sábado, 7 de fevereiro de 2015

Artigo de Opinião - É preciso evitar a intolerância religiosa no Brasil - Jornal O Globo


O radicalismo religioso está na raiz de boa parte das más notícias que, infelizmente, abriram 2015. O mundo se chocou no primeiro mês do ano com o atentado ao “Charlie Hebdo”, em Paris; a execução de reféns do Estado Islâmico; e a destruição da cidade de Baga, na Nigéria — mais uma ação do Boko Haram, na qual teriam morrido duas mil pessoas. São casos de extrema violência que brasileiros repudiam da mesma forma que americanos e europeus.


No caso brasileiro, no entanto, a reação vem junto com a percepção de que é pequena a possibilidade de que conflitos de fundo religioso venham a causar estragos da mesma dimensão. E, de fato, no Brasil, as inaceitáveis manifestações de intolerância não resultaram em tragédias comparáveis ao que acontece pelo mundo. Mas convém não confiar no histórico nacional de acomodação de diferenças, do qual o sincretismo religioso é exemplo. O país da convivência íntima entre casa-grande e senzala tem registrado episódios de perseguições a segmentos religiosos que não condizem com a tradição de manter os conflitos dentro do limite administrável.

A intolerância já tentou censurar até manifestações culturais que são forte elemento da identidade nacional. Recentemente, um grupo de músicos da Estação Primeira de Mangueira, em atitude aplaudida nas redes sociais, recusou-se a atender ao pedido de uma emissora de TV para omitir a palavra orixás ao cantar o samba-enredo. Ora, como dissociar as religiões afro-brasileiras do ritmo que é marca da brasilidade? Era uma mãe de santo, a lendária Tia Ciata, que abrigava as reuniões de sambistas em sua casa na Praça Onze no início do século passado, quando eles eram perseguidos pela polícia. Na origem, componentes de bateria tocavam atabaques em terreiros de candomblé. Não há como, de uma hora para outra, simplesmente ignorar herança tão forte.

A sociedade se mobiliza para evitar o pior. Representantes de diversas crenças organizam juntos passeatas na orla exigindo respeito a todas as religiões e dando o exemplo de que, diferenças à parte, é possível agir em conjunto. Reunidos na ABI para tratar do assunto, na semana passada, líderes espirituais cobraram do governo a criação de um Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Representantes da comunidade muçulmana participam do movimento com especial interesse. Depois do atentado ao “Charlie Hebdo”, eles estão preocupados com a associação de sua crença à violência e a possibilidade de as fiéis sofrerem hostilidades nas ruas por serem facilmente identificadas por causa do véu.

Estão certos em cobrar providências enquanto a intolerância não alimenta tragédias. Se na questão da água tivesse havido ação preventiva do governo e da sociedade, o drama da seca não teria chegado a tal ponto. Vale a lição.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/e-preciso-evitar-intolerancia-religiosa-no-brasil-15203717#ixzz3R6nYf9Jq

3 comentários:

  1. A pouco tempo, eu não conhecia o jornal "Charlie Hebdo ". Fiquei chocado com esse atentado em Paris, que tirou a vida de doze pessoas, além de outras que foram gravemente feridas. Não tão menos com os constantes atos de execução de reféns pelos militantes radicais do Estado Islâmico, e os assassinatos em massa ocorridos em Baga, na Nigéria, efetuados pelo grupo terrorista Boko Haram.
    Concordo com o autor que os conflitos com base religiosa nessa magnitude sejam improváveis de ocorrerem aqui no Brasil, mas devemos ficar atentos pois atitudes de intolerância como preconceito as raças e opções sexuais, já tem proporcionado em o nosso país.
    É inadimissível que um país como Brasil, cujo regime é democrático ainda ocorram censuras a manifestações culturais. Nosso país cresceu sobre várias influências, tais como africana, cristã, judaica, mulcumana, e outras.
    Concordo que a sociedade precisa se organizar, como já tem ocorrido com as causas homofobicas. A criação do Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, uma vez colocado em prática proporcionaria grande avanço para a cultura brasileira, pois contaria com apoio da sociedade religiosa em especial a comunidade mulcumana já presente em nosso país. Uma vez fáceis de serem identificadas pelos seus trajes estariam expostos a eventuais atitudes religiosas.
    As tragédias sociais proporcionadas pela intolerância remontam desde os tempos primitivos. Já temos maturidade suficiente para nos mobilizarmos e nos previnormas quanto a continuidade do te comportamento insano. Se tenho que não tolerar alguma coisa, é a intolerância aos direitos humanos , no caso, as manifestações religiosas.

    Davi Amaral Pereira
    802
    18-02-15

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  2. A maioria dos grupos religiosos já passou por tal situação numa época ou noutra, o que eu acho um grande absurdo, pois cada um deve ter a escolha em quê crer. Prisões ilegais, espancamentos, torturas, execução injustificada, negação de benefícios e de direitos e liberdades civis, tudo isso por uma simples opção religiosa. Pode também implicar destruição de propriedades, entre outras coisas. É deplorável saber que em pleno século vinte e um, com tantos avanços ocorridos dos tempos pra cá, ainda haja pessoas como estas, de pouca clareza e discernimento. No Brasil, com o crescimento da diversidade religiosa é verificado um crescimento da intolerância religiosa, e por isso tendo sido criado até mesmo o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro). Vários países ao redor do mundo incluíram cláusulas nas suas constituições proibindo expressamente a promoção ou prática de certos atos de intolerância religiosa ou de favorecimento religioso dentro das suas fronteiras, mas isso tudo no "mundo" ocidental. Os atuais acontecimentos no Estado Islâmico para nós é algo inadimissível, mas para eles é completamente diferente; lá, não se comenta muito sobre esse assunto pois são acontecimentos normais para eles, sua intolerância não só religiosa como várias outras também, como os ataques terroristas, se tornaram algo comum, que em minha opinião, não deveria acontecer, como ja havia dito antes, todos tem o direito de escolher em quê crer.
    O mais triste é saber dos danos causados por conta de tal intolerância religiosa, que provoca um grande movimento que acaba envolvendo o mundo inteiro. Em casos extremos esse tipo de intolerância torna-se uma perseguição, sendo definida como um crime hediondo que fere a liberdade e a dignidade humana, que é de extrema gravidade. Acho que é da liberdade de cada um ter sua expressão religiosa, mas infelizmente não é o que está acontecendo no mundo, e em específicos casos como o de Charlie Hebdo, o famoso cartunista francês que foi brutalmente assassinado por sua sátira em uma tirinha de jornal.

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  3. Isso é algo que não acontece somente no Brasil como no mundo todo, tudo isso pelo simples fato de que a religião mais comum de certo lugar não ser igual a deles.
    É chocante e ao mesmo tempo impressionante como a sociedade reage de maneira tão ignorante e medíocre em relação a crença das outras pessoas. É incompreensível todo esse etnocentrismo religioso.
    Hoje em dia estão acontecendo principalmente no oriente médio, muitas guerras e atentados principalmente por questões religiosas que já estão acontecendo há muitos anos. No Brasil isso não acontece com essa intonação, mas sempre acontecem pequenas discriminações.
    Essas coisas são inadmissíveis, estamos em 2015, porque isso ainda acontece?
    Como diz o popular ditado "Religião cada um tem a sua e a amizade continua".

    Thales Borges - 802

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