terça-feira, 18 de novembro de 2014

Te Contei, não ? - Todos os dias, 600 milhões de litros de esgoto doméstico

RIO -
Casa fincada às margens de um valão de esgoto que, volta e meia, despeja até sofás e geladeiras no Rio Paraíba do Sul, Waldemiro Brás, de 65 anos, morador do bairro Siderlândia, em Volta Redonda, reclama da falta de consciência de seus vizinhos. Relata que “o pessoal joga de tudo no valão". Se pegasse um barquinho e percorresse boa parte dos 1.150 quilômetros de extensão do rio que corta São Paulo, Minas e Rio, o aposentado ficaria ainda mais perplexo. De acordo com estimativa de engenheiros da Coppe/UFRJ, feita a pedido do GLOBO, diariamente são jogados 600 milhões de litros de esgoto doméstico em toda a bacia do Paraíba do Sul. É o equivalente à geração de dejetos de uma cidade de 3 milhões de habitantes — metade da população da cidade do Rio. O cálculo exclui a bacia do Gandu, uma transposição do Paraíba feita na década de 1950.

Principal contribuição dessa poluição, os rejeitos residenciais ainda representam um enorme desafio aos gestores públicos, como mostra a terceira reportagem da série “O rio da cobiça". Apresentado há sete anos pela Fundação Coppetec/UFRJ, o Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul estima que Rio, Minas e São Paulo deveriam investir R$ 4,4 bilhões em duas décadas (valores atualizados) — R$ 220 milhões por ano — para melhorar a situação ambiental. A pecuária aparece como a segunda atividade que implica perda da qualidade das águas.

Nos últimos anos, reconhece a engenheira ambiental e ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, quase nada foi feito para reverter o grave quadro:

— De 2007 para cá, acredito que cerca de 3% do apontado como necessário tenham sido efetivamente investidos em saneamento, reflorestamento, recuperação de matas e rios. O desafio continua.

Combustível para a proliferação de cianobactérias — micro-organismos que podem gerar toxinas nocivas à saúde humana — elementos como nitrogênio e fósforo são despejados em doses cavalares, do início ao fim do rio e seus afluentes. A presença dessas cianobactérias no reservatório de Funil, em Itatiaia, no Sul Fluminense, preocupa pesquisadores. Com área de 40 quilômetros quadrados, Funil recebe toda a carga poluente da bacia vinda do território paulista. O reservatório foi construído por Furnas em dezembro de 1969. A água liberada pela Usina Hidrelétrica de Funil define as condições de qualidade das águas do Paraíba que chegam a 12,34 milhões de pessoas, somente em território fluminense.

Em tese de Doutorado em Ciências do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ, a pesquisadora Maria Isabel Rocha aponta para o risco de contaminação de moradores locais.

— Com a estiagem, há diminuição da coluna d’água da represa, o que favorece a reprodução das cianobactérias. Há impacto direto a pescadores da região. Muitas análises associam as toxinas liberadas por esses micro-organismos a tumores de fígado. Crianças que nadam na água do reservatório correm risco maior — diz a pesquisadora, ressaltando a necessidade de melhoria no tratamento de esgoto em cidades do Vale do Paraíba paulista, como Jacareí, São José dos Campos, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Cruzeiro e Lavrinhas.

O descaso se reflete em sucessivas agressões à vida aquática. Desde 2003, foram registrados seis grandes desastres ambientais com derramamento de poluentes no Paraíba do Sul, sendo cinco em território fluminense. O pedreiro e pescador nas horas vagas Reginaldo Raimundo da Silva, de 49 anos, morador de Barra Mansa, lembra-se bem do estrago feito há seis anos pelo derramamento de 7,9 mil litros do produto químico endosulfan, da indústria Servatis, em Resende, causando mortandade de peixes, jacarés e capivaras ao longo de mais de 400 quilômetros na bacia. Até hoje, pescadores aguardam por indenização. A biodiversidade não se recuperou totalmente, lamenta Raimundo:

— Quem mora na beira do rio sabe que o principal problema é o esgoto. Dizem que tratam, mas a gente percebe que não é bem assim.

A poluição industrial é outra vilã. A bacia do Paraíba do Sul, que abrange 184 municípios, conta com 7 mil indústrias e cerca de 6 mil pequenas, médias e grandes fazendas. Maior poluidora em potencial, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) assinou em 2010 um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Inea, estabelecendo obrigatoriedade de investir R$ 260 milhões em compensações ambientais. O Inea não informou se todas as ações foram cumpridas.

DE 90 ESPÉCIES DE PEIXE, PELO MENOS 5 ESTÃO AMEAÇADAS

A natureza costuma surpreender pela sua capacidade de driblar dificuldades, e no Rio Paraíba do Sul não é diferente. Resistem na bacia hidrográfica 90 espécies diferentes de peixe, embora as concentrações de poluentes e as barragens já ameacem de extinção cinco delas com alto valor comercial — grumatã, piabanha, pirapitinga, caximbau-boi e surubim-do-paraíba. De acordo com a ONG Projeto Piabanha, com sede em Itaocara, no Noroeste Fluminense, estão registrados 1.643 pescadores artesanais, embora a estimativa seja de que o número total seja de 2,5 mil pescadores. Das águas do Paraíba do Sul são retirados de 114 mil a 440 mil quilos de pescado por semana, principalmente da área com maior abundância de pesca, que vai de Além Paraíba (MG) à foz, em São João da Barra (RJ), trecho com vazão mais contínua e com menos esgoto.

O geógrafo Luiz Felipe Daud, diretor do Projeto Piabanha e mestrando em engenharia urbana e ambiental pela PUC-RJ, enxerga um enorme potencial na exploração da pesca esportiva em trechos no Norte e Noroeste Fluminense. Ele critica a falta de estatísticas oficiais sobre os volumes de estoques pesqueiros no Estado do Rio.

— Não há um monitoramento contínuo, o que dificulta as ações de preservação. As dezenas de barragens para geração de energia hidrelétrica causam enormes impactos na pesca — sublinha o especialista, defendendo ações que unam ecoturismo e conservação:

— A pesca esportiva, baseada na captura e devolução do peixe ao rio, movimenta bilhões de reais nos Estados Unidos e tem um altíssimo potencial no Baixo Paraíba do Sul. Não dá para entender a falta de políticas públicas de incentivo à atividade.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/diariamente-600-milhoes-de-litros-de-esgoto-sao-despejados-na-bacia-do-paraiba-do-sul-14527146#ixzz3JQUdgMy8

5 comentários:

  1. As pessoas ainda não se deram conta de que a água está acabando. Não se deram conta ainda, que em são Paulo, já não tem mais água. E com a continuidade da poluição, ainda mais alta do jeito que foi relatada, isso só vai piorar. Acho que se apenas pensar que precisamos preservar a natureza não adianta, acho melhor começarmos a pensar que nenhum ser vivo sobrevive sem água, e ela vai acabar. Daí, o que faremos? Acho que deveriam começar a investir na preservação e em um jeito de renová-la, e a falta de saneamento é um absurdo, é esperar o problema ficar grande para então tentar resolvê-lo, a reportagem fala sobre a contaminação da água, e esses dias vi em uma propaganda que a água contaminada mata mais gente do que a AIDS e a malária juntas. Então, quando o problema será resolvido? O esgoto que hoje é jogado no rio deveria ser jogado em um lugar que tenha tratamento, para depois ir pro rio, tudo isso não afeta apenas uma coisa, mas várias, que indiretamente, afetam o homem. Com a poluição do rio, animais são ameaçados, a água é poluída. Como isso nos afeta? Precisamos tanto dos animais quanto da água para nos alimentarmos. Será que ninguém vê isso? Não é de agora que precisamos parar e pensar um pouco mais nas nossas ações e em como elas afetam o ecossistema. Temos que começar a pensar mais no futuro.

    Julia Sant'Ana - 801

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  2. Isso tudo é absolutamente horrível. Estamos cada vez mais acabando com o mundo. A destruição é muita e o que é feito para reverter isso é muito pequeno. Ao longo dos séculos, tudo que o homem faz é destruir a biodiversidade, sem se preocupar com o futuro dos próximos, e com seu próprio futuro. Daqui a pouco tempo não restará mais nada, temos de fazer algo.
    A vegetação está acabando, a água, os animais, e logo nós acabaremos também. Muito mais do que nos conscientizarmos, devemos tomar atitudes para mudar. Se cada um de nós fazermos algo para melhorar esse mundo caótico em que vivemos, uma grande mudança poderá acontecer, pois somos muitos. Mas uma boa parte da população mundial não está nem aí para o futuro da humanidade.
    Devemos agir o mais rápido possível, pois os problemas não acabam e são cada vez maiores, que já deveriam ter sido resolvidos há muito tempo atrás, mas que ainda estão à tona.

    Luiza Xavier - 801

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  3. Isso é estranho, tantos lugares precisando urgentemente de água doce e o homem simplesmente joga litros e mais litros de esgoto em rios que poderiam estar abastecendo reservatórios e sistemas de captação.
    Durante todo o seu período (espécie humana) aqui na terra,neste planeta, o homem esta destruindo a biodiversidade, sem se preocupar com o futuro das próximas gerações .
    Quantas especies terrestres e marinhas já foram extintas ou estão com risco de serem um exemplo são o leões que segundo dados serão extintos até 2050 (se não pararmos de caçá-los).
    Na China a poluição é tanta que para sair de casa eles tem que usar mascaras porque lá tem mas carbono do que O2 , um exemplo próximo é a baia de Guanabara que quando os portugueses chegaram na cidade Rio de Janeiro (onde seria construída) a descreveram como o PARAÍSO e hoje esta com toneladas e mais toneladas de detritos humanos.
    Um homem sábio um dia disse que 'Os problemas não desaparecem eles são solucionados" e eu concordo com ele.
    Aluno: Heitor Dutra Delage da Silva
    Turma:801

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  4. Trata-se de um tema muito importante, ainda mais em meio a crise d'água que estamos passando, e mesmo assim as pessoas, as indústrias e os criadores de gado não se conscientizam. Toda essa água poderia estar sendo usada para outro meio, não simplesmente como um grande valão, onde as pessoas jogam de tudo, isso gera vários problemas ambientais e até econômicos, desde falta de peixes, quanto de falta d'água potável.
    Isso acaba também com as espécies que ali vivem ou viviam, pois essa poluição dificulta muito a vida dos peixes, dos animais, das plantas e até dos humanos naquela área. Como o texto diz, 5 das 90 espécies que vivem no rio estão em extinção, e imagino que hoje em dia esse número, infelizmente, deve ser maior. Temos que tratar o esgoto para devolvê-lo em forma de água limpa, da mesma forma que pegamos, temos que nos conscientizar e para de jogar lixo e esgoto nos rios.
    Se continuarmos assim não teremos água no futuro, não podemos deixar que isso continue assim, quantas famílias estão sendo prejudicadas por essa poluição, quantos pescadores estão voltando sem comida para casa, para alimentar seus filhos e seus parentes. As indústrias e as pessoas tem que entender que um rio, ou os rios, não são lixões ou estações de tratamento de esgoto, não podemos deixar que isso continue acontecendo.
    Quando poluímos, tanto os rios quanto as ruas nós mesmos estamos nos prejudicando, pois um lixinho ou outro provoca enchentes, e também a poluição ambiental. Não acho que é legal para as espécies que vivem no rio ou entorno do mesmo, ver sua casa, seu habitat sendo destruído, e falo isso porque não gostaria de perder tudo, ter minha casa destruída por gente que polui. Isso é uma vergonha, precisamos melhorar e muito nesse quesito. Não queremos que essas espécies entrem e extinção, não queremos que acabem com a natureza.

    Victor Melo Ismério
    802

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  5. As pessoas que moram as margens do Rio Paraíba do Sul não se conscientizam que continuar jogando lixo, objetos etc. no rio só trará prejuízo para eles mesmos. E o governo também deveria fiscalizar essas pessoas, e trazer saneamento básico para a população. E com a chuva escassa, aumenta a quantidade de cianobactérias na água, um risco para a saúde das pessoas que moram por ali e usam essa água.
    Lia Cadinelli Ramos-701

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