Daí em diante, a artista sentiu o peso da pele. Passou a tocar na noite e a viver dos caraminguás das gorjetas até enfim ser descoberta pelo estilo único que mesclava a erudição do clássico à originalidade do swing, do soul, do blues e do jazz. Tudo com um leque de tonalidades vocais que não deixava nada a dever às antecessoras Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Mahalia Jackson. Ou seja: Simone era dinamite pura.
Não tardou a explodir e invadir as rádios e as salas de visita da elite branca, aos poucos contagiada pelo crescimento da luta pelos direitos civis protagonizada por Martin Luther King, Malcom X e cia. Nina tornou-se um emblema dos tempos modernos e diante da reação sanguinária ao ‘black power’ transformou-se em uma representante dos radicais, chegando a convocar a luta armada.
Paralelamente sua vida doméstica desabava, devido a uma rotina estafante de shows, os conflitos com um marido violento e a reprodução desta violência na relação com a própria filha. Nina, a bomba, em pouco tempo implodiria, apresentando sinais de bipolaridade que a levariam ao ostracismo e a um longo caminho até o retorno aos palcos.
Para captar a intensidade da vida do furacão Nina Simone, a cineasta Liz Garbus costurou o filme de forma a alternar os potentes números musicais com depoimentos que focam na personalidade singular. Familiares, músicos, estudiosos do jazz e amigos contribuem para a construção de um retrato muito intenso, quase palpável, da protagonista. É como se respondessem ao título do filme, que em português deveria ser ‘Qual é a tua, Ms. Simone?’ Resposta: todas e mais algumas.
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