domingo, 9 de novembro de 2014

Entrevista - " A cultura da carteirada tem que chegar ao fim "

Entrega do dinheiro a Luciana, no Rio, acontecerá num ato público para lançar o movimento ‘Carteirada não’

FRANCISCO ALVES FILHO


Rio - Indignada com a condenação da agente de trânsito Luciana Tamburini, que terá de pagar indenização de R$ 5 mil ao juiz João Carlos de Corrêa por dizer que ele não era Deus, a advogada paulista Flavia Penido resolveu agir. Criou uma vaquinha na internet, que até sexta-feira tinha arrecadado cerca de R$ 23 mil. A entrega do dinheiro a Luciana, no Rio, acontecerá num ato público para lançar o movimento ‘Carteirada não’.

ODIA: O que a levou a criar uma vaquinha para ajudar a pagar a indenização da agente de trânsito Luciana Tamburini?

FLAVIA:  Eu vi a notícia sobre o caso nas redes sociais e fiquei incomodada. Quando li a decisão do tribunal vi logo que era digna de críticas. Pensei em tomar alguma providência no âmbito jurídico, mas acabei decidindo fazer a vaquinha, até porque é algo mais simbólico, para mostrar a indignação de outras pessoas. 

A adesão de tanta gente foi uma surpresa?

Sim. Na madrugada daquele dia, perguntei aos amigos na internet o que eles achavam de fazer a vaquinha e eles aprovaram. Logo na manhã seguinte botei em prática. Em duas horas já dava pra ver que a adesão era grande, algo diferente. 
Na sua opinião, por que tanta gente se dispôs a ajudar?

A sociedade ficou indignada com toda a situação. É como se as pessoas tivessem se colocado na pele de Luciana. Foi uma forma que as pessoas encontraram para se expressar contra o que aconteceu, para se posicionar. As pessoas estão cansadas de ouvir: “Sabe com quem está falando?”. Eu fui apenas a catalizadora. 
A entrega do valor arrecadado na vaquinha vai se transformar em um ato público? 
A ideia é essa. Como o montante que conseguimos é bem maior que o valor da indenização, vamos entregar o excedente a Luciana como uma espécie de reparação pelo que ela sofreu. Queremos que esse momento da entrega se transforme num ato público com o lema “Carteirada não”. Vou ao Rio para isso. Não temos data marcada ainda, mas deve acontecer nos próximos dias.

O que a revoltou mais, a reação do juiz à afirmação de que ele não é Deus ou a sentença do desembargador que condenou Luciana?

Não quero fazer comentários sobre qual dos dois errou mais. Não é isso. Acho apenas que o episódio mexeu com a sociedade e a decisão é digna de críticas.

Tecnicamente, como avalia a decisão que condenou Luciana?

Acho a decisão digna de muitas críticas. Alguém pode questionar se foi certo ou não Luciana dizer que ele era juiz, e não Deus, mas é só confrontarmos as duas atitudes para constatar que é óbvio que ele estava errado. Deu a entender que queria tratamento diferenciado.

Já esteve envolvida em uma situação em que alguém deu uma carteirada

Não pertenço à classe social dos que geralmente sofrem com esse tipo de coisa. Além disso, sou advogada, conheço as leis. Venho de uma família que sabe os direitos que tem.

Não teme alguma represália nos tribunais, por conta desse movimento que envolve dois juízes?

Agora já está feito... Mas, sinceramente, não acredito em nenhum tipo de represália. Não é nada direcionado a ninguém, a um ou a outro. É apenas manifestação contra um episódio.

Que tipo de mensagem pretende passar com esse ato público? 
Acho que está claro que a sociedade quer mudança. Essa cultura da carteirada não pode continuar. As pessoas estão indignadas e eu, como cidadã, também. É um tapa com luva de pelica. Todos criticam o juiz, mas é preciso entender que a atitude dele não é causa, mas consequência da cultura que defende que aquele que tem mais dinheiro também pode ter mais direitos. Isso não pode continuar.

3 comentários:

  1. O caso do juiz e a policial
    De acordo com a entrevista, houve uma confusão entre uma policial e um juiz, e aconteceu que o juiz pediu uma indenização de 5 mil reais a mulher.Um grupo de pessoas, vendo que a situação foi meio injusta para o lado da policial,criaram uma campanha para arrecadar dinheiro para dar ao juiz por ela.
    Esta campanha é uma coisa muito boa na sociedade, dando muitos bons exemplos para pessoas ignorantes que, igual ao juiz, abusam do poder em suas mãos para conseguir fazer o que quiser, e essas atitudes são o que acabam com a democracia e com o sistema político do país. Por isso, quem deveria ser prejudicado nesses casos de abuso de poder deveria ser o juiz não a policial, mas graças ao bom senso das pessoas e seu senso de ajuda, foram lá para acabar com a injustiça contra a mulher.
    Conclui-se que esses tipos de atitudes devem ser incentivados no meio da sociedade, pois o que mais tem em mãos de outras pessoas é poder, mas temos que colocar um limite nessa autoridade e nessa falta de respeito no meio do povo.

    ResponderExcluir
  2. Essa reportagem deixa claro como os juízes e todas autoridades se acham superiores, neste caso acho que não tem como ter duvidas se a policial estava certa, o que pode-se contestar é se o modo como ela responde dizendo ” você é juiz e não deus” esta correto para alguns podem ter sido uma frase forte.
    Porem concordo com a policial, pois cada um tem uma profissão, onde nenhuma pessoa tem que ser favorecido em uma sociedade pela profissão ser melhor financeiramente ou por fazer parte das autoridades.
    A campanha foi bem realizada pois com isso eles conseguem ajudar uma pessoa que demonstrou não ter medo de enfrentar um juiz como muitos policias, que deixam a democracia de lado, e com essa campanha conseguem pessoas de todo o mundo para fazer um ato publico em busca de melhoras.
    Espero que as pessoas tomem consciência que as autoridades estão com excesso de poder, por terem se acostumado a ninguém enfrentá-lo se achando superior e mais atos como esse devem ser incentivados e realizados.

    Juan Marcos-801

    ResponderExcluir
  3. Hoje em dia uma pessoa com altos padrões e com empregos "importantes" como juízes, deputados e até médicos (todo emprego é importante no caso eles se acham) costumam achar que são os melhores e que tem autoridade para tudo, não adianta achar que ser um médico é melhor do que ser um lixeiro porque se o lixeiro não fizer o seu trabalho a cidade vai ficar suja e se um médico não fizer o seu trabalho a cidade terá muitas pessoas doentes então a um equilíbrio.
    Está reportagem é um claro exemplo disso, um juiz achando que é melhor que um(a) policial e o leitor percebe claramente isto, o nome disso é abuso de poder.
    Tomara que as pessoas percebam que as autoridades estão com excesso de poder, por elas terem se acostumado a ninguém enfrentá-las, se achando as superiores.
    Aluno: Heitor Dutra Delage da Silva
    Turma:801

    ResponderExcluir