÇA À MULHER

A pesquisa também expôs algo que já é visível em qualquer escola: a educação e a preocupação com a instrução ainda são características essencialmente femininas. Se, no grupo dos “comprometidos” (o dos mais preocupados com a vida escolar de seus filhos), as mulheres são 60% do total, nos “distantes”, elas somam 43%. Ou seja, os homens apresentam menos vínculos do que as mulheres.

Para Cara, isso ainda reflete o machismo inerente à sociedade brasileira:

— Na compreensão geral da sociedade, a educação ainda é uma questão das mulheres, tanto no papel de mãe ou responsável como no papel de professora. E essa visão está presente em todas as esferas da vida. Por exemplo, é menos difícil para a mulher conseguir a liberação do seu trabalho para acompanhar as reuniões nas escolas de seus filhos ou familiares.



Read more: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/um-quinto-dos-responsaveis-nao-se-envolve-com-estudos-dos-filhos-so-12-se-engajam-bastante-14492799#ixzz3IcJgIMjR


6 comentários:

  1. Ótima reportagem! Agora posso ver como a educação funciona neste país, temos aqueles pais que são comprometidos com seus filhos, tanto na escola tanto na vida em casa. Mas temos aqueles pais que só enxergam as notas dos filhos na escola e não tem nenhum amor afetivo com seus filhos. Há outros pais que tem um ótimo relacionamento com seus filhos, porém o que não pode ocorrer é esses pais não se preocuparem com a escola, mesmo que seu filho esteja se dando mal na escola os pais vão lá e falam com ele que a escola está errada e ele está certo.
    Ainda temos os casos mais extremos onde os pais não se preocupam com seus filhos nas escolas, não tentam saber como é a política na escola ou como seu filho está indo, essa segunda parte principalmente porque não há um relacionamento entre os dois, é como se eles fossem dois estranhos que só “cumprem” com suas obrigações.
    Um fato é que a criança deve ter uma educação saudável tanto em casa quanto na escola, uma criança que não tem um relacionamento saudável com os pais acaba se sentindo sozinha e indo mal na escola. Precisamos melhorar estes conceitos na sociedade.
    Ana Carolina Pereira Ribeiro- 801

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  2. A criação
    Tudo depende da criação,antes da escola,os pais geralmente os “comprometidos” estão mais aptos a fazer o mesmo,eles servem como um preparatório para seus filhos,eles têm que ser a base para seus filhos.
    O Brasil,ocupa o 53 lugar no ranking de educação,apenas á frente de Indonésia,o país está em um estado crítico,todos os pais ou responsáveis,devem ter como base os pais responsáveis,pois eles se empenham para seguir o caminho de seu filho,suas notas e outros.
    Os pais responsáveis são a chave para o futuro,eles são a essência a ser seguida,para mudar um país onde tudo é alvo de polêmica,o racismo,a cultura e principalmente a educação que deve ser melhorada.
    Gustavo Salvini-801

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  3. Os pais de hoje em dia estão bem divididos conto a escola, aonde alguns vão ate a escola para saber como o seu filho esta e outro que não procuram muito saber o que esta acontecendo e só se preocupam com notas.
    E como a reportagem demonstra, ainda temos alguns pais que não se preocupam nem um pouco com seus filhos só os matriculam e depois não querem mais saber de nada, o que colabora para o Brasil ter uma das piores educações do mundo.
    A importância dos pais para a educação brasileira é muito grande porque se eles cobram de seus filhos nota, estudo, os deixam na escola e vão em reuniões de pais eles estão cobrando pois os filhos sabem que seus pais estão preocupados na sua aprendizagem o que motiva uma pessoa a querer aprender.
    A educação começa em casa onde tem influencias total dos familiares, por isso que pessoas que não tem uma família bem estrutura, as vezes ficam sem motivação de ir as escolas e acabam largando seguindo uma outra direção.

    Juan Marcos-801

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  4. Os pais também tem que acompanhar a vida escolar de seus filhos não só olhando as notas, e dando tapinha nas costas quando tira nota boa e quando tira nota ruim botando de castigo, eles tem que acompanhar dia a dia cada dever não realizado, cada nota A de seus filhos, e se a coisa não esta indo bem os mesmos tem de ajudar no que puderem para que seus filhos possam se sentir seguros na hora de fazer uma prova.
    Mas infelizmente isto não acontece na pratica, como a reportagem fala, os pais que acompanham 80% da vida escolar do seus filhos (nem 100%) são muito poucos está na hora de nos conscientizarmos que para nossos filhos se darem bem nós temos que acompanha-los em sua vida escolar.
    Aluno: Heitor Dutra Delage da Silva
    Turma:801

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  5. De fato temos muito o que melhorar na questão "educação" no Brasil. As porcentagens mostradas acima não são nada boas, pois a situação está cada vez mais crítica nesse país. Deve-se encontrar um equilíbrio, aonde os pais se importem tanto na questão afetiva, quanto na escolar, além de outras. Há também uma falha no Governo brasileiro, que não investe o quanto deveria para que a educação fosse prioritária entre os cidadãos. Sem educação (nem saúde), não há prosperidade para um país. Mas em um como o nosso, altamente corrupto, quem seria mais fácil manipular: pessoas sem escolaridade, que não tiveram acesso ao conhecimento de mundo, ou pessoas com escolaridade, que têm opiniões formadas sobre questões importantes como esta? Com certeza absoluta seria a primeira opção, portanto, para que deem continuidade a esta forma de governar absurda e injusta, é preciso um país com menos desenvolvimento possível.
    Concluindo, há muito o que ser resolvido. Os pais devem se comprometer a se responsabilizarem melhor pelo desenvolvimento escolar de seus filhos, para que tenham boas profissões no futuro, e que ensinem o certo para estes, e o governo deveria se preocupar mais também, o que acaba sendo um pouco utópico, no Estado em que vivemos.
    Luiza Xavier - 801

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  6. A educação começa em casa e vai se contextualizando na escola, vai sendo praticada na escola!
    Mas há muitos pais ausentes que não podem dar essa educação e os filhos um dia irão, imagina uma sociedade com um bando de mal educados tanto na educação escolar quanto na educação vinda de casa.
    Essa nossa já está meio perdida nesse aspecto, lendo está reportagem pude ver que a educação brasileira esta sofrendo melhoramentos
    Aluna:Bruna de Oliveira Monteiro
    Turma:801

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