domingo, 9 de novembro de 2014

Te Contei, não ? - Os desencontros entre José de Alencar e Dom Pedro II




Muitos, da geração atual, não sabem que José de Alencar (Messejana) (1829-1877) morreu jovem, aos 48 anos, teve um grande desentendimento com o Imperador dom Pedro II.


Seu pai, José Martiniano de Alencar (Barbalha) (1794-1860), filho de Barbara de Alencar, era padre católico, mas casado com d, Ana Josefina de Alencar. Naquele tempo, muitos padres casavam, mesmo sem poder. Superadas as dificuldades políticas da Confederação do Equador (1817), em 1821, saiu da prisão para as Cortes de Lisboa, feito deputado. Após a independência voltou ao Ceará, envolveu-se em nova rebelião, foi preso, mas acabou nomeado governador do Ceará por 18 meses pelo Regente Feijó, seu amigo. Em 1832, foi eleito senador. Em 1837 estava no Rio, com o filho José de Alencar, defendendo a maioridade através do Clube da\ Maioridade, movimento para antecipar a posse de dom Pedro II, que instalou na sua casa.

José de Alencar começou seus estudos de Direito em São Paulo, nas arcadas do Largo de São Francisco, prosseguiu em Olinda e voltou a São Paulo para trabalhar como advogado.

Capistrano de Abreu (Maranguape) (1853-1927) proclamou, em 1880, três anos após a morte de José de Alencar, em 1877, que seu conterrâneo "é o primeiro vulto da literatura nacional", sendo também considerado "o patriarca da literatura brasileira".

Em 1856 publicou o primeiro romance, Cinco Minutos, seguido de A Viuvinha em 1857, O Guarani em (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874). Estes romances foram publicados em folhetins em jornais e só depois em livros.

As desavenças pessoais de José de Alencar com dom Pedro II começaram em 1856, quando foi publicado no Rio de Janeiro o livro Confederação dos Tamoios, de Domingos Gonçalves de Magalhães, amigo do Imperador, que o editou. Com o pseudônimo de Ig, José de Alencar publicou artigo com duras críticas ao livro, escrevendo que o "indigenismo da Confederação poderia figurar em um romance árabe, chinês ou europeu".

Dom Pedro II não gostou e rebateu as críticas no Jornal do Comércio com o pseudônimo de Amigo do Poeta.

Em carta ao Conselheiro Saraiva, de 23.03.1860, dom Pedro II revelou que "fiz o plano de defesa do poema (...) eu não abandono posição de defensor e elogiador (...) não queria que Ig (se empavonasse mais descobrindo um único adversário (...) Quanto a ele (Ig), ou entra no grupo ou fica de fora...". O grupo era integrado por escritores indigenistas e nacionalistas.

Eleito, em 1861, deputado conservador pelo Ceará, José de Alencar casou em 1864 com Ana Cockrane,

Em 1868, como ministro da Justiça do Gabinete Conservador do Visconde de Itaboraí assinou a lei que proibia a venda de escravos sob pregão e sua exposição pública.

Dom Pedro II dele dizia: "é teimoso, este filho de padre".

Em 1869, eleito o mais votado com 1.185 votos na lista tríplice de candidatos ao Senado acabou preterido por dom Pedro II. Magoado, deixou o Ministério da Justiça e voltou à Câmara, ficando em oposição ao Imperador. Em 1870, no seu livro, "Historia de dom Pedro II, Heitor Lira revelou que dom Pedro II teria também dito sobre José de Alencar: "e um homem de valor porém muito mal educado". Há também a versão de que o Imperador teria afirmado que José de Alencar era muito jovem para ser senador. Certamente esquecera que o pai dele, o senador José Martiniano de Alencar, não só liderara o movimento da maioridade como forá o orador da sagração de dom Pedro II como Imperador do Brasil.

Em 1872, nasceu seu filho Mário de Alencar, o qual, segundo uma história nunca totalmente confirmada, seria na verdade filho de Machado de Assis...

José de Alencar deu o troco na Guerra dos Mascates (1874) em que dom Pedro II aparece como Sebastião de Castro Caldas, fustigando os pontos vulneráveis de sua personalidade, o caráter dúbio e perplexo, a voz estridente, as pernas finas, a habitual volubilidade, a frugalidade de suas refeições, os rabiscos nas fastidiosas reuniões do Gabinete e seu bordão "já sei, já sei". Alem disso, escreveu artigo duvidando das "qualidades intelectuais de dom Pedro II”, e na Câmara fez campanha contra as viagens do Imperador ao exterior, especialmente a de 1871, classificando-a de "inoportuna", pois temia que o Visconde do Rio Branco assumisse o governo e não a princesa Isabel.

A pendenga entre José de Alencar e dom Pedro II deve ter começado por causa de Maria Francisca Nogueira da Gama que se casou em 1862 com o Visconde de Penacoa. José de Alencar e dom Pedro II disputavam Maria Francisca que integrava o grupo de moças que na juventude do Imperador lhe serviam de par em saraus na Corte junto com Maria Nogueira, Maria Francisca Gonçalves Martins e Tereza Souza Franco. Ambos perderam a moça para o Visconde. Há registro da disputa.

Dom Pedro II foi um notável e discreto conquistador, a lista é puxada pela Condessa de Barral, justamente o oposto de seu pai, dom Pedro I.

(*)JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.    

3 comentários:

  1. Todos que não possuem vergonha de falar o que gosta, de defender certa ideia, ou que possuem algum interesse em comum, porem querem alcança-lo de forma diferente, acabam criando inimigos. E foi exatamente isso que ocorreu com José de Alencar e o Imperador Dom Pedro II.
    Desde jovem suas vidas já se enroscam, Alencar junto com seu pai luta pela maioridade de D. Pedro II, depois se encontram nos saraus da corte para cortejar a mesma moça. Possuem ideias parecidas no aspecto literário, que possui o poder de mudar a sociedade. Tinha tudo para dar certo e serem ótimos amigos, mas não foi isso que aconteceu. Os dois perdem a mulher que amam para um Visconde, possuem cargos importantes no governo e discordavam do modo que deveria ser registrado o Brasil. Alencar queria criar uma escrita brasileira para narrar sua pátria, já o Imperador queria seguir o modo europeu, é ai que temos o barril de pólvora, só precisávamos do fosforo. Que foi exatamente a crítica de José de Alencar a respeito da Confederação de Tamoios. Os dois se alfinetavam do jeito possível, porém com classe. Percebemos isso Guerra dos Mascates e no próprio jornal da época.
    Sendo celebridades de sua época é claro que também eram alvos de fofocas e notícias falsas, Alencar teve seu ultimo filho com Ana, e muitos achavam que na realidade o Mário de Alencar era fruto de uma traição, o melhor amigo e a esposa, Machado de Assis e Ana, bem parecido com outra obra que circulava na época como Dom Casmurro. Já o Imperador sofria por ter que passar o trono para sua filha, e tinha medo de um golpe de poder. Tudo isso além da mini Guerra Fria que ocorria, Alencar VS D.Pedro II, só foi terminar com a morte do Patriarca da Literatura, que morreu novo aos 48 anos, quem sabe mais o que poderia ter ocorrido entre esses dois inimigos que fariam de tudo para destruir a imagem do outro.
    Podemos perceber que até figuras ilustres de nossa historia possuíam problemas e desencontros, pois eram humanos, ninguém é perfeito e precisa agradar a todos. Então pense nisso na próxima vez que você mesmo se encontrar em uma enrascada.
    Katelyn Nelson-901

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  2. José de Alencar e Dom Pedro II nunca foram muito amigos. Desde a juventude ocorriam desencontros entre os dois, primeiramente por conta de uma mulher na qual os dois queriam para si até brigas sobre diversos assuntos. É normal que ocorram desavenças entre pessoas que pensam de modo diferente, principalmente entre pessoas importantes.
    Às vezes, para não serem reconhecidos usavam pseudônimos, nem eles mesmos sabiam com quem estavam falando, mas se criticavam duramente, José de Alencar criticava o que não concordava no governo de D. Pedro II e ele criticava o que José dizia ou escrevia para ele. As pessoas não conseguem gostar de quem o acha errado, que muito critica, e eu acho, que esse era o principal problema entre os dois, pois um fazia, o outro criticava, seria difícil uma relação dessas dar certo, principalmente nos conceitos da época.
    Quando José de Alencar começou a enviar cartas, D. Pedro II já começou a estranhar e tentar adivinhar quem era aquele sujeito que lhe mandara cartas. Enfim, depois de muito tempo trocando cartas, esse desencontro acabou quando Dom Pedro tirou José de Alencar de seu novo cargo, de senador.

    Victor Melo Ismério

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  3. Às vezes, somos criticados e arrancados de muitas coisas por falar algo que acreditamos, mas como as pessoas querem que tenhamos liberdade de expressão, se somos castigados por dizermos o que pensamos. Como Augusto Branco disse, “As pessoas gostam do ideal de liberdade de expressão até o momento em que começam a ouvir aquilo que elas não gostariam que dissessem a respeito delas.”. O problema, é que muitas vezes queremos tudo na hora e não temos papas na língua nos momentos mais adequados, às vezes o melhor é ficar quieto, porque se não você não terá seguidores de sua opinião, mais sim inimigos.
    José de Alencar foi uma dessas pessoas sem papas na língua, mas inovou a correr terríveis perigos botando grandes escândalos da sociedade e do governo bem na cara dos outros. Foi bem objetivo escolhendo seu alvo, escolheu bem o coração e a cabeça do Brasil, Dom Pedro II, pessoa na qual sua vida se entrelaçou desde jovem, com seu pai apoiando a posse do grande inimigo de seu filho e nos sarais (onde batalhavam pela mesma moça). A disputa só foi chagar a seu auge quando os dois resolveram implicar um com a vida do outro do jeito que mais sabiam.
    Dom Pedro II procurou atazanar a vida do escritor tentando ao máximo impedir ele de participação politica e com alguns textos falando a respeito de sua educação e outros, mas já José de Alencar com sua pena e um papel criticava para todo mundo ver os míseros erros do imperador. Ou seja, uma guerra de pena e coroa.
    Mesmo com toda essa briga cada um tinha sua vida, coisa na qual tinham que ser o mais discreto o possível para não ser usado contra si próprio pelo adversário. Às vezes penso o que seria da história se eles nunca tivessem brigado, será que o temor que José de Alencar tinha de um golpe de poder iria acontecer? Será que nunca iriamos abrir nossos olhos para a manipulação politica?
    Mesmo sendo personagens tão importantes, esquecemo-nos de comparar isso com o que acontece todos os dias, mas fingimos que não vemos. José de Alencar foi mesmo um revolucionário, na verdade, uma pessoa normal que cansou de viver numa pátria idealizada como perfeita e resolveu buscar a perfeição, e para isso sofreu, pois nunca é fácil ser quem tem o inimigo, principalmente quando o inimigo é tão influente assim. Como dizem, “Mantenha os amigos sempre perto e os inimigos mais perto ainda.”.
    Eduarda Raposo-801

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