Não se trata de uma experiência de transformação de uma escola pública numa unidade de ensino particular simplesmente por causa deste gestor autônomo
O DIA
Rio - Parece-me um sinal de falência anunciado pelo Estado o fato de se determinar a busca de soluções para as escolas que não funcionam porque não há autoridade constituída que consiga organizá-las. O Brasil pensa nestas experiências, embora as constatadas estejam na Saúde, não na Educação.
A experiência iniciada nos Estados Unidos, criando as unidades ‘charters’ e entregando-as a agências que administram a verba pública e fazem funcionar escolas aparentemente em estado de desordem acadêmica, chegou ao Brasil e já ocupa os espaços de discussão.
Torna-se importante analisar os resultados americanos. Não se trata de uma experiência de transformação de uma escola pública numa unidade de ensino particular simplesmente por causa deste gestor autônomo.
Os alunos são os mesmos das escolas públicas, e suas origens encontram-se nos bairros mais pobres. A ordem estabelecida após a terceirização tem ajudado no melhor atendimento aos direitos dos estudantes porque a presença dos docentes melhora, a disciplina escolar é restabelecida, e a ordenação do mundo acadêmico obedece a uma estratégia que facilita o aprendizado.
No entanto, mesmo nos Estados Unidos, alguns senões estão surgindo: nem todas as ‘charters’ respondem de modo esperado, e o número de crianças que não aprendem é significativo. Em alguns casos, os administradores preferem transferir os estudantes das escolas públicas de origem para prédios em outros bairros, o que os afasta da realidade em que vivem.
Os prédios antigos passam a ser objeto de cobiça do mundo imobiliário porque, geralmente, as escolas antigas ocupam ainda regiões nobres, comportando investimentos vultosos.
E, por fim, não se pode nutrir a ilusão de que estes alunos serão objeto de alguma seleção como ocorre nas escolas particulares daqui e de lá. Na verdade, a rede privada escolhe os alunos que deseja ter, enquanto as públicas, terceirizadas ou não, devem permanecer de portas abertas.
Eis a questão clara: mesmo terceirizando, as classes sociais de origem das crianças e os bairros onde residem são determinantes para os resultados. Alguma melhora pode ser constatada. Uma solução completa e abrangente, ainda não.
Hamilton Werneck é pedagogo e escritor
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