A sensação é de que não adianta nada. Não é somente minha. Com as pessoas com quem converso, a ideia de votar parece inútil. Não é nova, mas acentuou-se nos últimos tempos. Muitas vezes, ao votar, em São Paulo, encontrei gente reclamando. Uma prima disse:
– Já que é feriado, eu queria aproveitar uma praia.
Conheci pessoas que marcaram viagens na época da eleição. É fácil justificar e abrir mão do direito de escolher seu representante.
Com frequência, sinto que voto em quem não me representa, principalmente em cargos executivos. As opções são poucas. Escolho o que considero “menos pior”. A expressão não é minha. Boa parte das pessoas diz exatamente isso. Bem, esse não é o melhor sentimento para votar. Da última vez, um amigo comentou:
– Não tem jeito mesmo, então vou votar em quem dá.
Tanto eu quanto ele, como muita gente que conheço, diante dos projetos de um candidato ou candidata, sentimos a profunda inutilidade. Se fulano ou sicrana ganhar, se conseguir fazer tudo o que deseja, ou promete, ainda assim, dificilmente, será um mundo com que eu sonho. Pior: na maior parte das vezes sabe-se que eles estão mentindo, que as promessas são impossíveis ou otimistas demais. Reconheço minha parcela de culpa, assim como da maioria da população brasileira. A gente vota em vereador e deputado sem saber direito de quem se trata, muitas vezes. Digo francamente: não lembro em quem votei nas últimas eleições para a Câmara. Ao contrário de outros países, onde a população estabelece uma relação direta com seu representante, eu não tenho nenhuma.
Nesse sentido, os evangélicos estão de parabéns. Eles sabem muito bem em quem votam. E o motivo. Seus candidatos representam o que pensam. Eu posso não ser a favor de suas propostas. Mas sua capacidade de mobilização anda bem mais forte que a dos partidos políticos. Não vou chover no molhado, lembrando tantos fins de sonhos, as falências ideológicas de partidos que um dia nos representaram. Os mais jovens nem sabem exatamente do que estou falando. Quando os militares estavam no poder, a oposição mantinha acesa a luta pela liberdade. Hoje, como vou acreditar em partidos que adotam candidatos que pulam de sigla em sigla como aves num poleiro?
Para meu pavor, ouvi vozes clamando a volta dos militares. Já que não há utilidade no voto, para que insistir nele? O sonho de que alguém mais sábio conduza nossas vidas é constante. Quantas vezes não entregamos projetos pessoais às mãos de alguém, querendo que resolva nossa própria vida? Da mesma forma, há a tentação de entregar o país a esse grupo mágico, capaz de inventar leis, “dar um jeito”. Houve uma época em que se pensava que os reis eram ungidos por Deus. Os romanos acreditaram na divindade dos próprios césares. Basta lembrar das loucuras dos imperadores, dos reis pirados, para saber que o autoritarismo nunca foi solução. O fato de militares proibirem as más notícias não significa que elas não existem. Só que não podem ser publicadas. Mas, também, não precisamos ir longe. Governos democraticamente eleitos também se revoltam contra a imprensa e querem inventar alguma medida para proibir notícias desagradáveis.
Tudo isso é verdade. Mas fica difícil de engolir quando falcatruas são denunciadas e as pessoas continuam lá em cima. Quando dignos representantes são acusados e, culpados ou não, mandam e desmandam. Dá uma sensação horrível ver uma advogada de sucesso fechar seu escritório por medo de “ameaças” decorrentes de sua atividade na Operação Lava Jato. Parece até um daqueles filmes sobre o início do nazismo, quando os judeus foram perdendo seus direitos passo a passo. Ou uma comédia de humor negro, quando um político assumidamente na linha do “rouba mas faz” ainda dá palpite e consegue espaço para lançar novos candidatos.
Agora já se começa a falar da campanha à prefeitura, e, juro, dá um tédio! Vou ter de votar, de novo, no “menos pior”? Quando, afinal, vou escolher num candidato com orgulho, como foi no passado, quando eu acreditava em nossos políticos? Quando vou ter, enfim, esperança de que tudo vai melhorar e de que meu voto contou para isso?
Compartilho esse sentimento com tanta gente! É inútil votar porque não muda nada? Ainda penso que não, é útil sim. Sem voto, sem democracia, seria tão pior. Mesmo desacreditando, vou votar, sempre! Nem que seja, como disse, no “menos pior”. Tenho o direito de votar e, apesar de ter essa sensação tão ruim, não abro mão.
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